Alex

Depois de passarmos uma semana agradável junto com nossa família e amigos, iniciamos o novo ano todos juntos, porém, eles foram embora com a promessa de voltarem quando a nossa pequena nascesse. Foi uma choradeira por parte de Julia e Nath, mais um pouco teríamos que voltar pra casa de bote. Após uma semana ao ano novo, Julia e eu fomos à médica e tudo estava perfeitamente bem, poderíamos seguir com a nossa rotina e até mesmo poderíamos continuar com a relação seuxal, mas teríamos que tomar cuidado. Entramos na reta final da gravidez, agora era atenção absoluta. Nossa pequena está prevista pra chegar ao mundo no dia 18 de fevereiro, mas ela pode chegar antes. Ela está grande, pesada e com pouco espaço dentro da barriga da mãe.

"Eu tive a melhor entrada de ano da minha vida" Julia diz enquanto eu acaricio suas costas. Estamos deitados no chão em frente à lareira, onde fizemos amor. Ela está com sua cabeça descansando em meus braços. "Obrigada" ela diz e me beija.

"Eu tive o melhor ano graças a você querida." Eu digo beijando seus cabelos e passando a mão suavemente pela sua barriga e sinto um chute. "Você está feliz meu amor?" eu pergunto a minha filha e mais uma vez sou recompensado com chutinhos.

"Sua filha está ficando bagunceira, não pode ouvir a sua voz que já se agita. Ainda tem dúvidas de que ela será a garotinha do papai?" Julia pergunta revirando os olhos e rindo.

"Com certeza ela será a garotinha do papai, assim como a mãe dela é a minha garota." Beijo sua boca carinhosamente, mas o beijo se torna exigente e fazemos amor mais uma vez.

Eu estava terminando de arrumar a minha gravata em frente ao espelho, eu podia ver Julia esparramada na cama preguiçosamente. Ela tinha um sorriso no rosto e estava me encarando.

"Gosta do que vê?" eu pergunto brincalhão e ela apenas acena com a cabeça e morde os lábios. Graças a Deus a minha mulher teve seu apetite sexual mais forte do que nunca durante toda a gravidez.

"Quais seus planos pra hoje?" Ela pergunta se sentando na cama.

"Uma reunião e um almoço com um fornecedor, por quê?"

"Curiosidade." Ela diz mordendo o interior da bochecha, e eu sei que tem algo errado.

"O que foi querida?" eu pergunto indo em sua direção e me sentando a sua frente. Passo a mão pelo seu rosto e ela fecha os olhos ao meu toque.

"Alex, nós temos que conversar. Você sabe..." ela diz e meu corpo fica tenso.

"Temos?" eu pergunto. Eu sinceramente não sei sobre o que ela quer conversar, mas se ela diz que temos algo a falar, então falaremos.

"Temos. Conversaremos quando você chegar do trabalho. Tudo bem?" ela pergunta e me dá um sorriso tranqüilizador, mas eu sei que ela está escondendo algo. "Você vai se atrasar."

"Tudo bem. Eu sou o chefe, eu posso tudo." Eu digo e me levanto, dando lhe um beijo carinhoso, pegando minha pasta e indo em direção a porta.

Julia

Eu passei o dia todo pensando numa forma de abordar o assunto com Alex. A Dra Nora disse que eu poderia falar de uma forma mais branda, que é normal pais de primeira viagem terem essa conversa, é bom pro casal. Mas conhecendo meu noivo como eu conheço, sei que ele vai pirar. Eu preciso manter a minha decisão, sei que tenho tudo para ter um parto sem complicações, minha pressão já estabilizou, mas se tem uma coisa que eu aprendi com esse relacionamento é que nada sai como o planejado. A prova disso é a nossa filha. Se algo acontecer comigo, eu quero que ele a escolha sem pensar. Eu já vivi o que tinha pra viver, achei o amor da minha vida, consegui construir uma família. Claro que eu quero estar aqui pra ver a minha filha crescer, cantar pra ela dormir, beijar seus machucados. Mas se algo acontecer eu quero que ela tenha a chance de conhecer a vida, conhecer o seu pai e quero que ela conheça o amor incondicional.

Agora estou aqui no quarto de Elizabeth colocando as ultimas roupinhas no lugar e terminando de arrumar a sua malinha, Thor está deitado no meu pé enquanto cantarolo uma música aleatória. Ele está sempre atento a tudo. Termino de colocar as coisas em ordem e sigo pra cozinha, com Thor o tempo todo ao meu lado. Resolvo cozinhar hoje. Farei um jantar especial e depois eu e Alex poderemos conversar. Que tudo dê certo. Que tudo dê certo! Peço mentalmente enquanto pego os ingredientes que vou precisar para fazer o frango xadrez.

Estou terminando de colocar a mesa quando sinto braços envolverem minha cintura um nariz deslizar pelo meu pescoço até meus cabelos e sei que Alex chegou em casa.

"Boa noite querida. Que cheiro maravilhoso você tem." Ele diz e beija minha nuca e eu me arrepio.

"Boa noite querido." Eu digo rindo. "Pronto pra jantar?" eu pergunto me virando de frente pra ele e o beijando carinhosamente.

"Estou faminto." Ele diz indo em direção a pia e lavando a mão. Volta e se senta, e passa o pé pela barriguinha de Thor que a essa hora já está todo arreganhado pedindo carinho.

Sento-me ao seu lado, sirvo os pratos e comemos enquanto ele me conta como foi seu dia, e que como foi obrigado a aturar o Sr. Ruford, um velhote de quase oitenta anos que se achava o garotão. Alex tem um senso de humor ácido e às vezes chega a ser irritante, mas ele tinha seus momentos engraçados.

"O que houve querida, você mal tocou na comida?" Alex pergunta olhando pro meu prato enquanto dá um gole no seu vinho.

"Não é nada." Eu forço um sorrio. Eu minto, claro que eu minto. Eu estou nervosa sem saber como começar a falar. "Só não estou com fome." Eu digo e tomo um bom gole do meu suco. Ah, delicioso.

Alex apenas me olha. Me olha, me olha, e por fim responde.

"Tudo bem." E assim continuamos o nosso jantar, e meu humor melhora um pouco.

Quanto estou retirando a mesa, Alex me ajuda lavando a louça, e quando deixamos tudo limpo seguimos em direção ao quarto. Enquanto Alex toma banho eu ensaio mentalmente um discurso de como abordar a ideia que eu tenho em mente. Saio dos meus devaneios quando sinto o cheio da sua loção de barba. Sabonete, loção de barba e Alex. Meu cheiro favorito no mundo todo. Ele cheira tão bem. Ele vem em minha direção apenas com uma toalha presa na cintura e algumas gotas d'água escorrem pelas suas costas definidas e eu tenho que me segurar para não lamber cada uma dela. Ele me beija e segue para o closet e quando sai dele já está vestido com uma calça de moletom e uma blusa de manga comprida. Parece jovem e descontraído.

"Então, o que você queria conversar?" ele pergunta se sentando ao meu lado enquanto passa os dedos pelo cabelo. Pra ele, isso é pentear.

Eu me viro ficando de frente pra ele e passo a mão pela barriga, meu corpo treme de antecipação. "Apenas mantenha a mente aberta querido. Pode ser?" Eu pergunto minha voz saindo mais calma do que eu pretendia.

Ele se ajeita na cama, sua expressão mudando. Já vi essa expressão antes. Ele está assumindo a postura de empresário, a postura que ele usa quando vai negociar algo em suas reuniões. "Depende. O que está acontecendo Julia?"

Eu respiro fundo. É agora.

"Amor, é normal pais de primeira viagem ter essa conversa" eu digo encarando seu rosto que permanece sem demonstrar nenhuma reação. "Eu sei que acompanhamos a gravidez toda, fizemos todos os exames, e como sempre estava tudo certo. Porém, nem tudo é como planejamos e algo pode dar errado..." Seu corpo fica tenso e seu olhar é fulminante, ele abre a boca pra falar algo, mas eu não deixo. "E se algo der errado e você tiver que escolher entre nós duas, eu quero que escolha Elizabeth sem pensar duas vezes. Essa é a minha decisão."

Alex

"E se algo der errado e você tiver que escolher entre nós duas, eu quero que escolha Elizabeth sem pensar duas vezes. Essa é a minha decisão." Eu ouço Julia dizendo e acho que entrei num universo paralelo. OUTRA VEZ.

Como assim escolher entre a minha mulher e a minha filha? Onde diabo já se viu isso? Eu não quero mais ouvir isso. Me recuso. A Dra Nora disse que o parto será tranqüilo e sem complicações. E como Julia já decidiu? Isso é uma decisão nossa! É a minha vida que também está aqui.

"Eu não quero mais ouvir Julia" eu digo com a voz demonstrando uma calma irreconhecível. "Isso está fora de questão. Eu não quero ter que escolher entre vocês duas. Não." Eu passo as mãos pelo cabelo e a minha vontade é de arrancá-los e depois socar alguma coisa. Eu estou com raiva. Não. Eu não quero escolher. Eu quero a minha mulher e a minha filha comigo. Eu quero a minha família.

Sinto o ar fugir dos meus pulmões e meus olhos encherem de lágrima. Olho pra Julia e ela está com a cabeça baixa e seu corpo treme. Ela também está chorando. Porque ela está fazendo isso com a gente?

"Porque você está fazendo isso?" eu pergunto me ajoelhando na sua frente e fazendo ela me encarar.

"A Dra Nora aconselhou Alex. Algo pode dar errado." Ela diz e vejo lágrimas escorrendo pelas suas bochechas.

"Nada vai dar errado Julia" eu digo. Eu ainda estou com raiva. "Eu não quero ter que escolher. Eu quero você duas comigo. Vocês são a minha vida."

Ao me ouvir Julia chora mais. Eu não posso ficar com ela agora. Eu estou com raiva e vou acabar falando algo que eu vá me arrepender depois.

"Eu preciso sair um pouco" eu digo me levantando e pegando as chaves do carro. Ela me olha e continua chorando. "Eu te amo, mas eu preciso de um tempo sozinho." Eu beijo seu cabelo e saio de casa.

Julia

Sozinha. Ele me deixou sozinha e no meio da conversa. Ele não quis me ouvir. Porque tudo com Alex têm que ser difícil? Será que ele não consegue entender que imprevistos acontecem? Pra onde será que ele foi? Olho pro relógio e vejo que são quase nove horas. Pego meu celular e ligo pra ele, dá três toques e por fim cai na caixa de mensagem. Desligo. Não quero falar com sua caixa de mensagem.

Saio do nosso quarto e sigo em direção ao quarto da Elizabeth, assim que abro a porta sinto o cheirinho de bebê me invadir. É um cheiro reconfortante. Olho em volta e vejo alguns livros de histórias infantis espalhados pela estante, corro meus dedos por eles e escolho um aleatoriamente. Quando olho vejo que é a "Princesa Shopie", eu adorava esse livro quando criança. Sento-me na poltrona e começo a ler e vejo que Thor está deitado aos meus pés.

Alex

Estaciono o carro na garagem, olho o relógio e vejo que já se passa de meia noite. Eu sou um imbecil, eu sei. Mas eu precisava de um tempo pra digerir a louca conversa que a minha mulher não muito normal estava tendo comigo. Eu sei que foi errado eu ter largado ela sozinha em casa e sem notícias, ele deve estar preocupada. Se acontecer alguma coisa com ela, a culpa é sua. Meu inconsciente me acusa e estala a língua em sinal de reprovação. Entro em casa e está tudo calmo. Todas as luzes estão apagadas e nenhum sinal de Julia ou Thor.

Subo as escadas e vou em direção ao nosso quarto, mas paro assim que vejo a porta do quarto de Elizabeth aberta. Entro e vejo Julia dormindo um pouco encolhida na poltrona, um livro está caído sobre a sua barriga e Thor dorme tranquilamente aos seus pés. Meu coração se encolhe diante a cena. Vou até ela, pego o livro e o guardo, passo minhas mãos por trás das suas pernas e a pego no colo. Ela descansa a cabeça no meu ombro e aperta meu corpo contra o seu. Eu a amo tanto que até dói. Eu jamais saberia escolher entre ela e a nossa filha.

Chego em nosso quarto e a coloco na cama, ela se mexe e abre os olhos preguiçosamente e me encara enquanto eu a ajeito na cama.

"Desculpe-me, por favor. Eu não quis..." ela começa a falar e eu a calo com um beijo carinhoso nos lábios.

"Está tudo bem. Vamos dormir. Amanhã a gente conversa." Eu digo me deitando ao seu lado e puxando seu corpo contra o meu, descansando minhas mãos em sua barriga. "Eu te amo, e amo a nossa filha."

"Eu te amo muito mais." Ela diz e aninha mais o corpo contra o meu. E em poucos minutos eu derivo num sono tranqüilo, sonhando com uma bebêzinha de olhos verdes brincando comigo e Julia.