Eles dizem que sou uma flor que nasceu no deserto. Fria e gelada, porém bela, delicada, cortante. Uma rosa. Um cravo. Qualquer uma dessas.

Era o que eu pensava também. Eu era única em um jardim cheio de ervas, era eu quem trazia o brilho do sol para aquele lugar abandonado e sem dono, era eu quem regava e trazia a água da chuva, quem encharcava a terra e a fazia ser fértil.

Eu era egoísta, eu sabia muito bem disso.

Todavia todos ao meu redor me amavam tanto, estavam tão à vontade com aquele meu eu egocêntrico que eu nem me importava mais em quem se importava. Eu apenas vivia e abusava dessa confiança extravagante.

Foi então que encontrei aquela violeta do seu olhar.

Gelada, importuna, irritantemente encantadora.

Ela me prendeu em indiferença e na coesão de frases bem articuladas. Ela me fazia querer lutar por reconhecimento e dominar cada grão de terra que não me pertencia ainda. Aquele brilho intocável que eu almejava tanto chamar de meu.

Pois bem, o mundo era meu. Ao menos era o que a corrente popular de pensamento me fazia pensar, essa psicologia das massas que influenciava tanto.

Cada mísero olhar soturno que as pétalas arroxadas me direcionavam era uma espetada na carne avermelhada em meu prato, cada vez mais cheia de ódio, cada vez mais cheia de raiva incompreensível.

Eu não queria, mas o fitava como se necessitasse de algo para me certificar que você ao menos olhava para mim. Eu me tornava sedenta por um pouco de atenção. Afinal, você não me deu nenhum cumprimento desde que chegou, não se curvou diante da anfitriã desse jantar.

Tem noção do quanto tal atitude é uma tremenda falta de modos? Ainda mais com alguém como eu.

Qual o seu nome? O que você faz? Por que seus olhos me distraem tanto?

Em meu jardim particular, não permitirei que uma reles flor como você penetre.

Só preciso que pare de me olhar desse modo.