Ilha de Esme por Edward Cullen da Lua de Mel até a Gravidez escrita por csb


Capítulo 3
CAPÍTULO 03 - DIA SEGUINTE




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3. DIA SEGUINTE 

 

Já se passava de meio-dia quando ouvi o coração de Bella oscilar. Eu não poderia me enganar: conhecia cada pulsação, cada jeito, cada tipo de batida molhada e o que ela significava — o resultado de quando se tem muitas horas noturnas de experiência.

Então, não tive dúvidas: Bella acordara.

Senti um assombro apreensivo — meu momento derradeiro se aproximava. Não o fim físico, quem me dera se fosse... Mas o fim de tudo que havia de mais importante e precioso em minha vida: o amor, a devoção e, acima de tudo, a confiança que Bella depositara em mim durante todo esse tempo.

Eu estava arruinado.

Sem saber como lidar com essa ameaça, não consegui sequer olhar para o lado. Não tive coragem para avaliar os ferimentos de Bella aos raios de sol forte que entravam pelas portas abertas. Era demais para mim. Possuindo uma visão acentuada, perfeita, eu veria cada molécula pulsando, cada veia danificada, cada ponto em que a dor para minha amada seria lancinante. E eu não podia dividir com ela esse sofrimento...

Bella estava atravessada em meu peito, agora acordada certamente, mas pude notar que ela não abrira os olhos — a percepção de movimentos era extremamente simples aos meus sentidos acentuados, mesmo que eu não a encarasse diretamente. Suas pálpebras ainda estavam cerradas à tenebrosa realidade que também se iniciava para ela.

Talvez ela estivesse pensando nos mil motivos que agora tinha para me odiar... Talvez avaliasse sua própria dor... Talvez elaborasse as melhores palavras para um rompimento... Talvez — e loucamente acrescento — arquitetasse uma fuga daquele lugar. Ela jamais conseguiria escapar de mim numa perseguição, a menos que eu a deixasse partir — e eu nunca a abandonaria sozinha pela ilha de mata nativa, cheia de opções perigosas para uma desajeitada como Bella. 

Envolvi meus braços em torno de seu corpo. Eu o fiz numa tentativa tola de que talvez, envolta em um abraço, ela pudesse me odiar um pouco menos quando abrisse os olhos para as conseqüências de minha irresponsabilidade. Buscava em vão uma forma de protegê-la em meu abraço e, sobretudo, sendo eu uma criatura naturalmente egoísta, procurava um jeito de firmá-la em mim, para que ela não tivesse a escolha de sair correndo pela praia deserta, porque ainda que a tentativa não desse em nada, vê-la fugir de mim, ter a prova concreta da repulsa, seria uma sofrimento insuportável.

Permaneci quieto enquanto virava o pescoço para avaliar os ferimentos à luz branca do sol.

Bella estava coberta das plumas que se soltaram dos travesseiros que eu tinha mordido havia algumas horas.

Foi terrível a sensação que perpassou meu corpo. Os machucados tinham piorado: hematomas arroxeados brotavam da pele de seu braço, pipocavam para todos os lados. Perguntei-me porque ela ainda não reclamara da dor. Tudo estava tão estranho... Eu já deveria ter me acostumado aos comportamentos inesperados e inexplicáveis de Bella, porque a maior insanidade de sua vida ela já tinha feito: casar-se comigo; unir-se a um vampiro doentio.

Toquei seu rosto quente, desenhando formas com a ponta dos dedos. Seu coração oscilou outra vez e notei sua respiração entrecortada. Ela riu timidamente — talvez às lembranças da noite de ontem. Não posso negar que, embora as graves conseqüências do ato, a noite passada havia sido o epítome de minha existência, o melhor dela. Como se cada dia, cada minuto da monotonia de cem anos de espera pelo amor de minha vida, Bella, se valessem inteiros por aqueles poucos segundos de prazer: o resumo final. Ter Bella em meus braços, dividindo essas novas experiências comigo, sendo, acima de tudo, o motivo de minha plenitude, fora a mais linda — e louca —atitude de todos os tempos.

O silêncio já estava se arrastando além do espertado. Então resolvi quebrar o gelo.

— Qual é a graça? — murmurei afagando suas costas. Não pude deixar de me ouvir sério e rouco.

O pescoço de Bella corou enquanto nós dois ouvíamos seu estômago roncar. Na mais alucinada das atitudes, Bella apenas riu à minha pergunta e disse:

— Não se pode fugir de ser humana por muito tempo.

Fiquei sério. A resposta não possuía a mínima graça. Encarei-a, enquanto assistia finalmente ao abrir de seus olhos. Estremeci.

Subitamente, meu olhar correu desesperado para o alto, acovardado.

— Edward — disse ela. — O que foi? Qual é o problema?

Bella ainda queria saber qual era o problema? A noite passada a havia cegado de vez? Ou a deixado insensível à dor? Teria eu provocado algum dano maior em seu sistema nervoso?

— Precisa perguntar? — Minha voz era dura e de um cinismo que havia muito não me vinha.

Houve o silêncio enquanto meus dedos acompanharam as rugas de preocupação que agora surgiam em sua testa. Bella estava pensativa.

— Em que está pensando? — sussurrei.

— Você está aborrecido. Não entendo. Será que eu...? — Ela deixou a pergunta no ar.

Meus olhos se estreitaram. Não pude mais fugir, fui direto ao ponto:

— Qual a extensão de seus machucados, Bella? A verdade... Não tente atenuá-la.

— Machucados? — repetiu ela, erguendo as sobrancelhas, os lábios formando uma linha fina.

A pergunta realmente tinha sido uma surpresa para ela. Bella esticou o corpo automaticamente, contraindo e flexionando os músculos — experimentando-os pela primeira vez até então. Estremeci ao encontrar a raiva em seus olhos.

— Por que chegou a essa conclusão? Estou melhor do que nunca. — disse-me ela. Então a raiva em seu olhar palavras estava ligada a alguma coisa que eu ainda não compreendia... Como se eu estivesse quebrando o vidro de sua cúpula particular de alegria. Seria isso? Apenas isso?

Fechei os olhos.

— Pare.

— Parar com o quê?

— Pare de agir como seu eu não fosse um monstro por ter concordado com isso.

— Edward! — sussurrou ela, verdadeiramente aborrecida. —Não diga uma coisa dessas.

Permaneci com os olhos fechados. Era tão difícil encará-la enquanto ela ainda continuava presa em ilusões de felicidade...

— Olhe para si mesma, Bella. Depois me diga se eu não sou um monstro. — Fitei-a então, concentrado.

Ao balançar de sua cabeça, um pedaço branco de pluma caindo em suas mãos. A dúvida perpassou seu lindo rosto.

— Por que estou coberta de plumas? — perguntou confusa.

— Eu mordi um travesseiro. Ou dois. Mas não é disso que estou falando.

— Você... mordeu um travesseiro? Por quê?

— Olhe, Bella — rosnei, depois peguei sua mão delicadamente, estendendo seu braço. — Olhe isto.

Então ela compreendeu. Analisou o próprio corpo calmamente, cutucando uma descoloração no braço esquerdo. Observamos juntos a cor sumir onde ela havia tocado e depois reaparecer. Com uma suavidade absurda, coloquei a mão sobre os hematomas, um a um, acompanhei com os dedos o desenho de sua pele. Quis chorar. Mas ela não alcançou meu espírito de desespero.

— Ah! — disse ela, tentando não se importar.

Permanecemos em silêncio até que eu disse sussurrando o que na verdade queria gritar:

— Eu... me desculpe Bella. Eu devia saber. Não devia ter... — O som saiu em tom de revolta. — Lamento mais do que posso dizer.

E lamentava mesmo, me odiava por tudo, me detestava demais... Escondi meu rosto com os braços e fiquei imóvel. Uma estátua de estupidez e inconseqüência.

Ela ficou quieta, parecia perplexa... Tocou meu ombro, mas não reagi. A dor interior era lancinante demais para me deixar normal outra vez. Eu poderia permanecer anos naquela posição...

Bella segurou meu pulso, mas não arrancou de mim um movimento sequer.

— Edward.

Nada.

— Edward?

Nada outra vez.

— Eu não lamento, Edward. Eu... nem posso lhe dizer. Estou tão feliz. Esta palavra abrange tudo. Não fique com raiva. Não fique. Eu estou realmente b...

— Não diga a palavra bem. — Minha voz era mais fria do que eu esperava. — Se valoriza minha sanidade, não diga que está bem.

Senti raiva de tudo aquilo, da forma como ela tentava amenizar as coisas, quase assumindo toda culpa só para me ver feliz...

— Mas eu estou — sussurrou ela.

— Bella. — A raiva foi expressa com um gemido. — Não faça isso.

— Não. Não faça você, Edward.

Mexi os braços e mirei os olhos em direção a ela.

— Não estrague isso — ela continuou. — Eu. Estou. Feliz.

— Eu já estraguei tudo — sussurrei.

Meus dentes trincaram. Eu teria preferido que Bella tivesse tentado me bater, que tivesse reagido a tudo como uma pessoa normal. Sua complacência me feria, porque eu não merecia nem uma gota de seu perdão.

— Argh! — gemeu ela. — Por que não pode ler minha mente agora? É tão inconveniente ser mentalmente muda!

Um detalhe surpreendente que eu não poderia deixar escapar:

— Essa é nova. Você adora o fato de eu não poder ler sua mente.

— Hoje não.

Ela me pareceu sincera. Jogou as mãos para cima, sem esconder a frustração.

— Porque essa angústia seria desnecessária se você pudesse ver como me sinto agora! Cinco minutos atrás, melhor dizendo. Eu estava perfeitamente feliz. Em um êxtase total e completo. Agora... bem, estou meio irritada, na verdade.

— Você devia estar com raiva de mim. — Só um louco não veria isso. Ou alguém que amasse loucamente... Nesse caso, eu podia até entender...

— E estou. Isso faz com que se sinta melhor?

Suspirei. Ela não parecia sentir o tipo de raiva que eu esperava que sentisse.

— Não. Não acho que alguma coisa vá fazer com que eu me sinta melhor agora.

— Aí está — rebateu ela. — É exatamente por isso que estou com raiva. Você está acabando com a minha felicidade, Edward.

Revirei os olhos, sacudi a cabeça. Primeiro veio o pensamento, depois o arrependimento pelo simples ato de pensar. E então tudo se misturou de uma forma confusa em minha mente. Senti um tremor percorrer meu corpo à palavra felicidade. Ela se referia à noite de ontem, certamente, ao prazer que sentiu, ao prazer que proporcionei a ela. Isso significava muito para mim. Tive de fazer uma força fora do comum para dosar o desejo subindo pelo corpo, permeando veias e músculos, infiltrando em cada cavidade de meus ossos. Eu a queria. Eu precisava dela...

Hesitei... Eu não podia... Não seria justo com Bella. Tampouco justo comigo mesmo. Passar pelo tormento todo outra vez, as conseqüências, mais machucados. Não...

Mas e se nada acontecesse? E se eu canalizasse os excessos para outro lugar? Poderia eu estar perdendo segundos espetaculares de satisfação plena?

Edward: não! É muito arriscado!, pensei em fúria.

Seria tão fácil tê-la outra vez. Seria simples...

Eu só precisaria repousar meus lábios frios nos dela para que eu pudesse sentir — e ouvir — seu sangue desandar avassalador pelo corpo. Os hormônios em ardor, a respiração, os gemidos. O prazer... Era tudo extremamente maravilhoso... E agora, conhecendo o amor, o encanto do sexo, afugentar a vontade era ainda mais difícil.

Eu iria beijá-la.

Reclinei meu corpo, senti o arrepio outra vez...

Não!, novamente a repreensão pelo simples desejo.

Suas palavras afastaram meus pensamentos proibidos, ou ao menos os colocaram temporariamente em segundo plano:

— Nós sabíamos que seria difícil. Pensei que isso estivesse claro. E depois... Bom, foi muito mais fácil do que pensei. E isso não é realmente nada. — Ela passou os dedos por meu braço, sem saber do risco que corria. Eu estava por um triz, se ela fizesse qualquer carícia mais intensa eu cederia. — Acho que para uma primeira vez, sem saber o que esperar, foi maravilhoso. Com alguma prática...

Prática? Ela também queria repetir...

Não, Edward. Não!, a criatura comedida rosnou novamente dentro de mim.

Lentamente, encontrei a calma outra vez. Era preciso...

— Claro. Você esperava por isso, Bella? Estava prevendo que eu ia machucá-la? Estava pensando que seria pior? Você considera a experiência um sucesso porque pode sair dela andando? Nenhum osso quebrado... isso corresponde à vitoria?

Ela permaneceu em silêncio alguns instantes, talvez esperasse por mais um desabafo. Não houve nada.

Ela continuou:

— Não sei o que esperava... Mas, sem dúvida, não esperava que fosse... que fosse... tão maravilhoso e perfeito. — A voz tornou-se um sussurro. — Quer dizer, não sei como foi para você, mas foi assim para mim.

Puxei seu queixo para cima.

— É com isso que está preocupada? — disse. — Que eu não tenho gostado?

Ela não levantou a cabeça. Ouvi seu coração vacilar.

— Sei que não foi a mesma coisa. Você não é humano. Só estava tentando explicar que, para uma humana, bom, não imagino que a vida possa ser melhor do que isso.

Fiquei em silêncio por um longo tempo. Como Bella podia duvidar de minha satisfação? Como podia pensar que talvez, para mim, tivesse sido diferente? Como? Fiquei atordoado quando percebi a dúvida em seu olhar. Pude compreender que ela realmente não se importava com os ferimentos, porque o motivo de tudo aquilo valera à pena. Ela estava saciada, feliz. E agora, eu me sentia o mais terrível dos monstros por ter atrapalhado seu sublime momento de alegria profunda. Eu não acertava mesmo em nada... Nasci para errar.

— Parece que tenho mais motivos para me desculpar —continuei. — Nem imaginei que você pudesse achar que o que sinto quanto ao que lhe fiz signifique que a noite passada não tenha sido... bem, a melhor noite de minha existência. Mas não quero pensar dessa maneira, não quando você estava...

Ela ficou surpresa:

— É mesmo? A melhor?

Peguei seu rosto nas mãos.

Era difícil encontrar as palavras que pudessem descrever o significado da noite passada. O que aquele momento maravilhoso representara em minha existência. Por um longo tempo, fiquei olhando para o rosto lindo em minhas mãos: meu milagre, minha vida... Tentei articular em pensamento uma boa explicação, qualquer coisa que pudesse fazer com que Bella entendesse meus sentimentos... Minha necessidade, até...

Fácil agora, era compreender seu desejo sobre leitura de mentes. Seria tão simples se ela pudesse, de repente, entrar em minha cabeça... Eu não precisaria de palavra alguma...

Pensei demoradamente, mas não consegui nada plausível. Abri e fechei os olhos várias vezes; toquei seu coração molhado e inseguro, e então comecei:

— Conversei com Carlisle depois de fazermos nosso trato, na esperança de que ele pudesse me ajudar. É claro que ele me alertou que seria muito perigoso para você. Mas ele tinha fé em mim... Uma fé que eu não merecia.

Bella tentou protestar, mas afastei suas palavras, pousando meus dedos em seus lábios. Era a minha vez de falar.

— Também perguntei a ele o que eu devia esperar. Eu não sabia como seria para mim... Sendo eu um vampiro. — Sorri, meio desanimado. — Carlisle me disse que era uma coisa muito poderosa, diferente de tudo. Disse-me que o amor físico era algo que eu não devia tratar com leviandade. Com nosso temperamento que raras vezes muda, as emoções fortes podem nos alterar de maneira permanente. Mas ele disse que eu não precisava me preocupar com isso. Você já havia me alterado completamente.

As palavras eram tão verdadeiras que fluíam com uma facilidade, como se sempre estivessem estado ali, de tocaia, esperando para despontar. Fechei novamente os olhos e continuei:

— Falei com meus irmãos também. Eles me disseram que era um imenso prazer. Só perdia para beber sangue humano. Mas eu provei seu sangue, e não pode haver sangue mais poderoso do que esse... Não acho que eles estivessem errados. É só que foi diferente para nós. Teve um algo mais.

— Foi mais. Foi tudo — interrompeu Bella.

Suspirei. Foi muito mais que tudo. Foi o divisor de águas de minha existência. Mas ainda assim...

Procurei forças, buscando a consciência e a responsabilidade em algum lugar dentro de mim. Então disse:

— Isso não muda o fato de que foi errado. Mesmo que seja possível que você se sinta assim.

— O que isso significa? Acha que estou inventando? Por quê?

— Para atenuar minha culpa. Não posso ignorar as provas, Bella. Ou seu histórico de tentar me desculpar quando cometo erros...

Eu poderia listar, uma a uma, as inúmeras vezes em que isso havia acontecido. Preferi ficar calado.

Ela pegou meu queixo, deixando seu rosto a centímetros do meu.

Estremeci. Perdi os sentidos. Tentei me concentrar em qualquer coisa que afastasse a vontade de tê-la novamente... Ali, em meus braços...

De repente, um jorro de declarações:

— Agora me escute, Edward Cullen — meu nome completo: não podia ser boa coisa, ou seria boa demais para que eu pudesse manter meus instintos masculinos sob controle... —, não estou fingindo nada para o seu bem, está certo? Eu nem sabia que havia um motivo para fazer você se sentir melhor até você começar a ficar todo infeliz. Eu nunca fui tão feliz em toda a minha vida... Nem quando você se decidiu que me amava mais do que queria me matar, ou na primeira manhã em que acordei e você estava lá esperando por mim...

Fechei os olhos. As lembranças eram tão vivas que nítidas imagens se formavam atrás de minhas pálpebras, como um retrato ou um filme em alta definição. Ouvi-la falar assim era demais...

Busquei milhões de formas para reprimir o fogo lento e ardente que, outra vez, desandou a correr pelo meu corpo gelado, provocando frissons por onde passava.

Bella não percebeu e continuou seu discurso:

— Nem quando ouvi sua voz no estúdio de balé. Ou quando você disse “Sim” e eu percebi que, sabe-se lá como, teria você para sempre. Essas são as lembranças mais felizes que tenho, e isso é melhor do que qualquer uma delas. Então trate de aceitar.

Edward, não! Não... Pare..., a criatura gritava à medida que meu corpo ia ganhando formas diferentes, curvando-se para o lado de minha amada. Minhas mãos hesitaram ao toque de seu rosto. Eu queria puxá-la para mim, entrelaçar os dedos em seus cabelos, beijá-la, possuí-la outra vez...

Pare!, era um rugido pavoroso.

Oscilei novamente, e então apenas toquei as rugas que se formaram entre suas sobrancelhas.

— Estou deixando você infeliz agora. E não quero fazer isso.

— Então não fique você infeliz. É a única coisa errada aqui.

Estreitei os olhos, respirei fundo e assenti.

— Tem razão. O que passou, passou e não posso fazer nada para mudar o passado. Não tem sentido deixar que meu humor estrague seu momento. Vou fazer o que puder para deixá-la feliz agora.

Abri um sorriso sereno. Ela me fitou e perguntou:

— Qualquer coisa que me faça feliz?

Seu estômago roncou bem alto: eu havia escapado de responder àquela intimação.

— Você está com fome — disse, saltando da cama e levantando uma nuvem de plumas.

Ela franziu o cenho quando se deu conta de toda a confusão.

Depois de explicar a Bella que a destruição do travesseiro havia sido fruto de uma canalização forçada de energia — e que tínhamos de estar agradecidos por eu ter utilizado um objeto e não uma pessoa —, ajudei-a a tirar as inúmeras penas emboladas em seus cabelos, que mais pareciam um monte de feno.

— Eu nunca vou conseguir tirar tudo isso daqui! — reclamou ela, apontando para a própria cabeça.

— Tinha de ficar preocupada com o cabelo — murmurei, retirando as penas com uma agilidade fora do comum.

— Como conseguiu não rir disso? Eu estou ridícula.

Preferi manter o silêncio. Bella jamais ficaria ridícula para mim. Seria mais uma discussão inútil.

Ela alisou os fios e disse:

— Isso não vai dar certo. Está tudo ressecado. Vou ter de lavar. — Passou os braços quentes em minha cintura sem saber do sério risco que corria. — Quer me ajudar?

Por que ela não me ajudava? Por que a toda hora tentava seduzir seu marido louco par ser seduzido? Não era justo...

Mais uma vez, busquei uma imensa coragem — não sei de onde — para fazer e dizer o que eu achava certo:

— É melhor encontrar alguma coisa para você comer — disse, soltando-me de seus braços.

Pude escutar um suspiro enquanto eu descia rapidamente a escada. A dor de Bella doía mais funda que a minha própria... Ela se sentia rejeitada e não havia nada que eu pudesse dizer para confortá-la frente às circunstâncias. Nada, a não ser dar-lhe o que ela queria — e isso, infelizmente, eu não podia.

Preparar a comida de Bella foi uma distração e agradeci por isso. Era uma maneira de direcionar, mesmo que temporariamente, meus pensamentos para outras atividades.

Peguei ovos, bacon e queijo cheddar, e preparei uma omelete.

Como se guiada pelo cheiro, Bella apareceu na cozinha, em um vestido de algodão branco. Linda de morrer! A criatura dentro de mim gemeu.

— Pronto — eu disse, colocando o prato azul em cima da mesa ladrilhada, tentando não olhar diretamente em seus olhos, o que poderia ser um grave erro.

Ela devorou os ovos tão rapidamente que fiquei assustado: Bella devia estar mesmo muito faminta. Uma pontada de culpa guiou minhas palavras:

— Não a estou alimentando com freqüência suficiente.

— Eu dormi. Isso está muito bom, aliás. É impressionante para alguém que não come — observou.

— Programas de culinária na tevê — eu disse, abrindo um largo sorriso.

— De onde vieram os ovos?

— Pedi aos empregados que abastecessem a cozinha. O que é fundamental nesse lugar...

Não pude controlar meus instintos e procurei novamente seus olhos. Encontrei em seu rosto, um semblante de hesitação, como se ela quisesse fazer uma pergunta, mencionar algo, mas tivesse medo de atrapalhar o momento; de me deixar ainda mais angustiado. Eu a conhecia tão bem...

Bella trincou os dentes, tomou coragem e disse enfim:

— Não vai me tocar novamente enquanto estivermos aqui, não é?

Fugi de seu olhar: era difícil encontrar uma resposta aceitável a esse questionamento, ainda mais sendo assim, tão direto. Sobretudo, eu tinha medo de desagradá-la às palavras erradas, justamente por saber que a abstinência sexual já seria uma tortura dolorosa. Que mulher, além de Bella, aceitaria uma lua de mel como aquelas de bom grado?

Fingi desentendimento, erguendo a mão para afagar seu rosto quente. Meus dedos tocaram suaves em sua pele, onde duas bolas se avermelharam levemente. Fechei os olhos, mas ela continuou:

— Você sabe que não foi isso que eu quis dizer.

Não havia fuga, afinal. Eu tinha de ser mais específico ou o assunto não se findaria jamais. Suspirei.

— Eu sei. Você tem razão. Não vou fazer amor com você antes que esteja transformada. Nunca mais voltarei a machucá-la.

Notei seu rosto se desfalecer em decepção; seu coração vacilou perdendo o fôlego. Ela apenas assentiu, resignada e logo me veio a vontade louca de resolver o problema ali mesmo, sem pudor algum.

Não cedi.

Não sei como me contive, mas não cedi...


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Notas finais do capítulo

  (continua...) Não deixem de comentar!!!!
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