Bonnie passou pela cozinha e arrancou uma maçã da fruteira. A moça intercalava entre comer a maçã, calçar o tênis e falar ao telefone com a mãe.

– Bon – Kai olhou feio para ela – Desliga o celular e tome o café direito.

O jovem policial, ainda fardado depois de um longo plantão, coava o café e olhava o leite que fervia, Bonnie já estava acostumada em vê-lo daquela maneira, Kai era o mais responsável dos três.

– Mãe, beijo... Estou atrasada para a aula – desligou o celular.

– Atrasada, de novo – Kai colocou a garrafa térmica cheia de café quente na mesa.

– Nem vem com o sermão da montanha – Bonnie mordeu o sanduíche de atum – Eca, isso é atum – cuspiu na pia – Você sabe que eu odeio Atum.

– Em primeiro lugar eu já fiz o café, de novo, o que não é só minha obrigação, segundo, Damon não fez as compras ontem, só tinha atum, terceiro você está oficialmente muito atrasada – disse olhando para o relógio.

– Bom dia, amiguinhos – Damon abriu a porta.

– Essa hora? – Kai revirou os olhos – Os pratos são todos seus.

– Acordou virado em uma macaca? – Damon perguntou para Bonnie.

– Você não fez as compras, de novo – trombou no rapaz e saiu batendo a porta.

– Eu já sei, não precisa de sermão, cara, na boa – Damon levantou as mãos em rendição.

– Porque vocês estão sempre achando que eu dou sermões?

– “Damon você não fez as compras”, “Bon você já está no vídeo game de novo?”, “ Os pratos são seus”, “Alguém varra a casa”, “Vocês não são humanos são porcos bêbados e irresponsáveis” – imitou a voz do amigo.

– Ok, eu sou o carrasco – colocou a xícara na pia.

– Eu tenho uma coisa para contar, cara – Damon jogou a jaqueta de couro em cima da mesa – Stefan vem passar um tempo conosco.

– O que? – Kai arregalou os olhos – Bonnie sabe disso?

– Não e você vai me ajudar a contar.

– Que tal “Bonnie, meu amor, seu ex-namorado estúpido que te deu um pé na bunda, vem morar aqui”.

– Quanta ironia, está aprendendo direitinho.

– Ela vai matar você.

– Eu sei – Damon coçou a nuca – Fiquei com a Katherine.

– A Gilbert? A vizinha?

– É – falou como se fosse óbvio.

– Eu já peguei a irmã.

– Elena? – Damon gargalhou – Você tá de brincadeira?

– Eu sou o bonitão do quartel, cara – cruzou os braços.

– Vocês são nojentos – a loira cruzou os braços – Muito nojentos.

– Bonnie já foi – Damon avisou.

– Eu sei, não tenho aula no período da manhã – Freya terminou de entrar na cozinha – O que tem para comer?

– Vocês duas tem uma relação estranha – Damon arqueou a sobrancelha.

– Amizade, conhece? – Freya colocou leite e achocolatado na xícara.

– É claro que eu conheço – Damon sorriu como um canastrão.

– Damon eu te conheço a nos, você não vai me seduzir – Freya sorriu vitoriosa.

Kai segurou o riso. Freya vestia um short curto e uma camiseta do homem de ferro, os fios loiros presos em uma trança simples e mal feita.

O celular tocou e ela atendeu.

– Eu sei Klaus, já vou – reclamou – Eu não dormi com nenhum deles, pare com isso – desligou.

– O que foi – Damon perguntou curioso.

– Meu irmão acha que eu estou dormindo com um dos dois – pegou a mochila na outra cadeira e foi saindo – Até breve, meninos.

– Até – responderam em um coro.

– Você sabe que ela gosta de você? – Damon perguntou a Kai.

– A Freya? Você bebeu? Melhor, você sempre bebe – Kai foi subindo as escadas.

– Ela tá afim de você, cara, muito afim, eu entendo de mulher.

– Você não entende “de mulher”, você entende de como ser canalha com elas – subiu.

– Santinho do pau oco – Damon revirou os olhos.

*

Bonnie entrou correndo na faculdade, a aula já havia começado quando ela atravessou o batente da porta da sala.

– Perdoe-me – pediu desculpas a professora que assentiu e continuou falando sobre compassos compostos.

– Freya me ligou ontem – Caroline cutucou Bonnie – Ela me disse que estava na sua casa, e aí rolou?

– Ela e o Kai? Claro que não.

– Ah que pena, acho que ela é afim dele.

– Óbvio que não, ela teria me contado.

– Freya não costuma falar sobre os sentimentos dela, você sabe.

– Freya e Kai? Ah, por favor, é como se fosse o Harry Potter pegando Hermione.

– Um casal fofo? Eu acho os dois lindos.

– Não viaja Care, você está confundindo as coisas.

– Você fala como se estivesse afim dele? Não me diga que... Bon, você está apaixonada por ele? – falou alto.

– Cala a droga da boca e claro que não – Bonnie beliscou a loira.

– Pelo menos em uma coisa concordo com a cosplay de Barbie, acho que você está apaixonada pelo Kai – Camille virou para trás.

Ela e Caroline não se davam bem por disputarem o amor do mesmo rapaz, Klaus Mikaelson, o assistente do professor de piano.

– As senhoritas podem nos contar sobre o que estão falando? – a professora semicerrou os olhos.

“E aí como você está?”

Meredith Sulez, uma das amigas de Bonnie mandou uma mensagem na rede social.

“Bem, por quê?”

“É que o Damon me contou ontem sobre o Stefan estar indo morar na sua casa, pensei que estivesse possessa de ódio, mas fico feliz em saber que suas energias boas estão vencendo as ruins que te fazem sentir ódio, o que não é bom para o xacras”

“ISSO É IMPOSSÍVEL”

Caroline que havia visualizado o grupo de mensagens das amigas logo entrou no assunto.

“Não é impossível não, falei com ele ontem, Stef está chegando amanhã de Amsterdam”

“EU VOU MATAR O DAMON”

Bonnie enviou a mensagem e jogou o celular na mesa.

*

Depois de longas aulas e vários planos de diversas maneiras que ela podia matar Damon, Bonnie finalmente estava em casa.

Ela subiu as escadas e rumou para o quarto de Damon, quase arrebentou a porta e jogou um balde pequeno de água no rapaz que dormia.

– Tá ficando louca? – levantou num pulo.

– Seu filho de uma...

– Olha o respeito moleca – Damon olhou feio para ela – Qual o motivo e tanto ódio nesse coraçãozinho?

– Você não me contou que aquela imbecil estava vindo para cá – estapeou o rapaz.

– Vocês vão começar isso de novo? – Kai apareceu na porta do quarto.

– Isso o que? – Bonnie vociferou.

– Essas briguinhas idiotas – o policial reclamou.

– Isso é amor reprimido, já falei – Nadia, a irmã de Elena e Katherine, apareceu atrás de Kai vestindo a camisa dele.

Damon arregalou os olhos e sorriu malicioso, Bonnie olhou feio para a garota.

– Tá pegando a de menor? – Bonnie perguntou irada.

– Eu não sou menor – Nadia se defendeu.

– É, ela não é – Kai abaixou a cabeça.

Bonnie olhou feio para Damon e passou empurrando Kai para longe dela, a garota se traçou no quarto e começou a chorar.

“Acho que estou apaixonada por ele”

Enviou a mensagem para o grupo, mas nenhuma das meninas estava online, certamente estavam ocupadas fazendo tudo o que Bonnie não fazia, Bonnie era a moleca da turma, a menina que sempre havia se portado como um menino.

As batidas na porta vieram juntamente com a porta sendo aberta devagar, Damon entrou no quarto e fechou a porta.

– BonBon me perdoe, ok?! – sentou ao lado dela.

– Não é isso que me deixou assim.

– Kai?

– Como todo mundo percebeu menos eu?

– Que você está apaixonada por ele? – Damon questionou e ela assentiu – Você sempre arruma a farda dele, faz massagem, sempre liga para perguntar se tá tudo bem, fica preocupada com ele, vocês estão sempre assistindo GLEE juntos no final de semana...

– Eu não sabia que amar alguém doía tanto.

– O que dói não é amar Bonnie, é esse amor não ser correspondido.

– Você já se apaixonou Damon?

Ele ficou calado, apenas puxou a garota e deitou a cabeça dela sem eu colo.

Mal sabia ela, mas o coração do belo barman pertencia a uma só mulher.

Bonnie Bennett.

A garota que ele nunca tivera, o coração que ele queria proteger, a moleca que ele sempre admirou.