O Primeiro Forasteiro escrita por JFB Bauer


Capítulo 11
Capítulos 19 e 20


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo no Nyah.



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Capítulo Dezenove

O telefone de Bella tocou pela segunda vez desde que tinham chegado a casa do forasteiro.
Os dois estavam sentados no sofá, juntos, trocando suaves caricias e conversando. Aproveitando para se conhecerem.
O barulho insistente do telefone, porém, interrompeu aquele momento de intimidade.
— Me desculpe, é o meu pai de novo.
— Atenda. Não o deixe preocupado — ele disse tranquilo. Estava feliz por ela estar ali com ele, nada poderia estragar aquele momento.
Ela fez o que ele disse pegando o aparelho.
— Oi, papai.
— Bella, eu não consigo acreditar que está na casa deste rapaz, ele... eu não gosto disso — Charlie expressou seus sentimentos assim que ela atendeu.
— Pai, eu tenho vinte um anos, já sou adulta — falou calmamente. — E ele é meu namorado
— Eu sei, eu sei, mas eu fico preocupado. Nem o conheço.
— Não seja rabugento, Charlie Swan — brincou — eu estou bem e irei cedo pra casa. Vamos almoçar juntos assim como é em todos os dias. Agora vá descansar e não se preocupe.
— Tudo bem, querida. E qualquer coisa você sabe... ligue para o 911*.
Ela não se conteve rindo alto.
— Pai, acho que você tem lido muitos livros de suspense. Boa noite.
— Boa noite, filha.
Desligou o telefone com o semblante pensativo.
— O que foi? — Edward não resistiu em perguntar.
— Ele disse que qualquer coisa era para eu ligar para o 911.
Os dois riram juntos.
— Ele se preocupa com você, e no fim ainda não me conhece.
— Sim. Você sabe como os pais podem ser protetores.
Edward não respondeu e então Bella se deu conta do que havia falado.
— Desculpe, eu esqueci que você e seus pais não se dão bem.
— Tudo bem, Bella.
— Podemos conversar um pouco sobre isso? Quero conhecer você assim como quero que me conheça.
Ela se preparou para ele se fechar, como sempre ele fazia, mas dessa vez não recuou.
— Ok.
Ela sorriu e se acomodou ao lado dele, quase deitada de lado no sofá para poder olhar diretamente para os olhos do forasteiro. O barulho que o mar fazia deixava o clima intimista juntamente com a canção que Edward colocara para relaxar ao lado dela.
— Meus pais são pessoas estranhas — ele iniciou. — Agora eu consigo ver isso. Minha mãe tentou ser atriz — Bella estremeceu com as semelhanças da historia dele com a dela. — Não conseguiu grandes papéis e por consequência abandonou a carreira. Mas sempre quis ser famosa, admirada.
— Acho que posso entender isso. Nossas mães devem se parecer muito — ela disse.
— Talvez. Esme, minha mãe, não foi uma péssima mãe, apenas não foi aquilo que se espera de uma mãe.
— Ela foi negligente?
— É, acho que essa é a palavra. Mas para compensar a falta de interesse dela havia meu pai. Ele nunca foi negligente apenas nunca foi amoroso também. Porém eu e meus irmãos sentíamos segurança nele. Que nada nos faltaria, mas tínhamos que fazer exatamente aquilo que foi estabelecido por ele.
— Ele... agredia vocês? — perguntou receosa.
— Quando não agíamos de acordo com o que ele pensava, sim. Mas isso foi mais quando éramos crianças. — Edward olhou para o nada e depois voltou a fixar seus olhos ao dela. — Ele tinha, ele tem uma espécie de poder sobre nós. Conseguia nos manipular, nos convencer a fazer tudo do jeito dele e ainda fazer-nos acreditar que a decisão partiu de nós mesmos.
Ele parou o relato ficando em silêncio, ela respeitou o momento dele.
— Por anos fiz o que ele queria achando que era o que eu queria — voltou a falar. — E no fim, não posso culpá-lo integralmente. Eu gostava. Gostava do dinheiro, da facilidade com que as mulheres se jogavam sobre mim, gostava de poder ter quase tudo que eu quisesse. Até... até que um dia ele me fez tomar uma decisão muito difícil. Algo que mudou minha vida. Fez-me prejudicar meu próprio irmão.
Novamente o forasteiro ficou calado. Bella se segurava para não perguntar o que ele fizera que pudesse prejudicar o irmão.
— Eles têm a posição social que tanto amam, o dinheiro que tem por minha causa. Eu proporcionava a eles tudo o que mais amam no mundo: dinheiro e poder. Quando me fizeram fazer... Bem, percebi que não estava mais disposto a contribuir com o estilo de vida que queriam para mim. Sumi. Sem a minha presença não teriam mais aquilo que tanto gostam. Além disso, meu pai não poderia mais me controlar. É claro que não os deixei desamparados. Meu advogado manda a eles uma quantia por mês, uma espécie de mesada. Nada comparado com o que tinham antes, mas o suficiente. Isso deve aborrecer muito meu pai. E eu daria tudo para ver a cara prepotente dele vivendo de mesada... Ajudei minha irmã também. Ela queria abrir uma loja, então fiz isso acontecer. Ela é única pessoa da minha família com quem ainda mantenho contato.
— Você fala com carinho dela.
— Anne é uma garota especial. Eu faria qualquer coisa por ela. Casou-se com o namorado que conheceu na universidade, ainda não o conheço, mas sei que é uma boa pessoa. Da última vez que falei com ela me disse que está grávida — um sorriso se abriu no rosto dele. — Ela estava nas nuvens.
— Gostaria de conhecê-la — Bella comentou.
— Acho que podemos ver isso, um dia — ele respondeu levando a mão dela aos lábios.
— E... e quanto ao seu irmão? O que aconteceu? — teve coragem de perguntar.
— Bella... sobre isso, eu gostaria de não falar. Pelo menos não agora, isso me machuca.
— Tudo bem, desculpe. Fala-me quando achar que está pronto.
Não queria forçar ele a falar. Ela também tinha seus segredos e não estava disposta a falar com ele ainda sobre isso.
— Tenho medo que o dia que eu falar, você não me olhe mais do jeito que me olha.
— Isso não vai acontecer — ela garantiu.
— Ok. Agora é a sua vez.
— Minha vez?
— De contar tudo sobre você. Se eu que sou o cara misterioso contei uma boa parte da minha vida, você que é um livro aberto terá que contar tudo. Quero saber tudo sobre você.
— Quem disse que sou um livro aberto? — ela brincou.
— Hum... quer dizer que tem segredos senhorita Swan? — ele entrou na brincadeira indo para cima dela, pressionando-a com seu corpo.
— Toda mulher tem seus segredos, Edward. Admira-me que tinha mulheres se jogando sobre você, o que o fez certamente um conhecedor do sexo feminino, e não saber disso.
Ele teve que rir do tom de ironia na voz dela. Nitidamente estava aborrecida por ele ter falado das mulheres de seu passado.
— Está com ciúmes, Bella?
— Eu? Claro que não!
— Então, tocar no assunto das mulheres do meu passado é apenas uma artimanha para fugir de revelar seus segredos?
Não tinha feito aquilo de propósito, apenas tocou no assunto das mulheres por conta de ciúmes, mas agora vendo por outro lado poderia ser isso mesmo. Queria evitar a conversa que em breve teria sobre aquele assunto. Um assunto que a machucava demais.
Antes que pudesse responder sentiu os lábios dele descerem em uma trilha de beijos na curva nua de seu pescoço.
— Não vai responder? — ele perguntou contra sua pele.
— Não consigo pensar com você me tocando desse jeito... — respondeu com os olhos fechados.
— Gosta quando toco em você? — perguntou.
— Sim — respondeu ela com a voz rouca.
— Sei que prometi irmos devagar e vou cumprir minha promessa, se você quiser. Eu só queria que você soubesse o quanto eu te quero agora.
A garota engoliu em seco. Qual seria a resposta certa a dar? Dizer que sim, que o queria desesperadamente ou ir com calma como ele sugerira?
Resolveu deixar o nervosismo de lado e deixar seu coração falar.
— Eu estou apaixonada por você, sou sua...
Os lábios dele caíram sobre os dela, fortes e exigentes. Ele estava no comando. Assumiu o controle, e era claro, que sabia exatamente o que estava fazendo.
Sentiu seu corpo ser levantado por braços fortes, e a tala na mão dele nem foi percebida. Sentiu-o caminhando levando-a certamente para o quarto, contudo em nenhum momento ela abriu os olhos, ou eles pararam de se beijar.
Quando ele a abaixou sentiu seus pés contra o piso e foi que abriu os olhos. Olhou descaradamente para a enorme cama. O quarto era claro, pintado na cor azul fraca.
Voltou a olhar para o forasteiro que tinha um brilho inescrutável no olhar.
— Estou nervosa — assumiu.
— Não precisa ficar, eu não vou machucar você – afirmou.
— Eu sei.
Ele a beijou delicadamente, então recuou verificando como ela se sentia.
— Eu te amo — ela disse.
Aquelas palavras inflamou a faísca entre eles e o fogo que viu nos olhos de Edward certamente eram os mesmos nos dela.
Os lábios dele bateram contra os dela enquanto a deitava na cama. Edward sussurrou contra seus lábios úmidos e inchados:
— Eu amo você, Bella.
Com as mãos tremulas Bella começou a desabotoar a camisa que ele usava. Ele a ajudou levantando o tronco para que a ação ficasse mais confortável para ela.
A garota o observou quando a camisa escorregou sobre os ombros dele revelando o tanquinho do abdômen. Ela queria gravar na memória tudo sobre ele. Sobre aquele homem lindo e, principalmente sobre aquela noite.
Afastando-se, Edward levantou retirando a calça ficando somente com a cueca que em nada escondia sua ereção.
Estendeu a mão para ela que veio de boa vontade. Quando estavam cara a cara a girou grudando seu peito musculoso as costas dela.
A boca masculina novamente foi para seu pescoço. Dessa vez ele colocou os cabelos dela para o lado aproveitando para beija e morder de leve a nuca da garota. Arrepios passavam por todo o corpo dela e aquele ponto escondido, em especial, pulsava quase dolorosamente.
Enquanto a acariciava, Edward sussurrava o quanto a queria, o quanto estava feliz por ser seu primeiro homem. Com a ajuda dele a blusa que vestia saiu sobre sua cabeça, em seguida sua saia parou aos seus pés. Estava apenas com sua calcinha e sutiã brancos, no entanto ela não estava mais nervosa.
Ele a fez deitar-se de costas sobre a cama e o seu corpo a cobriu um segundo mais tarde. Sem demora, soltou o sutiã dela puxando para que saísse logo.
Quando viu como os belos seios dela caíram gloriosamente no lugar, xingou:
— Porra! — Sempre gostou dos seios dela.
A mão boa acariciou a carne voluptuosa dela, endurecendo os mamilos, que então logo estavam em sua boca.
Bella arqueou as contas. Sentia-se pronta para entrar em combustão antes mesmo de ver sua calcinha começar a ser retirada e descobrir o quanto estava pronta para ele.
Um dos dedos dele a tocou intimamente. O gemido que se seguiu não se identificada se fora dele ou dela. O segundo dedo se juntou ao primeiro. O forasteiro a estimulava lentamente, carinhosamente.
A calcinha desceu por suas pernas torneadas e Edward cobriu praticamente cada centímetro de seu corpo com os lábios inclusive seu sexo a levando ao êxtase. De olhos fechados ouviu o barulho de plástico e entendeu o que era. Segundos depois, finalmente, sentiu o corpo dele forçando a passagem pelo lugar nunca antes tocado.
— Eu não vou machucá-la — o ouviu repetir. — Eu te amo.
Logo uma dor a presenteou. Era ardido, incomodo, mas não o suficiente para fazê-la desistir. Ingeriu o ar com força buscando se acalmar enquanto sentia a invasão do corpo estranho dentro de si.
— Calma, meu amor, já vai passar.
Ele permaneceu parado, apenas a acariciando e beijando-a. Momentos depois começou a movimentar-se, a princípio vagarosamente, depois com mais ímpeto.
Pouco a pouco Bella sentiu o prazer retornando e quando Edward afagou aquele ponto, outrora já estimulado, cada vez mais ela se soltava tomada por sensações até então desconhecidas.
Os olhos se fecharam quando ele a consumiu completamente, seus corpos unidos, juntos. Por fim os dois se tornaram um.

Capítulo Vinte

Edward tinha os braços erguidos acima da cabeça. Seu antebraço servia de travesseiro para a cabeça de Bella. Um fino lençol os cobria, enquanto o silêncio da recém-adquirida intimidade pairava sobre os dois, contudo de nenhuma forma esse silêncio era incomodo.
— Eu não acredito que isso aconteceu — ela murmurou.
Parecia mais estar falando para si mesma.
— Mas aconteceu — ele respondeu. — Está arrependida? — Perguntou subitamente preocupado.
— Não! — ela olhou para ele. — Foi perfeito.
Feliz, ele a aconchegou mais junto a si e a beijou docemente.
— Fazia tempo que não me sentia assim... tão protegida, tão amada — comentou ela, — acho que a última vez foi quando meu irmão passou a noite segurando minha mão depois que tive um pesadelo.
Ele a observou, esperando se ela iria contar mais sobre si.
— Eu tinha doze anos. Estava chateada por ele ir embora para a Geórgia. Mas o sonho dele era trabalhar em uma fazenda e havia conseguido isso, então eu não disse o quanto estava triste por ele também partir, já que nossa mãe havia nos abandonado há poucos anos. Naquela noite, eu tive pesadelos. Com ele, com minha mãe. Ele veio ao meu quarto e ficou comigo a noite toda. Conversamos muito. Eu era apaixonada por meu irmão. Acho que toda menina que tem um irmão mais velho tem uma paixão inocente por ele.
Edward riu. Lembrou-se de sua irmã caçula. Anne o idolatrava quando era criança.
— E hoje — ela falou com os olhos brilhando — você me fez sentir algo muito especial.
— Eu fiquei com medo de ter me precipitado. Era sua primeira vez... deveria ser especial — confessou sua preocupação.
— E foi. Foi perfeito por que foi com você — revelou com os olhos brilhantes.
— Realmente amo você, Bella Swan. Não sabe o que é para um homem ser o primeiro.
— Sério? Nos dias de hoje? Isso soa tão machista — provocou-o.
Ele sorriu.
— Não é machismo. É algo que não sei explicar. Nunca liguei pra isso. Para mim, as mulheres têm os mesmos direitos que os homens, mas quanto a mim e você... Não sei explicar. Quase surtei de ciúmes quando soube que estava com Jasper naquele hotel.
Ela se inclinou contra ele, roçando seu corpo nu ao dele, provocando um turbilhão de sensações no forasteiro. Era desejo, luxúria e muito mais.
— Não pense mais nisso. Agora sou sua.
As palavras dela o inflamaram e ele a subjugou colocando-a sob seu corpo.
— Você é minha, apenas minha.
Não sabia de onde vinha aquela possessividade, mas era aquilo que sentia no momento.
— Hum... — ela ronronou como uma gatinha fazendo o pouco juízo de Edward se esvair. — Quanto tempo devemos esperar para fazermos de novo? — inquiriu maliciosa.
— Apenas o tempo para você se sentir confortável. Quanto a mim, estou mais que pronto — ele respondeu convencido fazendo-a sentir como aquela parte de seu corpo estava desperta.
— Quero você — disse ela decidida.
— Não está dolorida?
— Um pouco.
Ele sabia que ela mentia. Não tinha experiência com virgens, mas sabia que a primeira vez não era muito agradável, contudo ele a queria novamente. E queria agradá-la. Por isso, sussurrando no ouvido dela, explicou o que faria para satisfazê-la. E durante a noite cumpriu todas as suas promessas.

Acordou pela manhã sentindo o cheiro que fez seu estômago protestar. Estava faminto. Pela luz do sol que se infiltrava através da janela viu que ainda era cedo.
Os lençóis amassados ao seu lado o fizeram sorrir. Ele nunca se lembrara de sorrir daquele jeito pela manhã. Quando era um jovem astro adolescente não era uma pessoa matinal, e depois... sempre acordava encharcado de suor devido aos pesadelos. Mas hoje, hoje não. As mudanças que sutilmente aquela garota de cabelos longos e claros estava fazendo em sua vida era impressionante, e não menos, gratificante.
Após voltar do banheiro vestiu sua calça de moletom e saiu em busca do cheiro tentador e da mulher adorável que deveria estar em sua cozinha.
Ficou embasbacado ao vê-la se movimentar pelo ambiente usando apenas uma camiseta que mal cobria sua bunda deliciosa e deixando suas belas pernas à mostra. para completar a camiseta que ela usava era dele. Novamente sua possessividade estava instaurada.
Ela não percebeu quando ele se aproximou. Notou apenas quando ele a abraçou por trás fazendo-a emitir um gritinho.
— Que susto! Quer me matar? — reclamou.
— Você é que vai me matar vestida dessa forma e ainda preparando o café da manhã na minha cozinha — falou contra o pescoço dela percebendo que a afetava assim como acontecia com ele. A virou para olhá-la.
— Bom dia.
— Bom dia — ela respondeu jogando os braços sobre ele e o enlaçando pelo pescoço. — Eu fiz ovos, torrada, suco e café.
— Hum... uma mulher com muitas habilidades.
— Está tirando onda da minha cara, Edward?
— Não. — Respondeu rindo. Amava quando ela ficava irritadiça, ficava ainda mais sexy.
— Espero que esteja com fome.
— Eu estou faminto — e dizendo isso a beijou.
O encontro de bocas e línguas foi explosivo e se não estivesse realmente com fome e se preocupasse em alimentá-la corretamente a levaria naquele momento a sua cama para repetir os eventos da noite anterior.
— Isso que eu chamo de começar bem a manhã — ela disse sem fôlego.
— Você ainda não viu nada — prometeu malicioso e com satisfação a viu ficar vermelha.

Os dois compartilharam o desjejum de forma agradável. Após a noite compartilhada uma intimidade se instalou entre eles. A felicidade de ambos era facilmente percebida.
— Tenho que ir pra casa — ela informou logo que terminavam a refeição.
Isso atrapalharia os planos dele de levá-la a sua cama, mas como não queria atrapalhar a relação dela com o pai, concordou.
— Eu vou a cidade vizinha. É o dia de tirar esta tala — disse olhando a mão. — Acho que devíamos combinar quando poderia me apresentar ao seu pai – disse pegando-a de surpresa.
Ela riu.
— Não sei se você esqueceu, mas vocês já se conhecem.
— Como seu namorado, espertinha — gracejou.
— Isso soa tão arcaico — completou ainda zoando. — Mas acredito que meu pai iria gostar.
— É só marcar a ocasião e estarei lá com meu charme encantador.
Percebeu o olhar contente dela sobre si.
— O que foi?
— É que isso parece tão surreal... você fugiu de mim tantas vezes e agora quer ser apresentado ao meu pai... Onde está aquele forasteiro misterioso e arredio que chegou aqui alguns meses atrás?
Ele pegou a mão dela e a trouxe para si, para que se sentasse em seu colo. Encarando os olhos de Bella, declarou:
— Quando cheguei aqui eu era apenas um homem perturbado querendo continuar imerso na culpa que me acompanha, e que acredito me acompanhará para sempre. Portanto sempre acreditei que não merecia ser feliz. Mas não é mais assim. Aquele homem não existe mais. Você me fez ver que posso, se não consertar as coisas erradas que fiz, posso ao menos tentar ser uma pessoa melhor. E não é assim que as coisas funcionam? Errar e aprender com os erros? — refletiu por um tempo sobre tudo o que havia dito. — Mesmo que meu erro seja muito grave, apenas me culpar não vai fazer as coisas mudarem.
Bella parecia tocada pelas palavras dele quando colocou as mãos no rosto do forasteiro acariciando-o.
— Não sabe o quanto eu fico feliz por ouvir isso. E quando você quiser me contar tudo, se abrir realmente, saiba que estarei aqui, ao seu lado, para apoiá-lo.
Ele ainda tinha dúvidas quanto a isso, mas confiou que o amor que estava florescendo no coração deles fosse forte o bastante para encarar todos os erros que ele cometera no passado. E conhecendo Bella como começava a conhecer sabia que ela era a pessoa certa para estar ao seu lado.

Após a saída de Bella, o forasteiro tomou um banho demorado. Em seguida pegou sua moto e foi à cidade vizinha. Chegando ao posto médico, onde fora atendido na semana anterior, logo o encaminharam para o mesmo médico.
Retirada a tala, verificou-se que algumas sessões de fisioterapia seria necessária. A maioria, para sorte dele poderia ser feita em casa mesmo sem ajuda de um profissional.
Aproveitando que estava próximo a vários comércios entrou em uma loja de eletrônicos comprando um celular moderno. Agora que estava com Bella queria poder falar com ela quando quisesse.
Sua primeira ligação, no entanto, fora para seu advogado.
— Quando precisar falar comigo pode ligar para este número — disse assim que Billy atendeu.
— Espera ai! Você vai ter um telefone permanente?
— Sim.
— Uau! O que está havendo? Ficando menos paranoico?
Billy não tinha papas na língua mesmo com ele que provavelmente era seu cliente mais importante.
— Mais ou menos isso.
— Tudo bem. Ah já ia me esquecendo. Fiz aquilo que me pediu. O dinheiro para a família do rapaz... Cento e cinquenta mil dólares como havíamos combinado.
— Ótimo.
— Não sabe como tive que mexer os pauzinhos para conseguir uma ordem de pagamento anônima, mas acredito que tudo deu certo. Há essa hora o dinheiro já deve ter chegado às mãos da família.
— Não tem como descobrirem que fui eu?
— Quase certeza que não, afinal a família é de origem simples. O que pode acontecer é eles não descontarem o valor, mas então não há muito que possamos fazer.
Sempre que Billy tocava no assunto da família do jovem que morreu por suas mãos uma curiosidade o tomava. Quem seria? Como estava a família? Quem era o jovem que perdeu a vida por sua irresponsabilidade? Mas ele sempre acabava se acovardando com medo do que poderia encontrar. E assim como foi quando seu pai decidiu que Ryan assumiria o crime, ele se calava.
— Está me ouvindo, Edward?
A voz de Billy o fez voltar dos seus pensamentos.
— Sim. Desculpe, Billy, preciso desligar. Até mais.
— Até.
Voltou para a moto e seguiu para Hierápolis, onde uma linda garota que lá estava o fazia se abrir cada dia mais, e com certeza o fazia acreditar que poderia e merecia ser feliz.

***
Bella resolveu fazer compras antes de ir para casa. Queria agradar o pai com um almoço caprichado. O conhecia e provavelmente o encontraria emburrado por ela ter passado a noite com Edward. Comprou também um livro em que a sinopse a interessara. Iria dar ao pai e depois seria sua vez de ler.
Perdida em pensamentos, sabia que por mais liberal que Charlie fosse aquela era uma situação nova tanto para ele quanto para ela. Afinal Bella nunca tivera um namorado, tão pouco passara a noite na casa de um homem.
Logo que entrou percebeu que o pai já estava em casa. A pescaria não deveria ter sido boa, ela pensou.
Encontrou-o em frente à televisão assistindo a uma partida dos Panthers* pela NFL*. Charlie passara a torcer nos últimos anos pelo time da Carolina do Norte, já que o estado em que moravam não tinha representante na principal liga de futebol do país. Sempre que o pai tinha tempo livre estacionava sua cadeira de rodas em frente à TV para assistir um de seus passatempos. Sua outra fonte de entretenimento era a leitura, hábito adquirido por ela.
— Como estão os Panthers? — perguntou ao colocar as compras sobre o balcão.
— Ganhando por 25 a 17 no terceiro quarto.
— Ótimo – falou animada. — Vou preparar o almoço.
O pai nada disse. Geralmente ele não era tão calado e Bella concluiu que estivesse chateado por ela ter dormido na casa de Edward.
— Achei que fosse estar no mar ainda — tentou puxar assunto.
— Não fomos para o mar hoje — ele disse sem desviar os olhos da TV.
— Por que não?! — perguntou abismada.
O pai nunca deixava de ir ao mar todas as manhãs. Apenas se o tempo estivesse ruim o que não era o caso já que o sol brilhava com força.
— Não estava com cabeça — respondeu apenas.
— Pai!
Finalmente ele a olhou.
— Não precisava se preocupar comigo. Eu estava bem.
— Eu sei, filha, mas você é tudo o que eu tenho. Tudo o que me restou.
Ela sentiu o nó que se formava na garganta sempre que o pai aludia sobre o que acontecera.
— Eu estava com meu namorado... — tentou explicar.
— Eu sei e vejo que parece gostar muito dele.
— Muito.
— Então, acho que está na hora de me apresentar oficialmente o seu namorado.
Ela riu da coincidência, já que o forasteiro havia falado sobre o mesmo assunto naquela manhã.
— Vou marcar um jantar.
— Ótimo — Charlie disse e voltou a olhar para TV.
Mesmo assim Bella sentiu o pai ainda tenso. Já o conhecia bem demais.
— Pai? — ela o chamou. — O que foi? Tem algo mais que o está preocupando? O que é?
Charlie fez um sinal para que a filha se sentasse ao seu lado, no sofá ao lado.
— Ontem depois que foi trabalhar chegou isso aqui — ele disse retirando um envelope do bolso.
Bella pegou desconfiada.
— O que é isso? — perguntou enquanto abria o envelope.
Quase engasgou com o próprio ar quando viu do que se tratava.
— Mas que diabos é isso?
— Isso é uma ordem de pagamento anônima no meu nome de cento e cinquenta mil dólares — explicou
— Mas como? Quem...? Será que... ela? — Bella insinuou sem acreditar que a mãe, que fora embora há mais de dez anos, fosse responsável pela quantia que estava em suas mãos.
— Duvido muito, mas existe a possibilidade. Eu pensei...
— Em quê? Fala pai!
— Na família do rapaz... — Charlie titubeou. — Na família do rapaz que matou seu irmão.
Bella baixou os olhos. Seria possível? Depois de todos aqueles anos?
— Por que agora?
— Na época que tudo aconteceu você era uma garota ainda, não deve se lembrar de que o pai do rapaz me ofereceu dinheiro. Foi através de um advogado que disse que a família queria apenas ajudar, uma compensação. Eu não aceitei é óbvio, nada traria Jacob de volta. E acho que fiz bem já que no julgamento os pais do rapaz sequer me olharam ou vieram pedir desculpas pelo que o filho fez.
— É pode ser que esse dinheiro tenha sido enviado da parte deles. Um dos irmãos do... — ela hesitou não gostava de pensar na pessoa que tinha tirado o irmão deles. — Não há na família um ator ou algo assim? Eles devem ter muito dinheiro.
— Sim. Parece que sim. Eu não me recordo direito, isso não me interessava na época.
Ela pegou a mão do pai em sinal de conforto.
— Como vai descobrir de onde veio o dinheiro?
— Vou entrar em contato com alguns amigos, afinal ter sido policial algum dia iria me ajudar de alguma forma não é?
— E se o dinheiro for mesmo da parte deles? O que fará? — questionou.
— Devolver sem sombra de dúvidas. Não quero nada daquela gente.
Bella olhou novamente para a quantia que segurava em suas mãos.
— Esse dinheiro poderia ser bem aproveitado para o futuro do John — ponderou pensando no futuro do sobrinho que já havia ficado órfão do único pai que conhecera.
— Conhecendo o caráter da Emy tenho certeza de que ela não vai querer nada da família do homem que atropelou e matou o noivo dela.
— Você está certo, pai — entregou a ele o envelope. — O melhor é devolver esse dinheiro. Não precisamos dele.
Levantou-se para seguir para a cozinha e preparar o almoço, no entanto parou para observar o pai que voltara a assistir ao jogo. Notou, porém como ele segurava com força aquele envelope o que denunciava o sofrimento pelo qual ele passava sempre que se lembrava da morte do filho.
O apetite dela já estava totalmente perdido, e por isso, seguiu até o quarto pegando o porta-retratos ao lado da cama. O único que estava visível na casa. Os outros haviam sido retirados para poupar o pai do sofrimento.
Olhou para a fotografia em que ela, Jacob e Charlie sorriam felizes para a câmera em uma tarde quente de junho. Foi pouco antes do acidente quando o irmão havia vindo visitá-los e tinha lhe dado sua primeira câmera fotográfica.
Lágrimas saltaram dos olhos dela ao lembrar com carinho do irmão pensando no quanto gostaria de contar a ele que estava apaixonada pela primeira vez na vida.


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Notas finais do capítulo

Ai está a grande bomba! O forasteiro matou o irmão dela. E Agora? Só lendo na Amazon. Beijos Ju



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