Já é tarde e eu não consigo dormir, minhas dores parecem cada vez mais fundas com cada gole de água. A janela aberta, o lençol bagunçado, meus cabelos rasgados. Fiquei deitado na cama. Saio do mormaço, equilibro num só pé, ereto expiro o ar, de uma forma brusca e tão sútil que me lembrei dum anjo diário, mais uma vez.

Olhei para o travesseiro molhado, cocei minha raspa de barba, deitei novamente. Apoiei o travesseiro nas costas da cama e me acomodei entre as dobras. Vasculhei a fronha e encontrei o controle do toca videocassetes. Estendi o braço, fechei os olhos e logo os reabri, apertei o play.

“Essa é a mulher mais bonita do mundo! Eu devo a minha vida a ela, quando eu morrer, mesmo sendo ateu, pediria para Deus para que voltasse ao lado dela, quem sabe numa próxima vida ou nessa mesma!”.

Já havia descido 10 lágrimas, mas não podia parar a gravação para só dizer isso.

“Esse que falou agora, é o meu namorado chato que eu amo tanto! Já sou feliz ao lado dele e não preciso de mais nada! Sempre me perguntei o valor da vida e o encontrei”. Desabei, soltei o controle à deriva, pus as mãos aos olhos, tapando-os, salvando a Rússia de uma enchente.

Há uma mancha nessa lembrança. E nem você, nem eu, saberemos o motivo desse texto. Se esperava mais, vá, pelo menos você tentou. O fundo disso tudo é o dadaísmo que ela me deixou.

FIM

6/11/2015