Dia 1 - Você não sai dos meus pensamentos

– Você é um covarde.

Ace jamais havia entendido as palavras da garota até que estava a poucas horas de sua execução. Tinha a conhecido ainda quando era Capitão dos Piratas Spade.

Lembrava-se que tinham pego uma terrível tempestade e acabaram sendo obrigados a buscar abrigo em uma ilha repleta de marinheiros. Ele simplesmente não possuía outra opção, era se arriscar ou morrer enfrentando os violentos mares da Grand Line.

Seus companheiros estavam completamente assustados, mas o moreno afirmava que eles iriam conseguir sair da ilha, mesmo que ele duvidasse de suas próprias palavras. Era um jovem pirata conhecido e dificilmente conseguiria andar pela ilha sem ser notado.

Foi então que ele a conheceu. A filha mais nova do Capitão que comandava a base da marinha estava passando pela praia quando avistou os piratas Spade. Ao invés de sair correndo e alertar a todos a garota decidiu os observar.

Sempre havia sido extremamente curiosa e não entendia o motivo de todos os piratas serem tratados da mesma forma, afinal ela sabia que existiam aqueles que ajudavam os civis. Não demorou muito para que ela reconhecesse a bandeira que parecia ganhar vida ao receber a leve brisa da manhã.

E sem qualquer receio ela havia se aproximado. Todos haviam ficados surpresos ao notar aquela garota de quinze anos se aproximando, ainda mais por ela possuir um brilho determinado em seus olhos.

– Digam o motivo de terem parado nessa ilha.

Ao olhar para a menina o moreno soube que ela não aceitaria nada menos que a verdade, o que o fez suspirar.

– Nosso barco foi danificado pela tempestade. - Ele respondeu em um sussurro. - Não podemos navegar dessa maneira.

– Se você prometer se comportar eu posso lhe ajudar.

– E quem é você?

– Uma das filhas do Capitão. - A garota respondeu com orgulho enquanto sorria, Ace sentiu seu corpo congelar momentaneamente. - E por algum motivo eu sinto que devo ajuda-los.

– Volte para a casa e vá brincar com suas bonecas ou qualquer coisa que garotas fazem. – O Portgas retrucou seu orgulho falando mais alto. Ao escutar as palavras do moreno as bochechas da garota logo se inflaram e seu rosto ganhou uma leve coloração avermelhada. Ace odiava admitir, mas ela parecia extremamente adorável quando fazia aquela expressão.

– Eu tomaria cuidado com minhas palavras se fosse você Portgas. – Ela falou friamente, seus olhos estreitados em pura raiva. Os companheiros do moreno logo começaram a rir, jamais haviam imaginado que uma garota de quinze anos iria falar dessa forma com seu Capitão. – Eu serei a única ajuda que você vai encontrar nessa ilha.

Ambos ficaram mais alguns segundos discutindo até que Ace finalmente abriu mão de seu orgulho e aceitou a ajuda, graças a isso o navio foi rapidamente reparado por um velho senhor. A garota havia garantido que ele era o melhor construtor que ela conhecia e que ele era responsável por concertar grande parte dos navios da marinha que acabavam parando na Ilha pelo mesmo motivo dos piratas.

Com o passar dos dias o moreno acabou desenvolvendo um forte vinculo com a garota e não pode deixar de se sentir entristecido ao ter que partir. Ele jamais admitiria em voz alta, mas havia se apaixonado pela filha de um Capitão da Marinha. Logo ele o filho de Roger, que havia sido o responsável pelo inicio da grande Era dos Piratas.

Durante anos há única coisa que possuía eram as lembranças daquela estranha garota, ele jamais havia conseguido tirar ela da cabeça e desde então acabou se convencendo que nem todos os marinheiros desejavam a morte de pessoas como ele. Foi impossível esconder a preocupação quando descobriu que a Ilha onde a mesma vivia havia sido destruída por um bando pirata.

Ele apenas não havia abandonado o barco e ido de encontro a garota por conta de Marco, que afirmou que seria apenas uma viagem perdida. Afinal eles não possuíam maiores informações e nem ao menos sabiam o que realmente havia acontecido. Aquela foi a segunda vez que Ace chorou, não havia se sentindo assim desde a morte de Sabo.

Todos seus companheiros podiam notar como o Comandante da Segunda Divisão havia perdido seu ar alegre e brincalhão, era como se uma nuvem de tristeza rodeasse o moreno. Ninguém se atrevia a perguntar o que havia ocorrido, mas os antigos membros dos Piratas Spade sabiam o real motivo. Era simplesmente impossível não notar o quanto Ace havia se ligado aquela garota.

Quando Thatch foi morto o moreno não hesitou um único segundo em ir atrás de Teach e puni-lo por seu crime. Ace já não se importava se continuaria vivo ou não, ele apenas queria fazer o correto pela primeira vez em sua vida. Pois ele sabia que ela faria o mesmo.

Foi em sua busca que finalmente reencontrou seu pequeno irmão. Luffy irradiava felicidade e Ace simplesmente não podia deixar de sorrir enquanto escutava o mais novo contando como seus companheiros eram maravilhosos e quanta sorte ele tinha de ter o apoio de cada um deles.

Quando finalmente conheceu os companheiros de seu irmão não pode impedir seus olhos de se arregalarem parada em sua frente estava à garota que havia dominado seus pensamentos desde que havia lhe conhecido. Um pequeno sorriso se formou nos lábios da mesma e mesmo sem notar Ace havia começado a sorrir.

– Você conhece ele? – Zoro havia perguntado ao notar os olhares que os dois estavam trocando e a garota apenas assentiu.

– Ele é o pirata que eu ajudei.

– Shishishi. – Luffy em questão de segundos havia rodeado os ombros da garota e agora a abraçava fortemente. Logo o mais novo havia contado o motivo da filha de um falecido Capitão da Marinha estar entre seus companheiros.

Os jornais haviam mentido e acusado injustamente os piratas. Quando na realidade os próprios marinheiros haviam matado o homem, simplesmente por ele ser contra um esquema que colocaria muitas vidas em perigo. Por ser um marinheiro justo que lutava pela bem dos civis ele acabou sendo morto diante os olhos de sua filha.

A garota logo afirmou que desde aquele dia prometeu se vingar e treinou arduamente durante anos até que os Piratas do Chapéu de Palha haviam chegado e a libertado da escravidão que os marinheiros haviam lhe imposto. Ela visivelmente tinha orgulho em admitir que Luffy havia salvado sua vida e agora faria tudo que pudesse para lhe ajudar a se tornar o Rei dos Piratas.

Na noite antes de partir o moreno acabou revelando a verdade para a companheira de seu irmão, que escutou atentamente cada palavra do moreno e quando o mesmo terminou sua sentença simplesmente o abraçou.

– Não seja imprudente. – Ela murmurou. Ace não se lembrava de ter escutado a voz da garota soar de maneira tão frágil. – Você é importante para muitas pessoas, não pode simplesmente jogar sua vida fora.

– Eu não me importo de morrer. – O Portgas murmurou o que fez a garota se afastar brutalmente e franzir sua testa em confusão. – Eu nem ao menos mereço estar vivo.

– Você é um covarde. – Ela gritou em meio a lagrimas. – Você sempre acaba fugindo de tudo, não tente se fingir de forte e corajoso por ir atrás desse tal de Teach. Você esta apenas tentando arrumar uma maneira de jogar sua vida fora.

– Você não passa de alguém que me ajudou anos atrás. – Ace falou sua voz soando mais fria do que o esperado o que fez a garota fazer uma pequena careta. – E agora é companheira de meu irmão, você não tem o direito de se meter na minha vida.

– Então vá em frente e use a morte de seu amigo como uma desculpa para se matar. – Ela gritou seus olhos brilhavam de raiva e preocupação. – Mas não espere que eu vá lhe salvar depois.

Um sorriso amargo se formou nos lábios do moreno ao se lembrar das palavras da garota, as últimas palavras que havia escutado da mulher que dominava todos seus pensamentos. Sentia-se tão idiota por não ter lhe escutado, agora estava sentado em uma cela esperando sua morte.

As palavras da garota ecoavam em seus pensamentos a cada segundo, como ele queria ter colocado seu orgulho de lado ao menos uma vez. Mas ao menos ele sabia que ela estava viva e com pessoas que sempre a protegeriam, Luffy poderia ser inocente e levemente impulsivo, mas jamais abandonava as pessoas que considerava importante.

Ace sabia que em poucas horas iria morrer, mas estava feliz. Feliz, pois o amor de sua vida ainda continuaria a viver, se lhe perguntassem os seus únicos arrependimentos ele afirmaria sem hesitar que era não poder ver o irmão realizar o sonho e ter sido idiota o suficiente para não contar a ela que lhe amava. Ace morreria com esse segredo, pois sabia que já havia feito à garota sofrer o suficiente.

O moreno fechou os olhos e não pode evitar sorrir ao se lembrar de todos os momentos que havia vivido ao lado da garota. Se lhe fosse dada mais uma chance ele iria se agarrar a ela com todas as suas forças, apenas para que pudesse vê-la sorrir ao menos uma última vez.