Contato escrita por Aleksa


Capítulo 23
Carinho


Notas iniciais do capítulo

Esse vai ser um capítulo decente! Foi o capítulo mais fofo! ;3



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         Capitulo 23 – Carinho

 

Yura acabara de desperdiçar a chance de ser sarcástico, o que é mau sinal, sinal de que ele está se contendo pra alguma coisa, e essa coisa tem que ser do interesse dele... Acho que já tenho uma ideia do que seja.

O que me faz lembrar que temos mais dois dias lá, e então voltaremos. Isso é bastante curioso, vou voltar a encontrá-lo na escola, e seria tudo "normal" de novo...

- Como será que estão as meninas?

O que me fez lembrar que tinha que ligar pra Cristine! Me esqueci completamente! Digitei o número no telefone, e esperei.

- Alô? – Cristine disse ao atender.

- Oi, sou eu.

- Estava dormindo até agora? – ela perguntou sarcástica.

- Não, perdi o carregador, a bateria acabou, enfim. – menti.

- Aliás! Quem é o cara que atendeu o telefone?

Amaldiçoei mentalmente o fato de Yura atender meu telefone. Fiquei em silêncio pois não tinha pensado em uma desculpa ainda.

- É seu namorado? – perguntou ela me estimulando a responder.

- Não sei... – comentei olhando pra Yura.

Yura olhou na minha direção e disse sem emitir som algum (sorte que sou boa em leitura labial) “Se quiser...”.

- É. – completei ao receber permissão pra inventar uma desculpa mais convincente.

- Que maravilha! Quando voltarmos quero conhecê-lo!

- Mas...

- Agora tenho que desligar.

- Mas...

- Preciso ligar pra Sarah e Castel!

- Mas...

- Até logo Alice.

Então ela desligou o telefone, suspirei e me joguei no sofá, Yura olhou na minha direção e perguntou.

- O que foi?

Ele já estava pintando aquele mural na sala de música de novo.

- Cristine vai arrumar um dia pra eu apresentar meu “namorado novo”. – comentei dando aspas as palavras ‘namorado’ e ‘novo’.

- Oh sim! Será divertido. – ele disse sorrindo.

- Divertido?

- Não esqueça que quando me visto como uma pessoa normal suas amigas não me reconhecem.

- Ah... – assenti me lembrando na cena na minha sala meses atrás.

Prefiro não comentar sobre o flashback de meses atrás... É uma histórioa longa e desnescessaria, que pode ser resumida da seguinte forma: Yura entrou em casa e me agarrou (não que eu não gostasse claro...) minhas amigas chegaram, e ele inventou uma mentira gigante e bem elaborada pra explicar... E tudo isso sem perder a calma... Mas elas já devem ter esquecido...

- Qual será o meu nome? – ele perguntou voltando a pintar.

- Escolha, o ator é você.

- Vejamos... pode ser Aleksa, gosto de nomes Russos... – ele disse dando de ombros.

- Percebe que estamos escolhendo um nome falso, pra que você vá tomar café comigo e minhas amigas.

- Sim, qual o ponto?

Suspirei, não a nada que eu pudesse dizer que passasse o quanto aquela cena era estranha, ele sorriu, ainda pintando, agora o céu.

- Você também está incorporando a personagem muito bem Alice.

- Que bom...

- Em dois dias nós iremos embora.

- É verdade, mas o que isso tem a ver com o assunto?

- Nada, só um comentário, estou cansado dessa paisagem branca.

- De fato.

Imagino que qualquer um estaria cansado dessa neve toda. É um cenário só...

- E o que vamos fazer hoje? – ele perguntou ainda pintando.

- Não sei, não tenho nada em mente.

- Já viu o ringue de patinação no gelo daqui?

- Tem um ringue de patinação?!

- Tem. Eu falei, essa casa é gigante.

- Mas eu não faço a menor ideia de como se anda de patins...

- Eu ajudo. – ele disse sorrindo.

- Você sabe?

- Sei sim.

- Certo então...

Algumas horas depois, ele se cansou de pintar, veio até mim limpando as mãos, e perguntou:

- Vamos?

- Ah sim, claro.

- Vá por um agasalho.

- Certo.

Depois de devidamente agasalhada Yura me guiou por entre os muitos corredores da casa, e, chegando na espaçosa sala forrada de gelo no chão, perguntou:

- Sabe colocar os patins?

- Acredito que não, já que nunca andei de patins.

- Pois bem. Vem comigo.

- Certo.

Acompanhei Yura através de um estreito corredor que dava em um quadrado cheio de bancos, similares a bancos de praça.

- Que simpático. – comentei.

- Verdade.

 - Sente-se - ele me indicou.

Yura me explicou pacientemente todos os passos de como se põe um patins, depois, me apoiando nos corrimões, caminhei até a pista congelada... Isso não vai dar certo.

- Tenho a sensação de que isso não vai dar certo... – conclui.

- Me dê a mão. – Yura me disse estendendo a mão em frente a porta da pista gelada, com um sorriso.

Estendi a mão e Yura me puxou com ele pra dentro da pista, eu tinha razão, eu ia cair.

- Yura!

Yura aproveitou o impulso que me arrastou pra dentro com ele, envolveu os braços ao meu redor e me segurou firme para que eu não caísse.

- Confie mais em mim. – ele disse com um sorriso agradável e simpático.

- Certo...

Ele soltou, e devagar foi me puxando ao longo da pista espaçosa da ampla sala congelada.

Com o tempo consegui ficar em pé, e acompanhar os passos de Yura. Era estranho ter uma cena singela como essa entre mim e Yura, que estava distraidamente cantarolando e sorrindo, e eu, por alguma razão, acabei corando diante dessa pitoresca situação.

- O que foi? – ele disse olhando pra mim. - Já está cansada?

- Não, é que...

- Uhum...?

- Isso é tão... carinhoso. Por alguma razão é estranho...

Yura riu alegremente, olhou pra mim com um olhar amigável e completou.

- Sexo não é o meu único interesse em você Alice.

Eu corei mais ainda com o comentário, ele sorriu novamente e continuou patinando.

- Acha que já posso te soltar? – ele perguntou tranquilamente, ainda me puxando e patinando de costas.

- Acho que sim...

Assim que Yura me soltou em instantaneamente cai pra trás, e ele graciosamente deu meia-volta, patinou até mim, e estendeu a mão novamente.

- Quer ajuda?

- Por favor. – respondi.

Ele inclinou um pouco a cabeça para o lado e sorriu novamente.

- Acho que patinação não é o meu esporte. - reclamei.

- Está indo bem na verdade. Principalmente sabendo que é a primeira vez que faz isso. – ele comentou.

- Obrigada...

Era estranho ver Yura sendo tão amigável, parecia ser mais difícil lhe dar com ele assim, mais do que quando estava sendo sarcástico e malicioso.

- De nada.

Por algum tempo, eu patinei logo atrás de Yura, até que cheguei a conclusão:

- Acho que já pode me soltar Yura.

- Do que está falando? Te soltei a algum tempo. – ele disse sorrindo.

De fato, eu estava caminhando atrás de Yura a algum tempo, e sem ele!

- Nossa...

- Eu disse que você estava indo bem.

Depois disso, Yura tomou impulso e continuou a patinar, me perguntei a quanto tempo ele patinava, ele continuava a cantarolar a mesma melodia de antes.

E eu, fiquei observando ele rodopiar ao longo da pista, até que olhou pra mim e perguntou:

- Cansou?

- Não, só observando. Você patina muito bem!

- Obrigado. Pouco antes de morreu, meu pai me ensinou... – ele comentou num sorriso melancólico.

- Seu... 

Mas como? Ele tinha comentado que talvez sua mãe trouxesse seu pai para o seu aniversario... 

- Mas claro que minha mãe se casou novamente. – ele completou tristemente.

Me atirei nele, nem sei como cheguei até lá! Nós dois caímos, amarrei meus braços ao redor do pescoço de Yura, que pareceu assustado com minha atitude.

- O que foi?

Eu não respondi por alguns momentos, mas depois disse:

- É por isso que você parece tão feliz fazendo isso.

Yura pareceu surpreso, suas mãos ficaram trêmulas, e ele tentou dizer alguma coisa.

- Eu...

O interrompi dizendo.

- Eu não sabia. Se não já teria feito isso a algum tempo... Nem posso lhe dizer que sei como dói, mas eu detesto ver essa melancolia nos seus olhos... Dói, não dói?

Ele prendeu a respiração por alguns segundos, depois senti Yura soluçar, e as lagrimas pesadas caírem no meu pescoço.

Yura nunca se mostra fraco. Faço isso, por que sei que quando o pai dele morreu,  tenho certeza, ele não derramou uma lágrima que fosse, permaneceu indiferente, ele é assim, e trancou toda a dor que sentia dentro de si, mas eu não queria isso, isso roeria sua alma por dentro. 

Afaguei seus cabelos enquanto ele derramava o sofrimento de anos nos meus ombros, soluçando e tremendo como uma criança abandonada, cada uma das barreiras emocionais de Yura foram de despedaçando conforme o sofrimento dele era reavivado.

- Eu não... não disse nada ele... Eu nunca disse. – ele disse aos soluços, chorando, agarrado a mim.

- Ele sabia Yura.

Yura soluçava, seu rosto estava corado, e de seus olhos caiam lágrimas grandes, pesarosas e culpadas, e tudo o que eu podia fazer, era confortá-lo...

Algumas horas se passaram até que ele se acalmasse. Meus braços continuavam envoltos a sua volta, ainda afagando seu cabelo, tentando evitar que ele que estilhaçasse como uma peça de porcelana que é atirada na parede.

- Isso é muito embaraçoso... - ele comentou depois de um silencio confortável.

Ele parecia muito melhor, bem mais calmo.

- Por quê?

- Não acredito que depois de todos esses anos...

- Eu entendo.

- Não sei por que confio tanto em você.

- Tudo bem.

- Não seria melhor se nós saíssemos do gelo? - ele perguntou.

- É, de fato é uma boa ideia.

Yura se levantou e estendeu novamente a mão pra que me levantasse, e assim fomos de mãos dadas até o outro lado do ringue, onde eu descobri minha incompetência pra tirar patins.

- Yura, como eu tiro isso? - perguntei olhando os montes de fios trançados.

- Assim. - ele caminhou até mim, e sem muita dificuldade abriu os cadarços dos patins.

- Tem alguma coisa que você não faça? - perguntei observando-o abrir o último lado do cadarço.

- Esquiar. - ele disse sorrindo.

- Oh sim.

E nos pusemos os dois a rir. De fato nessa viagem descobri vários lados de Yura que eu não conhecia, frágeis, carinhosos, sedutores, todos parte da pessoa que mais amo em minha vida.

Durante o resto do dia, conversamos sobre o passado, amores, infância, esperanças, amigos, entre outros, uma conversa simpática e amigável, onde não havia maldade nem malícia por trás das palavras de Yura.

Já durante a noite, fiquei algum tempo olhando pela janela, a lua estava amarelada. Quando fui dormir Yura já estava dormindo, depois de me deitar, não demorou muito até que dormisse, acabei por descobrir como é aconchegante dividir a cama com alguém.

Quando amanheceu, Yura me abraçava, e ainda semi-consciente tive esse infeliz comentário:

- Quentinho...

Ao sentir a respiração de Yura no meu pescoço me assustei e... por acidente o atirei pra trás (ele também estava dormindo).

- Ai! - ele disse forçosamente acordando.

- Desculpe! - eu disse indo resgatar Yura. - Você me assustou.

- Ah, é você... - ele disse revoltado.

Ele havia sido atirado parcialmente pra fora da cama, mas pelo menos eu não o atirei sobre o criado-mudo...

- Desculpe... - eu disse engatinhando até a borda da cama pra ajudá-lo a levantar.

- Sorte a sua que eu não cai em nada...

- Desculpe...

Eu estendi a mão pra ajudá-lo a levantar, ele me puxou se agarrando em meu pescoço e me beijando.

- É bom que você tenha um pedido de desculpas bem convincente... - ele completou antes de me beijar novamente, e logo pela manhã.

 - Defina convincente... - respondi afastando-o.

- Hum, vejamos... - ele disse pensativo. - Não sei. Quero pensar nisso durante o dia.

- Céus Yura! Não faça isso logo pela manhã! Me atordoa!

- Eu sei que você gosta. - ele disse ironicamente.

- Seja legal, e me deixe acordar primeiro.

- Já lhe disse Alice, meus desejos são constantes.

- Mas...

- Alice pare de reclamar ou eu faço pior.

Eu me levantei e ele se levantou logo depois de mim. Eu me sentia casada com Yura, em meio a uma linda lua-de-mel em Aspen.

- Hoje eu termino aquele mural. - ele comentou consigo mesmo.

- Certo.

Descemos, tomamos café, depois subimos os dois, Yura foi arrumar as coisas pra nossa partida no dia seguinte, eu fui tomar banho escovar os dentes, enfim.

Passei o dia caçando minhas coisas pela casa, e só terminei durante a tarde, Yura ficou pintando aquele mural, e quando terminei aquilo Yura ainda não tinha terminado, estava terminando o carvalho do centro do desenho.

- Isso ainda demorará muito tempo Yura?

- Não muito, por que a pressa? - ele disse parando pra me olhar.

- Por nada, mas você passou o dia ai.

- Se estiver se sentindo ignorada, diga.

- Não disse isso.

- Então está bem.

Yura continuou a pintar, eu subi, fui até o escritório, queria terminar um dos livros que peguei lá. Passei algumas horas lá, depois voltei até o quarto, me sentei na cama com o meu livro, e fiquei observando a janela.

- Alice. - Yura disse abrindo a porta.

- Hum? Terminou?

- Terminei.

Os olhos de Yura assustaram, azuis brilhantes e vivos, ele caminhou até a cama, engatinho até mim, parou na minha frente e disse:

- É nosso último dia aqui.

- É, quero terminar esse livro.

- Mas eu quero brincar.

Ele parecia uma criança ignorada.

- Yura... - eu disse respirando fundo.

- Hum...

Yura se sentou de joelhos na cama, e as mãos nos joelhos, parecia muito contrariado

- Yura, você parece um gato. - eu disse tentado conter os risos.

- Isso faz de você minha dona? - ele perguntou me olhando com o canto dos olhos.

- Nem perto, acho que eu estou mas pra uma borboleta.

- Borboleta?

- Isso. Eu tive um gato uma vez, e ele um dia eu vi ele caçando uma borboleta. - expliquei. - Ele passou o dia todo atrás daquela borboleta, mesmo que tivessem muitas outras. E não parou até pegar aquela, e somente aquela borboleta, depois ele carregou a borboleta pra dentro, e guardou a borboleta num lugar onde só ele alcançava.

Yura me olhava com os mesmos olhos que o meu gato olhava para aquela borboleta.

- E. - continuei. - Depois desse dia, eu deixei meu gato em casa, por que gatos maus que caçam borboletas devem ficar presos. - completei sorrindo.

- Vai me prender? - ele perguntou engatinhando até mais perto.

- Eu sou só a borboleta, lembra? Borboletas não têm como se defender dos gatos maus que elas encontram. - respondi acariciando seu rosto.

Os olhos de Yura tinham um brilho turquesa, eu o soltei, fui até a borda da cama e disse:

- E é isso simplesmente.

Me levantei, Yura pegou a borda da minha blusa me abraçou, suas mãos estavam na minha cintura, e ele segurava o pingente do meu colar.

- Viu por que gatos maus deviam ficar presos?

Ele não me respondeu, só tirou meu brinco esquerdo com a língua, e beijou meu pescoço suavemente.

- O que eu posso fazer se a minha borboleta é tão linda? - ele disse sorrindo.

- Nada eu acho.

Ele repetiu o mesmo processo do lado direito, retirando o meu brinco esquerdo.

- Espero que você não perca os meus brincos.

- Pode deixar.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado , eu disse que seria um capítulo decente u,u
E eu imagino que vcs devem querer me bater agora XD, mas td bem...