Pedestal escrita por Bruna Gama


Capítulo 1
Prólogo - Água Impura.




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Eu deslizo meus próprios dedos em minha pele como se procurasse tirar de mim as digitais dele, como se tentasse esquecer-me dos segundos infernais no qual seus lábios secos deslizavam em minha pele amendoada, como se apagasse de minha memória o momento em que a sua barba domada por alguns fios esbranqueçidos me arranhará respingando seu suor em mim, como se a dor e o nojo que senti ao ele me possuir pudessem ser levadas para o ralo assim como a água que escorre em meu corpo. A água apenas relaxa a dor de meus músculos e alivia a tensão dos meus nervos, mas, meu coração sangra. Compadece-se em sua própria dor.
Eu me sinto suja. É como se eu me olhasse no espelho e as traças da amargura consumissem meu corpo enquanto isso em meus lábios eu haveria de sustentar um sorriso contagiante. Eu era o símbolo do equilíbrio, do amor para alguns e até mesmo da compaixão. Mas eu não conhecia isso, tudo que eu via era dor. Tudo que eu sentia era dor. Mas eu me calava por que não havia nada a ser feito, não era como se um anjo viesse do meu céu me salvar. E alguém iria me salvar? Não. A Primeira-dama dos Estados Unidos da América parecia precisar de ajuda? Não, ela não parecia. Por que aos olhos de todos a minha vida era perfeita regada a mordomia, enquanto milhares disputavam meu lugar como leoas famintas eu estava presa no inferno, em companhia de meu demônio particular, Richard Salvatore.
— Senhora Salvatore — a voz cansada é de Esther e vem acompanha por leves batidas a porta. Assim como todo o banheiro também é branco, exceto pelos pés banhado a ouro da banheira vitoriana que está a direita da ducha na qual me encontro. Ela, a única pessoa na qual meu carrasco popularmente conhecido como presidente de nossa nação e meu marido permite chegar a meus aposentos a esse horário. Puxo a toalha enrolando-a em meu corpo.
— Entre — ordeno enquanto saio de trás da parede de vidro encontrando a minha frente uma senhora mais baixa que eu, os cabelos grisalhos prendidos em um coque ao alto envolto por uma rendinha que sustém os fios. O vestido cinza tendo sua frente encoberta pelo avental branco com bordas em uma espessa renda, seus negros olhos são fixados em mim como se me estudasse. Eu sei o que virá, há dois anos e oito meses é a mesma coisa.
— Como você está menina? Eu fiquei tão preocupada, você demorou horas naquele quarto. Você não se negou a ele não foi? — seu semblante era afetuoso, mas ao mesmo tempo ela sofria tanto quanto eu, mesmo não entendendo meus motivos para me prestar a essa situação.
— Não— a respondo engolindo em seco vendo suas mãos se juntar em um agradecimento elevado ao céu — eu quase... Quase fugi dele, eu... Eu ia fugir. Mas me lembrei o motivo de eu ter agüentado todo esse tempo — nesse instante minha voz já se encontra estrangulada, meus olhos castanhos inundados de lagrimas, mas eu não permito que elas caiam apenas fecho meus olhos me dirigindo as minhas lembranças me permitindo chegar a ele, meu motivo. — Me lembrei que não estou aqui por mim.
— Eu nunca vou entender você, você chora todas as noites. Sofre estando aqui, sofre em ter que viver ao lado dele, mas se recusa a deixá-lo. Recusa-se a tentar uma nova fuga.
— Esther isso vai muito além do que você se permite entender. Não é algo simples, não envolve apenas a minha vida ou o que sinto ou deixo de sentir. — passo por ela me retirando do banheiro adentrando em meu quarto. A se ela pudesse entender, pudesse entender que até minha morte já desejei — penso comigo mesma enquanto me aproximo dos pés de minha cama pegando ali uma calça de cetim em um tom vinho quase bôrdo e uma camiseta com botões na mesma cor com os ombros encobertos por rendas pretas em transpârencia.
— Então por que não me conta? Por que continua escondendo? Você sabe que pode confiar em mim, nunca contei a ninguém o que me contou. Sabe que minha boca é um túmulo menina...— eu queria contar a ela, queria poder despejar para fora toda a dor que meu coração carregava. Mas eu não poderia a por em perigo, a única coisa maior que a minha vontade de gritar para o mundo a verdade, era o medo das consequências.
— Esther, não. Já chega. — ordeno olhando em seus olhos — Eu preciso ficar sozinha, vá se deitar já está tarde, amanhã nós nos falamos melhor e você também já está cansada. Não quero que esteja indisposta por minha culpa — finalizo o assunto caminhando até a porta de meu quarto e abrindo a mesma, ela apenas dirige seu olhar ao chão assentindo.
— Boa noite, Elena. — sussura passando por mim.
— Boa noite, Esther. — fecho a porta assim que ela sai, tranco a mesma e retorno a minha cama.
Após me vestir e trançar meus cabelos, me encontro deitada sobre minha cama, apago o abajur e deleito minha cabeça sobre o travesseiro. Já se passava das três e trinta e três da manhã, isso era o que o relógio posto sobre o criado mudo revelava, eu já me encontrava perdida em meus pensamentos sendo induzida ao sono quando ouço vozes vinda de trás da parede de meu quarto, eram vozes exaltadas repletas de preocupação e raiva.
Era Richard.
Me levantei, aproximando- me cuidadosamente e encostando sobre altos e baixos relevos da madeira da porta meu ouvido.
— Não me importo com o que você vai ter que fazer, desde que você faça algo! Não quero aquele imbecil aqui, tentando me destruir, faça tudo o que precisar mas impeça! — ordenou Richard em alto e bom som, eu até poderia imaginar ele agora. Com toda certeza estaria apontando o dedo na cara da pessoa como fazia com todos a sua volta.
— Não há o que se fazer, ele foi esperto. Anunciou para midia nacional e internacional que retornaria daqui a três dias. Amanhã todos os jornais estarão anunciando a volta dele, até mesmo disse que estava com saudades de seus familiares, de seu povo — Carl o assistente/capacho/ escravo era quem alertava Richard.
Mas quem era a pessoa que estava merecendo toda essa preocupação? Richard ria descontroladamente, sua risada grossa e rouca era tenebrosa.
— Saudades dos familiares? Ele deveria poupar meu estômago desse discurso ridiculo! Bastardo imbecil! Eu o conheço melhor do que ninguém, sei que ele está planejando algo. Algo para me atingir, para desmoronar minha carreira, mas eu não vou permitir está me ouvindo Carl? —


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Notas finais do capítulo

Bem pequenino, sim, eu sei.Porém esse é apenas o prólogo, o primeiro capítulo já está pronto e garanto que está ótimo, agradeço a todos que chegaram aqui, obrigada u.u...Beijos.PS: Cometários e críticas construtivas são bem vindos.