Traumerei escrita por Saki


Capítulo 1
Cárcere conjunto.


Notas iniciais do capítulo

Finally finished, depois de um tempo produzindo. Escrevi, reescrevi, formatei, escrevi e reescrevi de novo esta história quinhentas vezes antes de postar mas deve estar bem melhor que a primeira tentativa.
A propósito, acostumem-se com sr. B nos capítulos, será bem comum q. Enfim. Versão remake da história e irra! Espero que gostem ♥



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Apenas é igual a outro quem prova sê-lo e apenas é digno da liberdade quem a sabe conquistar. (Charles B.)

Sua criança mimada.

A marca vermelha em seu rosto queimava, mas mantinha sua expressão irritada, enquanto olhava para cima. O choro era sua reação natural, ainda era uma criança de qualquer forma, mas o garotinho tentava segurá-lo. Tremia pelo choque do frio e pelos soluços fortes. De seu ângulo, via apenas as pernas do adulto poucos centímetros de si. A mão enorme e suja puxou-o pela gola da camisa. Esperneava desesperado, tentando se soltar. Aquele nojento ria com gosto daquela criaturinha, o bafo fedia perto de seu rosto e dava vontade de vomitar. Nojo.

Você acha que é o durão é? Acha?

Nojo, nojo, nojo.

Sabe o que você é? Um lixo, do pior tipo.

Nojo, nojo, nojo, nojo, nojo, nojo, nojo, nojo, nojo...

Você não passa de um vermezinho de merda...

–... E vai aprender a não mexer com uma bruxa.

Um estalo forte e o baque do corpo caindo no chão. De pé, Kaya olhou para baixo da sacada e encarou pela última vez o cadáver estirado no chão e seu olhar assustado. Sorriu.

Aquele filho da mãe teve o que merecia, segundo ele, na realidade merecia mais ainda do que aquilo. Mereceu cada instante de dor e de sofrimento e Kaya sentia-se satisfeito.

Uma excelente sensação de missão cumprida.

Enfim, espantou das roupas os resquícios de sangue fresco que a sujavam e deu meia volta, retornando ao quarto com a porta já entreaberta, igualmente empapada de sangue e se sentou em frente à penteadeira. O quarto atrás de si antes branco e agora completamente vermelho pela quantidade de sangue derramado pela cama, paredes e até resquícios no teto não pareciam incomodá-lo. Apenas queria olhar para sua própria face.

A bela face de Kaya Rose.

A bela face de um assassino.

Ajeitava as madeixas negras lisas sob os ombros, ajeitando a franja lisa que cobria o olho direito. Virava a parte exposta do rosto em direção ao espelho para que visse o pequeno rastro de sangue que ficara em seu rosto e sorriu. Era uma visão realmente satisfatória. Gostava mais ainda de olhar dentro dos próprios olhos esbranquiçados, via neles seu verdadeiro eu.

Uma verdadeira bruxa má dos contos de fadas.

Sua rotina definia-se em atrair, se divertir e matar. Matar de tudo. Seres humanos eram sua presa preferida. E ainda possuía aquele enorme poder de atração digno de um vampiro que usava repleto das piores intenções. Seu charme inegável o ajudava a atrair suas vítimas e assim até conseguia uma fodinha. Matava dois coelhos com uma só cajada. Mais um para a lista de presuntos, pensava, você é realmente um diabinho, Kaya.

Era bom ver a si mesmo como a criatura poderosa que era. O mais poderoso entre os poderosos, o intocável, o escolhido, o supremo, aquele que tinha o triplo do potencial de qualquer um daqueles aprendizes de Merlin daquele conselho estúpido. Era bom ver como era temido por seus superiores. Era bom. Era mais do que perfeito. Ninguém reclamava.

Só aquele chato. O policial do submundo que vivia em sua cola. Àquela altura, ele já devia ter notado sua sujeira e era evidente que ele ganharia uma bronca ao chegar em casa. Havia até separado um presentinho para ele, mas era certo que ele nem olharia dessa forma, apenas como algo horrendo e um abuso de poder terrível e blábláblá.

Irritava bastante o jeito certinho daquele homem, sempre seguindo todas as ordens sem hesitar, menos as dele. Não era seu servo, muito pelo contrário, estava ali para tentar impor ordens sobre ele. Ele, Kaya, um verdadeiro prodígio no conceito feitiçaria. Quem aquele homem achava que era?

Odiava estar preso a ele, odiava de verdade. Dava nos nervos. Tinha vontade socar aquele rostinho desprovido de expressão.

Enquanto arrumava o chapéu e os cabelos era possível ouvir os passos nervosos e os gritos das pessoas que começavam a surgir, possivelmente de outros cômodos, para ver a bagunça que havia deixado. Havia aqueles que perceberam o rastro de sangue, e as falas mudaram de “que horror!” para “a moça que estava com ele está ali!”. Kaya não ligou muito. Apenas continuava a admirar a si mesmo. Quando abriram a porta não havia uma única alma naquele quarto, apenas uma gigantesca quantidade de sangue.

• • •

Porcaria. Ele fez de novo.”

Do alto do enorme prédio onde se encontrava, suspirou. Gostava de ficar ali, em sua vista preferida onde podia ver todos os mortais e as luzes de suas casas. Deixava o vento gelado tocar suas costas sempre protegidas pelas vestes negras e, vez ou outra, descia e permitia que poucos humanos o vissem. Encontrava os olhos assustados daqueles mortais aos próprios de um tom escarlate brilhante, ou melhor, ao seu único escarlate. O outro era um olho cego, coberto pelo gigantesco chifre negro com a ponta virada para baixo que cobria apenas este olho inútil. Era divertido a seu ver.

Já pressentia que ele havia feito alguma coisa errada de novo, apenas pelo cheiro de podridão e sangue fresco que começou a impregnar suas narinas, como se um cadáver estivesse diante de si.

Era a partir desses cheiros que Hora Cocytus era podia saber quando seu “companheiro de pena” havia feito algo errado.

Provavelmente havia matado de novo sem dó nem piedade, como costumava fazer.

Era uma droga estar conectado a alguém tão sanguinário quanto ele e ao mesmo tempo uma lástima enorme. Alguém tão poderoso e cheio de talentos quanto ele não deveria abusar daquela forma e apesar de todos os avisos dados, apenas ignorava e continuava. Às vezes tinha vontade de não dar mais a mínima para ele, mas não podia. Bastava apenas acompanhá-lo como um cãozinho fiel. Bastava ouvir aquelas patadas sem dizer nada, como um bom cão de guarda.

Com tantos séculos a mais que ele de experiência, tinha que se rebaixar ao nível daquela bruxinha que parecia nunca ter saído da adolescência. Ser literalmente uma babá de bruxa. Lamentável a alguém como ele, um ser exemplar que havia ganhado até estátuas há milhares de anos atrás, recebia até sacrifícios, era respeitado. E agora tinha que pedir respeito a um moleque que nem nascido era em sua ascensão.

Olhou novamente a vista. Ajudava a relaxá-lo.

Gostava de ver os meros mortais preocupados com coisas simples, bobagens tolas. Não chegavam aos pés dos problemas que tinha com aquela pessoa e nem por isso ele se doía como eles. Era engraçado.

O cheiro da podridão servia como uma chamada ao Cocytus, mesmo que ele não tivesse a mínima vontade de atendê-la. O cheiro o deixava nervoso. Irritava. Maldito dia em que fora atrás do chamado inocente daquela criança. Seria melhor tê-la deixado morrer ali mesmo, não? Não estaria encarcerado como agora. Mas para que serviria chorar sob o leite derramado a este ponto, certo?

As asas cresceram lentamente em suas costas e ele fechou os olhos.

Já se passava das duas horas da manhã quando voltou para casa.

Kaya abriu a porta de sua casa velha e acabada com muito cuidado para que esta não rangesse e olhou em volta duas vezes. Aparentemente, ele havia saído. Correu para o cômodo, jogando-se na cama. Estava cansado, exausto e realmente precisava dormir por pelo menos doze horas. Havia sido um dia longo, o “trabalho” fora muito complicado que o normal. Fechou os olhos e logo os miados dos gatos foram ouvidos próximo a si, sorrindo com o som daqueles ronronados relaxantes.

– Chegando tarde de novo e achando que eu não iria perceber?

O sorriso animado foi substituído pelo olhar irritadiço e impaciente do bruxo. Falando no diabo, sentado ao pé de sua cama estava aquela figura vestida de couro da cabeça aos pés, com mais adereços negros em seu corpo que o próprio. Kaya deu uma risadinha irônica ao homem e se remexeu na cama de forma provocativa, como praticamente tudo que fazia.

– Hora. Você nunca vai me deixar em paz, não é? – os olhos brancos do feiticeiro encontraram-se ao único escarlate do demônio.

– Não enquanto você estiver quebrando as regras. – Hora respondeu friamente. Depois de tantos anos convivendo com ele, já aprendeu a não resistir a seus charmes. – Quantas vezes vou ter que dizer...

– Blábláblá humanos, blábláblá regras... Você é muito certinho, Hora! – reclamou Kaya, voltando a se largar no colchão. – Mude esse discurso pelo menos uma vez.

Hora se inclinou sobre a cama, segurando com força o maxilar do Rose que permanecia com um olhar de quem não se importava. Sabia que estava tentando, de alguma forma, provocar o demônio para que resistisse a suas investidas, mas a pose firme e fria permanecia.

– Não mudarei meu discurso enquanto você não mudar, minha cara rosa.

Teve outra risada escandalosa como resposta. Havia vezes que o demônio realmente não suportava ser babá de bruxa, especialmente aquela dali. Desde o ritual que o fez despertar, o rapaz que costumava portar-se como uma verdadeira lady tornou-se aquela criatura escandalosa, completamente nem aí para tudo e todos e que, absolutamente, amava matar. Era mais do que perfeito. Ninguém reclamava.

Só Hora. Aquele chato.

Representante daquele conselho constituído por velhos chatos que tentavam impor regras sobre si e, desde o característico incidente onde acidentalmente ferira outro bruxo disfarçado, haviam procurado um meio de policiá-lo. E assim surgiu Hora em sua vida.

Kaya não entendia como ele, sendo um demônio verdadeiro, via regras em tudo e queria controla-lo de todas as formas possíveis. Era um demônio, podia fazer o triplo que o próprio e só usava os poderes para o nada absoluto? Pfft, sem lógica.

– Horinha, se você está com ciúmes de mim pode dizer. Não vou me importar, hm? - levou as mãos aos ombros do maior, acariciando-os, e aproximou os lábios de seu pescoço tornando a falar em sussurros. – Diga-me a verdade, não quer que eu saia por aí por causa dessas regras ou é uma desculpa para esconder que quer me ter só para si?

Tática infalível, sempre que a usava, os homens se derretiam como um cubo de gelo próximo a uma vela. O semblante frio e desprovido de emoções do demônio havia de ser quebrado, de uma forma ou de outra. Havia de ser rompido de algum jeito e só restava a ele tentar. Aproximou-se da face pálida do mais velho que novamente segurou em seu maxilar, trazendo-o para mais perto.

– Você me dá nojo às vezes.

Com isso, soltou o rosto do Rose que lançou lhe um olhar indignado e assim, inicia a discussão típica daqueles dois. Começaria com “como ousa?” até estarem novamente brigando sobre regras, depois dariam um breve gelo um no outro e no dia seguinte agiriam como se nada tivesse acontecido. A quem olhasse de longe, pareciam um casal bastante típico. Brigavam por coisas bobas como quem limparia a sujeira dos gatos o tempo todo e logo em seguida já estavam bem novamente. Relativamente bem. Talvez não enquanto estivessem presos um ao outro.

Sabe-se lá quanto tempo aquilo duraria. Um ano, cem anos, mil anos? Só era certo de que Kaya era preso a Hora e Hora era preso a Kaya.

• • •

"Após o escurecer, fechou o livro velho em seu colo em silêncio. Estava sozinho, apenas ele e as velas que o cercavam em um círculo naquele espaço vazio. Os trovões atrás de si, fortes, iluminavam apenas pouca parte de seu rosto. Kaya suspirou, pondo tal livro à sua frente e abaixou-se sobre o mesmo, pondo suas mãos sobre e tornando a baixar a cabeça, murmurava tais palavras em língua estranha para si mesmo. Os trovões ficavam mais fortes conforme seu tom aumentava, assim como as luzes das velas ficavam mais fortes. Começava a sentir tremores nos braços e sorriu: Era sinal de que estava dando certo. Ergueu-se novamente e tirou o punhal da manga do vestido, encarando o teto com olhos vazios. Estava pronto, pronto para o despertar daquele após tantos anos adormecido.

"As velas começaram a cair uma por uma, o fogo se espalhando e as chamas intensas lambendo todo aquele lugar. O fim das palavras em língua bizarra. O fogo que destrói e purifica. O líquido vermelho-escuro espesso que pingava no chão. Uma outra criatura.

"Cessou-se o fogo, assim como os pingos de sangue. O ferimento do moreno se curara e o punhal ensanguentado fora posto sob o livro. Kaya encarava-o com um sorriso no rosto e olhos esbranquiçados. Sem tirar os olhos de lá, riu baixo.

"- Você veio assim como eu pedi. - disse ele em tom orgulhoso. - Será que o serviço é tão eficiente quanto a pontualidade?


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Notas finais do capítulo

Antes que me acusem de plágio, parte da história que está no trecho novo foi tirada de um turno MEU no twitlonger. Tirei mesmo, mas só dei uma alterada. Mas the turno is mine, beijos. Independente de muitos comentários ou muitos leitores e pá, a fic continuará. Não desistirei tão cedo, ela é bem curtinha, yay! Enfim, agradeço aos interessados seja agora ou mais tarde, muito obrigada por lerem as ideias brisadas da minha cabecinha perturbada. Amo todos vocês, rawr ♥Nos veremos em breve.



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