Suburbia escrita por Eduardo Mauricio


Capítulo 7
Capítulo 07 - Não Faça Perguntas




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Max saiu de casa e parou na calçada e olhou a caixa de correio. Não tinha nada. Mas é claro que não tinha, era domingo. Ele só estava ali para observar a vizinhança. Virginia estava aparando a grama com um grande cortador. Ela sorriu e acenou para ele quando o viu. Max acenou de volta.

O que tinha de errado com aquela mulher? O que tinha de errado com todas aquelas pessoas? Ele sabia que tinha algo.

— Bom dia — disse Pixie, pegando-o de surpresa.

— Oh, bom dia — falou ele. Talvez ela fosse a única pessoa normal daquele lugar, afinal.

— O que está fazendo aqui fora?

— Nada, só olhando.

— Eu vi a sra. Swanson sair da sua casa ontem, o que ela queria?

— Eu não sei bem, na verdade, ela queria que eu revisasse um roteiro, mas depois pediu para ver o sótão.

— O sótão? — Ela pareceu confusa.

— Sim, eu também não entendi muito bem.

— Ela é meio louca — disse Pixie. — Uma rainha do drama total, outro dia ela fez um escândalo porque meu cachorro cagou na grama dela.

Max riu.

— É sério. — Ela também.

— Oi gente — disse uma doce voz feminina, pegando-os de surpresa como Pixie havia feito.

— Ah, oi Sophia — falou Max, olhando para a garota de vestido branco de bolinhas vermelhas que segurava um pacote de batatinhas de churrasco.

— Oi, Soph — disse Pixie.

— Quem mora naquela casa? — perguntou ele, apontando para a enorme mansão do outro lado dos muros que fechavam a rua.

As duas se entreolharam.

— Ela é uma mulher reservada — disse Sophia. — Nós só a vemos sair daquela casa uma vez por mês.

— Sério?

— Sim — respondeu Pixie. — O nome dela é Eve.

— Ela tem uma casa legal — falou Max.

— É verdade — Sophia concordou, colocando algumas batatinhas na boca.

Os três ficaram olhando a casa por alguns instantes, até ela quebrar o gelo:

— Está na hora da banho da minha mãe — disse ela. — É melhor eu ir andando.

— Ei, vai fazer alguma coisa hoje à tarde? — perguntou Pixie.

— Não, por quê?

— Vamos ver um filme lá em casa?

— Ok, eu passo lá depois das duas.

— Tudo bem.

Sophia se virou e começou a caminhar em direção à sua casa no fim da rua, quase saltitando, como sempre.

— Por que você não vem também? Traga seu parceiro também — ela falou.

— É, pode ser legal.

— Então eu te vejo às duas.

— Tudo bem.

— Tchau tchau.

— Tchau.

Pixie também foi embora, alcançando Sophia. Ele voltou para dentro de casa, onde encontrou Henry, sentado no sofá e assistindo ao jogo, que estava quase no final.

— Você nunca sentiu curiosidade em saber quem mora naquela casa grande no fim da rua? — Max perguntou, sentando no sofá ao lado do marido.

— Que casa?

— A mansão no fim da rua, não é possível que você não tenha percebido.

— Ah sim, a mansão... Quem mora lá?

— Não sei, as garotas falaram sobre uma mulher, Eve, mas elas mal a veem. Agora estou mais curioso... Enfim, o que você está fazendo?

— Que tipo de pergunta é essa?

— Não sei, só estou entediado.

— Quer transar?

— Não, obrigado. — Ele riu e ajeitou os óculos no rosto.

— Então assista ao jogo comigo.

— Ei, você quer ir à casa da Pixie hoje à tarde? Ela nos convidou.

— O que vamos fazer lá?

— Sei lá, assistir a filmes de terror adolescentes, conhecer alguém normal, essas coisas...

— Eu sinto como se tivesse 15 anos de novo.

— Não seja um chato, vai ser melhor do que ficar em casa sem fazer absolutamente nada, só olhando para a minha cara.

— Mas a sua cara é linda.

— Querido, você vai ou não?

— Não sei, vou pensar.

***

A casa de Pixie era bem aconchegante. O piso era de madeira, mas as paredes eram brancas, o que deixava a casa muito bem iluminada.

A sala era pequena, com um sofá bege e uma grande TV na parede.

Sophia estava no sofá, com um balde de pipocas nas mãos. Quando Max e Henry entraram, Pixie fechou a porta atrás deles e correu para o tapete em frente ao sofá, onde havia algumas almofadas rosas.

Mi casa, su casa — ela falou. — Sintam-se à vontade.

Os dois sentaram no sofá.

— Bela casa — disse Henry.

— Obrigada.

— Então, vocês estão juntos há quanto tempo? — perguntou Sophia, com seu sorriso simpático no rosto.

— Três anos — respondeu Henry. — Ou um pouco mais do que isso, é? — Ele olhou para Max, que assentiu com a cabeça.

— Vocês têm namorado? — perguntou ele.

Sophia pareceu ficar acanhada.

— Eu nunca namorei sério, para falar a verdade — respondeu Pixie. — Só uns rolos aqui e ali.

Interrompendo a conversa, a campainha tocou. Pixie se levantou e foi atender. Todos olharam para a porta e viram Virginia, que ficou surpresa ao ver Henry e Max na sala.

— Venha comigo — disse ela.

Parecendo assustada, ela saiu.

Sophia observou um pouco preocupada também.

— O que houve? — perguntou Henry.

— Eu não sei — respondeu ela. — Ela deve ter comprado algo errado de novo.

— Como assim?

— Virginia nunca vai ao supermercado, ela sempre manda alguém.

— Ela nunca vai? — disse Max, um pouco cismado.

— Não, ela é bem folgada.

— Eu a vi lá ontem, achei que ela estava me seguindo.

A garota pareceu surpresa.

— Ela te disse alguma coisa?

— Não, o que ela me diria?

— Não sei... Quer dizer... Sei lá, é, não sei.

Sophia se levantou e foi até a cozinha, apressada.

Henry e Max se entreolharam, estranhando. Quando ela voltou, parecia nervosa. Se sentou no tapete e olhou para a janela. Correu até ela e fechou a cortina.

— Eu preciso falar uma coisa — disse.

— O quê? — perguntou Henry.

Ela correu até o outro lado da sala e fechou as outras cortinas.

— Sophia, o que houve? — perguntou Max.

A garota voltou ao tapete e se sentou.

— Ninguém pode saber que eu estou contando isso, mas é bem provável que eles estejam escutando.

Ela se aproximou dos dois e começou a falar muito baixo.

— Não façam perguntas, ajam normalmente.

— O que está acontecendo?

— Vocês estão correndo perigo — ela disse, olhando para os lados como se alguém estivesse observando por trás das paredes. — Precisam sair daqui o mais rápido possível.

Logo depois, ela voltou a colocar seu sorriso simpático no rosto.

— Pipoca? — ela perguntou, sacudindo o balde na frente dos dois.

***

Durante a noite, Henry e Max estavam deitados na cama, com os abajures ligados. Como sempre, Henry mexia em seu celular.

— Qual a sua opinião sobre gatos? Eu sempre quis um — falou ele.

— Você vai ignorar totalmente o que Sophia disse hoje à tarde? — disse Max, mudando de assunto.

— Ela é meio louquinha, provavelmente ela só estava brincando.

— É claro que não estava! Você não viu como esses vizinhos são estranhos? Vai ver eles estão tramando alguma coisa.

Henry começou a rir.

— Max, você está começando a ficar paranoico — ele disse.

— Você nunca acredita em mim, porra!

— Ok, ok, não precisa ficar estressado. — Ele beijou seu pescoço e passou a mão pelo seu peito, mas Max recusou os carinhos, virando-se para o lado.

Henry voltou a mexer no seu smartphone.

— A luz do corredor está acesa, você pode ir desligar? — perguntou ele.

Max se sentou na cama e olhou para a fresta de baixo da porta, por onde passava a luz do corredor. Ele se levantou e caminhou até lá, mas parou na metade do caminho quando viu duas sombras do outro lado.

— O que houve? — perguntou Henry, vendo que ele estava paralisado.

— Venha aqui, agora — ele falou.

Henry olhou de longe, mas podia ver as duas pequenas sombras embaixo da porta. Havia alguém do outro lado.

— Oh meu deus — disse ele, perplexo.

— Quem está aí? — perguntou Max, sem obter resposta, como já esperava.

— Eu estou ligando para a polícia — falou Henry. — Seja quem for, sugiro que vá embora!

Max se abaixou e colocou o rosto no chão, olhando por debaixo da porta. Podia ver os dedos daqueles pés apodrecidos e ensanguentados. A mesma mulher de antes.

Ela saiu correndo para a direita, mas o sangue continuou gotejando da porta.

Ele se levantou e a abriu, olhando para o corredor. Ela havia sumido.

— Merda — disse ele, ao ver a porta.

— O que foi? — perguntou Henry, caminhando até lá.

Na porta branca, escrito amadoramente com sangue:

Não confie em ninguém.


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