Fate escrita por anyoneelse


Capítulo 9
Então Vai Ser Assim?


Notas iniciais do capítulo

Tretas a vista... Bora logo pro capítulo, pessoal!

https://youtu.be/RvnkAtWcKYg



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"The truth is hiding in your eyes and it's hanging on your tongue
Just boiling in my blood, but you think that I can't see"

Os dias passaram vagarosamente na semana que seguiu a maldita ligação.

Eu já não chorava mais pelos cantos, entretanto não voltei a ser quem eu era antes. Constantemente era possível observar um olhar vazio em meu rosto, além de um desinteresse para a maioria das coisas.

Durante a semana eu ia às aulas normalmente, mas não frequentava os treinos com rigor. Ao invés disso, comecei a pegar pesado com a fisioterapia, sempre fazendo hora extra com o padrinho. Pelo menos nisso as cosias estavam indo como o planejado e já tinha acertado os finalmentes do procedimento com o padrinho.

Na sexta-feira, tentei ficar um pouco no treino para dar qualquer tipo de apoio para o time. Eles estavam eufóricos, iriam jogar pra valer logo e testavam todas as suas técnicas ao máximo.

Sinceramente, eu queria poder ajudar eles mais. O problema é que, naquele momento, eu precisava me ajudar. Tinha que resolver minhas pendências de uma vez por todas e não havia como arrastar mais pessoas nisso. Era eu comigo mesma.

Acabou que durante todo o treino eu fiquei deitada, apenas ouvindo seus passes e jogadas. Se comparadas com a primeira vez que fiz isso, quando me mudei pra cá, não conseguiria reconhece-los. A mudança era notável e qualquer adversário que não estudasse isso seria facilmente vencido.

No decorrer do restante da tarde, não notei nenhum passe descomunalmente fora de sincronia, então não interferi em nenhum momento. Assim que acabou, fui pra casa logo, rejeitando qualquer tipo de companhia.

Eu percebia que eles estavam preocupados comigo, mas o que mais me surpreendeu foi Kagami e Kuroko. Eles eram avistados várias vezes conversando com Riko sobre mim, fazendo perguntas e até se oferecendo para ajudar no que fosse preciso, mesmo não sabendo o que.

Embora a treinadora tivesse pouca informação pra dar, ela já estava ciente do meu intensivão na fisioterapia, então acabava tranquilizando os meninos de que eu não estava deprimida ou algo assim.

Estava eu, tranquila no meu quarto tentando tirar um cochilo em meio a meus pensamentos quando começo a escutar um burburinho do lado de fora da janela. Revirei os olhos, aquilo não era burburinho nenhum, e sim quatro vozes extremamente familiares. Respirei fundo, procurando alguma mensagem ignorada em meu celular sobre a visita deles, mas não achei.

– Rapunzel, jogue suas tranças! – Kise esbravejava, fazendo os demais rirem, inclusive eu.

– Minha casa é térrea... – comentei, abrindo a janela.

A casa só era um pouco elevada, mesmo sendo plana, mas como estava conversando com jogadores de basquete, eles ficavam da minha altura, já que eu estava debruçada no batente dela.

– Vai cortar meu barato agora, Inacchi? – o loiro fez um bico, e pude ver que eles estavam com algumas sacolas em seus braços. – Abre pra gente!

Sorri baixo para ele, e fui olhar de relance para os outros. Meus olhos pousaram sobre um certo moreno, que me fitava descaradamente na área abaixo do pescoço, se é que me entendem. Como eu estava debruçada meus peitos ficavam volumosos, ainda mais pelo fato de eu estar confortavelmente a vontade na minha casa, ou seja, sem sutiã por baixo da blusa. Resolvi tirar proveito dessa observação pra melhorar meu humor.

– Eu até iria, Kise – respondi, atuando com um deboche – Mas os olhos de alguém estão praticamente me acorrentando de tanto encarar minha blusa...

Os três se viraram para o rapaz, que só então notou que havia algo de errado na conversa, que ele não prestara atenção. Kagami ficou vermelho de vergonha e começou a gritar com o azulado, mas foi Kuroko quem tomou uma atitude.

– Não fique encarando seios assim, Aomine! – repreendeu e cutucou firmemente algum ponto nas costas dele, fazendo-o dar um pulo e gritar de dor.

– Já falei pra não fazer isso, Tetsu! – exclamou, se contorcendo e voltando para o mundo físico.

Eles ficaram se xingando um pouco, até eu dar a volta e abrir a porta da frente, os chamando.

– Mas vocês vieram de mudança? Pra quê tudo isso? – comentei, observando a montoeira de coisas que eles deixavam pela casa.

A maioria das sacolas que carregavam era de mercado. Kagami foi direto pra cozinha com Kuroko e Kise, deixando alguns de seus apetrechos de culinária por lá, afinal ele sabia mais da minha cozinha do que eu.

O ruivo ia desempacotando tudo e colocando cada coisa em seu devido lugar, preparando para cozinhar algo de janta.

– Na verdade, trouxemos a festa até você, simplesmente!

– Que festa, garoto, tá doido?

– Tá, uma pequena reuniãozinha então, satisfeita?

– E quem disse que eu tenho tempo livre pra isso? Nunca passou pela cabeça de vocês que eu poderia ter outros planos? – me indignei com o jeito que eles entraram e presumiram que eu estava à disposição

– Você tem outros planos? – Kuroko perguntou, sério

– Na verdade não, mas eu poderia...

– Então para de choro e me ajuda a programar isso aqui – Aomine retrucou

Ele estava com meu computador já em seu colo, conectando alguns cabos nele em direção à TV. Corri em sua direção, tentando tirar o eletrônico dele, mas sem sucesso.

– Ei, minhas coisas estavam abertas! – reclamei, enrubescendo um pouco

– Ué, ta escondendo alguma coisa? Pra que esse desespero todo? – Kise apareceu em nosso lado, observando a tela

– Nada... Só não mexam no que não devem.

– Não se preocupe, eu não fechei as páginas de internet com fotos de... – ele fez uma pausa, reabrindo a página para se certificar – atletas definidos.

– Atletas definidos? Mas você não precisa procurar na internet pra ver isso, né? – Kise brincou, levantando sua camiseta e observando seu próprio abdômen.

– Pois é, algo que está tão debaixo do seu nariz... Achei que soubesse apreciar a beleza natural do dia-a-dia – Aomine debochou, fazendo o mesmo que o loiro.

Eu fiquei estática, apreciando aquela visão. Tanquinhos. Esse com certeza era meu ponto fraco. Não consegui disfarçar isso, já que passava o olhar do moreno pro loiro, boquiaberta com a visão.

– Por que está tão vermelha, Ina? – Kuroko perguntou, se virando da cozinha pra nos encarar

– Que? – consegui falar, depois que os dois safados abaixaram suas camisetas, tapando minha visão celestial, arrancando risos deles.

– Eu tô de olho nessa palhaçada aí, sosseguem! – Kagami esbravejou da cozinha, colocando ordem na bagunça.

Assim que a comida ficou pronta fomos à mesa. Enquanto comíamos, Kise nos mostrava pelo celular as listas de músicas que estariam disponíveis no karaokê. Eu caía na gargalhada quase toda hora, sendo tomada por uma nostalgia enorme depois de avaliar algumas das opções disponíveis para a nossa cantoria.

A lista estava completíssima, tinha músicas de todos os tipos, algumas muito mais velhas que eu, inclusive. Por fim, concluímos que seria melhor deixar no aleatório, mesclando desde músicas nacionais a internacionais, contendo temas de novelas, sucessos de cada ano e músicas mais tocadas nas rádios.

Logo que terminamos a janta, fomos para o sofá e o loiro explicou como o programa funcionava.

Cadastramos os 5 nomes com 5 cores diferentes, então antes da música aparecer seria dito quem foi escalado para cantar a canção, sorteado aleatoriamente pelo sistema. Isso variava de acordo com a quantidade de cantores na faixa, mas não era mostrado quem cantaria o que. Na verdade, ele apenas colocava o nome na tela e a pessoa teria que cantar a letra de sua respectiva cor assim que ela aparecesse na canção a seguir.

Quando o botão iniciar foi selecionado, a tela escureceu e reascendeu mostrando quem seriam os estreantes da noite.

– Bom, mãos à obra... – Kise comentou, pegando um microfone para si

Depois de alguns segundos, uma batida lenta começou a tocar e logo identifiquei como sendo Fábio Júnior.

O loiro se empenhou para acompanhar o backing vocal e as letras que corriam, mas tinha alguma dificuldade. A legenda tinha o idioma da música em questão, e no caso estava em português.

Ao final da música eu limpava uma lágrima que escorria em meu rosto de tanto dar risada. O sotaque do rapaz era puxadíssimo para o japonês, fazendo com que palavras como “dois amantes dois irmãos” soassem mais como “dois diamantes dois limão”.

– Eu não achei que ele foi tão ruim assim – Kagami comentou, não entendendo meu riso descontrolado.

– O mundo dá voltas e eu só estou torcendo para que você caia com uma música bem difícil – Kise me fuzilava

Mais uma escuridão na televisão e dois nomes vieram. Aomine e Kuroko se ajeitaram e aguardavam a letra de “Razões e Emoções” do NxZero aparecer.

O mais alto foi designado para a voz principal, suando para dar conta do recado, enquanto sua antiga sombra fazia a segunda voz sem muitas dificuldades.

– Nada mal, nada mal... – comentei dando um risinho

– O que essa música diz? – Kuroko me perguntou, retomando o fôlego

– Ah... Eu não sei direito, acho que é um cara ressentido com a ex-namorada – dei de ombros, apenas para ver meu nome aparecer como a próxima cantora.

– Vamos ver do que a falastrona é capaz – o moreno sibilava

Uma batida clássica de samba surgiu, me fazendo arregalar os olhos pela lembrança da música que há muito tempo não ouvia.

– Essa aqui é pra você, Aomine – ri, sabendo que o garoto não fazia ideia da letra da música.

Comecei a sambar pro seu lado ao som de “Meu Ébano” da Alcione, encenando a letra e interpretando-a como se fosse dedicada a ele. Vez ou outra embolava alguma palavra, o que passou totalmente despercebido para eles, meros desconhecedores da melodia.

Mais alguns minutos e me joguei no sofá, caindo sentada e retomando o ar. O programa do karaokê já ia para a tela padrão, sorteando o próximo nome.

– E essa? – Kise perguntou, curioso

– Será que eu conto? – encarei o moreno ao meu lado, que me fitava com mais curiosidade ainda – Acho que não...

– Ah não, eu quero saber o que você dedicou a mim, Ina! – protestou

– Volta pra última música, Kurokocchi – o loiro pediu.

– Não tem como, no aleatório não pode repetir a música que já foi – ele explicou, fazendo um moreno bufar

– Dá seus pulos pra descobrir, garanhão – provoquei dando uma piscada

– Silêncio aí vocês, amadores, vou mostrar como se faz – Kagami disse, já com o microfone em mãos.

Assim que me dei conta da música que estava tocando eu fiz um bico.

– Não vale, essa você sabe de trás pra frente!

“Without me” do Eminem começou a tocar e Kagami sorriu pra mim, dando uma piscadinha antes de começar a cantar a letra inteira perfeitamente.

As músicas se seguiram, com Charlie Brown Jr., Roberto Carlos, Vanessa da Mata, Kelly Key, Gilberto Gil, Almir Sater e muitos outros. Sem contar com os artistas internacionais que embalavam novelas e tocavam o tempo todo no rádio. Realmente, nem se eu quisesse iria lembrar tantos hits que já passaram no âmbito musical do Brasil.

Paramos, depois de algumas horas e ficamos à toa assistindo séries na TV.

A noite estava calma, com um clima bem agradável. O ambiente dali também estava descontraído, os meninos realmente se sentiam em casa.

Em determinado momento, Aomine foi até a cozinha pegar um copo de água, mas não voltava nunca.

– Se perdeu na geladeira ou o que? – perguntei, debochando dele enquanto me virava.

Ele estava de costas para nós, com o copo em uma das mãos e alguma outra coisa na outra.

– Ina, por que você tem um tarja preta muscular? – perguntou de lá, atraindo a atenção dos outros também

Assim que a voz séria de Aomine soou, percebi o que estava acontecendo, o que acabou me fazendo sumir com meu sorriso assim que reparei o que ele tinha em mãos.

– Não é nada de mais, só um suplemento importado... – menti, tentando desconversar rapidamente.

– Eu não tô brincando! – esbravejou, dando um passo em nossa direção, ainda segurando o pote de comprimidos – Que merda é essa?

– Aominecchi, por que está tão bravo...? – Ryouta questionou, incomodado pelo tanto de barulho ali.

– Isso aqui é pra quem vai fazer cirurgia, Kise! – o moreno jogou o pote na direção do loiro, que o segurou por reflexo.

Ao pegar a embalagem, Kagami se aproximou dele para ver o objeto, com uma expressão de dúvida em seu rosto.

– Ina, você vai... – o ruivo tentou colocar seus pensamentos em ordem

E assim, de um segundo para o outro, eu me senti muito culpada. Os olhos em chamas dele estavam sentidos por eu não ter lhe contado sobre minha escolha. Aliás, eu não havia contado pra ninguém e ainda não tinha ideia de como o faria, por isso adiei tanto.

– Vou, Taiga – respondi.

– Vão ficar de segredinho ou dá pra explicar? – o moreno se enfezou, já ao nosso lado.

Numa altura dessas, ninguém prestava atenção no som que a televisão emitia. A cena girava em torno da fúria que tomou Aomine após sua recém descoberta. Kuroko apenas observava tudo sério, enquanto Kagami e Kise não se esforçavam em demonstrar sua inquietação.

Na minha cabeça, tudo girava muito. Tive que me apoiar bem no sofá para tomar a coragem de falar o que teria que falar. Contar a eles de uma vez por todas o que eu tenho feito.

– Aomine – me virei pra ele, séria – lembra aquele primeiro dia que jogamos e eu desisti da partida? Eu estava treinando escondida, tentando determinar o quão resistente eu estava pra não dar nenhuma bola fora nos treinos com o pessoal da Seirin.

– Continua. – ele falou, visivelmente irritado

– Um dos motivos de eu vir para o Japão foi receber tratamento médico por causa de uma condição física precária e que não tinha recursos pra ser curada lá no Brasil

– Você é doente? – Kise me olhou, surpreso.

Não consegui continuar a contar, os olhos dourados daquele garoto me faziam me sentir uma megera por não contar a eles antes, por omitir algo tão crucial pra mim deles. Foi aí que percebi que eles realmente se importavam comigo, pelo menos até ali.

– Ela tem problema no joelho, por isso não consegue jogar por muito tempo. – Kagami me ajudou

– Aquele dia... – Aomine colocou a mão nos olhos, tenso – Você poderia ter se machucado, idiota, por que não falou que não podia jogar?

Seu tom era de pura reprovação. Devia achar que eu era uma avoada por não me ligar aos fatos e consequências de minhas ações, mas era justamente o contrário. E com esse pensamento, extravasei.

– Acha que é fácil assim, sair por aí me colocando limites em algo que eu tenho paixão em fazer? Eu preferiria ficar sem as pernas por causa de um jogo do que caminhar sem poder pisar numa quadra de novo!

O silêncio se instaurou. Depois de eu praticamente gritar, os outros três se calaram e me fitaram com espanto. Pareciam processar as informações que eu havia dado, ligar os pontos para formar algo concreto. O mais calmo dali foi o primeiro a me dirigir a palavra novamente.

– Nós podíamos te ajudar, Ina.

– Eu preciso fazer isso sozinha, Kuroko. Por isso marquei o procedimento para segunda.

– Isso é depois de amanhã – Kagami protestou, visivelmente preocupado.

– Eu sei.

Aomine não falava mais nada, apenas passava a mão pelos cabelos compulsivamente. Kise e Kuroko se entreolhavam, enquanto Kagami me fitava aflito.

– Você não tem que fazer isso agora...

– Eles queriam que eu fizesse, Taiga, que eu me desse uma chance de ser completamente feliz outra vez. – expliquei, tentando fazer a compreensão fluir naquele par de fogos.

– Não tem mais volta, não é? – Kise se aproximou, ternamente.

Neguei com a cabeça, o loiro me acariciava no rosto com calma, seu rosto emitindo pura compreensão. Eu sabia que, no fundo, ele também tinha algum histórico de problema físico e isso de certa forma me confortou.

– É o melhor momento pra fazer o procedimento, e eu sei que estou pronta. – comentei, respirando fundo sem acreditar nas minhas próprias palavras – Eu finalmente estou pronta.

– Eu sei que está, você vai tirar isso de letra, Ina – ele respondeu, me tomando num abraço.

– Obrigada, Kise. – sorri levemente, um pouco cabisbaixa pelo rumo que a conversa tinha tomado.

– O que está decidido, está decidido. Não tem o que fazer sobre isso. Então vamos ao menos aproveitar nosso restante de sexta a noite, né? – ele disse, fazendo com que Kagami e Kuroko concordassem.

Voltamos assim a nossa posição inicial para a televisão, mas Aomine parecia relutante. Ele não falou mais comigo em nenhum momento, mas não quis pressioná-lo. Ele precisava de um tempo, era visível, então resolvi respeitar, afinal, era isso que eu ia querer no lugar dele.

Aos poucos a noite se estendia e cada um foi bocejando, demonstrando o real sono que estavam, contradizendo com a força de vontade que tinham para continuar de olhos abertos.

– Então, gente, temos uma questão para resolver. – levantei, me espreguiçando.

– Qual o problema? – Kise perguntou, coçando os olhos.

– Aqui na casa de Ina não tem colchões extras, então temos os três sofás e a cama de casal no quarto para dormir. – Kagami se prontificou, informando a situação.

– Duas pessoas vão ter que dividir a cama? – o loiro voltou a questionar

– Claro que não. – o ruivo continuou – Ina e mais alguém vão dividir a cama. A casa é dela, afinal de contas.

Os outros concordaram com isso, mas logo voltamos à discussão pra ver quem a dividiria comigo. Confesso que fiquei um pouco encabulada, então não dei palpites na discussão. Não dá pra ser imparcial escolhendo quem vai dormir colado em você a noite toda, né?

– Acho que o mais justo é deixar quem for mais alto na cama, porque os sofás não são tão grandes nem pra mim. – Kuroko propôs

Os outros três se entreolharam, em busca de uma discordância, mas foi unânime. O sono ajudou um pouco nessa cumplicidade toda, já que o desejo geral era de deitar a cabeça em algo macio e apagar.

Agora só faltava descobrir quem era o escolhido, porque os três eram praticamente da mesma altura. Enfileiramos eles descalços na parede, mas rapidamente descobrimos quem seria.

– Pelo visto Aomine vai estar mais disposto pra jogar amanhã – Kise brincou, notando que era o mais baixo entre eles, sendo seguido por Kagami.

Olhei apreensiva para o moreno, tentando analisar alguma reação mínima que fosse. No mesmo instante, ele me fitou, logo passando sua atenção para um ponto qualquer do ambiente.

Saí dos meus pensamentos quando fui requisitada para arrumar cobertas e travesseiros ou almofadas pra todo mundo. Os meninos já começaram a trocar de roupa ali mesmo, o que me fez revirar os olhos pela intimidade que já tínhamos.

Distribuí igualmente os objetos e corri para o banheiro, ultrapassando Kagami e dando a língua para o mesmo antes de fechar a porta. Todos sabiam que ele era um enrolado com a higiene antes de dormir, então aproveitei a oportunidade para escovar os dentes antes de buscar o pijama no quarto.

Assim que abri a porta recebi um peteleco do ruivo, sendo expulsa para a sala. Olhei para os dois que já estavam aconchegados em seus sofás e sorri. Eles conversavam animadamente sobre algum assunto besta como se nem tivessem com sono, mas, acima de tudo, pareciam muito a vontade ali. Era quase como se fizessem parte da minha casa, tanto quanto eu.

Acenei para os dois e já aproveitei para apagar a luz principal, deixando só a luz da televisão acesa. Fui para o pequeno corredor, lembrando o que me esperava no quarto. Respirei fundo ao passar pelo portal, segurando mais firme os cobertores que usaríamos, procurando por um rosto familiar.

Que. Cena.

Aomine estava apenas com uma bermuda bem folgada, com a camiseta do pijama numa mão e a outra segurando a cortina da janela. Seus olhos fitavam o horizonte pela brecha que havia aberto, a luz da lua o contornava de uma maneira muito bonita, contrastando com sua pele morena e seu corpo em forma.

Despertei dos meus devaneios e pigarreei, juntando a lucidez que restava em minha mente avoada.

– Trouxe lençol e travesseiros pra cada, mas só sobrou um cobertor grande então podemos divi...

– Pode ficar – respondeu, sem tirar os olhos do vidro

Eu tinha esquecido que, depois de contar sobre meu problema no joelho e sobre o procedimento, ele estava estranho comigo. Pra falar a verdade, ele não me dirigiu a palavra diretamente em quase nenhum momento, mas eu não tinha parado pra processar o assunto direito.

Suspirei fundo, inconscientemente, arqueando as sobrancelhas e fitando o chão.

Poxa vida, eu não queria ficar naquela situação com ele, mas não desistiria da minha saúde por causa de um cara emburrado e teimoso.

Saí do quarto, com o objetivo de checar se poderia me trocar no banheiro, mas parei assim que ouvi o barulho do chuveiro. Aquele era Kagami Taiga, o que mais poderia esperar? Dei meia volta e reentrei no cômodo, me voltando para o armário de roupas. Aomine se posicionava na janela, imóvel ainda.

Abri as duas portas e fiquei de costas para o quarto, tirando minha blusa e colocando uma camiseta qualquer no lugar. Tirei o sutiã por baixo e tirei meus shorts, cobrindo minha peça de baixo só com a ponta da camiseta, mas tentei não ficar focada no fato de que eu estava mostrando grande parte da minha calcinha vermelha para a outra pessoa no quarto. Ele nem devia estar prestando atenção em mim, já que estava meio putinho comigo ainda... Coloquei por fim um short de pijama e joguei as roupas sujas para dentro do móvel. Eu tava cansada demais pra leva-las até a lavanderia nos fundos, então me contentei em fechar o armário do jeito que estava.

Me virei para a cama e fiquei surpresa ao ver que o moreno já estava lá, abrindo seu lençol Engoli seco imaginando se ele teria visto alguma coisa mas, dei de ombros, não é como se ele não tivesse visto muitas coisas além disso em sua vida de adolescente pervertido.

Em silêncio, fui até a outra ponta e separei minhas coisas também. Ignorando o que ele havia dito mais cedo, estendi o cobertor mais grosso por cima da cama por inteiro, incluindo sua parte dela.

Sem dar explicações à expressão de dúvida que se seguiu por parte dele, entrei debaixo da coberta e me deitei de lado, virando para a direção oposta.

– Quando quiser apagar a luz, o interruptor fica ao lado da sua cabeceira. – informei, sem expressar nada com a voz.

O moreno nada respondeu, apenas se deitou e apagou a luz em questão. Percebi que estava fitando o teto, já que não se remexeu demais ao entrar na coberta.

Alguns minutos se passaram e eu mantive o pensamento longe, assim como o sono.

– Eu tenho mania de me enrolar com cobertores enquanto durmo, então você provavelmente acordará com frio no meio da noite. – ele disse, calmamente

Por sorte ele não podia ver minha reação. Ele estava falando comigo? Não estava tão bravo quanto eu pensava? Me arrisco a ir mais além, ele estava se justificando pela atitude grosseira de minutos atrás. Era isso mesmo?

Em um sinal de trégua, me virei de frente para o teto, encarando o nada assim como ele.

Depois de um tempo sem falar nada nem alterar de posição, resolvi começar uma conversa, sem olhar para ele.

– Devia ter te contado antes do meu joelho – comecei, direta ao ponto – Mas eu preciso que me entenda, essa é a hora de fazer esse procedimento, é uma oportunidade única e eu sei que consigo

– Nunca duvidei da sua capacidade

– Deve duvidar da minha inteligência, se acha que não percebi você me evitar.

Percebendo que a conversa não iria fluir depois de um tempo sem resposta, resolvi me virar para a beirada da cama. No que comecei o movimento, Aomine segurou meu braço, impedindo meu corpo de continuar.

Ele se ergueu, o suficiente para aproximar-se do meu rosto e diminuir a distância dos nossos lábios num beijo rápido. Ele se afastou e por um milésimo seus olhos pararam nos meus, em seguida voltando para sua posição normal e depois virando para o lado oposto da cama.

– Eu não me perdoaria se fosse o responsável por deixar você sem poder andar.

Naquele ínfimo momento de proximidade, puro ato inconsequente, consegui vislumbrar naqueles olhos um sentimento desconhecido. Algo parecia novo, tanto pra mim quanto para ele próprio, se aproximando de um afeto em forma de olhar.

Não consegui processar nada, apenas permaneci estática até o sono chegar.

Acordei no meio da noite com o movimento da cama. Senti braços mexendo algo por cima de mim, mas não ousei abrir meus olhos. Pela respiração preguiçosa, reconheci Aomine, que esticava o cobertor, antes dividido, totalmente sobre mim. Ele se demorou depois de fazê-lo, ajeitando para que eu ficasse inteira coberta. Virou-se então de volta para sua posição de antes. Me perguntei se eu havia acordado ele, ou se o moreno fizera isso por conta própria. Em ambos os casos, não sabia explicar o motivo de um gesto de preocupação deste tanto.

Por fim, conectei os fatos. A reação de preocupação com a notícia inesperada, o gelo que me deu, o beijo casto, a súbita declaração de preocupação e agora isso, o ato consumado de se importar.

Mas o que isso tudo significava junto?

Somando aos fatos de que, fora essas e algumas outras pequenas ações, ele não destacava sentimento qualquer sobre mim. Na verdade, ele nunca sequer me tratou como alguém do sexo feminino! Elogios, olhares, assuntos... Nada disso! Ele apenas me tratava como um de seus amigos.

Depois de muito matutar sobre o assunto, comecei a entrar em um estado de relaxamento, sem chegar a uma resposta clara. Voltei aos poucos para o mundo dos sonhos, leves e despreocupados.

Ao contrário de como acordei.

Um som alto e estridente soou abafado na sala, me fazendo pular da cama e cair de lado no chão, enrolada nas cobertas. Aomine, também assustado, ergueu o tronco rapidamente, com os olhos arregalados e a boca entreaberta, deixando que um fio de baba rastreasse alguns centímetros para fora de seus lábios.

Em seguida, ouvi uma barulheira vinda da sala. Algo semelhante a travesseiradas.

– Seu idiota, desliga esse despertador!

– Foi mal, esqueci de reprogramar o horário de aula só para dias de semana...

– Com essa música para acordar, agora sei porque Kise é tão elétrico ao longo do dia.

Em alguns minutos, o burburinho sessou, e me dei conta de que ainda estava no chão.

– Barulhentos... – reclamei, num resmungo.

Voltei para a cama e me arrumei novamente. De canto de olho, vi que Aomine estava deitado fitando o teto mais uma vez, parecia pensar. Não como se eu não estivesse rodeada de perguntas e teorias, mas até então não tive coragem de falar nada.

Respirei fundo, escolhendo as melhores palavras e, antes que eu pudesse proferi-las, o moreno falou.

– Ina... – ele suspirou, passando a mão pelo rosto, virando de costas pra mim – Eu não devia ter te beijado.


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Notas finais do capítulo

É, o morenão arregou. Dá pra entender?

https://youtu.be/RvnkAtWcKYg

Ao menos uma música que, na minha 1000de opinião, cabe super bem ao capítulo.

Beijocas!



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