Harry Potter e o Herdeiro Luz escrita por V Giacobbo


Capítulo 27
Encontros - Parte 1




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Capitulo 25 - Encontros

A porta da Sede da Ordem da Fênix se abriu silenciosa. Parecia que um furacão havia passado por ali. Todos pareciam correr em todas as direções. O que quer que tivesse acontecido havia causado um caos incomum.

Ninguém pareceu notar a presença de três homens à porta. Todos estavam tão concentrados em seus pensamentos e ações que os homens passavam despercebidos. Um vulto ruivo surgiu por uma porta e caminhava apressado em direção à outra.

- Gina! - chamou-a um dos homens, fazendo com que toda a Ordem parasse e olhasse para ele - O que está acontecendo aqui?

- Harry! - gritou Gina correndo até ele e se jogando em seus braços.

- O que foi? - Harry correspondeu ao abraço.

- Onde é que você estava? - perguntou Gina, preocupada, soltando-o - Estávamos loucos de preocupação.

- Ah... - Harry riu baixinho - Eu fui com o Malfoy ver aquela informação do Tom. - ele apontou para Draco e, em seguida, para Snape.

- Snape?! - perguntaram todos, perplexos.

Dezenas de varinhas foram erguidas e raios de feitiços voaram. Harry enlaçou Gina pela cintura com o braço esquerdo, mantendo-a protegida ao seu lado, e ergueu a mão direita. Uma barreira vermelha flamejante surgiu envolvendo o casal, Draco e Snape, que se surpreenderam tanto com o ataque quanto com a inexperada defesa. Os feitiços bateram fortes na barreira que sequer tremeu.

- Harry?! - Gina olhou-o perplexa.

- O que ele faz aqui?! - bradou Sirius, os olhos fixos em Snape.

- Black?! - perguntou Snape, surpreso - Está vivo.

- Para seu total desprazer. - disse Sirius entre dentes.

- Posso cancelar a barreira ou vocês ainda vão me atacar? - a voz de Harry saiu fria e seca.

- Não estamos te atacando, Harry! - falou Remo.

- Estamos atacando ele! - Moody apoiava-se na bengala, a varinha firme na mão.

- Ele está comigo. - disse Harry, forte, a barreira sumindo - Ataquem-no e estarão atacando a mim.

- Harry? - Gina tocou o rosto dele e atraiu seu olhar - O que está acontecendo?

- Snape está do nosso lado. - respondeu Harry, alto para que todos ouvissem – É fiel à Dumbledore e à Ordem.

Um silêncio estranho pairou sobre todos. Sirius gargalhou e atraiu todos os olhares.

- Snape é fiel à Dumbledore... e o matou?! – perguntou o que todos se questionavam.

- É uma história um tanto longa. – Harry soltou Gina e estava mais sério do que nunca – Snape explicará tudo.

“Eu?!” – Snape olhou para Harry intrigado.

- Explica você, Harry. – pediu Gina, estranhando a seriedade do namorado, abraçando o braço dele com força.

- Ele pode explicar melhor, Gina. – Harry forçou um sorriso para Gina, que não se convenceu, soltando-se do abraço dela.

- Você está bem? – Hermione se aproximava, preocupada.

- Sim. – Harry fitou a amiga – Só preciso ficar um pouco sozinho. – ele se virou para Gina e beijou-lhe na testa, sussurrando em seguida – Proteja Snape.

Ela assentiu com um movimento rápido da cabeça. Ele sorriu sincero e se afastou.

- Vão para a sala de reuniões. – pediu Harry.

Todos se dirigiram para a porta que dava acesso ao subsolo, onde havia as salas de reuniões. Sirius e Remo ficaram para trás. Gina ainda olhava Harry, que a fitava de volta com o mesmo sorriso sincero. Rony caminhou até Hermione e a tomou pela mão, despertando-a de seus pensamentos e adentrando pela porta aberta. Draco enfiou as mãos nos bolsos e seguiu-os.

- Harry... – chamou-o Sirius.

- Está tudo bem, Sirius. – Harry olhou o padrinho sem perder o sorriso.

Sirius teve de se concentrar em suas ações para que pudesse disfarçar o arrepio. Os olhos de Harry estavam diferentes. Estavam como os de Lílian, como da última vez que vira os olhos da amiga. Harry desviou o olhar. Remo caminhou silencioso até Sirius e tocou em seu ombro. Olharam-se e saíram.

- Vão. – Harry olhou Snape e ordenou - “Não revele nada sobre mim. Sobre o que eu sou.”

O homem assentiu.

- Senhorita Weasley? – chamou Snape – Podemos ir?

Gina olhou Snape nos olhos. O homem sentiu seu corpo gelar. O olhar dela era frio como o gelo eterno.

- Siga-me. – ela fitou Harry pela última vez e correspondeu ao sorriso sincero dele.

Ela caminhou pelo corredor, sem esperar por Snape. Ele seguiu-a a distância. Contudo, parou à porta e virou-se para olhar Harry, que fitava o chão.

“Sim, Potter, você precisa ficar sozinho.” – Snape respirou fundo, imaginando a confusão que se instalara na mente de Harry, e atravessou a porta, que se fechou silenciosa.

Harry não esperou nem mais um segundo. Saiu da casa o mais rápido que podia, sem correr, parando no meio da rua para pensar aonde iria.

Sentia-se perdido. Por algum tempo havia conseguido pensar com clareza. Ele era uma horcruxe. Pronto. Era isso. Teria que morrer no final. Ou não? Haveria outra maneira? Outro caminho?

As dúvidas agora o impossibilitavam de pensar com clareza. Tinha que ir a qualquer lugar onde pudesse ficar em paz. Imaginou-se em Hogwarts. Mas não daria certo. Havia os alunos que certamente não o deixariam em paz, não o deixariam sozinho.

Sozinho.

Era assim que estava. Sempre estivera sozinho antes de Hogwarts e ganhara a ilusão de não estar mais sozinho depois de Hogwarts. Ilusão. Era apenas isso: ilusão de não estar sozinho. Agora a ilusão se desvanecera e a realidade ficava clara até mesmo para sua mente, que mal conseguia raciocinar em meio ao turbilhão de pensamentos, dúvidas e informações que o envolvia.

Estava sozinho agora.

Estaria sozinho até o final.

Um rugido explodiu na mente atordoada de Harry e todo o seu corpo ardeu como se tivesse mergulhado no magma sem se concentrar o necessário para não se ferir.

Não!

Não estava sozinho. Não mais!

Harry sorriu verdadeiramente feliz. Não estava sozinho. Havia alguém, um ser vivo, que estava com ele, que estaria com ele até o fim.

Ele soube onde teria o que procurava, onde poderia pensar, organizar os pensamentos, sanar as dúvidas e refletir sobre as informações. Soube onde teria o que realmente precisava.

Paz!

Com a certeza de que nada estava perdido e a esperança de que tudo poderia melhorar, Harry Potter, o-menino-que-sobreviveu, O Eleito, Anima, O Herdeiro Luz sumiu com um rodopio vermelho flamejante.

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Toda a alegria, felicidade, esperança, todos os bons sentimentos haviam evaporado e se transformado numa nuvem densa e instável de tensão e irritação. Era quase insuportável. Toda a sede da Ordem da Fênix estava mergulhada em caos. Não era o mesmo caos físico que a tomara durante toda a manha. Era um caos de sentimentos e emoções. Todos pareciam estar no limite de suas capacidades de autocontrole.

O ambiente estava tão tenso durante o almoço que poucos tocaram na refeição. A maioria dos membros sequer apareceu. Os poucos que tocavam na refeição não eram os privilegiados onde o caos não caíra com tanta força. Pelo contrário, três desses poucos comiam para afugentar o caos, recobrar as forças e pensar, organizar o, aparentemente, invencível caos.

“Aonde ele foi?” – perguntava Gina com a voz algumas oitavas acima do normal.

“Ele disse que precisava ficar sozinho.” – respondeu Hermione o mais calma que pôde, afinal, também se preocupava.

“Confiem no Harry.” – falou Rony, firme e confiante – “Ele não vai cometer nenhuma idiotice. É esperto, sabe que sem a gente não é tão forte quanto poderia ser.”

“Eu vi na mente do Draco o que o Harry fez durante a conversa com o Snape.” – disse Hermione, completando preocupada e curiosa - “Só que não consegui ver a conversa inteira.”

“Não?!” – Rony engasgou com a comida.

- Ronald! – arfou Molly pega pelo susto quando o filho tossiu alto e descontrolado em meio ao silêncio completo.

- Desculpa. – pediu Rony depois de engolir dois copos cheios de suco de abóbora.

“Como assim não?!” – ele encarou Hermione, que se sentava oposta a ele.

“Não sei.” – ela não retribuiu o olhar do namorado, concentrando-se em comer e ordenar os próprios pensamentos – “Algo me bloqueia.”

“O que poderia te bloquear?” – perguntou Rony, boquiaberto de irritação e incredulidade.

“Cala a boca, Ronald!” – grunhiu Gina, que tremeu e abaixou o olhar para o prato – “O que você acha que é, Mione?” – a ruiva completou suave e calma, pois percebera que amiga estava abalada com aquilo.

“Não tenho ideia, Gina.” – Hermione bufou – “Parece ser o...” – ela se interrompeu e balançou a cabeça, como se tentasse eliminar o pensamento.

“Parece ser quem, Hermione?” – perguntou Gina mais séria, Rony ergueu a cabeça.

“O Harry.” – a voz de Hermione saiu fraca.

Rony somente não engasgou feio porque estava com a boca vazia, mas engasgou bonito com o ar, assustando novamente sua mãe.

- Ronald! O que te deu, hein?! – esperneou Molly.

- Desculpa! – pediu Rony sem jeito, mas irritado.

“O Harry?!” – perguntou ele, incrédulo – “Por que ele protegeria a mente do Malfoy?”

“Se eu soubesse não estaria tão preocupada.” – bufou Hermione.

“Vamos ficar calmos, ok?” – suspirou Gina– “Daqui a pouco ele volta e nós poderemos conversar com ele sobre isto.”

Eles assentiram e voltaram suas atenções para a refeição mal iniciada. Gina percebeu um movimento ao seu lado e virou-se para ver. Sirius havia sentado na cadeira vizinha.

- Cadê o Harry? – sua voz era pura preocupação.

- Não sabemos.– suspirou Gina.

- Não se preocupe. – Rony inclinou-se para frente e sorriu – Harry não fará nenhuma besteira.

Gina sorriu e assentiu com a cabeça. Sirius encostou-se na cadeira e suspirou, fechando os olhos. Harry lhe preocupava mais do que aos outros, pois ele vira algo que os outros não viram. Ele viu os olhos de Lílian, olhos que já haviam abandonado a esperança de vida, de sobrevivência; olhos que abraçavam uma morte eminente. Algo de muito sério havia acontecido a Harry, algo que Snape não contara, algo que até mesmo Gina, Rony e Hermione desconheciam. Algo que Sirius jurou descobrir.

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A cozinha estava praticamente vazia e ainda era tensa. Snape sentava-se silencioso no lugar mais afastado, com Draco ao seu lado. Os Weasley tomavam o lado oposto, mais quietos que o normal. Fred e Jorge não tiravam os olhos dos dois sonserinos. Remo e Tonks olhavam-se frequentemente, sem que seus olhares se encontrassem, tentando, inutilmente, dizer qualquer coisa.

A porta abriu-se com um rangido. Contudo, ninguém pareceu se importar. O recém-chegado caminhou até a mesa e se sentou na cadeira vazia ao lado de Rony e oposto à Gina.

- Olá. – disse ele, fazendo todos pularem em seus lugares e olharem-no surpresos.

- Harry! – arfou Molly com as mãos sobre o peito.

- Maluco. – Rony deu um soco contido no ombro do amigo – Precisava fazer isto?

- Foi sem intenção. – defendeu-se Harry, massageando o ombro dolorido.

- Com fome, querido? – Molly assumiu sua típica expressão maternal.

- Sim. – Harry sorriu para ela.

Um sorriso um tanto quanto vazio na perspectiva de Sirius, que fitava o afilhado desde quando sua presença fora anunciada.

- Vou pegar algo para você. – Molly se levantou e caminhou até o armário.

- Onde você estava? – perguntou Sirius.

- Por ai. – Harry deu de ombros, sem olhar o padrinho.

- Ficamos preocupados com você. – sussurrou Gina.

- Eu disse que precisava ficar sozinho. – Harry fitou-a – Como foi a reunião?

- Para dizer o mínimo: bombástica. – falou Rony, sério.

- É... eu já imaginava. – Harry respirou fundo – Da pra sentir a tensão no ar.

- Ninguém depositou muita confiança nas palavras de Snape. – informou Hermione.

- Obrigado. – Harry agradeceu à Molly quando ela trouxe um prato de comida.

- A Mione se recusou a mapear a mente dele. – Rony disse, seco.

- Não é porque eu posso fazer isto que sempre farei, Ronald. – Hermione sentiu-se ofendida – Não seria certo.

- Concordo com a Hermione. – assentiu Harry – E não é preciso, para nós, entrar na mente dele para distinguir a mentira de uma verdade.

- O problema, Harry, são os outros. – falou Gina, séria – Ninguém, além de nós, consegue furar o bloqueio do Snape. É difícil para todos acreditar.

- É difícil, mas não impossível. – Harry começou a comer.

- Como você pôde, Harry? – perguntou Sirius.

- Como pude o que? – Harry não ergueu o olhar.

- Acreditar nele. – Sirius abaixou o tom da voz.

- Ele diz a verdade, Sirius. – Harry deu de ombros – Não há motivo viável para não acreditar nele.

- Ele matou Dumbledore! – arfou Sirius, atraindo os olhares de Snape e de Draco que, até então, estavam alheios a toda a conversa.

- Creio já ter explicado o ocorrido, Black. – disse Snape, seco.

- Não é o bastante. – disse Sirius entre dentes, encarando-o.

- É o bastante para Potter, não é? – disse Snape, com um sorriso desdenhoso – Deve ser o bastante para você.

Sirius esmurrou a mesa, erguendo-se.

- Sirius!

O maroto olhou para o lado, para Harry, que o encarava sério.

- Pare com isto. – sibilou Harry.

Sirius arrepiou-se. Os olhos de Harry haviam voltado ao brilho natural, ou quase. Ele ainda podia ver – distinguir - no fundo dos olhos do afilhado, os olhos de Lílian.

- Snape está do nosso lado e isto já foi não só explicado como provado. – continuou Harry – Um conflito interno nos arruinará. Guarde suas desavenças para serem resolvidas quando a guerra acabar, quando a união de suas forças não for mais necessária. – Harry retirou os olhos de Sirius e fitou Snape – “Não sou tão paciente quanto aparento. Compartilho dos mesmos sentimentos de Sirius e, ao contrario dele, não há ninguém para me controlar. Resumindo, fique na sua e não atormente ninguém.” – grunhiu Harry.

Snape abanou a mão com descaso. Harry, no entanto, sabia que ele cumpriria o que lhe fora dito.

- Calma, Sirius. – pediu Gina, segurando o braço dele.

Sirius sentou-se quase em estado de choque. Todas aquelas palavras ditas por Harry e aquele olhar oculto nas profundezas verdes de seus olhos haviam apunhalado-o fundo.

- Desculpa. – Sirius balançou a cabeça e fitou Harry, que falara muito baixo.

- Tudo bem... – o maroto forçou um sorriso – Eu mereci.

Harry sorriu também e voltou a comer. O silêncio pairou novamente. A tensão era mais palpável do que nunca. Assim que terminavam de comer, os poucos que continuavam na cozinha se levantavam e saiam calados. Restaram apenas Snape, Draco, Sirius e o quarteto. Todos completamente saciados.

- Preciso falar com o Owen. – falou Harry em tom normal, quase com indiferença.

- Falar o que? – Rony ergueu uma sobrancelha.

- Sobre uma horcruxe. – disse Harry casual, como se o assunto fosse tão comum quanto à claridade do sol.

- Você sabe onde está? –Hermione sorriu entusiasmada.

- Sei. – Harry encostou-se à cadeira e cruzou os braços, fechando os olhos e respirando profundamente.

- Onde? – Gina intrigou-se com as atitudes e palavras dele.

- Hogwarts. – disse ele vago, quem quer que o visse diria que dormia.

- Hogwarts?! – todos, exceto os sonserinos afastados, exclamaram em retorno.

- O diadema perdido de Rowena Ravenclaw. – disse Harry antes que alguém perguntasse.

- Eu li sobre o diadema. – disse Hermione, completando sob o olhar interrogativo dos outros – Em “Hogwarts, Uma História”.

- Podia ter falado sobre ele. – falou Rony, carrancudo – Teria nos poupado.

- Poupado do que? – perguntou Hermione, emburrada.

- Poupado o Rony de matar os poucos neurônios que lhe restava tentando descobrir qual era a última horcruxe. – disse Gina, aos risos.

- Hey! – bufou Rony.

Os outros riram, até mesmo Harry. Sirius depositou total atenção sobre a reação do afilhado, analisando sua risada. Definiu-a como normal, com as emoções alegres de sempre. Sirius deu um sorriso torto ao concluir que Harry era tão bom oclumente que podia camuflar seus sentimentos em seus atos. Entretanto, não podia modificar o olhar, o olhar de Lílian.

- Certo, então. – Rony cruzou os braços, enraivecido – Vamos falar com o Owen.

- Ele virá mais tarde. – informou Hermione, os olhos fixos em Harry – Moody convocou uma reunião com todos os membros da Ordem para começar a nos preparar para a batalha.

- Isto aqui vai fica arrebatado de gente. – assinalou Gina.

- Vai ser um longo dia. – suspirou Harry.

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Assim que o relógio do hall badalou as três horas, a campainha não parou mais de tocar. Dezenas de membros entravam a cada minuto. Todos os cômodos ficaram lotados em poucos minutos.

- Todos para a sala de reuniões número três. – ordenou Moody, encerrando as conversas.

A sede parecia um formigueiro, onde as formigas disparavam ágeis pelos caminhos pré-determinados que os conduzissem para o local ordenado. Nunca antes todos os membros da Ordem estiveram reunidos. A sala de reuniões fora magicamente ampliada para que suportasse a presença de todos os membros. Dezenas se sentavam apertados em torno da mesa e outras dezenas se apertavam de pé em volta.

A reunião fora lenta, tensa e cansativa. Todos sentiam a pressão que o assunto em pauta lhes atribuía: a batalha final. Era fato que ninguém tinha certeza de que a próxima batalha seria a última. Contudo, todos queriam se esforçar ao máximo para que assim fosse.

Esquemas táticos foram esquematizados. A defesa de Hogwarts fora completamente reformulada, visando à segurança da estrutura do castelo e de suas centenas de habitantes. Ordens foram dadas e recebidas. Mensageiros seriam enviados a outras partes do país em busca de reforço. Tudo fora traçado, estipulado e idealizado. Tudo estava pronto. Todos estavam prontos.

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O sol já havia se posto há muito quando a reunião se encerrou. Os membros saíram lentos e cansados da sala, aparatando da rua para os lugares que deviam ir. A sala que outrora estava abarrotada de gente, agora era habitada por pouco mais de uma dúzia de pessoas.

- Owen! – Harry chamou o amigo.

- Fala, Harry! – Owen se aproximou e estendeu a mão.

- Tudo bem? – Harry deu um sorriso, apertando a mão do outro.

- Tranquilo. – sorriu Owen – E você?

- Na mesma. – Harry deu de ombros – Preciso falar com você.

- Diga. – Owen ficou um pouco mais sério.

Harry os conduziu para um canto inabitado da sala, onde não poderiam ser ouvidos.

- Tenho uma informação para você, sobre uma horcruxe. – falou Harry, sério – Mas se não quiser ir atrás desta, eu vou.

- Que nada! – Owen abanou a mão com descaso – Pode falar.

- Há uma horcruxe em Hogwarts.

- Hogwarts? – perguntou Owen, surpreso.

- Sempre houve esta suspeita, não? – estipulou Harry – Hogwarts é o lugar mais importante para Tom. É lógico haver alguma horcruxe lá.

- Mas pensei que a horcruxe já havia sido destruída. – informou Owen.

- O diário não estava escondido em Hogwarts, ele foi para lá por intermédio de Lúcio Malfoy. A horcruxe escondida em Hogwarts é o diadema de Ravenclaw.

- Puxa! – Owen encolheu os ombros – Sarah vai ficar triste.

- Eu sei. – suspirou Harry, a amiga pertencia à Corvinal e tinha o legitimo espírito de sua casa.

- Ela vai querer ajudar, mesmo assim. – Owen deu de ombros – Vamos amanhã bem cedo fazer uma busca.

- Não precisa. Eu sei exatamente onde está. – Harry deu um sorriso torto.

- Onde? – Owen sorriu com a perspectiva de menos trabalho.

- Na Sala Precisa. – Harry sorriu e explicou para o amigo como entrar na sala certa.

- Tudo bem então. – assentiu Owen, minutos depois.

- Avise-me quando tudo estiver feito.

- Claro. – sorriu Owen – Até amanha. – ele se afastou – Tchau! – acenou para Rony, Gina e Hermione que se sentavam à mesa e saiu.

Harry enfiou as mãos nos bolsos da calça. Não precisava mais se preocupar com a horcruxe. Pelo menos não mais com aquela. Ele percorreu o aposento com os olhos. Moody, Lupin, Sirius e Tonks mantinham uma conversa sussurrante na ponta da mesa. Rony, Gina e Hermione discutiam entre si, tentando formular seus próprios movimentos na batalha. Os Weasleys agora se levantavam e se retiravam. Arthur consolando uma Molly preocupada, Fred e Jorge fazendo poucas piadinhas com Carlinhos. Havia outro homem em pé no lado oposto da sala, quieto e isolado, os olhos fixos em Harry.

O homem não era total desconhecido. Em algum lugar no fundo de sua memória, Harry reconhecia-o. O homem acordou Harry de seus pensamentos ao se aproximar.

- É um prazer revê-lo, Harry Potter. – o homem estendeu a mão.

- Desculpe-me, mas eu não me recordo do senhor. – Harry cumprimentou o homem, que sorriu.

- Não esperava que realmente se lembrasse. – o homem assentiu com um sorriso fraco – Estivemos juntos em situações não muito felizes. – Harry viu uma sombra passar pelos olhos do homem – Sou Amos Diggory.

Harry sentiu o sangue paralisar nas veias. Diggory. Cedrico Digorry. Aquele homem era o pai do sétimoanista da Lufa-Lufa que fora morto por Voldemort na noite de seu retorno.

- Ah... – exclamou Harry.

- Fico feliz pelo senhor estar bem, Sr. Potter. – sorriu Amos, educado – Todos ficaram muito preocupados com a falta de informações sobre o senhor.

- Não havia motivos para se preocupar. – disse Harry, sem jeito.

- Já vi que não. – assentiu Amos – Espero que na batalha tenhamos mais sorte.

Harry percebeu o tom sombrio, e até mesmo inconsciente, da fala de Amos.

- Farei de tudo para que todos fiquem sãos e salvos. – afirmou Harry, convicto.

- Ninguém está cobrando-lhe nada, Sr. Potter. – falou Amos, rápido, com receio de ter sido mal compreendido.

- Não preciso que me cobrem Sr. Digorry. – falou Harry, sério – Eu sei o que tenho que fazer.

- Não me entenda mal, Sr. Potter. – Amos apressou-se em dizer, completamente desajeitado – Não tive a intenção de lhe passar tal impressão.

Harry suspirou. A lembrança da morte de Cedrico ressuscitada aos seus olhos havia abalado-o a ponto de não conseguir controlar o humor.

- Harry... – Gina apareceu sorridente ao seu lado, abraçando seu braço – Tudo bem? – perguntou casualmente, mas Harry percebeu a preocupação.

- Sim. – respondeu simples.

- Senhorita Weasley. – Amos estendeu a mão.

- Senhor Digorry. – Gina sorriu educada e apertou a mão do homem.

- Desculpe-me, Sr. Potter, por ter lhe causado alguma irritação. – Amos virou-se para Harry.

- Não aconteceu nada, Sr. Diggory. – assentiu Harry – Sou eu quem deve pedir desculpas.

- Que isto, garoto! – Amos sorriu e abanou as mãos com descaso.

Gina abraçou mais firme o braço de Harry, movimento que não passou despercebido ao homem.

- Não quero importuná-los mais. – Amos deu um passo para trás – Até breve. – inclinou a cabeça e se virou, saindo da sala sem falar com mais ninguém.

- Coitado, Harry. – disse Gina, risonha – Você o deixou completamente perdido.

Harry suspirou e abraçou Gina em silêncio. Ela aninhou-se em seu peito quente e sorriu.

- Sinto sua falta. – sussurrou ele, rouco no ouvido dela.

- Eu também. – ela tremeu com a respiração quente dele em seu pescoço frio.

- Hey, casal! – chamou Rony, separando-os – Vamos comer!

Harry olhou pela sala mais uma vez. Apenas Hermione e Rony ainda estavam ali.

- Só ficarei realmente surpresa algum dia quando você desenvolver qualquer noção de sentimentos, Ronald! – bradou Hermione, irritada.

- Relaxa, Mione. – Gina sorriu para a amiga – Já estamos acostumados a sermos interrompidos pelo legume ai.

- HEY! – exclamou Rony.

- Vamos. – disse Harry, risonho, saindo com o braço em torno de Gina.

Hermione seguiu-os sem dizer nenhuma palavra ao namorado.

- Mas que coisa... – bufou Rony e, metendo as mãos nos bolsos, saiu.

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Harry andava por um corredor frio e escuro, ele observava o corredor até perceber que não estava sozinho, um garoto alto de cabelos castanhos escuros e olhos cinzas sorria para ele. Reconheceu o garoto instantaneamente, era seu companheiro de escola no Torneio Tribruxo.

Harry andava, mas nunca se aproximada do garoto sorridente. Uma grande angustia começou em seu interior. O garoto perdeu o sorriso e desfigurou-se, transformando-se em outra pessoa, Lord Voldemort. Este deixava sua risada ecoar pelo corredor, deixando Harry ainda mais angustiado. Então Voldemort parou de rir, apontou a varinha para o peito de Harry e disse:

- Morra insolente, Avada Kedavra!!!

Um lampejo verde saiu da varinha do Lorde das Trevas e voou na direção dele, que permanecia imóvel, mesmo tentando se mover. Harry estava desarmado, não podia se mover e estava morrendo de angustia por dentro, até que o raio verde lhe atingiu.

- NÃO! – sua voz cortou o silêncio com um grito ensurdecedor.

Harry sentou-se na cama com um pulo. Seu peito subia e descia no ritmo descontrolado de sua respiração arfante. A roupa estava grudada em seu corpo, assim como os cabelos rebeldes e ligeiramente cumpridos em seu rosto e nuca.

- Harry? – perguntou Rony na cama ao lado.

Harry olhou para o amigo, a respiração descontrolada demais para permiti-lo falar.

- Harry?! – a porta se abriu e Gina entrou correndo.

Ela pulou por sobre a cama de Rony e atirou-se contra Harry, abraçando-o forte. Mais duas pessoas entraram. Hermione ficou de pé atrás de Rony, os olhos analisando Harry com preocupação. Sirius arfava ao lado dela, o susto deixando-o desnorteado.

Inúmeras outras pessoas pararam à porta. Molly possuía seu semblante mais maternal possível e Arthur mantinha-se silencioso, os braços sobre os ombros da esposa. Remo e Tonks olhavam-se mudos e preocupados. Mais afastado, oculto pelas sombras do corredor, os olhos negros de Snape brilhavam intrigados.

- Harry?! – Gina afrouxou o abraço, as mãos tomando o rosto quente e suado do namorado, os olhos opacos de preocupação.

- Estou bem. – disse Harry, sussurrante e lento, a respiração ainda não contida.

- O que houve? – perguntou ela, preocupada.

- Um... pesadelo. – ele ergueu as mãos e retirou as mãos geladas dela de seu rosto com calma e carinho, os olhos verdes intensos sobre os cor-de-mel.

- Harry? – Sirius aproximou-se e se ajoelhou ao lado da cama do afilhado – O que aconteceu?

- Tive um pesadelo... foi somente isto. – respondeu Harry um pouco mais alto, a respiração finalmente se acalmando.

- Harry... – começou Hermione.

- Não, Hermione! – disse Harry, feroz, e todos sentiram a temperatura oscilar.

Ele suspirou e se desvencilhou das mãos de Gina, levantando-se no lado oposto a Sirius. O olhar dele era duro, depositado firme sobre Hermione, que emudecera.

- Eu estou bem. – disse a todos, retirando os olhos da amiga e repassando-os por sobre os demais presentes – Não precisam se preocupar. – ele caminhou até uma porta que levava a um banheiro – Boa noite. – desejou e atravessou a porta.

Todos ficaram mudos com as palavras e atitudes dele.

- O que será que aconteceu? – perguntou Tonks à Remo, enquanto se dirigiam aos seus aposentos.

- Ele teve um pesadelo, você ouviu. – respondeu ele, entretanto, não parecia muito convencido.

- Há algo que pudemos fazer, queridos? – perguntou Molly, carinhosa.

- Não, mãe. – respondeu Gina, entristecida.

- Vamos, Molly. – Arthur puxou a mulher para fora e fechou a porta.

Quando o corredor ficou vazio, Snape saiu das sombras e dirigiu-se ao seu quarto.

“Ele não devia ter sonhos assim... não mais.” – pensou ele– “O que diabos você tem, Potter?” – completou ao entrar no quarto.

Assim que a porta foi fechada, Hermione desabou sobre o colchão de Rony, as mãos cobrindo o rosto. Rony esticou os braços fortes e abraçou-a, aninhando-a em seu peito definido. Gina subiu as pernas na cama e abraçou-as, o rosto depositado sobre os joelhos.

- O que aconteceu? – a voz de Hermione soou abafada, a pergunta claramente dirigida a Rony.

- Eu acordei de repente. – contou ele – Estava muito quente. Percebi que ele estava se agitando, parecia estar mesmo tendo um pesadelo. Um pesadelo como antigamente. – terminou, sombrio.

- Isto não poderia ter acontecido. – Hermione afastou-se de Rony com agilidade, o rosto lívido de incredulidade – Tom não pode romper as barreiras dele, não pode!

- Eu sei, Mione. – Rony tentou acalmá-la.

- Então, por que diabos ele teve um pesadelo com o Tom?! – foi Gina quem perguntou, a voz alterada de ira.

- Não acho que foi com o Tom, Gina. – suspirou Rony.

- Não?! – perguntaram Hermione e Gina, juntas.

- Não... – Rony fez uma careta de frustração – Só não entendo o motivo desse pesadelo.

- Por que você acha que não foi com o Tom? – Hermione segurou Rony pela camisa, irritada pela demora dele em lhe dar as informações que necessitava.

- Eu o ouvi dizer o nome do Diggory. – falou Rony – Ele chamou pelo Cedrico.

- Ah, não! – Gina enfiou o rosto entre os joelhos.

- Aquele homem que conversou com o Harry... – Hermione olhou para a amiga.

- Era o pai do Cedrico. – completou Gina.

- O que isto tem a ver? – perguntou Rony, calmo e evidentemente perdido.

- Talvez o pai tenha trazido a lembrança da morte do Cedrico à tona na mente de Harry. – Hermione soltou-o e se aproximou, deixando-se ser abraçada.

- Faz quase um ano que ele não sonhava. – Gina ergueu o rosto, os olhos fixos na porta do banheiro – Por que aconteceu de novo, e somente agora?

A porta do banheiro se abriu devagar. Harry saiu quieto, o olhar baixo. Os cabelos estavam completamente molhados e suas roupas eram diferentes. Ele tinha tomado um bom banho. Cruzou o quarto e sentou-se à cabeceira da cama, de frente para Gina. Suspirou e ergueu os olhos, fitando Hermione.

- Desculpe-me... – começou ele – Não queria falar nada com toda aquela gente. Só traria preocupações para eles.

- Podia ter falado de outro jeito. – Hermione parecia claramente magoada, apontando para a própria cabeça.

- Eu sei. – suspirou Harry – Mas se eu fizesse assim, os outros não me deixariam em paz.

- Tudo bem, Harry. - Gina se aproximou dele e inclinou-se sobre seu peito quente.

Ele envolveu-a com os braços, depositando a cabeça sobre seus cabelos e respirando seu aroma floral.

- Quer contar? – perguntou Rony.

Harry suspirou longamente, entretanto, não abandonou sua posição.

- Sonhei com o Cedrico Diggory. – disse vago, fitando o vazio por sobre os cabelos de Gina.

Esperaram que ele dissesse algo mais.

- E? – Gina o encorajou.

- É o mesmo sonho que tive há dois anos. – disse ele – A única diferença é que antes... eram minha mãe e meu pai.

- Eu me lembro. – assentiu Rony – Você comentou na época. Disse que já havia sonhado com sua mãe da mesma maneira.

- Uhum. – suspirou Harry, fechando os olhos e inspirando forte o perfume de Gina.

- Estranho... – comentou Hermione – Você sonhar com isto depois de tantos anos.

- E com o Cedrico, ainda por cima. – acrescentou Rony.

- Exatamente o mesmo sonho. – suspirou Harry e todos perceberam que ele apenas pensava em voz alta – O mesmo corredor... A mesma angústia... A mesma risada do Tom... A mesma mald... – a voz dele morreu.

Gina sentiu o corpo de Harry tremer e, pela primeira vez desde a separação, sentiu-o frio. Abraçou-o com força pela cintura.

- Acho... – falou Harry, mais alto, dirigindo-se aos outros – que eles tem alguma ligação. – ele apertou o abraço em Gina – Não tem como não haver. Era tudo tão igual.

Gina sentiu-o tremer novamente. Ela se desvencilhou do abraço dele e tomou seu rosto com as mãos geladas. Fitou-o profundamente e o beijou. Hermione se aninhou no peito de Rony, que a abraçou com mais força, e ambos desviaram o olhar do casal, tentando dar-lhes alguma privacidade.

Pouco depois, ouviram o casal suspirar e, assim, voltaram seus olhares para eles. Harry estava abraçando Gina novamente, mais carinhoso que antes, o rosto mergulhado nos cabelos ruivos. Gina sorria levemente, o rosto aninhado no peito forte dele.

- Mione... – Harry ergueu o rosto e fitou a amiga com uma expressão indecifrável – Ajude-me a compreender meus sonhos?

- Claro. – Hermione sorriu reconfortante – Desbloqueie sua mente para que eu possa vê-los.

Harry assentiu e fechou os olhos. Gina fitou Rony e depois Hermione, que também fechara os olhos. Alguns minutos de silêncio se passaram. Rony sentiu o corpo de Hermione estremecer e a abraçou com mais força, depositando um beijo sobre sua cabeça. Quando Harry suspirou, Gina o abraçou com mais força e viu Hermione abrir os olhos. A morena suspirou e se aninhou em Rony, fechando novamente os olhos para pensar.

- Aparentemente... – começou ela pouco depois – não há nada que ligue os sonhos.

Rony bufou frustrado e Gina fechou a cara.

- Aparentemente. – Hermione sorriu, os olhos em Gina – Só aparentemente!

Gina olhou a amiga com incompreensão.

- Não sei por que, Harry, – Hermione desviou os olhos da ruiva e fitou Harry – você teve esses sonhos. É a única coisa que não compreendo.

- Mas, e a ligação? – Rony pressionou-a em seu peito, pedindo atenção.

- Ah, é. – sorriu Hermione, obviamente esquecida de tal informação – A ligação que eu encontrei é que... – ela encarou Harry com seriedade – os três: sua mãe, seu pai e o Cedrico; foram mortos pelo Tom.

- O que liga os sonhos é que todos foram mortos pelo Tom? – perguntou Gina sem entender.

- Todos os que tinham real ligação com Harry. – assentiu Hermione.

- Então não vou sonhar mais. – disse Harry, aliviado – Não há mais ninguém que seja importante para mim que foi morto pelo próprio Tom.

Eles ficaram em silêncio por algum tempo.

- Que horas são? – perguntou Rony.

- Quando nós acordamos era pouco mais de quatro da manhã. – respondeu Hermione.

Somente a informação do horário excessivamente cedo fez com que todos os quatro bocejassem longamente.

- Certo. – Hermione se soltou do abraço de Rony – Vou dormir.

Ela se inclinou sobre Rony e o beijou com carinho.

- Boa noite. – murmurou ele com um sorriso bobo.

- Vamos, Gina. – chamou Hermione, olhando-a.

- Ah. – gemeu Gina, entristecida – Não posso ficar aqui? – ela fez biquinho – Ta tão quentinho. – e aninhou-se mais no corpo de Harry.

Ele riu divertido e a abraçou com mais carinho, mergulhando o rosto em seus cabelos.

- Deixa de embolação, Gina. – bufou Rony – Você pode ficar o dia inteiro grudada no Harry. Deixa o coitado dormir, pelo menos. – Rony ajeitou-se para voltar a dormir.

Gina suspirou e se desvencilhou dos braços de Harry. Ele a puxou para um beijo apaixonado, a mão firme em sua nuca. Rony e Hermione tremeram. A temperatura variou estranhamente, indo e vindo de congelante à escaldante.

- Controlem-se, por favor! – bufou Rony.

Harry riu, a boca ainda fixa na de Gina. Ela abriu as mãos sobre o peito dele e pressionou para se afastar, um sorriso maroto nos lábios vermelhos.

- Boa noite. – sussurrou ela e deu-lhe um selinho.

- Boa noite. – desejou ele, vendo-a se erguer e se afastar.

- Boa noite, Harry. – disse Hermione, sorridente.

- Noite, Mione. – acenou ele.

Gina piscou para o namorado e fechou a porta depois que Hermione passou. Rony virou-se para Harry, emburrado.

- Será que pode se conter?! – perguntou ele, irritado.

- Vai dormir, Rony. – exclamou Harry, risonho, deitando-se e dando as costas para o amigo.

Harry sorriu com os sons intermináveis de Rony bufando. Ainda sorrindo, Harry fechou os olhos e mergulhou em um profundo sono, sem sonhos.

=-=-=

- Dia, Harry! – Owen entrou pela porta da cozinha, um sorriso cansado nos lábios.

- Owen! – Harry se levantou e caminhou até o amigo, que desabou sobre a cadeira mais próxima – Está bem?

- Sim. – Owen respirou uma grande quantidade de ar – Foi difícil. – afirmou e caiu na risada – Espero que nenhum dos donos daqueles objetos tente encontrá-los novamente.

- Por quê? – perguntou Harry, maroto, sentando-se na cadeira ao lado.

- Alguns foram... – Owen parou e olhou para todos que o encaravam.

Sirius e Remo haviam interrompido uma conversa sussurrante que mantinham. Rony, Hermione e Gina fitavam-nos sorridentes.

- Digamos que... – retomou Owen – eles sofreram um acidente.

Todos que os olhavam riram e voltaram às suas ações anteriores.

- Como estão as coisas por aqui? – Owen abaixou a voz.

- Tensas. – suspirou Harry – Todos sabem que o amanhã é tudo o que temos certeza.

- Não fale assim, Harry. – Owen deu alguns tapinhas no ombro do amigo – Nós vamos ganhar. Tenha esperança.

- Esperança. – repetiu Harry, desanimado.

- Harry... – Owen ergueu uma sobrancelha – O que te perturba?

- Não é nada, Owen. – Harry forçou um sorriso – Não se preocupe comigo. – assentiu e riu levemente – Como a Sarah está?

- Cansada. – Owen percebeu a mudança de assunto e não se opôs – E triste também. O diadema era realmente bonito.

- Imagino. – concordou Harry – Onde estão os restos?

- Entreguei ao meu pai, para fazer o mesmo que fez com o medalhão. – respondeu Owen.

- O que ele fez? – Harry ficou curioso.

- Não sei. – Owen deu de ombros – Ele não falou e não me importa. São os restos, não são? Não prestam para nada.

- É.

A porta se abriu e Moody entrou.

- Reunião. – informou e saiu sem esperar reações ou respostas.

- Mais?! – exclamou Rony.

- Pelo jeito. – Sirius sorriu cansado, levantando-se.

=-=-=

O dia foi cansativo. No entanto, rendera mais do que o anterior. Tudo estava pronto. Todos estavam tecnicamente preparados. As estratégias estavam prontas e começavam a ser executadas. Centenas de bruxos se dirigiam à Hogwarts. Durante toda a noite, aurores e membros da Ordem da Fênix iriam para a escola e cumpririam suas ordens.

Na sede da Ordem, poucas pessoas ainda restavam. Sirius, Remo e Tonks estavam arrumando seus últimos pertences. Os Weasleys já estavam prontos, sentados todos em uma sala, aguardando.

Pouco depois, estavam todos reunidos.

- E Harry? – perguntou Sirius à Molly.

- Ainda não voltou. – respondeu ela, aflita.

- Eles pediram para não esperar. – Tonks tocou o ombro de Sirius – Vamos.

Sirius assentiu. Arthur levantou-se e depositou uma caixa de sapatos sobre a mesa. Todos a tocaram e, em um segundo, a sede estava completamente vazia.

=-=-=

Não sabiam onde estavam. E pouco lhes interessava.

- Todos estão prontos. – disse Rony, fitando Terra.

“Ou pensam que estão.” - afirmou Ária, calma.

- Farão o que puderem. – assentiu Hermione – Mas tudo depende de nós.

“O fim está próximo.” – anunciou Fuoco, os olhos vermelhos fixos em Harry.

- Eles cairão. – disse Harry, forte e convicto – E nunca mais se reerguerão.

Gina sorriu com a determinação do namorado, sendo imitada por Hermione. Rony bateu a mão em punho na palma da outra mão, o olhar ansioso.

“Estaremos prontos.” – falou Acqua“Ficaremos por perto, aguardando vossos chamados.”

- Até amanha. – o quarteto fizeram longas reverencias e aparataram.

Ária e Terra se despediram e desapareceram com, respectivamente, uma ventania e um terremoto. Fuoco e Acqua se encararam.

“O que está nos escondendo?” – questionou Acqua.

“Tu mesma disse que temia o fim.” – disse Fuoco, vago – “Eu não o temo. Eu já o conheço.”

Fuoco!” – chamou-o ela antes de uma labareda de fogo surgir e o dragão desaparecer.

Acqua tremeu. O sentimento que mais odiava assombrando-a.

“O que quiseste dizer com isto, Fuoco?” – urrou ela, banindo o medo e desaparecendo com uma explosão de água.

=-=-=

Todos os alunos de Hogwarts haviam sido recolhidos em suas casas. Os diretores das respectivas casas davam avisos e conselhos. Aurores patrulhavam os terrenos. Centauros cavalgavam pela floresta. Lycans uivavam através da escuridão da noite.

O quarteto aparatou em meio aos terrenos. Os aurores próximos sacaram as varinhas, prontos para morrerem lutando.

- Não sejam tolos. – gritou Rony – Somos nós.

- Desculpem-nos. – pediu um dos aurores, guardando a varinha.

- Até parece que algum comensal consegue aparatar em Hogwarts. – sussurrou Gina, irritada.

Eles caminharam para dentro do castelo, rumando para o Salão Principal. Ao pisarem dentro do Salão, sentiram o impacto da tensão e do medo. Os alunos da AD estavam presentes, conversando com os aurores como se não fossem meros estudantes. Os aurores os respeitavam, pois haviam batalhado lado a lado em Hogsmeade. Os lideres da Ordem da Fênix estavam próximos uns dos outros em torno da mesa dos professores.

- Como estão as coisas por aqui? – perguntou Harry à Moody, assim que se aproximaram.

- Os alunos estão seguros em suas casas. Muitos querem lutar e Minerva teme isto. – respondeu o ex-auror.

- Ainda acho que os alunos devem ser mandados para suas casas. – informou Hermione, cruzando os braços – É perigoso demais mantê-los aqui.

- Hogwarts não é mais segura. – assentiu Gina, acompanhando o raciocínio da amiga – Tom virá para cá com força total. Se os aurores e a Ordem não segurarem seu exército, acontecerá uma chacina.

- Mas nós temos... – começou Sirius, tentando animá-los.

- Não poderão contar conosco. – Harry cortou-o – Nós cuidaremos de Tom e o impediremos de conjurar seu exército sombrio. Somente isto.

- Ele ainda tem sua legião de comensais e de lobisomens. – advertiu Rony – Eles serão por conta de vocês.

- Dos lobisomens... – um homem alto se aproximou, cuspindo rudemente a última palavra – nós cuidaremos.

Remo virou-se para o homem e pousou a mão direita em punho sobre o peito esquerdo. O homem retribuiu o cumprimento.

- Sou o Alfa. – o homem se apresentou ao quarteto.

- É um prazer. – sorriu Harry.

- Para minha alcatéia aqueles lobisomens... – ele cuspiu com brutalidade a mesma palavra – serão mera diversão.

- Nunca é bom subestimar os inimigos. – advertiu Hermione, contida.

- Não estamos subestimando-os. – sorriu o Alfa, os caninos cintilando – Estamos sendo realistas.

- Qual é a posição de Agouro?– perguntou Tonks para Moody.

- O nobre centauro pediu para avisar que sua raça estará pronta ao amanhecer. – respondeu o Alfa, calmamente.

- Obrigado. – agradeceu Moody.

O Alfa inclinou a cabeça para o quarteto e se despediu de Remo com o mesmo ato de cumprimento. Virou-se e saiu ágil. Os líderes da Ordem voltaram à conversa. O salão esvaziou-se antes mesmo que eles notassem a passagem do tempo.

- Vou me deitar. – Rony bocejou – Boa noite. – ele começou a se afastar.

- Esta é a nossa deixa. – Remo bocejou também e puxou Tonks para seguirem Rony.

- Até amanhã. – informou Moody, segurando o ímpeto de bocejar.

- Boa noite. – desejou Hermione ao ex-auror e seguiu os amigos.

Harry e Gina saíram de mãos dadas. Sirius pousou a mão no ombro do afilhado. Remo e Tonks se despediram de todos e seguiram para seus aposentos. Sirius abraçou Harry com força e afastou-se calado.

- O que o Sirius tem? – perguntou Harry.

- Sei não. – Gina se espreguiçou.

- Estou caindo de sono. – Rony bocejou novamente – Até amanha. – ele puxou Hermione para um beijo terno.

- Boa noite. – Hermione sorriu para eles – Vou acompanhar o Rony até o quarto dele.

Eles se afastaram semi-abraçados. Quando o corredor ficou vazio, Harry e Gina riram alegres.

- A Hermione nem para disfarçar.– disse Gina, risonha.

- Ela é inteligente. – Harry segurou-a delicadamente pelo queijo, puxando-a para mais perto – Deu-me uma idéia. – seus olhos cintilaram.

Gina sorriu marota e se inclinou para beijá-lo.

=-=-=

Ele podia senti-la em seus braços. A respiração suave e quase silenciosa. O corpo frio e macio. Era ótimo poder dormir abraçado a ela, sentir seu aroma floral inundando-o, arrepiar-se pelo contraste alarmante de temperatura corporal. Era tão reconfortante. Era como ter paz. A paz que desejava ter no fim. Sabia que ela estava ali, dormindo em seus braços, segura. Apesar de estar quase adormecendo, de estar caindo na inconsciência, sabia que ela estava ali. Tinha certeza disto.

A certeza, porém, se desfez em rápidos segundos. Ele lutou contra a inconsciência, lutou para manter-se consciente de que ela estava ali. Não queria ter duvidas de sua presença ou segurança. A inconsciência, pouco a pouco, foi vencendo-o. Ele não ouvia mais sua respiração, não sentia seu aroma nem seu corpo frio. Sentia apenas uma coisa. Algo que o apavorou mais do que a morte. Sentiu angústia.

Ele tinha uma mera lembrança de como sentia frio antes da consciência vencê-lo. Agora, o frio que sentia era totalmente diferente. Era um frio sombrio e tenebroso. Tinha também a mera lembrança de estar abraçado a alguém. Agora, seus braços caíam inertes ao lado do corpo. Abriu os olhos, relutante.

Sorriu, apesar da agonia crescente. Ela estava ali, não havia porque temer ou duvidar. Estava apenas a alguns passos, alguns passos através do corredor escuro. Ela retribuiu o sorriso, os olhos brilhando carinhosos. Ele deu um passo à frente. A angústia pareceu tomar forma física e apunhalou-o como uma adaga no peito. Ele não se movera. Sentira a perna se mover e, no entanto, não havia movido sequer um centímetro.

Olhou-a novamente. Ela ainda sorria. Era como se não tivesse noção do que acontecia a ele.

- Gina. – chamou-a, suplicante.

Queria que ela viesse ao seu encontro, que lhe poupasse a agonia de tentar se mover e não conseguir. Ela não se moveu, sequer alterou a expressão. O sorriso continuava firme e os olhos brilhando carinhosamente.

Tentou outra vez, avançando uma perna. Sua garganta contraiu-se, impedindo sua respiração. A angústia comprimia-o, dominadora e descontrolada. Sentiu o ímpeto de sair, de voltar os passos, de fugir. Contudo, não podia fazê-lo. Não podia deixá-la ali, sozinha em um corredor escuro. Seu instinto de proteção para com ela era mais forte que qualquer ímpeto de fuga.

- Gina... venha! – suplicou com a voz falhando – Preciso de você. – confessou.

A reação dela foi exatamente o que ele não queria, o que não esperava. Ela riu. No entanto, não era sua risada cristalina como a água caindo em uma cachoeira, não era carinhosa nem reconfortante. Era uma risada fria e sombria. A bela face transfigurou-se em uma máscara de sarcasmo e diversão, uma diversão maligna o suficiente para deixá-la sombria.

- Precisa de mim?! – a voz dela saiu cortante e puramente sarcástica.

Ela gargalhou mais intensamente. Sua expressão mudou novamente. A máscara agora era de puro ódio.

- Precisa mesmo de mim?! – bradou ela, violenta – Não me pareceu que precisava quando me mandou para a morte.

- Morte?! – gritou ele, aturdido.

Ela não estava morta. Ela estava ali, na sua frente, não poderia estar morta.

- Bem vindo... – Gina abriu os braços, um sorriso cruel deformando seu rosto – ao corredor final.

- Corredor final?

- Você morreu... – disse Gina, a voz adocicada de prazer, e completou com repugnância – Potter.

- Gina... – ele balançou a cabeça.

Não podia ser verdade.

- Você me mandou para os braços do Tom, para a morte. – os olhos de Gina brilharam apavorantes – Ele mandou eu te esperar. – ela sorriu ainda mais cruel – E eu também quis esperar.

- Gina... não! – bradou ele, a angústia cortando-o como adaga.

- Eu te odeio. – a voz de Gina foi um sussurro quase inaudível, mas fora carregado de toda a frieza e ódio que ela poderia sentir.

- Não... – ele ergueu as mãos e pressionou-as na cabeça.

- Antes que eu me esqueça... – Gina riu antes de continuar – ele quer ver isto.

Ele fitou-a atordoado. Ela riu mais uma vez. A risada tornou-se cada vez mais fria e cruel. Ganhou outro timbre e, seu corpo, outra forma.

- Adeus, Potter. – gargalhou Lord Voldemort.

Novamente a risada e o corpo mudaram. Era Gina novamente.

- Te vejo no inferno, Potter. – ela ergueu a varinha, o olhar vidrado e deliciado sobre ele – Avada Kedavra!

Ele não queria se mover. Gina odiava-o, o queria morto. Não queria se mover. Morreria por ela. Pela mulher que amava e que amaria por toda a eternidade, mesmo que a passasse no inferno.

Antes que o feitiço lhe atingisse, viu o rosto de Gina transfigurar-se, abandonar a máscara de ódio para assumir uma de pavor. Viu-a abrir a boca e gritar, muda, seu nome. Viu em seus olhos o pedido de desculpas.

Ela não queria matá-lo. Não o odiava.

Contudo, a Maldição da Morte estava próxima demais.

O brilho verde opaco cegou-o. O resto perdeu-se na escuridão. Restou apenas uma coisa. A única coisa que ele temia mais que a própria morte.

Angústia.

=-=-=

- Harry! Acorde Harry! Por favor... acorde!

- Ah! – ele se levantou, os olhos arregalados de espanto.

- Harry?

Ele olhou para a fonte da voz preocupada e deparou-se com uma Gina assustada.

- Tudo bem? – ela tentou se aproximar dele.

- Não! – ele pulou da cama, afastando-se rápido, os olhos apavorados – Não se aproxime.

- Harry?! – Gina arqueou uma sobrancelha.

Ele deu-lhe as costas e caminhou até a janela, abraçando-se. Ela pôde ver pelo reflexo da janela a expressão de dor e de pavor dele. Algo de muito ruim havia tomado Harry em seus sonhos. Gina ergueu-se e caminhou lentamente até ele.

- Harry... – sussurrou.

Ele não se moveu. Os olhos estavam fechados, comprimidos, os lábios apertados em uma linha tensa. As mãos tremiam.

- O que aconteceu? – ela parou ao lado dele, desejosa por abraçá-lo e acalentá-lo.

Ele permaneceu mudo, os olhos comprimidos e os lábios apertados. Gina cedeu ao seu desejo e abraçou-o forte. Harry não retribuiu, parecia uma pedra, uma pedra fria. E foi a frieza de seu corpo que fez Gina soltá-lo e tomar seu rosto entre as mãos.

- Olhe para mim. – pediu.

Ele abriu os olhos e fitou-a. Ela tremeu. Os olhos verdes estavam opacos, sem brilho, pareciam mortos.

- O que aconteceu? – perguntou, temerosa.

Ele balançou a cabeça e fechou os olhos novamente. Não queria falar sobre aquilo.

- Harry... – ela o abraçou novamente.

O corpo dele ainda era frio e imóvel. Quando ele se moveu, foi para fazer algo que ela não esperava. Ele ergueu as mãos e fechou-as nos punhos dela, afastando-as de si. Deu alguns passos para trás, os olhos fixos no chão, a expressão vazia. Ela tentou se aproximar novamente.

- Não... Gina. – pediu ele, baixinho.

Ela parou. Não compreendia as atitudes dele. Ele havia sonhado e estava transtornado. Por que não queria que ela o ajudasse, que o confortasse?

O tempo passou. Um espaço maior que o físico entre eles. O silêncio pesando como nunca antes.

Gina sentiu-se apavorada. Não tinha como ajudar Harry, ele não deixava, não queria. Ela não podia fazer nada. Sentiu-se impotente. Sentiu uma ferida abrir-se em seu peito.

- Eu... – a voz fraca de Harry a despertou, ele fitava o chão – Você sabe que... – ele respirou fundo várias vezes – Tudo que eu quero é a sua segurança...

- Eu sei, Harry. – assentiu ela, a distância entre eles parecia aumentar e ela não compreendia isto.

- Eu não... não quero que vá para a batalha. – informou ele, a voz ficando mais forte e firme, os olhos ainda no chão.

- Como? – ela preferiu pensar que aquilo era uma ilusão.

- Não quero que participe da batalha... é perigoso demais.

A boca dela se abriu com espanto. Ela balançou a cabeça, as mãos erguidas na altura do peito.

- Delírio. – sussurrou ela, inconformada – Você está delirando.

Ela riu, uma risada sem emoções.

- Gina... – ele chamou-a.

- Cala a boca, Harry! – bradou ela, o rosto lívido, as mãos em punho.

Ele suspirou. Sabia que seria difícil. Contudo, tinha de fazê-lo. Não cumpriria o destino imposto pelo sonho. Não levaria Gina para a morte.

- Você vai morrer se for. – Harry forçou-se a revelar o que ele não queria aceitar.

Gina ficou em choque.

- Como é?

- Eu sonhei novamente... – ele se abraçou inconsciente – O mesmo corredor... a mesma angústia. – ele pressionou os lábios – Só que... – fitou Gina – era você.

Ela balançou a cabeça e deu um passo na direção dele.

- Foi somente um sonho. – disse.

- Não. – ele deu um passo para trás, afastando-se – Não foi.

- Pare, Harry. – pediu ela, os olhos marejando.

- É para o seu próprio bem, Gina. – argumentou ele, desviando os olhos dos dela.

O silêncio tomou o quarto. Foi um silêncio tão pesado que ele ergueu o olhar para fita-la. Ela não estava longe, pelo contrário, estava a poucos centímetros dele. O punho fortemente pressionado cortou o ar. Segundos depois, Harry se viu no chão, com Gina sobre si desferindo socos fortes e descoordenados sobre sua face.

- Gina... pare! – pediu ele, erguendo os braços para se proteger.

- Seu idiota! – ela venceu a proteção dele e continuou a socá-lo.

Harry bufou e segurou-a pelos pulsos. Forçou o corpo para se erguer e, com toda a força que possuía, levou-a ao chão, segurando firmemente seus braços acima de sua cabeça e mantendo seu corpo preso abaixo do seu próprio. Gina se debateu, tentando se soltar. Os olhos cheios de lágrimas e o rosto vermelho de raiva.

- Pare, Gina! – ele quase gritou.

Ela parou e o olhou. Ele podia sentir a ardência dos ferimentos que ela lhe causara, o sangue escorrendo em algumas partes do rosto. Ela fechou os olhos e as lágrimas rolaram. Harry soltou os braços dela e a puxou, sentando-os e abraçando-a. Ela o envolveu com os braços trêmulos e, ao mesmo tempo, firmes, como se temesse uma nova fuga dele.

- Por que... fez isto? – murmurou ela, a voz abafada pelo peito dele – Eu sei que é perigoso... Mas eu sou forte... – ela gemeu e completou amargurada – Por que não confia ou acredita em mim?

- Gina... – ele abraçou-a com mais força, sentindo a mágoa dela – Perdoe-me. – suplicou – É que... – ele suspirou sobre os cabelos dela – Você é tudo o que eu tenho... Minha vida é sua, meu coração é seu. – desabafou – Não vou suportar se algo te acontecer.

Ela tremeu e soluçou. Ele apertou-a ainda mais contra seu corpo.

- No meu sonho... – começou ele – você me odiava. – engoliu em seco antes de continuar – Disse isto com todas as palavras. E... no final... – tremeu – me matou.

Gina abraçou-o com mais força, as unhas arranhando-o. Ele afagou seus cabelos ruivos e respirou seu aroma floral.

- Tente entender, Gina... – pediu ele.

- Você sabe... – sussurrou ela – que separados somos mais fracos. – desvencilhou-se dos braços dele, mas não se afastou – Não posso abandoná-los. Não posso fugir da batalha.

- Não é abandono... nem fuga. – argumentou ele, o medo de perdê-la aflorando-se – É só...

- Shi. – ela tocou os lábios dele com os dedos frios – Eu não vou, Harry. – disse ela, convicta – Não importa o que aconteça no final. Eu não vou abandonar Rony e Hermione... eu não vou abandonar você.

Ele fechou os olhos e tremeu.

- Não tenha medo, Harry. – pediu Gina, as mãos descrevendo as linhas do rosto dele e curando os ferimentos que lhe causara – Confie em mim. Confie em nós.

Harry abriu os olhos e fitou-a. O olhar dela era tão confiante e reconfortante. Como poderia temer ao lado dela, sob aquele olhar? Ele assentiu e puxou-a novamente contra seu peito.

- Promete que... – começou ele – se não houver mais esperanças... – engoliu em seco - Se eu cair... você não vai bater de frente com Tom... não vai...

- Se você cair, Harry... – ela se afastou novamente, fitando-o – Não terei motivos para continuar vivendo.

- Gina... por favor. – ele segurou as mãos dela entre as suas – Prometa-me que não vai fazer isto. Eu não terei paz se pensar que você... – a voz dele morreu.

Ela suspirou e se aproximou novamente. Beijou-o, calma e suavemente.

- Não pense nisto, ok? – pediu ela, depois de se separar dele.

Harry suspirou e assentiu. Ergueram-se e voltaram para a cama. Ele a abraçou forte por trás e beijou-lhe a nuca.

- Eu te amo. – murmurou.

- Eu também. – ela sorriu e se aninhou ainda mais.

A noite foi calma e tranquila para ambos. Nenhum sonho ou vislumbre passou pela mente de Harry. Um sorriso ficou estampado em seu rosto durante toda a noite enquanto tinha a certeza, mesmo na inconsciência, de que Gina estava ali. Segura.


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