Fate escrita por anyoneelse


Capítulo 11
Companhias Indispensáveis


Notas iniciais do capítulo

De volta pra aula e claro que eu não deixaria ser uma várzea, né? Hehe... Vamos ao capítulo!

https://youtu.be/Ck7Vfwo65NI



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"You're sure you're hurt in a way that no one will ever know
But someday the weight of the world will give you the strength to go"

A tão não esperada quinta-feira chegou, e com ela uma enorme cara de mau humor.

15 minutos antes da aula, eu estava parada a uma quadra da entrada da escola. Pedi para que o motorista parasse antes, afinal eu já iria ser encarada por causa das muletas, não queria ter mais um motivo para segurar olhares.

Andei vagarosamente, passo por passo, atravessando o pátio e as demais áreas cheias de alunos. Era ridículo.

Gente que nunca sequer olhou pra minha cara agora encarava, virava pro amiguinho e cochichava alguma coisa, provavelmente uma teoria maluca de como eu estava sem andar. Nesse momento, eu queria estar com problemas no ouvido também, quem sabe assim eu sentiria menos raiva das babaquices que eu escutava.

Em determinado momento, um corredor humano se formou, e as pessoas paravam o que estavam fazendo para me dar passagem e fazer algum comentário sobre a altona do basquete que agora era perneta. Naquela altura, se eu passei por algum conhecido eu não me lembro, já que fiquei concentrada no chão e sendo inundada pela raiva.

Quem eles achavam que eram pra ficar me julgando assim? “Nossa ela deve ter se metido em muitos problemas com a família” e “Ouvi falar que ela deixou a outra pessoa com um olho roxo só de dar uma joelhada!”, além de pessoas perdidas que achavam que eu tinha brigado com um namorado e tentavam me consolar com palavras aleatórias ao passar por mim.

Ao chegar na porta da sala, um fortão qualquer se fez de cavalheiro e, com um sorriso, parou no corredor e abriu a porta da minha sala pra mim. Apenas passei por ele o fuzilando e procurando meu lugar de sempre.

Kuroko já havia chegado e lia seu livro até me observar entrando. De início ele se levantou prontamente, já se posicionando pra me ajudar. Assim que ele encontrou meus olhos se sentou imediatamente, depois de um tremor percorrer sua espinha.

Eu estava com olheiras, o cabelo preso num rabo de cavalo meio desajeitado e um mau-humor estampado bem no meio da minha cara, que só aumentou depois do curto trajeto até a sala de aula.

Sentei-me, quieta, jogando a bolsa por cima da mesa e posicionando as muletas ao chão, debaixo da carteira. Apoiei os braços na mesa e debrucei meu rosto cansado neles.

– Se alguém perguntar, diz que eu morri – falei, com a voz já abafada pela posição

Apaguei algum tempo depois e, milagrosamente, o professor não me acordou até o intervalo. Quem sabe ele ficou com pena da minha situação e se fez de cego? Isso seria ótimo.

Fui despertada por Kagami, que me deu uma sequencia de cutucões até eu levantar a cabeça, fuzilando-o.

– Não tenho medo de cara feia. Anda, temos que descer logo.

Revirei os olhos e assenti, sem questionar. No caminho até a área onde os alunos ficavam, mais uma vez fui encarada. Como tinha um rapaz de cada lado, me escoltando, os comentários dessa vez variavam para a falta de senso que meus amigos teoricamente tinham por não me carregarem no colo ou me colocarem numa maca hospitalar para facilitar meu transporte.

O ruivo e o azulado se entreolhavam, notando minha raiva ficando cada vez maior com tal burburinho. O cúmulo foi quando um rapaz se pôs no corredor, aonde tínhamos acabado de passar, querendo interferir.

– Se eles não são homens o suficiente pra ajudar uma dama debilitada, pode falar comigo que eu te ajudo. – o fortão que abriu a porta mais cedo falou firmemente atrás de nós, com um sorriso galanteador no rosto.

Em questão de milésimos eu apoiei em uma das muletas e ergui a outra no ar, de modo que eu pegasse mais na ponta dela. Me virei, encarando o rosto assustado do cara ao ver que eu estava pronta pra utilizar o objeto para bater nele, usando um olhar que quase saía faísca enquanto deixava minhas juntas brancas pela força que segurava a muleta.

Intimidado, ele pigarreou e deu as costas, olhando para trás de vez em quando para se certificar de que eu não o seguia. Dei uma boa olhada ao redor, forçando as pessoas a pelo menos disfarçarem ao me encarar e tentarem agir normalmente.

– Idiotas... – sibilei, voltando a andar como se nada tivesse acontecido.

Rapidamente os outros dois voltaram a me acompanhar. Notei que eles seguravam o riso e percebi que aquilo com certeza seria divulgado para os outros. Deixei um riso baixo escapar, negando com a cabeça a possibilidade.

No pátio, um rebuliço começou perto da entrada que ligava à frente da escola. Kagami, Kuroko e eu estávamos sentados em um banco mais afastado quando notamos certo loiro alto ser rodeado de fãs histéricas.

– Mas o que... – comecei a dizer, mas um microfone foi ligado e soltou um ruído desagradável até se estabilizar.

– Bom dia, Seirin! – uma gritaria se estabeleceu, cessando a pedido de Kise – Estou aqui pra divulgar um evento imperdível que estou promovendo, vai acontecer na Kaijo no próximo final de semana. Alguém aqui tem interesse em saber mais?

Mais gritaria. Esse loiro sabia mesmo lidar com o público. Por fim, ele explicou que no próximo sábado ele organizaria uma festa para arrecadar dinheiro a uma instituição de caridade que cuidava de pessoas em situação de fragilidade financeira, e que todo o dinheiro seria convertido em agasalhos e cobertores para as famílias carentes do programa.

Era uma festa aberta para todas as escolas de ensino médio e o encerramento seria ao sol nascente. Claro que todos ficaram super empolgados com a ideia de uma saideira tão épica.

Depois de dar vários autógrafos e atender às fotos das garotas mais escandalosas, o loiro nos avistou, acenando e dando alguma desculpa para sair da montoeira de gente que o cercava.

– Oi, gente! – ele veio todo animado, ultrapassando a multidão de meninas ruidosas até chegar onde estávamos e sentando ao meu lado.

– Não podia mandar alguém comum fazer isso pra você? Agora a escola inteira vai decretar feriado só porque você deu as caras – o ruivo reclamou

– Na verdade estou fazendo isso em todas as escolas hoje, fui dispensado das aulas para a divulgação. Resolvi passar aqui na hora do intervalo e aproveitar pra ver você, Inacchi – ele virou-se pra mim, me fitando atentamente.

Revirei e fechei os olhos, me recostando no encosto do banco. O loiro ficou com uma cara de dúvida pelo meu humor e olhou para os dois em busca de alguma explicação silenciosa, mas não discreta.

– O pessoal daqui tá pegando pesado com ela hoje, Kise... – Kuroko comentou, fazendo o ruivo segurar um riso ao se lembrar do meu quase ataque ao cara de antes.

– Ri mais que daqui a pouco você que vai precisar das muletas, seu insolente – disse, tentando manter a postura séria, mas não conseguia totalmente.

Querendo ou não, eu sabia que minha reação de antes havia sido exagerada e causada pelo stress do momento. Agora, depois de espairecer um pouco, já não tinha muita vontade de espancar aquele cara. Não muita.

– Eu vim todo disposto até aqui e não mereço nem um sorriso? Ah, tenha dó... – o modelo fez um biquinho, se aproximando mais e passando seus braços por mim.

Abri um pouco os olhos a tempo de ver boa parte daquela escola me encarando fixamente, e a maioria era com uma raiva por eu estar tão próxima do amor platônico de muita gente ali.

– Ryouta, eles estão me esquartejando viva... – comentei, ficando um pouco corada com toda a atenção.

– Nem percebi. É que eu só tenho olhos pra você, sabia? – ele me cantou, na esperança de que eu melhorasse meu humor

– Mereço... – neguei com a cabeça, deixando um meio sorriso escapar.

– E não é que conseguiu? – falou Kagami, surpreso.

Ficamos ali mais um pouco e, realmente, eu estava mais tranquila. Parecia que ali, com eles, não importava em nada o fato de eu estar de muletas. Eles me tratavam do mesmo jeito de sempre sabendo que isso era importante pra mim.

No total, eu ri mais umas três vezes por causa do convencido do Kise e de suas cantadas enfadonhas. Até que o sinal tocou, indicando o término do intervalo.

– A conversa foi boa, mas preciso ir. Ainda tenho outras escolas pra fazer o merchan e o capitão não me dispensou dos treinos, então não posso me atrasar.

– Então existem pessoas que te põem na linha? Já gostei desse cara... – falei, debochando

No fundo eu achei algo interessante, não sabia que Kise era um jogador qualquer em seu time. Mas não transmiti muito disso. Confesso que a aparição do loiro ali me ajudou bastante com o mau humor, mas o fato dele me visitar não fazia com que minhas muletas desaparecessem.

– Na próxima venha com tempo pra um mano a mano – comentou Kagami, o fazendo rir.

– Só quando Inacchi puder me recepcionar – deu um beijo estalado em minha bochecha, arrancando um último sorriso de mim antes de se afastar – A gente se vê.

Voltamos para o restante das aulas, tão entediantes quanto as anteriores.

Ao final, pedi que os dois fossem indo na frente até as quadras, já que eu iria demorar pra me organizar com a mochila e tudo mais. Além disso, já estava no limite de fofocas de corredor por hoje, então só esperaria a multidão se esvair um pouco.

Passados alguns minutos, eu caminhava lentamente em direção às quadras. Apenas um punhado de pessoas estava ali, e felizmente não tinham a coragem de ficar tagarelando sem o burburinho habitual.

– O que aconteceu, giganta, tropeçou em alguma criança? – ouvi a voz irritante da piranha do primeiro dia soar por trás de mim, saindo de uma sala qualquer acompanhada de sua amiguinha.

– E pensar que ainda assim o lindo do Kise te deu moral... Ele tá fazendo bastante caridade mesmo... – a outra comentou, dando corda para a primeira e passando a minha frente.

– Não joga a muleta nelas, Ina... – murmurei, pressionando as mãos fortemente no meu apoio, tão baixo que elas não ouviram.

As duas se empenhavam em me atingir com palavras e se encontravam paradas bem diante de mim, ao mesmo tempo em que conversavam entre si em voz alta fingindo me ignorar.

– De onde você o conhece? Um modelo assim não aparece todo dia pra uma aberração como você, afinal não teria uma mínima chance sequer com ele.

– Ouvi falar que ele se importa muito com a imagem, por isso é tão dedicado às fãs...

Então era isso. Elas se lembraram da minha existência só porque um famoso se mostrou ser meu conhecido. E que péssima pesquisa elas fizeram, mal sabiam que eu encontrava com ele várias vezes, além de jogar basquete. Por sinal, duvido até mesmo que elas saibam que eu faço parte do time que representa a escola delas próprias.

Fui tirada dos meus pensamentos por passos apressados que ficavam cada vez mais altos, vindo em minha direção.

– Ina! – Hyuga apareceu ao final do corredor, já vestido em sua roupa de treino – A treinadora está te esperando na quadra, anda logo!

Observei-o me olhar com curiosidade pela situação, mas deu de ombros e voltou para o lugar de onde viera. Respirei fundo e centrei meus pensamentos, acatando ao pedido do capitão.

– Com licença, tenho que ir. Alguém daqui tem que contribuir com a escola em algo além de fazer comentários desnecessários. – falei, dando as costas para as duas e engolindo minha raiva, ou melhor, descontando-as em meus punhos fazendo força para andar mais apressado que o normal – A propósito – parei, antes de dobrar a esquina do corredor – O beijo do Ryouta é tão bom quanto a pegada.

Dito isso, pisquei para as duas, agora boquiabertas e gaguejando alguma coisa entre si.

Soltei uma gargalhada que em dias não soltava. Como pode existir ser tão fútil e superficial, a ponto de só me incomodar quando eu tenho alguma ligação com algo de seu próprio interesse? Só rindo mesmo...

Entrei na quadra a tempo de perceber Kagami parar de falar e me encarar diretamente, corando um pouco, sendo seguido pelo resto do time que o rodeava.

– V-Veio rápido, Ina... – o ruivo gaguejou, e eu já sabia do que aquilo se tratava.

– Já tava espalhando o negócio da muleta, né sua fofoqueira descarada – comentei, estreitando os olhos em sua direção

Ao ver que eu não havia levado a sério e que meu humor estava um pouquinho melhor, eles se entreolharam e começaram a rir aos poucos.

– Eu não acredito que você ameaçou o capitão da equipe de natação! – um deles comentou

– Foi épico! – Kagami falou, extasiado.

– Pera, ele era da equipe de natação? – perguntei, sendo ignorada completamente.

– Vocês não viram nada! Teve uma vez que Ina deslocou o maxilar de uma valentona por lhe apelidar de vara pau no fundamental. – Riko contou, fazendo com que os outros se impressionassem com essa e várias histórias de anos atrás.

Apenas revirei os olhos e tomei minha posição habitual nas arquibancadas. Eles realmente sabiam como fazer eu me sentir melhor. Porém, logo que começaram o treino de verdade, eu fui tomada por outra onda de mal humor. Ainda estava incapacitada de qualquer jeito.

A treinadora devia ter falado ao time o que havia acontecido no procedimento e como eu estava carrancuda por ficar de molho, mas que em alguns dias eu já voltaria a ser quem era e até mais disposta para jogar.

Eu tinha isso em mente, que tudo era para um resultado a longo prazo, mas querendo ou não era no mínimo nostálgico eu não poder entrar em quadra. No Brasil, assim que meu joelho havia dado as primeiras pontadas, foi a época mais difícil pra mim. Lembro de ficar isolada durante as aulas de educação física e até matar outras aulas por puro desinteresse.

E eu não podia ser tomada por esse sentimento de novo.

Lá estava eu momentos depois, deitada de olhos fechados e um pouco mal humorada por não participar ativamente do treino. O som da porta de metal se abrindo me chamou a atenção, ergui os olhos a tempo de avistar Aomine entrando e acenando para Kuroko e Kagami.

– Espera um pouco aí, já já estamos liberados. – o ruivo pronunciou e o moreno assentiu.

Em questão de minutos Riko os liberou e o time foi para os chuveiros, enquanto ela estava conversando com Hyuga na quadra sobre o desempenho do dia. Kagami e Kuroko foram para os vestiários pegar suas coisas, mas não iriam tomar banho, Aomine já estava trocado e girava uma bola impacientemente na espera dos dois. O moreno havia sentado poucos metros de mim, ao lado da porta de entrada, mas sem me dirigir a palavra em nenhum momento.

Tinha esquecido, depois de tanto furdunço hoje, a situação que eu me encontrava com o dito cujo. Ele não havia falado comigo desde o último sábado e isso me irritava. Sua indiferença era o que me incomodava. Aí, acabei por retribuir o gelo que ele me deu, de forma inconsciente.

Resolvi juntar minhas coisas, já que eu estava uma lerdeza nos últimos dias e isso era um saco. Coloquei minha mochila no ombro e peguei minhas muletas, me esforçando para levantar sem ruídos, caso contrário Riko iria vir até mim e começar a me tratar feito uma incapacitada.

O problema é que não era fácil agir naturalmente quando eu realmente não estava normal. A mochila pesava e me fazia perder o equilíbrio às vezes, considerando que eu tinha que me locomover com aquelas duas pernas de pau desengonçadas.

Lentamente, fui caminhando. Pude notar Aomine me encarando pelas costas, conseguia até sentir a intensidade daqueles olhos. Comecei a ficar irritada, imaginando o que passava pela cabeça dele. Talvez ele se questionasse o motivo de tanta irritação que eu exalava, sabendo que eu não queria papo com ele também.

Estava quase na metade do caminho quando, para a minha felicidade, eu apoiei de mau jeito a muleta direita, fazendo com que eu escorregasse nela e caísse pra frente, de cara no chão. A outra muleta escapou da minha mão, assim como minha mochila, fazendo o maior barulho do mundo enquanto eu sentia o chão gelado da quadra em minha bochecha.

– Saco! – esbravejei, dando um soco no piso de madeira.

Daquele jeito que eu me encontrava, o único jeito de sair era com ajuda de alguém. Como eu não podia apoiar a perna direita no chão era impossível me reerguer somente com os braços, ainda mais considerando que eu era muito alta e minhas proporções eram maiores que o normal.

Observei que uma sombra se aproximava a passos calmos, me virei a tempo de ver o moreno com um olhar esquisito pra mim.

– Para de ser teimosa – ele se agachou e ficou parado na minha frente, analisando meu estado.

– Não enche, Aomine – respondi, virando o rosto para o lado oposto.

Ao fundo, reparei que o capitão puxou Riko para dentro dos vestiários, a contra gosto dela, tentando deixar nós dois a sós ao perceber o clima meio tenso que se instaurou. Ele também fez o papel de interceptar qualquer um que tentasse sair dos vestiários. É, parece que tudo conspira pra que eu me rebaixe ao máximo pra esse ser de cabelos azuis.

– Precisa de ajuda? – ele debochou, se sentando de frente pra mim.

Aquilo era no mínimo humilhante. Eu caída ao chão, sendo obrigada a olhar pra cara dele, depois do que ele havia feito.

– Por que você está fazendo isso? – perguntei mais calma, começando a desistir da minha irritação, vendo que não ia chegar a lugar nenhum – Se for pra tirar uma da minha cara pode começar, eu tenho tempo de sobra já que finalmente resolveu falar comigo.

Ele soltou um suspiro longo, como se reprovasse minha atitude. Sem aviso prévio, se ajoelhou e me pegou por debaixo dos braços, me erguendo até eu ficar na vertical e poder apoiar um dos pés no chão de novo. Ele então passou meu braço por seus ombros e colocou sua mão na minha cintura, me dando firmeza para que eu voltasse em segurança até as arquibancadas.

Nos sentamos e ficamos em silêncio por um tempo. Ele parecia escolher as palavras em meio a tantas que surgiam em seu pensamento.

– Eu te acho forte – por fim falou, me olhando fixamente.

– É o que?! – perguntei, testando minha sanidade.

– Isso que você ouviu mesmo – ele retrucou

– Sou uma incapacitada no momento – respondi, negando com a cabeça e olhando para baixo

– Não dá pra depender de si mesmo em tudo

– Olha quem fala – rebati, franzindo a testa.

– Realmente, não sou o melhor exemplo... Mas por isso mesmo percebi na hora o que estava fazendo consigo. Você escondeu de todo mundo que tinha um joelho ruim, e depois omitiu que iria consertá-lo.

Eu fechei a cara com o rumo que a conversa estava tomando.

– Você não entende.

– Você não é tão exclusiva assim, Ina.

– Como é? – perguntei, incrédula com a ambiguidade da fala

– Todo mundo tem problemas... – ele adicionou

– O que você sabe sobre a minha vida mesmo? – perguntei irônica, interrompendo-o.

Como ele ousava dizer aquelas coisas? Ele não fazia ideia de tudo que eu já tinha passado nos últimos tempos, todas as escolhas que tive que fazer sem ninguém pra me dizer o que era certo ou errado. Ele nem fazia ideia de como esse problema me perseguia e o que a solução dele significava.

Eu não era um prodígio estrelinha no basquete que conseguia tudo de mão beijada por ser bom nos lances. Tive que batalhar pra conseguir me dar algo de bom na vida, e não seria agora que me tornaria uma mocinha em apuros pronta pra ser amparada pelo mocinho bondoso.

– Não me entenda mal, eu só estou tentando te ajudar.

– Quer me ajudar? – olhei enfurecida para seus olhos azuis – Traz minhas muletas aqui, pra que eu possa sair logo e não ficar olhando pra sua cara de piedade.

– Eu acabei de dizer que te acho forte!

– Ironicamente no momento que eu estou mais fraca? – indaguei revoltada – Fora que você nunca fez nenhum elogio pra mim em condições normais! Então sim, eu considero isso uma compaixão desnecessária, pra não dizer cínica. Afinal de contas, de que adianta me tratar de um jeito agora pra depois se arrepender e fingir que nada aconteceu?

Aomine baixou o olhar, sentindo as palavras que eu havia dito. Foi até minhas coisas e as pegou, voltando pra mim com os objetos em mãos como eu havia pedido. Nós dois sabíamos que o assunto já não era mais o mesmo.

Óbvio que eu estava falando do dia do beijo! Não bastava ter falado que não devia ter me beijado, agora ele vem com essa de elogiar e esse papinho todo de compreensão?

– Eu me expressei mal aquele dia...

– Jura? – contrapus irônica

– Tô falando sério, Ina. – ele mudou de feição, me encarando firmemente – Sei lá, eu não queria que as coisas ficassem estranhas entre a gente e me senti um babaca por te beijar sem nem saber se você tava afim.

Depois de sua mudança repentina, eu fiquei menos carrancuda. Pelo menos estava disposta a ter um diálogo sobre o assunto, e não só proferir palavras ríspidas para afastá-lo. Já estava resolvendo o meu maior problema dos últimos anos, o que custava resolver um dos probleminhas mais recentes logo?

– Não queria te dizer, mas foi babaca o suficiente me ignorando nos últimos dias – suspirei, olhando pra um ponto qualquer da quadra, com o tom de voz menos arisco.

– É... – ele riu, sem jeito, coçando a cabeça com uma das mãos – Foi mal por isso.

Segurei um riso. Ele estava se desculpando mesmo! Não do jeito que eu esperava, mas muito melhor do que a gente sair no bate boca. Resolvi amenizar o clima, visto que já tinha arrancado dele um pedaço de seu orgulho.

– Se eu tivesse morrido você nunca saberia já que não mandou nem uma mensagem pra saber se eu tinha sobrevivido – fingi indignação

– Que dramática... – ele revirou os olhos, com um meio sorriso

– Mas é sério a parte da mensagem – falei, tirando o deboche de cena.

– Você que pensa que eu não sabia de você... – o moreno pensou alto

– Kagami? – perguntei, e ele assentiu, confirmando minha suspeita – Uma fofoqueira mesmo...

– Eu diria informante. Acha que eu vim hoje aqui a toa?

Um minuto de silêncio se instaurou, mas com um clima mais leve do que da última vez. Eu já não estava tão fechada, percebi que aos poucos a presença de todo o pessoal hoje me fez sentir melhor. Talvez eu até devesse ter aceitado receber eles lá em casa algum desses dias, mas meu orgulho não me deixou pensar na hipótese para além disso.

Por fim voltei à situação que me encontrava. Ele estava ali, diante de mim, e admitindo que veio até ali pra me ver, ou seja, que eu fui um dos motivos pra arrancar a preguiça desse corpo molenga. Pensei bastante o que dizer a seguir, e resolvi ser direta ao ponto.

– Por que você fez aquilo? – perguntei, sem olhar em seus olhos.

– Não sei... Acho que pelo mesmo motivo que qualquer pessoa beija a outra.

Ele comentou, mas deixou o espaço aberto para interpretações. Será que o que eu tinha como motivo era o mesmo que ele? Isso queria dizer que ele gostava de mim? Ou que tinha uma atração? Ou só que queria beijar e ponto?

Fiquei matutando por mais um tempo, então resolvi deixar claro algumas coisas de qualquer jeito. Estava resolvendo problemas, não criando outros.

– Aomine.

– É Daiki.

– Ah... Tá bem. – fiquei pensativa por um tempo, e ele teve que me fazer voltar a atenção pra conversa

– Fala.

– Eu não faço ideia do que passa nessa sua cabeça de vento... – comecei, inclinando a cabeça e o analisando – Mas eu não quero ficar estranha com você por causa de um beijo. De toda forma, a gente pode deixar pra tocar nesse assunto de novo depois que eu melhorar? Eu realmente preciso me focar nisso aqui agora – apontei para meu joelho

Ele assentiu, de forma compreensiva, mas parecia continuar pensativo.

– Só mais uma coisa. – ele disse, saindo de seus pensamentos.

– Diga.

– Você queria me beijar? – perguntou, um pouco inseguro.

Eu sorri com seu gesto, demonstrando mesmo sem a intenção, que tinha um coração por baixo de toda aquela cara de indiferente. Até mesmo mostrando que ele tinha sentimentos assim como qualquer pessoa, só talvez não mostrasse. Além de que se preocupava com o que eu achava da situação, confirmando que ele também não queria se desfazer da nossa amizade.

– Se eu não quisesse você não teria dentes agora. – soquei seu ombro de leve, o que o fez gargalhar.

Notando que o clima já estava normal, Hyuga liberou a passagem da porta, fazendo com que todos saíssem e, atuando muito mal, fingiam não se importar com a nossa presença.

– Então quer dizer que você é agressiva? Não sabia desse seu lado... – Daiki perguntou, visivelmente curioso

– Nem chega a tanto... – ri, sem graça, desconversando.

– Isso porque você não a viu ameaçar o capitão da equipe de natação com a muleta hoje – Kagami entrosou, ouvindo nossa conversa enquanto caminhava até nós.

– De novo? Vocês não vão esquecer isso tão cedo, né? – falei, mas ninguém me deu moral, pra variar.

– Já soube de quando ela deu deslocou o maxilar de uma garota no Brasil?

E assim mais histórias começaram a se repetir, e pude jurar que vi Riko dando risada por ter sido a fonte de toda aquela fofoca. Revirei os olhos enquanto os meninos faziam uma encenação precária do ocorrido de mais cedo, fazendo com que todos rissem incansavelmente.

Depois de algum tempo, o pessoal todo começou a ir embora. Por fim, a treinadora e eu fechamos tudo, e fomos caminhando lentamente até minha casa.

Por incrível que pareça, eu comecei a me sentir bem depois de tantas emoções nos últimos dias. Eu estava mais completa, mais viva e, ao mesmo tempo, mais de bem comigo. As coisas não poderiam estar melhores.


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Notas finais do capítulo

Teve mal humor, fofuras, momentos tensos, quase quebra-pau, piadinhas... Ufa! Espero que tenham gostado.

https://youtu.be/Ck7Vfwo65NI

E vamos de Linkin Park pra esse capítulo aqui!

Até daqui a pouco ^^



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