Vem comigo! escrita por many more


Capítulo 4
Breve conversa de dois extremos.


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo. Aeeeee. o/
Boa leitura.
:)
Vejo vocês no próximo. ;)



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Capítulo 4

Enxuguei o rosto antes de levantá-lo para encarar Tiago. Ele mantinha-se virado para frente, em uma posição tranquila, sem ao menos se incomodar com minha presença ao seu lado. O capuz da blusa azul escura cobria-lhe todo o rosto, mas agora de perto eu conseguia reconhecê-lo. Eu não disse nada. Fiquei o encarando, sem reação, encabulada em como era possível esse menino surgir mais uma vez. Ainda por cima porque nesse momento eu só queria ficar em paz. Ele colocou o cigarro no canto da boca, puxando um longo trago e depois soltou a fumaça devagar. Pude vê-la densa, sair de sua boca e narinas e depois se dissipar no ar.


–Não sabia que nerds como você quebravam normas da escola. - ele estava se referindo ao meu pulo do portão. Tiago me encarou com um sorrisinho sarcástico.

– Quero ficar sozinha. – respondi taciturna.

Ele voltou-se para frente. Sem entender a minha mensagem de querer que ele fosse embora. Ficou imóvel por alguns instantes, piscando apenas os olhos, distante dali. Depois tragou o cigarro mais uma vez, soltando a fumaça devagar.

– Você fuma? – perguntei sendo idiota, como se vê-lo tragando o cigarro em minha frente não fosse o suficiente para acreditar em mais uma estupidez de Tiago.

– Qual o problema? – ele não me olhava nos olhos e isso era azucrinante.

– Vai morrer. – respondi, assim mesmo em poucas palavras.

– Todo mundo vai um dia. – Tiago respondeu com sarcasmo na voz.

– E você vai mais cedo.

Ele riu, puxando a fumaça mais uma vez. O fogo queimando a nicotina devagar, transformando o papel em cinzas. Balançou a cabeça como se eu tivesse dito algo absurdo.

– Isso é relativo. Você pode sair daqui agora e ir para sua casa, atravessar a rua e morrer atropelada... Quem morreu mais cedo, bonitinha?- Tiago, tranquilo, voltou a atenção para seu cigarro entre os dedos, verificando a ponta queimada e depois bateu o filtro com o polegar, fazendo com que as cinzas caíssem ao chão.

Eu não era nenhum pouco amante do cigarro, ainda mais pelo que ele causava. Mas tinha que confessar que vê-lo ali tragando e realizando todos aqueles movimentos era muito sexy. Até senti um formigamento estranho entre as pernas, perdendo a vontade de discursar sobre as consequências do tabagismo e o câncer no pulmão, como faria normalmente se não estivesse petrificada ali com a presença de um top 10. E antes que isso se transformasse em um rubor constrangedor, mudei de assunto.

– O que foi aquilo na secretaria? Você gritando com o diretor e o xingando de desgraçado, mandando ele ir...

– Não! – Tiago me interrompeu com a voz alta. – Não foi isso que aconteceu. – Pude ver sua veia saltar do pescoço e tive a certeza de que tinha tocado em alguma ferida interna. – Eu estava falando no telefone com... – ele hesitou de repente, abaixando o tom de voz. - ...outra pessoa.

Eu quis incriminá-lo ainda mais. Lembrei-me do que ele havia falado para todos nós no hall.

– Você mandou o diretor ir se foder. – eu disse as últimas palavras com cautela, mas não deixei de enfatizá-las para ele. – Você deveria ser expulso por isso... No entanto... – bufei de ódio ao lembrar que seu pai era o maior patrocinador do internato.

– Eu estava muito grilado, “véi”. Você não faz ideia do que estava acontecendo ali. E daí depois veio o diretor cheio de moralidade me dizer que vou ser expulso do time de futebol se não tirar acima de 90 em todas as provas... Conseguir isso é praticamente impossível. – ele gesticulava quase sem respirar. – Só se, sei lá eu ROUBAR as provas.

Agora Tiago havia me tirado do sério, tentando justificar sua falta de respeito só porque chamaram sua atenção de que deveria melhorar suas notas.

– Você não faz mais que a sua obrigação em melhorar suas notas. Todo mundo sabe de sua fama aqui no internato, Tiago. Você não passa de um irresponsável, cabulador de aula que fica andando para cima e para baixo com seus amiguinhos achando que são a melhor coisa nesse mundo. – cuspi as palavras que vieram todas de uma só vez contra ele.

Ele espantou-se. Olhando para mim com seus olhões azuis-intimidadores arregalados, as pupilas contraídas por conta da claridade.

– Agora você é quem? O cara que vai me julgar no juízo final?... – ele quase me engoliu, gritando para mim. - E vê se fala baixo, antes que alguém descubra que a gente está aqui.

– Quem tá gritando é você! – gritei para ele.

Tiago pegou a ponta do cigarro e jogou no chão. Pisoteando para que o fogo apagasse. Deu uma risadinha.

– Você também acha que é alguém especial nessa escola, né? Você, a Mariana e os dois projetos de Pokémons. Vocês andam pelo internato como se fossem os maiores gênios que a humanidade ainda não descobriu... “Diretor Gregório, olha para nós... Beija nossas bundas!” – ele imitou uma vozinha medíocre em referência a mim e meus amigos.

Eu não consegui o responder. Pensei que ignorar os absurdos que ele falava seria mais válido. Minha indignação era tamanha que eu quis sair dali, deixando-o sozinho. Mas não consegui me mover.

De repende, vi Tiago ir de um acesso de raiva, para uma angústia tamanha.

– Eu estou fudido. Eu estou muito fudido. Merda! – Tiago levou a mão na cabeça, se abaixando com os braços apoiados na perna.

Ignorei-o mais uma vez. Até porque não havia nada que eu poderia fazer. Ficamos em silêncio por alguns instantes. Ele com a cabeça entre as mãos. Eu tentando compreender o que estava se passando.

– Então? – ele olhou de súbito para mim. Encarei-o, confusa. – Vai me ajudar, não é?

– Ajudar? – repeti tentando fazer conexão entre os acontecimentos.

Ele virou os olhos impacientes.

– É. Me ajudar... Vai me ajudar com as provas não é?

– COMO É QUE É?- Não pude evitar em não falar alto. Estava indignada com tamanha cara de pau. – Você acabou de xingar a mim e aos meus amigos e agora quer minha ajuda? – eu dei uma risada indignada. – Corta essa, Tiago.

– Por favor, véi! – ele me olhou piedoso. – Olha, eu te pago! Quanto você quer para me ajudar?

Ficamos nos encarando. Seus olhões azuis me inebriando. Foquei os olhos em sua pinta próxima a boca, o que não me ajudou muito.

Eu acho que eu estava gostando um pouco de vê-lo assim, tão indefeso. Eu me lembrava de como ele parecia intocável junto aos seus amigos e Maressa, podendo fazer tudo que queriam sem ninguém os dizer que era errado. E agora ele estava ali, mais uma vez, mostrando-me o Tiago normal que era.

– Você não precisa me pagar. Eu... – pensei mais uma vez antes de dizer o que iria dizer. – Eu vou te ajudar.

Ele soltou um urro de comemoração e quase me abraçou, porém mudou de ideia no meio do caminho e deus algumas batidinhas em meu ombro. Eu ruboresci.

– Valeu! Daí como vai ser?- ele sorria para mim. – Vai me ajudar com todas as provas? – Eu dei de ombros. Tiago continuou. – Mas podemos estudar só nós dois? Não quero seus amigos também. Eu acho que não aguentaria uma tarde ouvindo sobre animes e coisas de ficção cientifica ou seja lá o que vocês nerds conversam. – eu o reprovei com o olhar. – Brincadeira. – ele disfarçou.

Tiago e eu combinamos que ele iria até a minha casa para estudarmos para a prova de segunda feira. Trocamos o número de celular e eu lhe dei meu endereço. Lá estava eu mais uma vez. Fazendo exatamente aquilo que ele queria. Não sabendo ao certo onde isso daria, mas com uma excitação estranha em estar fazendo parte de algo com alguém popular. Eu mal poderia esperar para saber o que as pessoas falariam quando soubessem que Ana Carolina Avila ajudaria Tiago Brignoni a não ser expulso do time de futebol. Eu estava animada com esse breve reconhecimento. Torcendo para saber a cara de Maressa quando descobrisse.


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