Apenas um sonho escrita por Florrie


Capítulo 4
Sansa




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Quando acordou ela esqueceu-se de onde estava, mas a confusão durou apenas alguns instantes. Logo as memórias do dia anterior voltaram com força. Estou em Winterfell e aparentemente não me lembro de nada do que aconteceu nos últimos anos. Bateram na porta lhe tirando de seu estado de confusão, depois de sua permissão, duas aias entraram para ajudá-la a se vestir.

Sansa escolheu um vestido de lã cinza com bordados dourados nas mangas e pequenas flores de tecido no colarinho. As moças pentearam seu cabelo silenciosamente e lhe perfumaram. Quando se viu satisfeita, ela as dispensou e saiu do quarto. Do lado de fora uma mulher forte e alta a esperava. Não tinha beleza, logo notou, mas seus olhos eram gentis e ela lhe deu um sorriso assim que a viu.

– Minha senhora.

Não soube bem como responder. Aquela mulher não parecia uma senhora nobre, na verdade, nem ao menos se vestia como uma. Estava usando uma armadura reluzente e tinha uma espada dourada na bainha. Poderia ser um cavaleiro, mas nunca conheceu um cavaleiro que fosse mulher.

– Eu me chamo Brienne de Tarth. – falou a mulher. – Sou seu escudo juramentado.

– Meu escudo juramentado?

– Eu fiz uma promessa de proteger você e vossa irmã com minha vida. – Sansa podia dizer que ela era familiar, mas novamente, não havia qualquer tipo de lembrança dela em sua mente. – Vosso irmão está na sala do conselho milady, ele gostaria de vê-la.

Por um instante pensou em Jon, mas então se lembrou de que ele não era seu irmão.

– Rickon?

– Sim.

– Leve-me até ele, por favor.




A sala do conselho de Winterfell não era muito parecida com a de Porto Real. Primeiramente, seu tamanho era menor e a decoração menos pomposa. Havia, contudo, alguns toques delicados, como uma belíssima tapeçaria com um lobo prateado uivando em direção da lua e algumas rosas azuis postas em três jarros no canto. Sansa imaginou se teria sido ela a responsável por aqueles detalhes.

Uma mesa de carvalho foi posta no meio, encima dela havia um mapa de Westeros esculpido. Encima de uma mesinha menor estavam miniaturas de madeira dos símbolos de varias Casas. As cadeiras ao redor estavam todas vazias a não ser por uma ocupada por um garoto ruivo que não devia ser muito mais velho que Robb quando ela o viu pela ultima vez. O menino lembrava seu irmão mais velho em muitos aspectos, mas principalmente na aparência. Os cabelos ruivos e os olhos azuis eram dolorosamente parecidos, assim como as roupas que usava, o garoto se vestia de forma simples, mas elegante, algo que um rei do Norte deveria usar.

Sansa se lembrava do bebê Rickon com seu temperamento feroz e selvagem, não desse garoto que parecia mais velho do que aparentava.

– Rickon? - perguntou incerta e quando o menino confirmou ela foi até ele e o abraçou. – Você está tão diferente, tão grande, – Sansa se afastou e o olhou por completo – e tão elegante.

– Devo estar. – ele respondeu com um sorrisinho. – Foi você quem mandou fazer todas as minhas roupas, disse que um rei deve se vestir de acordo.

Ela beijou seus fios ruivos e o abraçou novamente.

– Como está? – ele perguntou hesitando em suas palavras. Certamente alguém já tinha lhe contado sobre sua condição, Sansa pegou-se imaginando se todo o resto do castelo já sabia.

– Estou bem melhor. – respondeu sem saber ao certo se era uma mentira ou uma verdade. – Creio que já lhe contaram.

Ela se sentou na cadeira ao lado dele e colocou as mãos entrelaçadas na mesa.

– Sobre a sua... A sua memória? Sim, Arya veio me explicar. – suspirou. – Você lembra-se de mim? – ele perguntou. – Ou lembra-se do dia em que voltou para Winterfell? Dos dragões no céu ou da longa noite?

Ela acenou negativamente com a cabeça.

– Não tem problema, eu posso contar tudo o que aconteceu. – ela sorriu como resposta. – Eu também queria perguntar outra coisa... Arya disse que eu deveria esperar, mas...

– Pode perguntar. – ela o encorajou.

– Você costuma estar presente nas reuniões do conselho, eu gostaria de saber se devo mandá-la chamar no próximo ou se prefere continuar descansando. – ela ficou um pouco surpresa em saber que freqüentava as reuniões. Ponderou um pouco e então disse:

– eu apreciaria muito.

Rickon sorriu.




Deixou Rickon sozinho na sala e voltou para o corredor onde encontrou a mulher alta parada a sua espera. Ela lhe perguntou onde desejava ir, Sansa pensou um pouco, ela queria rever o represeiro onde seu pai rezava e o pátio onde os irmãos treinavam, entretanto, havia outro assunto mais urgente a se tratar. No fim ela respondeu:

– Eu gostaria de ver os meus filhos.

As palavras saíram de forma estranha da sua boca. Seus filhos, aquilo era tão surreal. Ela era só uma menina que um dia sonhou em ter os bebês de Joffrey, lindas crianças douradas, pequenos príncipes e princesas. Agora ela era mais velha, mesmo que não se sentisse assim, e tinha quatro crianças, frutos de um casamento que ela jamais imaginou.

Brienne a guiou pelos corredores. O quarto das crianças ficava em um corredor próximo ao seu. De longe ela pôde ouvir uma risada infantil. Seu coração apertou.

Pararam na frente de uma porta e a mulher disse:

– Esse é o quarto das meninas. – explicou antes de abrir.

O cômodo era amplo e largo. Logo que entrou notou as duas camas com lobos esculpidos. Aproximou-se devagar e viu uma jovem ama com uma das meninas do colo. Essa tinha seus cabelos ruivos e seus olhos azuis, ao vê-la a menina agitou-se no colo da ama e chamou por ela:

– Mamãe. – a menina continuou repetindo a palavra até que Sansa a pegou.

Aquela coisinha linda poderia ter saído de um de seus doces sonhos.

– Olá. – falou tentando a todo custo se lembrar do nome dela.

– Lady Brianna esteve perguntando pela senhora. – a ama comentou sorrindo e Sansa sentiu que poderia abraçá-la agradecida. Será que ela sabe? Olhou um tanto desconfiada para a jovem, mas ela não parecia incerta ou cuidadosa na sua presença, não mais do que uma jovem ama estaria na frente de sua senhora. – Lady Eddara está dormindo.

Foi só então que notou outra garotinha deitada pacificamente em uma das camas. Ela era exatamente igual à menina que tinha nos braços. A única coisa que poderia diferenciá-las eram as roupas. Brianna tinha um vestidinho azul enquanto Eddara um cor-de-rosa. Lagrimas encheram os seus olhos o que acabou assustando as outras mulheres.

– Milady está bem?

Ela está Sarra. – respondeu Brienne. – Vamos deixar a senhora Sansa com suas filhas.

As duas mulheres saíram do quarto, mas ela pôde ouvir as palavras da Ama para a outra mulher.

– É verdade Lady Brienne? A senhora Sansa está mesmo grávida?

Não pôde ouvir a resposta de Brienne.

– Mamãe. – Brianna exigiu sua atenção e sorriu deleitada quando conseguiu. – Olha, olha... – ela começou a apontar para a cama vazia onde havia apenas uma boneca de cabelos dourados. – Papai me deu.

Sansa pegou a boneca com a mão vazia e sorriu. Lembrou-se daquela que seu pai tinha lhe dado quando ela estava em Porto Real. Meu ultimo presente.

– É muito bonita. Você colocou um nome?

– Jonquil. – ela se parece comigo em muitas maneiras, pensou. Isso era algo bom? – Pedi a papai um Florian.

Sansa sorriu.

– Quando papai me der, a minha Jonquil vai poder casar com o Florian. – a pequena Brianna soltou alguns risinhos. – Posso fazer o casamento na frente do represeiro?

– Não haveria lugar mais adequado. – respondeu e logo depois depositou um beijo em sua cabeça.

Ela ainda ficou um tempo com Brianna no colo antes de colocá-la de volta na cama e então checar Eddara. A menininha não tinha acordado desde que ela tinha chegado. Parecia pacifica em seu sono que Sansa teve pena de acordá-la. As duas são uma o espelho da outra, imaginava se Eddara seria tão falante quanto a irmã.

Ela teria tempo para descobrir, mas agora precisava visitar os outros quartos.

Ao sair encontrou Brienne novamente e a jovem ama voltou para as meninas. Quando a porta foi fechada ela perguntou:

– De quem é o próximo quarto?

– Do bebê Sam milady.

Quando entrou no quarto deparou-se com um berço e um garotinho em pé rindo com uma mulher. O garoto logo soltou gritinhos infantis ao vê-la e levantou os bracinhos para o ar. Sansa sentiu as pernas balançarem, aquele bebê certamente era um dos mais bonitos que ela já tinha visto. Seus cabelos eram lisos em um tom de loiro alaranjado, muito diferente do ruivo vivo das gêmeas, e os olhos cinzentos como os do seu falecido pai. Novamente seu coração se aqueceu com um sentimento que nunca tinha vivenciado antes.

– Mamãe. – o garoto falou e ela o beijou.

– O pequeno Sam está muito saudável minha senhora. – sua ama começou a dizer. – E bastante esperto.

Sansa sorriu.

– Ele parece robusto. – comentou.

– Ele está, come tanto quanto o pequeno Lorde comia em sua idade. – respondeu ela. – Será um rapazinho bonito e galante.

O bebê se aninhou em seu colo rindo.

– Ele será. – disse hipnotizada por aqueles olhos cinzentos. – Ele será o rapaz mais bonito do todo o reino.

O garotinho Benjen ela só veio ver horas depois. Depois de sair do quarto de Sam, ela e Brienne passaram a procurá-lo, ao invés do garoto acharam Sandor Clegane que disse que o menino estava no pátio junto com o pai aprendendo a manejar uma espada. Sansa pensou em ir vê-lo, mas desistiu, Jon vai estar lá e ela ainda não fazia ideia de como se portar na sua frente.

Era mais confortável evitá-lo.

Voltou para o seu quarto onde ficou sozinha até que Arya chegasse.

– Sansa? – dessa vez sua irmã vestia calças e seu cabelo estava preso em um coque. – Como está se sentindo?

– Bem.

– Soube que visitou as crianças. – comentou.

– Visitei. – respondeu enquanto observava Arya se sentar na cama. – São crianças tão bonitas...

– Não são? – como se fossem saídas de um sonho meu, pensou. – Antes das gêmeas completarem um ano de seu nome já havia pedidos de casamento, tanto do Norte quanto de outros reinos.

Reinos... Fale-me sobre esses outros reinos. – pediu. – Quando todos se dividiram?

– Na Longa Noite. Foram tempos de medo e horror, os caminhantes brancos chegaram as nossas terras e foram implacáveis. Milhares morreram, inclusive a até então rainha Daenerys. – o rosto da sua irmã se tornou sombrio. – A morte caminhava sobre a neve Sansa, uma visão assustadora. A mãe dos dragões e Jon foram os grandes responsáveis pelo fim do pesadelo, havia uma profecia que falava de um príncipe prometido e de um sacrifício. Foi nessa época que você e Jon tornaram-se mais unidos do que antes.

Sansa corou.

– Também foi nessa época que Brienne lutou contra um daqueles monstros e o matou com o aço de nosso pai, ela salvou sua vida e por isso você prometeu que se algum dia tivesse uma filha a nomearia em sua honra.

Brianna.

– Quando a paz enfim voltou, Westeros já não era mais a mesma, o grande reino ficou enfraquecido demais e então a divisão pareceu o melhor caminho. – toda aquela historia parecia saída de um conto assustador da Velha Ama, era quase impossível de acreditar que ela tivesse mesmo vivenciado tudo isso. Sansa abriu a boca para perguntar mais, contudo a porta se abriu der repente e Benjen disparou até ela cheio de energia.

Logo atrás dele vinha sua Ama.

– Desculpe milady – a mulher disse nervosamente – o pequeno Lorde saiu correndo e eu não pude apanhá-lo.

– Está todo sujo Ben. – Arya disse rindo.

– Mamãe eu lutei como um dos cavaleiros das suas historias. – falou o menino. – A senhora poderia ter visto.

– Sinto muito Ben, mamãe não pôde vê-lo hoje. – respondeu colocando-o no colo. O menino sorriu e continuou a contar sobre seu dia. Sansa o ouvia e vez ou outra olhava para Arya que a observava com interesse.

–... Pate me derrubou uma vez só mamãe.

– Estou orgulhosa.

O menino então bocejou de sono.

– Leve-o para a cama e lhe dê um banho. – disse para a ama.

– Mamãe não vai me contar uma historia? – o menino perguntou quando a ama o pegou no colo.

– Eu...

– Ela está cansada Ben. – Arya falou. – Eu posso lhe contar uma historia, que tal a da princesa Nymeria dos Roinares?

– Eu quero a historia da mamãe.

– Se você não reclamar eu prometo deixar você montar Nymeria amanhã. – o garoto esqueceu sua birra no instante seguinte, parecia extasiado com a ideia de montar o lobo da sua irmã.

Sansa observou a ama levá-lo.

– Talvez eu devesse lhe contar uma historia. – disse.

– Não se preocupe Sansa, é melhor você descansar.

Ela olhou para o colo e apertou as mãos nervosa.

– Eu sou uma boa mãe?

Arya a olhou um pouco surpresa com a pergunta.

– Você é uma ótima mãe.

– Eu não me sinto como uma mãe. – suspirou. – mas eu sou e de quatro crianças. Eu... Eu sinto que eles são importantes para mim, mas... Mas ao mesmo tempo eles me são completamente estranhos.

– É normal que esteja confusa Sansa. – sua irmã pegou suas mãos e sorriu. – Amanhã vamos caminhar por Winterfell, talvez suas memórias voltem.

– Talvez.

– Durma bem Sansa.

– Você também Arya.




A morte pelo fogo não era bonita, mas Sansa não desviou os olhos. Os gritos encheram o Vale. Gritos pelo pai, pelo pequeno Robert e por todos os outros. Pensou.

Você voltará para casa Sansa? Randa perguntou.

Espero que sim. Respondeu.

Nós iremos para nossas famílias. Mya complementou. A bastarda agora se vestia como uma dama de alto nascimento. Você vai rever seus irmãos e eu irei conhecer os meus.

Ela sorriu, algo que não fazia há muito tempo.

Muitas horas depois, quando o fogo diminuiu e o corpo do homem não passava de algo irreconhecível. O lugar estava vazio a não ser por ela. Todos estavam no lado de dentro. Ela se aproximou da fogueira ao mesmo tempo que um vulto negro cortou o céu.

As chamas trouxeram brilho aos seus olhos.

Adeus Lorde Baelish.


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Notas finais do capítulo

Como puderam perceber, nem todo mundo sobreviveu nesses dez anos. Algumas mortes foram inevitáveis - uma em especial me fez hesitar bastante.
Comentários são bem vindos
Bjs ;*