Confronto em Lavender escrita por Jotagê


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Eu quase não postei essa história pois achei ela melosa demais. Na época que eu escrevi isso, eu era muito romântico e meloso, mas relendo essa história quase fico com diabetes.

Fiz algumas edições para adequar ao meu estilo atual, mas mantive quase tudo fiel ao que eu havia escrito antes.



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— Red, o que você faz aqui? Seu Pokémon não parece morto.

Aquilo me atingiu de uma maneira assombrosa. Seu costumeiro olhar distante e confiante não estava mais ali. Com a cabeça baixa, ele olhava para o túmulo de seu Pokémon, e logo vi algumas lágrimas descendo pelo seu rosto. Meus olhos também começaram a lacrimejar, e eu tentava, em vão, conter minhas lágrimas de caírem. Ele falou entre soluços, e eu me dei conta. Eu era o culpado. Eu matei um de seus amigos, tirei o que ainda lhe restava de inocência.

O que mais ele tinha para perder agora? Ele não tem pais, sua irmã não o dá atenção e seu avô não se preocupa com ele. Não era o que eu queria, mas aconteceu, e eu me senti horrível, pois não havia volta. A tristeza em suas voz combinada à atmosfera sombria do lugar e as lágrimas rolando pelo seu rosto… Tudo aquilo me invadiu. Ele falou de uma maneira tão amarga... Mais amarga do que ele finge ser.

— Eu sinto muito pelo seu Raticate, Green. Eu sinto muito mesmo. Não foi... — Eu sabia que uma hora não conseguiria mais segurar. Um leve soluço me interrompeu, e as lágrimas começaram a molhar meu rosto. Eu não aguentei vê-lo daquele jeito. Sofrendo, chorando, abandonado. — Não foi minha intenção. Eu não esperava que aquilo fosse acontecer. Eu admito que a culpa foi minha, mas... Eu não queria, eu juro que não.

— Mentiroso! — ele berrou, e com apenas uma palavra ele conseguiu me quebrar. Minhas lágrimas desciam de uma forma muito incômoda, enquanto meus soluços aumentavam cada vez mais — E como... Como você ficou sabendo? Quem te contou sobre Raticate?

— Os passageiros comentaram. D-Disseram que havia um Raticate muito ferido no navio que não foi atendido em tempo... Eu não sabia se era o seu, mas eu me senti muito mal naquela hora. E agora que eu sei, me sinto pior ainda...

— A culpa é sua. Você sempre tira o que eu tenho de bom de mim. Você me tirou o vovô, a atenção da minha irmã, um dos meus amigos, para sempre... E ainda estraga meu sonho, como se eu fosse um inútil... O que mais você quer?

Amigos. Nem consigo lembrar da última vez que Green falou essa palavra. Quando éramos menores, nós éramos muito amigos. Nós sempre brincávamos, sonhando sobre a nossa jornada, falando sobre nossos Pokémon favoritos, nossa equipe dos sonhos.

Tudo mudou tão de repente... O seu avô começou a passar mais tempo no laboratório para estudar os Pokémon, e sua irmã estava sempre atarefada, e nunca tinha tempo para ele. Eu não sabia disso, eu era uma criança. Uma criança feliz, com minha mãe sempre me apoiando e o meu melhor amigo morando ao lado, enquanto ele escondia a tristeza dele de mim.

Sozinho... Ele enfrentou tudo sozinho. Passou a se isolar, e a nossa amizade ia se desfazendo. Eu não sabia o que tinha feito de errado. Todo dia eu ia na sua casa e chamava por ele, sem nunca receber uma resposta. Quando eu olhava pela janela, lá estava ele. Sozinho, sentado no chão da sala, lendo livros sobre os pokémon e suas habilidades... Chegou um momento que eu desisti.

Só agora eu entendo as razões dele. Só agora eu consegui entender o que ele queria. Mostrar a seu avô e sua irmã de que ele era capaz de fazer algo importante. Ele queria se tornar o melhor, para talvez conseguir um pouco de atenção e amor. Aos poucos eu estava destruindo o seu sonho sem nem mesmo saber. De alguma forma, ele me culpa pela infelicidade dele. Ele precisava de apoio, de carinho, e eu não sabia disso. Se eu soubesse, com certeza tentaria ajudar.

— Green... Me desculpa! Não era a minha intenção, nunca foi! — eu tentava desesperadamente me desculpar — Por favor, acredita em mim... Eu nunca quis isso. Será que algum dia você vai conseguir me...

— Eu te odeio! — ele me interrompeu aos gritos, cerrando seu punho e acertando um soco em minha boca.

Ódio. É o que ele sente por mim? Nossa amizade, nossos sonhos... Arruinados. Sangue saía de minha boca e se misturava com as lágrimas salgadas que desciam dos meus olhos. Ele caiu de joelhos no chão, em frente ao túmulo do seu Raticate, e colocou seu rosto entre as mãos, tentando conter as lágrimas, que molhavam o chão com ferocidade.

— M-Mas eu não... Eu não te odeio. — falei, tropeçando nas palavras, enquanto me ajoelhava e tirava as mãos dele de seu rosto — É totalmente o contrário, Green... — o que eu disse foi inesperado, até mesmo para mim.

— Como assim? O que quer dizer? — Green indagou, inocentemente. Eu sentia que não estava fazendo a coisa certa, mas já não me importava mais.

— Que pergunta boba. E ainda me chama de perdedor... — soltei uma risada fraca, enquanto acariciava seu rosto com uma de minhas mãos.

— Ainda não entendi o que você quer dizer. — ele blefou, puxando a minha mão para longe de seu rosto. Eu sabia que ele estava mentindo.

— Eu te amo. — falei, não me importando com qualquer expressão de espanto da parte dele. Não falei por pena, nem nada assim. Eu sentia algo por ele, e naquele momento eu descobri que era algo mais. Me aproximei, enquanto ele tentava em vão me afastar. Segurei o seu rosto, enquanto secava as suas lágrimas com a outra mão. — E eu não vou te deixar sozinho, nós podemos correr atrás dos nossos sonhos... Juntos. — senti nossos soluços diminuindo simultaneamente, e então o beijei. Ele me acompanhou, mas depois de alguns segundos, me empurrou violentamente, algo que eu não esperava.

— Eu não vou cair na sua, Red. — ele disse friamente, recomposto. Enxugou suas lágrimas e agora mal desmontrava que há alguns minutos estava chorando — Não quero ser um perdedor que nem você. Eu te desafio pra uma batalha. — ele então deu um sorriso cínico, mas enquanto eu me levantava, podia jurar que vi algumas lágrimas ainda descendo de seus olhos...


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