Acontece Nas Melhores Famílias escrita por Eponine


Capítulo 1
Capítulo Único




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— Sejam muito bem vindos. — sorriu Astoria Malfoy, abrindo a porta.

Hermione Weasley não deu um grande sorriso, mas assentiu, entrando. A mulher loura fechou a porta após apertar a mão do homem ruivo, aparentemente divertido. Ele passou a mão em seu suéter rapidamente e colocou as mãos no bolso da calça, observando as mãos trêmulas da esposa, tirando seu cachecol azul e colocando-o na base da mesa. Ela usava uma calça jeans e uma simples blusa vinho, com seu habitual colar-aliança.

Eles seguiram Astoria Malfoy pela recepção, receosos.

A Senhora Weasley passou a mão compulsivamente por suas madeixas castanhas muito bem presas em um coque baixo e básico, incomodada com as roupas de da Senhora Malfoy.

— Sentem-se, por favor. — A sala de estar tinha uma iluminação escura, também causada por seus móveis. Não era na confortável, na opinião de Ronald. Ambos se sentaram no sofá de couro enquanto Astoria Malfoy se sentava diante deles, com um sorriso genérico. Seus lábios eram vermelhos e seus cabelos louros eram extremamente sedosos e bem penteados. Suas joias conversavam com seu terno bege, semelhante a saia, e os detalhes e botões folheados em ouro.

O silêncio instaurou-se por alguns segundos até um homem aparecer pelo corredor, com um objeto encostado ao ouvido. Hermione retorceu seu nariz rapidamente ao ver Draco Malfoy, então desviou o olhar para os lírios no vaso da mesinha central.

— São lindas. — elogiou Hermione.

— Obrigada, são as flores preferidas de Narcissa. — explicou Astoria, visivelmente envergonhada pela conversa relativamente longa que Draco estava tendo em seu telefone. Ron demorou para conseguir aceitar o fato de que ele estava usando um artefato trouxa. Ainda que ele usasse... Não era algo que um Malfoy se renderia a usar.

— Me perdoem a demora, negócios. — disse o homem, aproximando-se. Seu terno eram completamente negro, assim como o sofá, diferente da roupa descontraída de Ron, que estava inclusive com meias de cores diferentes, o que fez o nariz de Astoria enrugar-se.

— Que isso, nós que já pedimos desculpas... — Hermione levantou-se e apertou a mão de Draco, e Ron a copiou. — Na verdade, queríamos trazer Rose aqui...

— Melhor não envolver as crianças nisso ainda. — opinou Astoria.

— Aliás, como Scorpius está? — indagou Ron.

— Ele vai ter que arrancar o molar, mas era de leite, então... Entretanto ele danificou um pouco o nervo do rosto esquerdo e os Curandeiros ainda estão pensando no que vão fazer.

— Eu sinto muito, muito mesmo. — lamentou Hermione, com o olhar vacilante. Draco apenas deu uma breve risada, sentando-se ao lado de Astoria.

— Não se preocupem, são só crianças, isso acontece... Gostariam de um café?

— Rose está.... Como Rose está? — indagou Astoria.

Ron e Hermione se entreolharam rapidamente.

— Ela está arrependida. — disse Hermione, séria.

— Na verdade, não... Mas ela tem ciência do que ela fez. — corrigiu Ronald. Hermione o olhou, visivelmente irritada por ter sido contrariada.

— Ronald, é claro que ela está arrependida, ela...

— Ela criou um feitiço só para usar em Scorpius, ela tem que estar arrependida. Digo... Meu filho perdeu dois dentes e um nervo no rosto isso... Isso é muito difícil para uma criança de dezesseis anos, não é Draco? — Astoria Malfoy tinha um tique no olho esquerdo que estava deixando Ron com vontade de gargalhar.

— De fato. — comentou Draco. — Mas ela não fez isso sem motivos, temos que levar em consideração que ele provocou a garota.

— Sobre isso, eu queria acrescentar um adendo que vocês não levaram em consideração, é a perseguição que o filho de vocês tem feito com nossa filha, Rose é uma excelente estudante, é a melhor aluna da Corvinal e tem uma paciência dos deuses...

— Nós podemos imaginar, vocês queriam um café, não? — cortou Astoria Malfoy, levantando-se, deixando Hermione prestes a contestar a interrupção.

— Sim. — respondeu Ron, passando a mão nas costas da esposa. Hermione forçou um sorriso e abaixou os olhos, torcendo suas mãos trêmulas. Draco Malfoy observava a mulher com um olhar divertido, mas foi despertado pela tosse de Ronald. — Então, Senhor Malfoy...

— Senhor Malfoy? — riu o homem louro, levemente grisalho. — Me chame de Draco, não vamos deixar o passado tão distante assim.

— Eu acho melhor deixarmos o passado em distante sim. — reforçou Hermione, apertando sua bolsa.

— Devo chama-la de Senhora Weasley então? — quando ele focou seus olhos cinzas nos olhos castanhos da mulher, ela desviou, vermelha.

— Não, não é preciso tanta cortesia. Ah, obrigada... Hum, Astoria, certo? —Hermione pegou uma xícara de café e deu para Ronald, pegando uma para si em seguida. A mulher loura sentou-se novamente, dando mais um sorriso genérico.

— Sim, Astoria. — ela observou Draco servir-se com uma xícara e voltou a olhar Hermione. — Você trabalha de que mesmo?

Hermione Weasley sorri enquanto termina seu gole de café, tirando alguns fios do rosto, visivelmente orgulhosa e animada em falar sobre sua profissão:

— Eu trabalho no Departamento de Execuções das Leis da Magia, desde elaboração de leis até a execução delas no meio social e jurídico.

— Isso é muito interessante. —disse Astoria semicerrando os olhos. Virou-se para Ron. — E você?

— Bem, eu trabalho em uma loja com meu irmão George. É a maior loja no Beco Diagonal. — Draco colocou sua xícara na mesa.

— Então você é vendedor, basicamente. — disse Draco, colocando o braço ao redor de Astoria, que analisava Ron de forma estranha. Hermione começou a se questionar se ela estava dopada ou algo do tipo.

— É... Basicamente. — murmurou Ronald, desviando o olhar.

— E você Astoria? — questionou Hermione.

— Bem, eu trabalhei muitos anos na Contabilidade da empresa dos meus pais, mas eu meio que me aposentei para cuidar de Scorpius, estou pensando em voltar... Mas... Planos. — novamente um sorriso mecânico. — Mas Draco acabou de fechar negócios com mais de cinco historiadores para abrir um Museu!

— Uau! — Hermione e Ron colocaram suas xícaras na mesa. — Isso é incrível! Eu não sabia que você se interessava por história!

— É mais por artefatos antigos. Eu já tenho uma coleção, tempo e dinheiro, achei uma boa juntar uma coisa a outra. — Ele sorriu para Hermione fixamente, e o fato dela ter retribuído deixou Astoria e Ron incomodados.

— Bem, acho que podemos falar agora sobre Rose e Scorpius. — começou Astoria.

— Com toda certeza. — Hermione novamente arrumou seus cabelos já arrumados. — Na verdade Ron e eu gostaríamos de pegar toda a fatura do tratamento de Scorpius.

— Não se preocupem, já cuidamos disso, só queremos que os dois conversem e cheguem a uma reconciliação, quem sabe. — decidiu Draco.

— Na verdade queremos que Rose peça desculpas. — disse Astoria, arrumando sua saia. Hermione uniu as sobrancelhas.

— Sim... Mas, bem, Scorpius também vai pedir desculpas, certo? — questionou ela.

— Por ter perdido dois dentes e um nervo? — indagou Astoria, sorrindo. Hermione e Ron pareciam extremamente desconfortáveis. Draco levantou-se do sofá, parecendo tranquilo.

— Que tal uma torta?

— Seu filho perseguiu a minha filha, ela não faria isso sem motivos! — começou Hermione, trêmula. — Não é de hoje que Rose reclama de Scorpius, mas Ron e eu decidimos ignorar e esperar que eles se resolvessem, mas pelo jeito foi a decisão errada...

— Ainda bem que você sabe disso, eu não tinha noção que meu filho tinha problemas com sua filha, se não eu teria resolvido! — retrucou Astoria, também levantando a voz.

— Olha, não vamos nos estressar com isso... — apartou Ronald, apertando o ombro de Hermione, parecendo estar a um ataque de nervos.

— Você está questionando minha capacidade como mãe? — indagou Hermione, com a voz falha. Draco invadiu a sala com a varinha coordenando uma bandeja farta de doces e bolos, que ajeitou-se sobre a mesa central enquanto Hermione cobria o rosto com as mãos e Astoria girava os olhos, levantando-se e caminhando pela sala, parecendo irritada.

Mas Draco e Ronald permaneciam tranquilos, apesar do Weasley estar aflito pela esposa.

— Torta de pêssego, senhora Weasley? — sorriu Draco, servindo-lhe um prato. Hermione deu-lhe um sorriso sincero, pegando o prato. — Está ótimo, se me permitem a modéstia, foi eu quem preparei. Cursei culinária na Irlanda durante dois anos em meados de 2000...

— Não estamos interessados nos seus cursinhos de desocupado, Draco. — cortou Astoria, abrindo uma garrafa de Uísque. Hermione colocou seu prato na mesa, definitivamente irritada.

— Ela está certa, vamos acertar isso logo, essa politica de boa vizinhança não dura por muito tempo. — Hermione levantou-se e olhou Astoria. — Seu filho perseguiu minha filha e praticou bullying com ela. E ela revidou. Então vamos discutir isso com sinceridade...

— Sua filha desfigurou meu filho! — gritou Astoria, quase quebrando o copo lotado de uísque. Ron arregalou os olhos para a mulher descontrolada que segundos antes parecia um robô. Entretanto, Draco parecia assistir um filme que já vira um milhão de vezes. Hermione colocou a mão no peito, assustada, mas Astoria apenas tomou um longo gole de seu uísque e deu de ombros. — Talvez você deva pegar o dinheiro que ia pagar o tratamento de Scorpius e pagar um psicólogo para sua filha.

— Já vamos fazer isso.

— RONALD! — gritou Hermione, também histérica. — Pare de falar da vida privada de Rose! — então virou-se para Astoria e apontou, trêmula. — Minha filha não é louca!

— Pessoas normais não saem desfigurando o rosto alheio só por algumas brincadeiras que ela se ofendeu...

— Que ela se ofendeu??? — questionou Hermione, com os olhos marejados. — Seu filho a chamava de cabeço de aço!

— Olhe, vamos acalmar os nervos, ok? Não vamos lavar a roupa dos nossos filhos, eles já fizeram isso antes de nós. — Ron levantou-se e tentou acalmar a esposa, mas Draco estava muito entretido com sua torta de pêssego. Astoria terminou seu copo e encheu mais um, deixando sob a mesa e tirando seu terno, ficando apenas com a blusa de seda. Suas madeixas louras já tinham saído do lugar, assim como as de Hermione. — E nós já pedimos perdão pelo comportamento de Rose, sabemos que ela errou, a coitada já tem muitos problemas, sabe, por exemplo o TOC dela, infernal...

— Ronald, pare de expor nossa filha, pelo amor de Merlin! — Hermione o empurrou para longe e saiu de perto de todos, indo para perto da janela, sem ar. Draco colocou seu prato na mesinha central e acendeu um cigarro.

— Não fume aqui dentro. — murmurou Astoria, tomando seu uísque.

— O que você vende na sua loja? — questionou Draco, apontando seu cigarro para Ronald. O homem ruivo semicerrou os olhos, tentando farejar sarcasmo.

— Artefatos mágicos, logros e brinquedos, doces, poções... Semelhante a Zonko’s em Hogsmeade.

— Parece ser extremamente animador e excitante. — Ron ficou sério.

— Você está zombando de mim? — sua voz tornou-se para algo sombrio que não estava presente segundos antes. Draco deu um sorrisinho descarado, levantando as sobrancelhas, dando mais uma tragada em seu cigarro

— Não me admira que Scorpius seja tão desbocado, com um pai idiota feito você. — murmurou Astoria, secando seu suor, enchendo seu uísque de gelo.

— Agora a culpa de Scorpius ser um completo imbecil é minha? — indagou Draco.

Hermione arregalou os olhos para o homem, mas Ron segurou o riso diante de uma Astoria desequilibrada.

— Scorpius não é imbecil, você que é imbecil! — Astoria apontou sua varinha torta para as janelas, abrindo-as bruscamente, assustando Hermione, distraída com a paisagem. — Um completo imbecil, não sei porque perco meu tempo...

— Eu acho que não estou me sentindo muito bem... — Hermione passou as mãos em seus braços, parecendo desesperada.

— Qual o seu problema com minha profissão, Malfoy? — continuou Ronald, ainda ofendido pela provocação de Draco.

— Você quer um antiácido? — questionou o homem grisalho, levantando-se, mas Ronald o empurrou para fora do caminho, indo em direção de uma Hermione pálida e trêmula. Ele a ajudou a sentar-se no sofá novamente.

— Estou tão nervosa com tudo isso... Eu já tive um acesso nervoso ano passado e foram os mesmos sintomas...

— Será que é hereditário? — indagou Draco, fazendo Ron irritar-se e avançar em direção do homem. Estavam tão próximos que poderiam se beijar caso quisessem.

— Você quer brigar, é isso? Porque eu ainda tenho uma coleção de feitiços que eu gostaria de usar para quebrar sua casa. — ameaçou Ronald.

— Você quer me bater dentro da minha casa, é isso? Já sabemos que exemplo sua filha segue. Politica da violência.

— AH, PAREM VOCÊS DOIS! — urrou Hermione, perdendo as estribeiras e levantando-se. — PAREM COM ISSO, MAS QUE...

Não foi bem um segundo, Hermione foi interrompida por seu vômito de forma brutal. Todos deram um grito com o rio de vômito que saiu da boca da mulher em direção da bandeja de doces. O enjoo foi tão longe que até mesmo ricocheteou no sofá.

— Merlin! — riu Astoria, bêbada. Mas Ron foi para o lado da esposa, assustado, e Draco conjurou um balde em segundos, dando para Hermione, que vomitou mais um pouco, perdendo até mesmo sua coloração avermelhada.

— Me desculpem, meu Deus, estou tão envergonhada... — murmurou ela, ainda fraca.

— Você só fez o que eu sempre quis fazer, Senhora Weasley. — sorriu Astoria, tentando manter-se de pé. — Agora tenho uma ótima desculpa para queimar esse lugar e redecora-lo.

— Astoria, nos poupe da sua ignorância. — pediu Draco, visivelmente preocupado, quando ele tocou o ombro de Hermione, Ron expulsou com sua mão de forma brusca, que novamente fez Astoria gargalhar.

— Eu sinto muito, muito mesmo... Eu posso usar o banheiro?

— Se dissermos que sim, você para de vomitar? — debochou Astoria, sorrindo enquanto tomava mais um copo de uísque. Draco explicou o trajeto até o banheiro Ron levou Hermione, segurando o balde. O homem acendeu mais um cigarro enquanto apontava sua varinha para a mesa, fazendo-a desaparecer. Astoria sacou sua varinha e começou apontar para os vestígios de vomito, limpando, com o copo na mão.

— Será que você pode não ficar bêbada na frente da visita? Seria muito bom se fizesse esse esforço. — pediu Draco, calmo.

— Uma suburbana vomitou na minha sala e a filha dela desfigurou o rosto do meu filho, que outro motivo falta para eu deixar de beber? — questionou Astoria, enojada com o vomito.

— Você viu as meias dele? — comentou Draco.

— Ela com toda certeza comprou aquelas calças no supermercado e eu não consigo nem pensar em um motivo para isso. Eles não são ricos? Puta que pariu, são Hermione e Ronald Weasley, mostrem alguma dignidade.

— Eu quero chamar Rita Skeeter aqui nesse exato momento. — riu Draco. Astoria gargalhou e apoiou-se no marido, que ria, assistindo a mulher gargalhar.

— Espere até nós contarmos a ela. — sorriu ela maliciosa.

— Eu quero ir embora, eu nunca fui tão humilhada! — choramingou Hermione Granger no espaçoso banheiro da mansão. Ron andou pelo local, admirado, era quase do tamanho do quarto dos dois. E olha que era uma suíte! Ele lavou suas mãos e assistiu a esposa limpar-se pelo espelho.

— Ele conseguiu casar-se com uma psicopata igual a ele. — disse Ron. — Pior, alcoolatra.

— Você viu como são arrogantes? Ele parece nem se importar com o que o filho fez e ela parece histérica, desequilibrada... E alcoolatra!

— Vamos acabar com isso logo e ir embora, é o melhor que fazemos. — decidiu Ronald.

Draco e Astoria estavam sentados no sofá, já com uma sala limpa e perfumada quando Ron e Hermione voltaram aos aposentos, de mãos dadas. A imagem fez Astoria sorrir com veneno, com o copo encostado em sua boca. Agora Draco também tinha um copo de uísque.

— Vocês querem Uísque? — indagou ele. — Tem trinta e dois anos, diretamente de Cuba, compramos em uma viagem em 2006...

— Não, obrigada, eu não bebo. — disse Ronald, apertando o ombro de Hermione.

— Na verdade, eu vou querer um pouco. — disse ela, ainda trêmula. Ela levantou-se e foi em direção do pequeno bar onde Astoria estava antes de Hermione vomitar a sala toda. Ron estava muito entretido vigiando os dois, mal notou quando a mulher loura descruzou as pernas, abriu-as, dando a Ron uma visão exclusiva, e então cruzando novamente, com a outra perna.

— Então você vende doces? — indagou Astoria.

— Você quer gelo? — indagou Draco.

— Sim, por favor. — Hermione prestou atenção no homem colocando uísque no copo lotado de gelo e na forma como ele tocou sua mão quando deu-lhe o copo. Ela sequer teve coragem de olhá-lo, apenas voltou para o sofá, vermelha como um pimentão.

— Não são só doces, é mais que doces, não é uma doceria. — explicou Ronald.

— Eu nunca vi sua loja, vou procurar da próxima vez. A loja é sua, certo? Ou é da sua família? Do seu irmão...

— É minha e do meu irmão. — cortou Ronald, levantando-se. — Na verdade, eu vou querer um uísque, posso me servir?

— Claro. — disse Draco, sentando-se ao lado da esposa. — Se me permitem voltar ao tópico de nossos filhos, eu acho que Scorpius certamente provocou Rose e infelizmente ela tomou atitudes errada, bem erradas...

— Bem imparcial, Malfoy. — sorriu Ronald. — Vamos falar da perseguição do seu filho que com toda certeza foi semelhante a que você fez com Hermione.

— Ron, nós conversamos sobre não tocar no passado...

— Você fazia bullying com ela? — riu Astoria, olhando o marido. — Por que nunca me contou?

— Porque eu me envergonho profundamente disso todas as noites quando eu lembro o ser humano podre que eu fui. — Draco não tirou seus olhos de Hermione, que tomou todo o copo durante o desabafo.

— Bem, ela não esqueceu. Quem bate esquece...

— Você é retardado? Quem bate esquece o que se eu acabei de dizer que nunca esqueci? Precisa de um oftalmologista? — indagou Draco, Ron ameaçou se levantar, mais uma vez irritado, mas Hermione o segurou.

— Ronald, controle seu temperamento!

— Você malha? — sorriu Astoria, analisando Ron.

— De fato minha filha sofreu bullying nas mãos do seu filho, é ótimo que tenham ciência disso.

— E de fato sua filha agrediu meu filho, é uma pena que não tenham ciência disso. — cortou Astoria, fitando Hermione.

— Acontece nas melhores famílias. — sorriu Draco.

— Não somos uma família. — cortou Ron.

— Nós já pedimos desculpas, eu não tenho nenhum vira-tempo para mudar o ocorrido. — lamentou Hermione, acariciando suas calças. Astoria levantou-se e simplesmente pegou a garrafa de uísque, enfiando na boca. Draco fechou os olhos lentamente, desviando o olhar.

— Não use o seu sarcasmo comigo, Senhora Weeeasssley. — Astoria desceu de seus saltos, voltando para o sofá. — Se fossem com vocês, com certeza Scorpius estaria em Azkaban.

— Claro que estaria! Bater uma mulher é crime, e é melhor seu filho não ter encostado na minha filha... Um absurdo não estarmos tendo essa conversa em Hogwarts na presença da professora McGonagall!

— A sua filha é louca! — disse Astoria.

— Rose não é louca!

— Parece que é... — Ronald terminou seu uísque.

— Mais um drink? — ofereceu Draco, arrancando a garrafa da mão de Astoria bruscamente.

— Ronald, como ousa? — indagou Hermione, a beira de lágrimas.

— Bem, ela age como uma. Ela arquitetou agredir Scorpius, isso não é normal. Talvez seja o TOC dela...

— NÃO ENVOLVA O TOC DELA!

— Mais um drink? — Draco encheu o copo de Hermione, que apontava seu dedo tremulo para um Ron tranquilo.

— Minha filha não tem nenhum problema mental! E o TOC dela é muito bem tratado com seus remédios!

— TOC para...? — indagou Draco.

— Ela tem mania excessiva de limpeza. — explicou Hermione, ainda emocionada. Tomou um gole do uísque. — Ela nunca mostrou nenhum sinal de violência...

— A não ser na vez que socou James, espancou Fred II, estapeou Dominique...

— CHEGA! — Hermione começou a estapear o braço de Ron, que segurava o riso e o copo, tentando se desvencilhar da esposa. Astoria olhou Draco com uma mistura de paixão e sarcasmo.

— Viu? Nunca fizemos uma cena assim. — sussurrou ela, acariciando a nuca do marido.

— Vá se foder, Astoria. — retrucou, acendendo mais um cigarro.

— Mione, pare, vai se machucar... — Ela terminou de bater no marido e levantou-se, ainda irritada. Parecia a ponto de um colapso.

— Uma vez eu li em uma revista que você tomava calmantes e andava nas ruas dopada. — comentou Astoria. Hermione arregalou os olhos para ela. — Tudo bem, amiga, eu também tomo.

— Eu nunca tomei nenhuma droga! — disse, trêmula. Mas Ron tapou a boca, segurando o riso, o que desmentiu Hermione na mesma hora.

— Não sabe o que está perdendo. — sorriu Draco, ao lado da esposa.

— Chega! — Hermione pegou sua bolsa com violência, um pouco tonta, pegando seu cachecol e Ron com a mesma mão. — Vamos embora, resolvemos isso em Hogwarts...

Uma coruja invadiu uma das janelas, o que assustou Hermione ao perceber que já estava escuro. Perguntou-se há quanto tempo estava naquele lugar. A carta deitou-se no colo de Draco enquanto a coruja se ia.

American Psycho - Piano Theme

— É da professora McGonagall. — ele abriu a carta selada, quase matando todos de tensão. — “Caros Sr. E Sra. Malfoy, venho através desta comunicar que seu filho Scorpius Malfoy, está cumprindo uma detenção de duas semanas com a senhorita Rose Weasley, e segundo os relatos dos professores e monitores que vigiam ambos, eles já se resolveram e fizeram as pazes, aparentemente. Entretanto, se me permitem, eu presenciei o nascimento de uma amizade entre os dois pelo que vejo nos corredores. Não vou me estender muito, recomendo que entrem em contato com o filho de vocês para saber mais. Atenciosamente, Professora McGonagall”.

Hermione encarou a carta, certa de que era uma farsa, mas Astoria morria de gargalhar, batendo em uma das pernas, segurando o copo com a outra mão. Ron apenas afastou-se de todos, parecendo muito cansado. Draco levantou-se, ignorando as gargalhadas da esposa e deu a carta para que Hermione lesse.

— Acho que vocês vão receber uma também. — disse Draco. Astoria deixou seu copo no chão e levantou-se, tentando arrumar suas madeixas louras, envolvendo seus braços na cintura do marido, sorrindo de olhos fechados com o rosto encostado em suas costas.

— Bem... Acho que eles já resolveram por nós então. — murmurou Hermione, ainda desorientada. Envolveu seu pescoço com o cachecol azul e colocou a bolsa no ombro, dando a mão para Draco apertar. — Foi um prazer, me perdoe por tudo.

— Digo o mesmo. — ele sorriu, apertando sua mão, Astoria também apertou, sorridente.

— Acho que devemos nos reunir mais vezes. — comentou a Senhora Malfoy, apertando a mão de Ronald, ainda abalado. — Não acham?

— Com toda certeza. — disse Ronald, apertando a mão de Draco. — Muito obrigada e perdão pelo incomodo.

— Que isso, fiquem a vontade para voltar. — Os Malfoy acompanharam os Weasley até o portão da Mansão em silêncio, na fria noite de Outubro. A mulher loura descalças acenou para o casal, com sua maquiagem borrada e suas roupas bagunçadas, assim como Draco acenou, com seu terno um pouco respingado de vômito.

Hermione tomou algumas pílulas calmantes assim que se distanciaram da rua e tentou arrumar suas madeixas castanhas, ainda trêmula, com o marido ao seu lado, levemente bêbado. Olharam para trás mais uma vez e acenaram com um sorriso falso.


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Notas finais do capítulo

Isso é uma versão totalmente distorcida desses quatro (ou nem tanto assim). Eu não imagino a Astoria desse jeito, mas foi divertido imaginá-la assim hahahaha

Quando eu assisti a peça, muitos anos atrás, com meus pais, eu já tinha adora incondicionalmente, mas quando eu vi o filme então, aí foi de matar.

Espero que tenham gostado, eu me diverti escrevendo, eu estenderia mais ainda, mas achei melhor cortar antes que eu me empolgasse hahaha

Espero que gostem!