Entre Páginas escrita por Gaby Uchiha


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Oi gente ^^

Mais uma one que surgiu do nada a partir de uma imagem hehehe Assim como ocorreu em A garota do retrato que é um SaIno!

Bom espero que gostem dessa fic que saiu de época, ocorrendo em Genebra. Uau! Frankenstein está me afetando mesmo hahaha Estou colocando até a cidade nas minhas fics hehehe Livro lindo do meu ♥

Divirtam-se...



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Eu não sei quando tudo começou ou o porquê de tudo... apenas aconteceu.

Como qualquer garota nascida no final de século XVIII, minha criação foi atenciosa, porém, limitada; ainda mais por pertencer à uma das inúmeras famílias abastadas de Genebra.

Minha amada mãe, por infortúnios celestes, tinha problemas com gestações. Foram inúmeros abortos espontâneos antes da minha tão estimada vez.

A doce Mebuki, invejada por outras mulheres por causa dos seus belos olhos verdes esmeraldas, e aclamada pelo seu bom e apaixonado marido, foi posta em repouso absoluto.

No entanto, apesar de todos os esforços e orações direcionadas à saúde da minha tão estimável e bondosa mãe, ela veio a falecer ao fim do meu parto.

Eu nunca a conheci. Nunca mamei em seus seios preparados para mim. Nunca fui acolhida pelos seus braços quentes para me acalentar e me proteger do mundo cheio de maldades. Nunca escutei nenhum conselho pelos seus sinceros e singelos lábios.

Ela apenas se tornou uma lembrança triste e cheia de saudades por entre as tão estimadas paredes da nossa grande residência, em uma região mais afastada e rodeada de frondosos campos de Genebra.

Para mim, minha mãe resumiu-se no eterno retrato da bela mulher no centro da biblioteca do meu pai.

A perda foi dilacerante para o homem de negócios que se dividiu pecaminosamente entre o luto e a alegria de um novo ser em seus braços.

Entretanto, o fato de eu ser uma mulher foi um peso social e pessoal para se suportar.

Ah meu amado e tão estimado pai, perdoe-me por não ser o primogênito que o senhor esperava com tanta fervorosa ansiedade para que no futuro assumisse os seus negócios portuários. Perdoe-me pelos insistentes apelos da sociedade que importunavam seus pacatos dias para que buscasse uma nova esposa e uma mãe para mim, consequentemente novos herdeiros. Perdoe-me, eu não tenho culpa de nascer assim...

A constante pressão sobre si e perda de sua companheira, obrigaram-no a confiar minha educação e crescimento à uma ama.

Minhas primeiras e inocentes lembranças são de quando eu estava no colo do meu pai, enquanto ele demonstrava um de seus raros e singelos sorrisos; sorrisos esses que se tornavam cada vez mais raros durante meu crescimento, dando-me o privilégio de observá-los somente quando ele furtivamente fugia de seus afazeres para ver sua pequena menina aprender os dotes que uma mulher da alta sociedade deveria saber, para ser finalmente pudesse ser chamada de prendada.

Música, pintura, bordado, literatura... tantos ensinamentos e incansáveis ensinamentos diários sobre uma pequena criança que me cansavam e conduziam-me facilmente para os frios braços de Morfeu todas as noites após as inúmeras horas de rezas.

Eram raras vezes que eu saia das nossas terras para as movimentadas ruas de Genebra.

Um sorriso cortês sempre ficava exposto em meus lábios como assim haviam me ensinado a ser, durante as intermináveis horas que mulheres de vestidos bufantes e coloridos e homens de altas cartolas, elogiavam-me e espantavam-se com meus grandes olhos herdados de minha mãe ou os incomuns rosados que tonalizavam naturalmente minhas longas madeixas, sempre presas em um penteado de inúmeros cachos e eventuais fios soltos.

Eu cresci assim, regrada, limitada e submissa; servindo apenas como um modelo, uma boneca de porcelana moldada para ser exposta e no futuro ser a ofertada para um grande homem de qualidades e bom status social, quando este aparecesse pedindo a minha mão para o meu pai...

E pretendentes não me faltavam.

Mas como uma criança inocente, eu não ligava para tais correntes sociais a que eu estava submetida ou para o futuro certo que eu teria como matriarca da casa de um homem de negócios. Não. Eu não me importava por aquele futuro tão comum à nós mulheres do século XVIII.

A minha única atenção estava voltada para as limitadas horas de ócio que eu tinha direito todos os dias ao fim de cada maratona de ensinamentos.

O vento frio vindo do Norte que acariciava meu rosto e brincava com as folhas das inúmeras árvores em torno do nosso lago, era a minha grande companhia enquanto admirava a majestosa pintura de cores quentes que a natureza me proporcionava todos os fins de tarde.

Eram assim. Solitários os meus dias, mas eu nunca reclamava. Gostava da solidão acolhedora em contrapartida aos tumultuosos chás da cinco quando os sócios do meu pai vinham com suas famílias e desatavam em conversas não compreensivas para uma criança inocente como eu.

Era separado os sexos. Os homens fumavam seus charutos e discutiam negócios no escritório do meu pai, enquanto eu ficava prostrada, como uma pequena mulher entre as madames em nossa refinada sala do chá, ao mesmo tempo que seus filhos e filhas mostravam um comportamento estranho para mim, brincando e correndo pelas campinas do nosso jardim sob o terno olhar e comentários de suas mães.

Um belo dia, minha vida mudou...

Não houve grandes mudanças ou uma grande desventura para aquela pequena criança de 8 anos. Não. Nada disso.

Eu apenas descobrir algo, um mundo completamente novo e escondido entre as paredes da nossa casa.

Certo dia, enquanto caminhava pelos inúmeros corredores da casa em uma busca infantil para saciar a sede de poder rever meu pai, há muitos dias fora em mais uma viagem de negócios, eu decidi explorar seu mundo com a intenção de me sentir mais próxima dele.

Foi com o coração em contínuos saltos e uma grande porta de mogno, abrindo-se lentamente, que finalmente eu vi pela primeira vez a biblioteca da nossa casa.

Minha primeira reação foi estranhar a decoração escura dos móveis e cortinas de estilo vitoriano, tão diferente do restante da clara casa.

As cortinas, ao fundo da grande sala, estavam fechadas, o que configurava um ambiente escuro e empoeirado para a biblioteca.

Mesmo receosa, fechei a porta e dei curtos passos sobre os meus sapatos caros e moldados para mim por encomenda, em busca de alcançar os grandes e pesados veludos cor de vinho que impediam que a claridade vinda das imensas janelas.

Com dificuldades, consegui libertar apenas uma pequena fenda, mas o suficiente para iluminar as partículas de poeira que planavam pelo ar e também as grandes e altas estantes que adornavam todas as paredes com livros de inúmeros tamanhos e formas.

Meus olhos logo sobressaltaram-se enquanto minha boca abria involuntariamente em um perfeito "O".

Eu tinha aulas de literatura, mas diferente da educação masculina, meus conhecimentos eram restritos aos conhecimentos bíblicos, nada além disso me era ofertado.

Meu primeiro e inocente pensamento ao encarar a imensa riqueza com que meu pai adornava seu recanto particular foi:

"Quantas bíblias!"

Mesmo crendo que era a palavra divina escrita naquelas páginas, eu me aproximei furtivamente de um que estava na minha altura.

Meus dedos tatearam o contorno de couro do livro de tamanho médio antes de finalmente puxá-lo para mim.

Minha mão alisou a capa com uma fina camada de poeira, antes de finalmente abrir e ser açoitada por uma sucessão de tossidas por causa da liberação de partículas em meu trato respiratório.

Mesmo com as dificuldades, voltei meus olhos para as páginas que me eram estranhas em sua escrita. Não eram palavras bíblicas que preenchiam as páginas, eram frases curtas escritas a mão.

Com a curiosidade inflada, pus-me a sentar ereta em um dos sofás no centro da sala para enfim poder mergulhar naquele mar de histórias de Cânticos Ibéricos.

O início foi confuso, mas devido à minha aula de línguas, facilmente pude compreender o sentido das palavras transcrita naquelas páginas e a cada nova virada de página, meus olhos arregalavam-se e meu encantamento aflorava pela literatura.

Como não poderia ficar na biblioteca durante a noite e não queria que minha ama descobrisse meu novo contratempo, passei a furtar livros e escondê-los sob minhas grandes saias.

Lia-os vorazmente sob uma cálida chama no criado-mudo ao lado da minha cama ou sob as cerejeiras floridas ao redor do lago.

Mesmo com o retorno de meu pai, não consegui parar com as leituras proibidas. Os heróis e grandes aventuras já tomavam conta dos meus sonhos e desejos de meninas.

A leitura era a minha pequena droga que eu não poderia mais abandonar.

Secretamente, os anos se passaram enquanto eu continuava a mergulhar naqueles mundos e me encantar cada vez mais com o mundo fictício, até que, aos meus 12 anos, meu pai flagrou-me pegando mais um livro da sua biblioteca.

O susto foi instantâneo, fazendo aquele exemplar da literatura britânica cair entre meus pés, enquanto temia o verdadeiro significado do olhar sério do meu pai.

Calmamente, ele fechou a porta e veio até mim, agachando-se para ficar na altura da sua pequena cria.

— Minha pequena e amada Sakura – falou amavelmente enquanto seus traços suavizavam devido a mais um de seus raros sorrisos – o que a senhorita está fazendo aqui?

Pensei em inventar algo, mas a mentira estava longe de ser algo ensinado a mim.

Como uma submissa, meus olhos caíram ao chão enquanto toda a minha história de furtos e leituras eram narradas para o meu pai.

Quando terminei e o silêncio continuou a planar pelo ambiente, eu ergui meus olhos encontrando a mesma expressão inalterada em seu rosto.

Ele apenas me pediu que indicasse todos os exemplares que havia lido e foi o que eu fiz. Com o tempo ele me perguntou sério, com os braços atrás de seu corpo, sobre o que eu havia lido naquelas páginas.

No início, comentei pausadamente e com eloquência sobre os enredos, mas com o tempo, o entusiasmo me assombrou e até comecei a fazer minhas próprias observações e comparações entre as literaturas e enredos, mas assim que percebi meu deslize na cortesia e modos que uma senhorita deveria ter, temi pelo desgosto que meu pai poderia ter, por isso reprimi-me cobrindo minha boca com as minhas mãos, mas assim que levantei meu olhar para ele, só o sorriso e o brilho em seu olhar eram o meu contemplo.

Serenamente ele andou até mim e segurou em meus ombros.

— Você é mais semelhante à sua mãe do que eu imaginava no princípio.

Suas palavras pegaram-me desprevenidas e meu olhar logo caiu sobre o único quadro daquela sala.

A mulher loira de olhos verdes sorria e mirava-me com gentileza.

Papai segredou-me que o motivo por se encantar por minha mãe em sua época de mocidade, não foi somente sua beleza, mas sim sua inteligência e gosto pela leitura, gosto esse que eu havia herdado secretamente deles.

Meu pai ao me colocar sob os cuidados da ama e educação religiosa, tentou-me pôr em um parâmetro mais aceitável para a sociedade que não aceitava mulheres letradas com facilidade, no entanto, seus esforços foram descobertos como vãos assim que me flagrou invadir várias vezes sua biblioteca, até o dia em que enfim ele mostrou-se saber de tudo.

Por esse motivo, ele pediu que minhas leituras continuassem em segredo, mas que a biblioteca estava aberta para mim, seu único adendo é que eu não saísse comentando sobre minhas leituras para os outros.

Obedientemente, eu assenti. Concordando com os termos para continuar Entre Páginas.

Mais mundos foram descobertos por mim até que um dia, sob a minha eterna e frondosa cerejeira, encontrei um entre as páginas de um livro antigo e desgastado.

As páginas amareladas e até furadas em alguns casos, denunciavam a sua idade e seu descuido.

O autor, diferente de como outros se denominavam anonimamente, pôs seu nome na primeira página do livro sob as delicadas letras do título.

— Lorde Itachi – o nome saiu por entre meus lábios, antes de iniciar a leitura honrosa daquelas páginas.

Assim como eu, o autor e o próprio personagem do livro, tínhamos no nome a cultura oriental empregada.

Na dedicatória do livro, Lorde Itachi escreveu:

Ao meu amado e estimado irmão

que foi tirado de nós tão cedo.

A curiosidade me abatia a cada página, mas o que eu não esperava, era que naquela primavera dos meus 15 anos, eu me encantasse tanto por um personagem de um livro.

Sasuke era diferente de todos os meus heróis anteriores. Ele não tinha olhos azuis ou cabelos de ouro, não tinha rios de dinheiro ou um exército para comandar ou uma nova terra para descobrir.

Sasuke era apenas Sasuke.

Um personagem frio e calado, de pensamentos e narrativas confusas enquanto aquele ser de cabelos negros tonalizados de azul, rebeldes ao vento e dono de olhos tão negros quanto a noite mais sombria, continuava a viver naquele mundo caótico que era as camadas mais baixas da sociedade londrina.

Ele era um imigrante do oriente com um passado sombrio e sanguinolento.

Ele não tinha amigos ou um futuro, morreu em um beco sujo das periferias de Londres sem expectativas ou direito à um velório memorável. Era apenas mais um que morria devido à insalubre vida daquele tipo de habitante.

O jovem "herói" morreu em seus tão breves 23 anos.

O pavor em contraste com a admiração, inundava meu semblante durante toda aquela leitura que durou uma semana.

Todos os dias eu ia para debaixo daquela cerejeira e mergulhava no mundo caótico e sem futuro de Sasuke.

Lágrimas rolaram pela minha face quando sua morte foi anunciada e encerrada no livro, mas meus olhos sobressaltaram-se quando, ao virar a última página, encontrei um pequeno retrato retangular mostrando a cabeça e o colo de um homem bem vestido e semelhante ao personagem principal.

Ao virar a folha, encontrei a mesma letra do autor do livro dizendo:

Meu amado e estimado irmão, Sasuke Uchiha.

Eu sempre te amarei.

A noite já imperava e as estrelas já salpicavam no céu quando finalmente tive forças para voltar para casa.

Recebi uma bronca de minha ama, mas aceitei todas as suas palavras com a cabeça baixa antes de subir para o meu quarto.

Trancada e sozinha, apenas com uma vela acessa ao meu lado, pus-me a voltar a encarar o retrato entre as minhas mãos.

A ponta do meu indicador percorreu seus olhos, seus cabelos e seus lábios finos e retos.

O homem era bonito. Muito mais bonito do que todos os honrosos homens que meu pai me apresentara até ali com o intuito de me perguntar se algum me agradava.

Loiros, morenos, ruivos; de todas as formas, de todos os jeitos, mas nenhum chegava aos pés do oriental com leve traço inglês, que por mais que não fosse abastado como a mim ou àqueles homens, era superior devido a rudeza de seus traços ou seus enigmáticos olhos que visualizam a perda de seus pais e da sua riqueza no oriente.

Um leve tremor se apossou do meu corpo assim que focalizei meu olhar nos negros que estavam de frente para mim, encarando-me nos olhos.

Desviei o meu olhar para apagar a vela, pois assim não teria como minha tentação, de voltar a olhar o retrato, pudesse ser atendida.

Abracei o retrato sob o cobertor, antes de finalmente cair no mundo dos sonhos. Um mundo em que Sasuke estava na minha frente, encarando-me em silêncio em um beco escuro e abandonado, típico de Londres.

Acordei suada naquela manhã, mas logo depois dos meus afazeres, pus-me a procurar mais um livro na biblioteca do meu pai, entretanto, eu não conseguir mais ler pensando em outros personagens para poder esquecer aquele que estava a cada segundo em meus pensamentos.

Eu não lia mais Thomas, Vincent ou Sebastian, era apenas Sasuke que eu via.

Ele tornou-se o personagem principal de todas as aventuras que eu lia e também dos meus sonhos.

Não conseguia evitar, sentia ciúmes quando o herói se encontrava com a mocinha.

Entortava o rosto em desgosto quando alguma mulher oferecia seu lenço para Sasuke.

— Rosalie – amaldiçoava o nome de cada uma delas e no fim voltava enfurecida para o meu quarto em busca do retrato de Sasuke, ao fundo do meu porta joias de prata. – O que o senhor viu nela, afinal? – Perguntava-lhe, mas nenhuma resposta saia daquele frio retrato. – O que eu estou fazendo? – Perguntava-me enquanto meu corpo caia sobre a minha cama, levando o retrato ao meu colo. – Talvez um cavaleiro de duelos medievais não olhasse para mim – pensei tristemente.

Aquela foi a aurora da minha vaidade e da minha imaginação.

Após aquela noite sonhando com o moreno de armaduras medievais prateadas sobre um cavalo negro estendendo-me a mão, foi impossível não começar a me arrumar e a pronunciar meu nome no lugar de cada personagem feminina que fazia par com o herói da trama.

Não existiam mais os outros, apenas Sasuke e Sakura desbravando cada nova aventura.

Juntos desvendamos novos mares e terras, batalhamos em batalhas medievais ou pilotamos navios piratas. Fizemos revoluções ou fui vítima das várias trovas que meu servo cantava para mim, filha do senhor feudal, alguém que ele nunca poderia ter ou almejar.

Apenas os olhares ou cortejos deixavam minhas maçãs vermelhas e a cada dia mais apaixonada por aquele homem que já estava morto e que agora era o personagem dos meus livros e o meu herói.

Entre Páginas eu me apaixonei e vivemos. Entre Páginas você se tornou o meu primeiro e único amor Sasuke...

Tudo tomou proporções maiores, quando, durante uma visita à casa dos Akasuna, eu encontrei um livro em uma sala isolada. Havia ido procurar um toalete, mas assim que visualizei o livro, senti vontade de espiá-lo e descobrir sobre o que falava.

Deixando todos os bons modos e moralidades de lado, abri o livro em uma página qualquer, sendo açoitada com uma descrição peculiar. Li como eu sempre lia, mudando os nomes, mas ao final da página, nossos lábios se tocaram.

Meus olhos se arregalaram e o livro caiu no chão.

Minhas mãos enluvadas logo foram de encontro ao meu colo rosado e envergonhado, que tentava inutilmente controlar a respiração descompassada.

Meus lábios foram logo alisados pelo tecido ao mesmo tempo que meus olhos eram fechados para o mundo.

Como deve ser um beijo?

— Eu posso te mostrar, senhorita Sakura – a voz que eu sempre imaginava como sendo a de Sasuke, soou ao pé do meu ouvido.

Reabri os meus olhos e o homem galante de rosto sério e olhos cor de ônix estava à minha frente.

Sem que esperasse qualquer pedido ou ordem, ele se aproximou aos poucos de mim.

Nossos olhos se fecharam progressivamente, até que nossos lábios finalmente desmanchassem nossos anseios.

Foi um toque gentil e inocente. Um leve e demorado tocar de lábios, fazendo com que minha respiração ficasse mais pesada e meu coração retumbasse cada vez mais.

Quando reabri meus olhos, ele não estava lá.

Ele nunca estava lá.

Habilmente memorizei o título e o autor para que fosse em busca de um exemplar em minha próxima saída com a ama para o comércio. E foi o que eu fiz.

Tive que pagar moedas a mais de ouro pelo silêncio do vendedor que não queria permitir que uma moça de 17 anos adquirisse aquele tipo de livro, tido como proibido na sociedade.

Eu não compreendi na hora. Um beijo era tão reprovador assim?

No entanto, em meio às minhas noites em claro eu descobrir o que tinha de tão errado em tal livro.

O personagem principal do livro era um mercenário contratado que durante as suas folgas afogava-se na vida boemia dos bordeis franceses.

O rubor tomava toda a minha face e colo enquanto buscava ar em cada nova página virada.

Haviam muitos beijos e toques libidinosos, mas assim que a prostituta, no caso eu, abriu a camisa de Sasuke deixando a mostra seu peito nu e trabalhado, com cicatrizes eventuais, eu joguei o livro para longe e fiz diversos sinais da cruz para que aquelas imagens sumissem da minha mente.

Tentei dormir, mas não consegui.

Passei a noite divagando e olhando para o retrato iluminado pela lua.

Apenas com o prenúncio do seu tórax recoberto pelo terno bem alinhado, eu poderia saber que ele era forte, ainda mais pelos anos que fez trabalhos manuais.

Suas mãos deveriam ser calejadas e me perguntei se algum dia alguma mulher tocou naquele homem...

Pelos descritos do seu irmão, sabia que ele evitava qualquer afeição ou aproximação, principalmente das mulheres, que por mais estranhassem sua aparência, sempre se encantavam pela beleza do rapaz.

— Então ninguém tocou no meu estimado Sasuke – pensei alto, sentindo um alívio.

Olhei para o livro caído aberto aos meus pés decidindo seguir a leitura, mas tudo só piorou a partir daquela parte.

As peças de roupas caiam continuamente aos pés daqueles dois amantes até não sobrar nada cobrindo a sua nudez.

Minha pequena mão abafava o grito de espanto a cada toque ousado que eu e Sasuke fazíamos.

Inúmeras páginas sucederam-se até que o ato fosse completamente concretizado. O horror estampava-se na minha face ao perceber o que acabávamos de fazer Entre Páginas.

A pureza estava cada vez mais rompida em meus pensamentos.

De início tive repulsa e nojo, mas com os meses se passando, meu pensamento alterou e resolvi procurar algum livro daquele tipo na biblioteca do meu pai. Para a minha surpresa, eu encontrei um exemplar nos altos da estante.

Li-o fervorosamente e diferente da primeira vez, a ansiedade e o prazer eram a minha companhia.

A partir daquele dia, eu quis que Sasuke me tocasse daquela forma e esse desejo foi concretizado em meus sonhos.

Os meses se transcorreram rapidamente. A primavera dos meus 18 anos bateu na porta juntamente com uma enfermidade que assolou meu tão estimado pai.

Ele ficou acamado e entre os seus últimos suspiros de vida, ele me entregou para um amigo dos negócios. Entregou-me para o filho mais velho dos Akasuna.

Eu chorei incessantemente pela minha perda. Eu não tinha mãe e agora perdera o meu pai.

Minha vida parecia vazia e por um tempo fiquei longe dos livros, mas Sasuke estava ali ao meu lado me acalentando naquelas noites frias, dizendo que entendia a minha dor e que nunca me abandonaria.

O casamento logo chegou mesmo que eu não quisesse. As lágrimas foram engolidas enquanto eu entrava na igreja de braços dados com o patriarca dos Akasuna.

Apenas a frase "Eu amo Sasuke. Eu amo Sasuke" reverberava pelos meus pensamentos.

Não eram os ruivos dos cabelos revoltos ou os castanhos gentis daquele homem 10 anos mais velho do que eu e que me aguardava no altar, que eu almejava. Eu queria os negros. Eu queria Sasuke!

E como se uma feiticeira realizasse meus desejos, foi ele quem eu vi sorrindo de canto, estendendo o braço para me guiar na subida e estadia ao seu lado naquele altar.

Casamo-nos e para suportar tudo, minha mente conflituosa projetava Sasuke no lugar de Sasori e durante todas as noites que Sasori me tomava para si com o intuito de gerar um herdeiro, era Sasuke que eu via sobre mim.

Os anos se passaram, meus primeiros filhos nasceram enquanto ainda me aventurava pelo mundo dos livros.

Sasori era uma bom marido, companheiro e amigo, no entanto, não era Sasuke.

Eu tentei amá-lo, mas não conseguia esquecer meu primeiro amor. O único indício de amor que sentia pelo ruivo, era o da amizade.

Ele se foi devido à uma virose quando eu estava com 30 anos, deixando-me viúva com três filhos homens e uma menina.

A sociedade se preocupou com a minha tristeza, mas a dor que eu sentia era por ter perdido um irmão, não um homem.

Peço perdão Senhor, porque pequei. Pequei ao me consolar pecaminosamente com a memória de um homem enquanto o corpo do meu marido ainda não havia esfriado no caixão.

Como uma culpada continuei com Sasuke. Ele dominava cada canto da minha casa e estava sempre ao meu lado com suas poucas palavras e semblante sério, elogiando-me ou repreendendo-me por algo que tenha feito.

Os empregados começaram a estranhar meu comportamento, já que dialogava com o nada ou ria sozinha.

Pequenas fofocas de que eu via espíritos espalharam-se por Genebra. Alguns diziam que era Sasori acolhendo e acalentando o meu coração, mas o que eles nunca saberiam era que, na verdade, era Sasuke cuidando de mim.

Em meados dos meus quarenta anos, uma forte febre me açoitou. Delírios e tremores eram meus contínuos companheiros naqueles meus últimos dias.

A única coisa que me dava força e vitalidade, era a mão de Sasuke sempre cobrindo a minha.

Ele sorria de canto e aquela visão lembrou-me do meu pai e do retrato da minha mãe.

Só ali, naquela hora, eu entendi a verdadeira importância de Sasuke. Ele não era só o herói dos meus livros ou o ser que amei como um homem, mas também, a personificação dos cuidados dos meus pais que eu não tive e também toda a dor interna que eu sentia, transparecida em um ser.

Eu não fiquei com medo de minha loucura, apenas sorri e obedeci às suas últimas palavras.

— Agora você pode repousar em paz minha amada flor de cerejeira. Eu sempre estarei ao seu lado, cuidado de você.

FIM!


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Notas finais do capítulo

E aí o que acharam? Confuso? hehehe
Espero que tenham gostado e que eu possa ouvir a opinião de vocês ^^

Beijinhos lindos! Até a próxima! ♥.♥



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