A filha de Gaia escrita por Goth-Lady


Capítulo 31
D.N.A


Notas iniciais do capítulo

Minhas sinceras desculpas. Não postei na semana passada devido ao feriado e nesse feriado meu notebook morreu e tive que mandar consertar. Felizmente ele foi consertado a tempo de enviar o capítulo, infelizmente, o próximo ainda não está pronto, o que significa mais trabalho.
Boa leitura.



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A tarde avançava pelo acampamento e como prometido, Will iria fazer uma visita a Jasmine para ver como estava. Porém o loiro nunca estivera na Embaixada, então foi convencer ao Nico a ir com ele.

— A resposta ainda é não, Solance.

— Mas você é o único que esteve lá dentro e eu não sei se tem alguém lá além dela.

— O problema é seu, não meu.

— Só dessa vez. Eu nunca te pedi nada.

— A não ser me trancar na enfermaria ou no meu próprio chalé.

— Você sabe que ainda não está em condições de perambular por aí. Ordens médicas.

O moreno revirou os olhos. Até quando ficaria sob ordens médicas?

— Está com medo de encontrá-lo lá? – Provocou o médico.

— Encontrar quem?

— Angus.

— Eu não tenho medo dele.

— Então não vai se importar de me levar até lá.

Bufando, o moreno guiou o loiro até o prédio da Embaixada. Will notou o corvo de udjat empoleirado na coroa de louros, realmente esperava que nenhum deus da morte adotasse aquele símbolo medonho. Ao se aproximarem da porta, Nicolas e Diana se materializaram, do nada, fazendo os dois piscarem repentinas vezes.

— Como é que...?! Como...? – O loiro tentava formular uma pergunta.

— Godkey. – Explicou Nicolas. – É uma chave forjada pelos anões que permite aos semideuses estrangeiros visitarem seus pais divinos.

— Se não fossem por elas, nós teríamos que viajar até a Noruega, ir até o portal que leva até Heimdall, andar pela Bifrost até Asgard, sendo que em Asgard teríamos que passar Valhalla para então chegar a Folkvang para segurar Njord e depois fazer o caminho de volta.

— Mas graças a minha Godkey, nós paramos na porta de Folkvang e poupamos tempo.

— Bem eficiente. – Comentou Nico sem muito interesse.

— Seus pais deixam vocês visitá-los?

— Deixam até morarmos com eles. – Disse Diana. – Nós já moramos um tempo com nossos pais e Helena e Sienna passaram quase toda a vida morando com as suas mães e mesmo assim iam e voltavam das escolas em Helsink e Nuuk usando uma Godkey. Se bem que Sienna estava morando até agora com a mãe.

— As deusas não deixam com que convivam com os mortais?

— Não é isso. Quando Sedna resolve ter filhos, ela só procria com homens que morreram afogados nos mares do norte e Hel só se envolve com necrófilos.

Os olhos de ambos os gregos se arregalaram diante de tais informações. Diana apenas riu.

— Todos os estrangeiros sabem disso, principalmente nós nórdicos. Não é segredo para ninguém. Sedna raramente vem à superfície e teima em se relacionar com qualquer um fora de sua mitologia devido a tudo que passou. Já Hel, bem, no dia que a conhecerem saberão do que falo.

— Será que Ah Puch se envolve com necrófilas?

— Acho que sim, Nick. Pelo que Marcos disse, não seriam muitas pessoas que se aproximariam de Ah Puch.

— Nós viemos ver como a Jasmine está. – Disse Will pondo um ponto final naquela conversa.

— Nós também. Vamos juntos.

Os quatro entraram no prédio, até mesmo Nico que não pensou em sair depois, apenas foi no automático. Mal cruzaram a porta e Niraj foi recebê-los. O médico quase pulou no colo do moreno quando viu o tigre correndo em direção a eles, mas por pouco não o fez, já que os nórdicos começaram a fazer festas no tigre. O grupo subiu as escadas.

O quarto de Jasmine era o primeiro à esquerda, seguido pelo de Helena, Eliot, Nicolas, Sienna e Marcos. O primeiro quarto à direita era o de Diana, seguido pelo de Raven, Angus, Frísio, Tyler e Parvati. Ao entrarem lá, Diana e Nicolas correram para a cama para abraçarem a garota.

— Nicolas? Diana? Vocês não iam ficar dois dias em Asgard?

— Iríamos, mas quando Uller nos mostrou que estava em casa, viemos direto para cá.

— Os gêmeos podem cuidar do meu pai.

— E como ele está?

— Preocupado, mas melhor do que ontem.

— Obrigado pela consideração.

— Frísio, nós também sentimos saudades suas.

— Sei.

Diana e Nicolas cumprimentaram Frísio com abraços e risos. Will mandou todo mundo sair do quarto para poder trabalhar. Eles foram para o andar de baixo, deixando o médico sozinho no quarto com a menina.

— Seus amigos são realmene animados.

— Eu agradeço por isso.

— Como está se sentindo?

— Melhor, graças a você e ao Frísio.

— Ele é muito especial, não?

— Sim, é um grande amigo meu.

Will começou uma série de perguntas e procedimentos básicos para averiguar o estado da garota. Já no andar de baixo, Nicolas e Diana contavam como tinha sido sua estada em Asgard aos outros dois, sendo que Nico não entendia quase nada. Helena e Sienna desceram logo depois que ouviram as vozes dos nórdicos. Algum tempo depois, Marcos e Parvati adentraram no prédio, cumprimentaram os amigos e subiram as escadas.

— Impressão minha ou Marcos parecia ansioso? – Perguntou a ruiva.

— Ele tem um teste de DNA para fazer. – Disse Frísio.

— E eu só estou sabendo disso agora?! Com quem?! Me contem tudo!

— Dia, calma. Não há nada com que se preocupar. Vai dar tudo certo.

— Calma o caralho, Nick! Eu saio por um dia e isso aqui vira uma zona?! Só falta me dizerem que explodiram a Casa Grande.

— Não, mas Tyler entrou no Pavilhão de Jantar sem camisa e Angus resolveu suspender a dele também. – Contou Helena com o rosto tão impassível que surpreendeu o filho de Hades.

— O QUE?! Que história é essa?!

— Dessa eu não estava sabendo. – Disse Frísio. – Eu vi Tyler sair correndo com as calças na mão atrás da Sienna, mas o Angus?! Por que ele faria isso?

— Tyler pediu para ver a tatuagem dele.

— Tatuagem?! – Exclamou a ruiva.

— Pelo que me lembro, Tyler também tinha uma.

— Não posso me ausentar por um dia e isso já vira um puteiro?!

Diana explodiu em palavrões em sua língua mitológica. Nicolas tentava acalmá-la juntamente com Frísio. Helena e Sienna apenas observavam com cara de paisagem. Nico se encolhia cada vez mais no sofá. Só mesmo Will para arrastá-lo para o meio daquele tumulto.

Algum tempo depois, Marcos desceu vestindo uma calça jeans, camisa vermelha e tênis, já Parvati usava uma túnica magenta, jeans e sapatilhas pretas. Os dois encontraram a cena na sala e o maia começou a rir. Era melhor aquele clima de antes do que aquele clima pesado e tenso da noite anterior.

— Sobre o que estão conversando?

— Sobre hoje de manhã.

— Ah, as tatuagens do Tyler e do Angus.

— Me digam que eles não dançaram pelo refeitório sem camisa.

— Dançaram sim, até fizeram pole dance.

— Raven controlou a situação e o Senhor D não explodiu como sempre faz. – Informou Parvati. – E não houve dança.

— Mas que a mesa de Afrodite ficou com fogo no rabo, ficou.

— A mesa de Afrodite está sempre com fogo no rabo. Isso vai dar uma merda...

— Tenho mais pena de quem for tentar seduzir esses meninos.

— Você é má, Parvy. – Marcos se fez de ofendido.

— Nós precisamos ir, informarei o resultado depois.

Os dois se despediram e foram até a entrada do acampamento. Leo estava lá, juntamente com Calipso, Piper, Jason, Percy e Annabeth.

— Vai levar esse povo todo?

— Eles insistiram em vir comigo. Só a Parvy vai contigo?

— Ela é o suficiente.

— Para por algum juízo em suas cabeças se for preciso.

— Você é má, Parvy.

— Já me disse isso.

Diferente das outras garotas da Embaixada, Parvy era bem-humorada, entrava nas brincadeiras que faziam sempre provocando à altura e alfinetando com uma dose de humor. Conseguia deixar qualquer um à vontade. Desde que a conheceram, nunca a viram brava e esperavam não vê-la assim.

— Podemos ir?

Como não era muito longe, eles foram a pé. Pegariam um ônibus até o Empire State, onde estava a nova localização do Olimpo.

Enquanto isso, na caverna da escavação que as quatro deusas foram investigar, Dagda, Hades, Sif e Maat se encontravam com os Três Grandes responsáveis pela jurisdição.

O primeiro possuía pele amarelada, olhos castanhos puxados, uma barba negra e lisa apenas na região do queixo, um bigode liso e comprido e cabelo negro e comprido em sua cabeça calça, proporcionando uma testa grande. Ele vestia um kimono verde.

O segundo era careca, exceto pelos poucos fios curtos e negros na pate de trás da cabeça. Também possuía uma pele amarelada, olhos castanhos e puxados, um curto bigode e uma curta barba apenas na região do queixo. Ele usava trajes orientais na cor vermelha.

Já o terceiro era idêntico aos dois anteriores, mas não era calvo, só tinha cabelo rente e usava um chapéu parecido com um chapéu universitário preto cheio de contas caíndo pela testa e pela nuca. Também possuía bigode e barba. Este usava trajes orientais amarelos.

— Muito obrigada por virem. – Agradeceu Maat.

— Nós que agradecemos. – Respondeu o de verde. – Se há algo ocorrendo em nossa jurisdição, precisamos saber.

— O que nós temos a dier não é simples, precisarei da total atenção dos senhores.

Maat começou a explicar dada um dos fatos em ordem cronológica, não deixando de incluir a profecia não escrita e as escavações. Os três a ouviram atentamente, ora seus olhos arregalavam.

— Isso é grave! – Disse o de amarelo. – Muito grave!

— E logo em nossas terras?! – Resmungou o de vermelho.

— Infelizmente. Dagda analisou a escavação e pode lhes dier melhor.

— O conteúdo selado na pedra que as criaturas estavam escavando é malígno. – Disse Dagda. – No entanto, assim com o Cerridwen desvendou parcialmente o conteúdo da pedra hindu, eu também consegui desvendar o desta pedra, mas apenas parcialmente.

— Você é o Grande que lidera os celtas, senhor da magia e da música, como pode desvendar apenas parcialmente?! – Bradou o vermelho.

— Shennong, não os atrapalhe! – Ralhou o amarelo. – Confio nas habilidades de Dagda, se ele não desvendou totalmente é porque há um impecilho, estou correto?

— Exatamente. Esse é um desafio e tanto, pois seja lá o que estiver selado naquela pedra, apesar de estar em suas terras, não é de vocês.

— Não é?! – Tornou a perguntar o vermelho.

— Podemos ver? – Perguntou o verde.

Dagda abriu espaço para que os três fossem ver. Os três se aproximaram e apenas olharam. Eles discutiram e se voltaram aos quatro.

— Realmente não é nosso, mas posso lhes contar o que há selado naquela pedra. –Tornou a dizer o verde. – Há um demônio selado nela.

— Como consegue afirmar isso mesmo não sendo da mitologia de vocês? – Perguntou Sif desconfiada.

— Por que nós também possuímos nossos próprios demônios selados, minha cara. Apenas não conseguimos definir a mitologia a qual pertence.

— Este foi o meu maior desafio. – Disse Dagda. – Infelizmente desconheço as mitologias asiáticas com exceção da hindu, por isso não consegui determinar a origem.

— Agradecemos por terem nos informado. Iremos investigar com toda a certeza. – Afirmou o amarelo. – Mas antes precisamos enterrar isto e convocar um novo conselho.

— Que ótimo, um novo Conselho Oriental. – Reclamou o vermelho.

Os semideuses se encontravam no Olimpo, onde solicitaram o teste. Explicaram que Leos e Marcos queriam ver se eram mesmo irmãos ou não e precisavam tirar a dúvida. Embora Marcos tenha negado ser filho de Hefesto, ele não contou sobre seu pai divino.

Héstia acendeu uma fogueira e pediu para ambos os garotos se aproximarem. Quando chegaram perto, ela entregou um punhal a cada um. Leo se perguntava para que servia aquilo, já Marcos fez um corte na palma da mão e levou ao fogo, deixando pingar o sangue, mas não muito. Leo o imitou e logo os olhos de Héstia eram duas orbes amarelas de brilho intenso enquanto ela trabalhava junto ao fogo como uma verdadeira bruxa.

— É inacreditável! – Exclamou ela. – Os pais são diferentes, sinto o poder de seus sangues divinos em meu fogo, mas mãe... A mãe é a mesma! Vocês dois vieram da mesma mulher, da mesma mortal, da mesma mãe! Leo Valdez e Marcos Gutiérrez são filhos da mesma mãe!

O silêncio aterrador tomou conta do salão e logo murmúrios brotaram como pipoca no microondas, mas ninguém estava mais surpreso que Leo Valdez. Aquilo não podia ser verdade, na verdade era um pesadelo.

— Isso não pode ser verdade!

— O sangue não mente. – Disse Marcos.

— Mas como?! Não é possível que eu tenha um irmão por todos esses anos e não saiba!

— E nem eu! – Disse Hera. – Estou de olho nesse garoto desde que tinha dois anos, como pode, Héstia?!

— Porque Leo não tinha nem dois anos quando Marcos nasceu. – Disse a deusa da fogueira, da lareira e do lar. – Leo tem 15 anos e Marcos 14. Ele não chega a ser um ano mais novo.

Novamente os olhos de todos se arregalaram e os murmúrios se alastraram. Marcos tinha apenas 14 anos, mas era mais alto e parecia ser mais velho, enquanto Leo com seus 15 anos era mais baixo e jovial.

— Cara, você tem 14 anos?!

— Tenho.

— E parece ser mais velho do que eu!

— Quem é o pai dele?! – Exigiu saber Hefesto, fulo da vida.

— É...

Héstia não pôde terminar, pois uma nuvem se formou e choveu na fogueira, extinguindo-a completamente e inutilizando as cinzas. Novamente, surpresa na plateia e a fúria de Hefesto só ia crescendo. Parvati estranhou a atitude.

— Marcos, por que fez isso?

— Porque não é bom deixar seu sangue na fogueira com Hecate por perto.

Os olhos se voltaram para a deusa da magia, que estava visivelmente frustrada. Pela posição das mãos, estava trabalhando em um feitiço.

— Compreende o que fez? – Perguntou ela furiosa.

— Mais do que imagina.

— Hecate, o que estava fazendo?

— Tentando desvendar o passado desses dois.

— Por que eu não acredito nisso?

— Você é bem insolente.

 - Eu quero saber quem é o desgraçado que engravidou a minha mulher!

— Sua? Como as outras mães dos semideuses do seu chalé?

Hefesto estava literalmente borbulhando de raiva. Não ia ser insultado por um moleque que recentemente descobrira ser irmão de um dos sete heróis. Hecate compartilhava do mesmo sentimento de insulto, tanto que não interviu quando o deus ficou em chamas e avançou contra o semideus. Os semideuses se agitaram, mas nada aconteceu. Uma espécie de barreira cor de rosa em forma de lótus impediu que o deus chegasse ao semideus.

Novamente os olhares surpresos se tornaram presentes, até o próprio marcos estava surpreso. Uma pessoa não estava surpresa e esta caminhara até os irmãos. Esta era Parvati.

— Se pensa em uma punição, receio que esta não seja sua jurisdição.

Irritado, o deus saiu de perto, levando Héstia consigo. Não estava disposto a ouvir. Parvati desativou a barreira, reavendo a pequena lótus feita inteiramente de diamante rosa.

— O preço do sangue? – Perguntou a morena.

— O preço do sangue.

Não durou muito tempo e Hecate invocou um minotauro e uma hidra de cinco cabeças para ensinar uma lição aos semideuses. Infelizmente os deuses não estavam dispostos a ouvi-los, mesmo após o diálogo estranho e da fala da não jurisdição deles.

— Não mate a hidra até que eu tenha cortado todas as suas cabeças.

— Tem um plano?

— Claro.

Parvati retirou uma espécie de disco da Chain e o lançou contra as criaturas. Os monstros desviaram, mas o disco ricocheteou na tocha próxima, depois na parede e virou uma espécie de bala perdida que até os deuses tiveram que se abaixar. Isso lhes deu tempo de sacar suas armas.

A hindu sacou um tridente indiano de ouro incrustado de topázios imperiais, parecendo que pegava fogo. Já Marcos sacou uma espécie de palmatória com pedras negras bem trabalhadas e afiadas salientes nas laterais e na extremidade, a mesma pedra formando espinhos. Aquela era uma arma conhecida como macuahuitl.

O minotauro e a hidra avançaram ao mesmo tempo em que sacaram as armas que usariam. A hidra estava prestes a usar um ataque de chamas, mas não conhecia o rapaz, pois ele formou uma densa nuvem e fez com que o monstro a engolisse e fez com que chovesse, causando engasgamento. Já o minotauro não teve esse destino, pois mal se aproximou pronto para o ataque e Parvati cravou o tridente na garganta do monstro, quase causando sua decapitação.

Rapidamente, Marcos enfiou o macuahuitl no peito da besta e arrancou-lhe o coração ainda pulsante. Furiosa, a hidra jogou suas cinco cabeças entre os três. Leo já ia pegar algo na bolsa, mas Parvati o impediu. O disco voltara e cortou as cinco cabeças de uma só vez. Sem esperar que novas cabeças surgissem, Marcos atravessou o macuahuitl no coração da hidra e o arrancou.

Parvati pegou o disco no ar, que na verdade era um chakram de ouro incrustado com rubis e safiras enquanto Marcos pegou os corações com as mãos nuas e depois um isqueiro, que usou para queimar os corações, recitando algo em uma língua que não puderam compreender. Os corpos das criaturas não tinham desaparecido, apenas continuavam estirados com sangue jorrando.

Tudo tinha acontecido tão rápido que a velocidade de raciocínio dos outros semideuses não teve tempo de acompanhar. Aquilo deveria ter durado um minuto ou dois.

— Cara, que troço é esse?! – Perguntou Percy, que era o único que não tinha compreendido a gravidade da situação.

— É um macuahuitl.

— Macumba do que?

— Uma arma utilizada por astecas e maias. Normalmente não é tão afiada assim, pelo menos no passado.

— Vocês são estrangeiros. – Concluiu Atena severa.

— Sim, nós somos.

— Era isso que quis dizer quando disse que a jurisdição para punir não era a de vocês. Sorte que impedi uma guerra a tempo.

— Só um segundo! – Exclamou o filho de Poseidon. – Eu não estou entendendo mais nada! Não era para os monstros terem sumido depois de mortos?

— Em condições normais, sim. – Começou a hindu. – Mas eles foram mortos pelo macuahuitl.

— Continuo sem entender nada.

— Simples. – Começou o maia. – O macuahuitl é feito de madeira e obsidiana. A obsidiana é um vidro vulcânico que o pessoal de GoT chama de vidro de dragão e tem um motivo. Ela corta com a mesma precisão de um bisturi cirúrgico feito do metal da mais alta qualidade, como as do meu macuahuitl estão bem amoladas, a precisão do corte aumenta e posso perfurar melhor.

— Não é apenas isso. Elas também são capazes de cortar e até matar seres místicos.

— E essa coisa da Parvy também é boa.

— Não é uma coisa, é um chakram.

— Desculpe interromper a conversa sobre armas e tudo mais, mas quem são vocês dois?! – Perguntou Poseidon já irritado com aquilo.

— Eu sou Marcos Gutiérrez, filho de Chaac, o deus maia da chuva.

— Chaac?! – Bradou Hefesto ainda com raiva.

— Ih, Chaac é mano meu. – Disse Zeus.

— E meu também. – A raiva de Poseidon tinha se esvaído.

— E meu. – Comentou Deméter.

— Porra, como assim mano de vocês?!

— Ele é legal. – Responderam os três em uníssono, casendo metade dos deuses capotarem e a outra metade bater com a mão na própria cara.

— E você? – Perguntou Atena.

— Parvati Ganaraj, filha de Ganesha, neta de Shiva e da Grande Parvati, que é a possuidora dos avatares Durga e Kali.

O clima foi de descontraído para desesperador em pouco tempo. Nunca em todos esses anos da história do Olimpo, os deuses tiveram um tique nervoso coletivo.

— Quem é Ganesha? – Perguntou Jason a um dos amigos.

— Eu sei lá.

— Não tenho ideia. – Disse Calipso.

— É filho do Giratina. – Brincou Marcos.

— Giratina?

— Girashiva. – Brincou Hermes já recuperado.

— Primeiro Kyogre e agora Giratina? – Percy ainda estava confuso.

— Até hoje não entendi essa do Kyogre! – Exclamou Poseidon.

— Tangaroa. Os Três Grandes Maoris são conhecidos como Trio Pokémon. Tane como Groundon, Tawiri como Rayquaza e Tangaroa como Kyogre. – Explicou a hindu. – Já os Três Grandes Hindus são conhecidos como Trio da Criação, é só comparar com o Creation Trio.

— Ih é apelido do Tanga!

— Tanga?

— Sim. Eu vivo chamando o Tanga de Kyogre de sacanagem e tinha me esquecido disso.

— Tinha que ser o cabeça de peixe! – Exclamou a deusa da sabedoria. – Que tem memória de peixe por sinal.

— Eu não tenho memória de peixe! Só esqueci que chamava o Tanga de Kyogre.

— Quem é Tangaroa? – Percy tornou a perguntar.

Antes que a pergunta fosse respondida, entrou pelos salões uma enorme águia meio humanóide tão brilhante quanto o fogo. Parvati o reconheceu de imediato.

— Garuda!

— Little Parvy, está ferida?

— Eu estou bem.

— Mas o que esse bicho faz aqui?!

— Vim a mando do próprio Vishnu me certificar que estava tudo bem.

— Está tudo bem, não precisamos de você aqui.

— Era eu ou Shiva.

— Deméter, tem alpiste para dar ao passarinho?

— Posso arranjar em um segundo.

— Por que todos acham que eu como alpiste?

— Estão todos bem, como pode ver. Sangue não foi derramado e o pacto não foi quebrado.

— Melhor assim, pois seu avô já estaria destruindo tudo pelo caminho. Permita-me levá-la de volta ao acampamento com os seus amigos.

O pássaro se abaixou e Parvati fez menção para que todos subissem. Quando todos estavam montados, Garuda partiu, sem dar nenhuma explicação aos olimpianos.

— Mas afinal, eu não entendi o que aconteceu!

— Quem me dera entendesse alguma coisa, cabeça de alga!

— O que eu não entendi é vocês serem irmãos e terem sobrenomes diferentes. – Comentou Calipso.

— Meu pai me deu para uma amiga dele em Chicago para criar. Eu acabei sendo registrado no nome dela, só isso.

— Pensei que os estrangeiros criassem seus filhos.

— E criam, mas os maias são diferentes, assim como os astecas. Um semideus maia não tem o direito de morar com seus pais dividos até os 12 anos. Até lá, só pode fazer visitas ocasionais.

— Então não foi criado pelo seu pai?

— Visitas ocasionais. Meu pai sempre vinha cuidar de mim e me levava para ver os outros maias e assim crescer com eles na minha vida. Eu só não podia morar com eles.

— O preço do sangue? – Perguntou Parvati.

— O preço do sangue.

— Que preço é esse?

— Sabe o que é engraçado sobre o sangue? Ele não mente. O sangue é personalíssimo, único e impossível de substituir, tanto que pactos de sangue não podem ser quebrados, somente modificados ou anulados. O sangue de um nobre vale mais que o de um pobre, o sangue de um guerreiro vale mais que o de um agricultor, o sangue de um herói vale mais que o de uma pessoa comum e o sangue de um deus vale mais que o de um mortal.

O maia respirou fundo, tentando se acalmar. Ainda sentia o corte feito na palma da mão.

— Tanto para nós maias quanto para os astecas, o sangue é mais precioso que o ouro, ele é o que sacia nossos deuses. Porém o sangue também pode ser usado em rituais de magia negra. Se eu deixasse Hecate terminar o que quer que ela estivesse tentando fazer, Leo e eu estaríamos à sua mercê e quem sabe amaldiçoados agora.

— Por isso apagou a fogueira. – Afirmou a hindu. – Todos os conhecedores e iniciados na magia sabem o que o sangue pode fazer, ou pelo menos deveriam.

— Eu poderia ter invocado meu tio também, só para dar um susto. – Dessa vez estava descontraído e brincalhão de novo. – Mas meu tio nunca foi amante de brincadeiras e poderia ter causado uma guerra sozinho.

— Igual ao meu avô ou Kali.

— Por falar no seu avô, quem você acha que ficou mais cagado quando ouviu o nome dele?

— Difícil dizer. Havia muitos nomes que eles não gostavam.

— É com isso que se importam?! Em fazer piada dos nossos deuses?! – Exclamou Annabeth irritada. – Que isso é uma brincadeira?!

O humor que Marcos tinha recuperado, tinha ido embora novamente. Agora os dois, maia e grega, se encaravam duramente. O silêncio reinou e coube a hindu quebrá-lo.

— O que vai acontecer se seus deuses tomarem conhecimento?

— Eles já sabiam.

— Não, sobre Hefesto ter te atacado.

— Acho que já sabe da resposta.

— O preço do sangue.

— Vocês só repetem isso e ninguém sabe o que significa! – Reclamou Leo, pela primeira vez desde o teste.

— É algo de maias e astecas. Se houver uma ofensa grave, para se redimir, precisa ser pago com o sangue. – Explicou Marcos. – Sangue por sangue.

— E uma violação ao Pacto dos Três Maiores é grave. Mesmo que eu tenha impedido que sangue tenha sido derramado, os maias ainda podem interpretar como uma ofensa ou até mesmo como violação do pacto.

— Que raios de pacto é esse?!

— É um pacto feito por Odin, Zeus e Rá em que nenhum deus pode fazer mal a um semideus de mitologia diversa da sua, pois se fizer, será considerado uma declaração de guerra. Se eu não tivesse impedido seu pai, os gregos teriam declarado guerra aos maias ali mesmo.

— Não só aos maias. – Disse Marcos. – Aos astecas e aos inuites também.

— Como assim?

— Há dois deuses de dupla nacionalidade mitológica, um deles é asteca e o outro é inuit. Se houver guerra, eles serão obrigados a se envolver e como pertencem a duas mitologias, eles acabam envolvendo a outra mitologia também. Nesse caso, seria guerra contra três mitologias distintas.

Todos piscaram várias vezes, com exceção da hindu, que não estava surpresa. O maia recuperou o bom humor ao ver a cena e ainda brincou.

— Sorte a de vocês que não temos aliança com os incas.

Enquanto toda a trama do DNA se desenrolava, Macária tinha ido com Thrud e Brigid até a casa de Seshat. A egípcia as levou até o segundo andar e abriu a porta do que deveria ser a biblioteca.

— E este meninas, é o meu quarto.

— Por que eu não estou surpresa? – Perguntou Thrud retoricamente.

— Você dorme na biblioteca? – Perguntou Macária.

— Não, esse é só o meu quarto, dois andares cheios de estantes de livros. A biblioteca tem três andares abarotadas de estantes de livros e um sótão que meu pai usou para criar seu observatório. A entrada do primeniro andar fica ao lado da oficina do meu pai.

Como dito, o quarto de Seshat era composto por dois andares de estantes abarrotadas de livros. No segundo andar, atrás de uma estante de livros, havia um quarto oculto comuma cama, uma mesa com um computador gamer e toda a aprelhagem que precisava, a porta do closet, uma cômoda, um armário, a porta do banheiro e um cofre.

— Vou analisar isso aqui depois, antes eu tenho algo a fazer.

— Como o que?

— Atualizar as minhas fanfics.

Thrud capotou, Macária ficou sem entender e Brigid abafou o riso.

— Em um momento desses, você está mais preocupada em atualizar uma fanfic?!

— Não é uma, são 15 e os leitores ficam agoniados quando não posto novos capítulos. Por falar nisso, tenho que ver se as fanfics que estou acompanhando já atualizaram.

— Só pode ser sacanagem!

— E preciso continuar meu novo livro.

— Se publica livros, para que escrever fanfics?!

— Porque eu gosto.

— Pelo amor, Seshat! Quanto tempo isso vai demorar?!

— Eu não vou demorar muito. Enquanto isso, podem andar pela casa. Nos encontramos na sala de cinema. Quando eu terminar, vou para lá.

— Beleza, vou usar a sua cozinha.

— E eu te ajudo. – Ofereceu-se Brigid.

— Duas é melhor do que uma.

Thrud e Brigid saíram do quarto com destino a cozinha. Seshat começou a trabalhar no compuador, literalmente datilografando o teclado, e Macária não sabia o que fazer.

— O que eu faço?

— Ah, é mesmo, nós vamos dormir todas aqui. Vou ter que emprestar alguns. Tem cobertores no armário. Pode levá-los à sala de cinema?

Macária abriu o armário e de lá tirou vários cobertores grossos e os carregou até a tal sala. A sala de cinema era uma sala com um grande sofa, home thearer, uma mesinha de centro, um computador e consoles de videogame novos e antigos.

Ela colocou os cobertores em cima do sofa e decidiu ir até a cozinha ver se Thrud e Brigid precisavam de ajuda. No caminho, passou pela porta da oficina de Thoth e foi chamada atenção pelo mesmo.

— Macária, já chegaram? Nossa! O tempo voa.

— Boa noite, senhor Thoth.

— Não me chame de senhor, não sou tão velho assim. Oh, Mafdet já deve ter saído! E eu aqui preocupado com minhas invenções. É melhor eu ligar para ela para saber se está tudo bem. E você, já resolveu aquele problema com sua irmã?

— Sim, Brigid me ajudou.

— Fabuloso! Gostaria de estudar mais a fundo a medicina e a magia celta, mas tenho sempre algo para fazer antes. Onde é que eu estava?

— Indo ligar para Mafdet.

— Mas é claro! Com licença.

Ela deixou o deus sozinho falando ao celular com sua filha. Apesar de serem irmãs, Seshat e Mafdet eram extremamente diferentes. Seshat amava livros enquanto Mafdet estava mais preocupada em brigar com Serket e matar escorpiões.

Na cozinha, Macária ajudou Brigid e Thrud com as panelas. A nórdica e a celta pegaram as maiores que encontraram para fazer brigadeiro, um doce brasileiro que Thrud cismara em fazer e dissera ser bom, em enormes quantidades.

Com tudo pronto, as meninas foram até a sala de cinema, onde encontraram Seshat, já de pijama. As três foram ao banheiro para trocar suas roupas por pijamas enquanto a egípcia colocava no Netflix.

— Por que essa cara de enterro? – Perguntou Brigid visivelmente preocupada quando retornaram à sala.

— As minhas fanfics favoritas não foram atualizadas. – Thrud capotou.

— Só pode ser brincadeira.

— Descobriu alguma coisa? – Perguntou Macária.

— Sim. Algo muito ruim está selado lá, um demônio. – Seshat sussurrou para o caso do pai entrar a qualquer momento.

A egípcia aumentou o volume e colocou na série. Elas iriam ver Gran Hotel.

— Eu não sei qual, mas posso dizer de onde ele é. – Disse pegando uma colher de brigadeiro e enfiando na boca. – Isso é bom.

— É brigadeiro. Thrud me ensinou.

— Thrud cozinha?!

— Só porque eu chuto bunda de marmanjo não quer dizer que eu não saiba cozinhar.

— Me passe a receita depois. – Pediu a grega.

— Afinal, de onde é o tal demônio? – Perguntou Brigid comendo brigadeiro.

— Primeiro é melhor colocarmos os acontecimentos em ordem.

As meninas tentavam criar uma cronologia para os acontecimentos, mas a série estava mais interessante. Seshat organizava tudo em um bloquinho com as informações esparças dadas pelas outras três, que estavam mais interessadas em se entupir de brigadeiro e ver a série de mistério e suspense em um hotel. A trama era bem elaborada.

— Eu tinha razão, tem algo muito estranho acontecendo.

— Pois é. Aquele cara está escondendo alguma coisa.

— Não na série, nas escavações. Na que Cerridwen analisou era dos hindus e essa agora é pior.

— De quem é? – Perguntou Macária.

— Você já deve ter ouvido falar. Vocês se encontraram várias vezes na história e se odeiam.

— Do que está falando?

— Que aquele demônio que investigamos pertence à mitologia persa.

Garuda tinha deixado os semideuses na Embaixada. Ele tinha dado voltas e voltas só para ouvir os diálogos, já que estava curioso. Como passara da hora do toque de recolher, os semideuses gregos não tiveram outra escolha a não ser entrar no prédio ou ficariam vulneráveis às harpias da limpeza. Ao adentrarem, viram que todos os outros integrantes estavam na sala, sem dormir. Niraj assustou aos outro, mas Parvati o conteve com carícias e festas.

— Até que enfim vocês chegaram! – Exclamou Diana correndo para perto deles. – E aí?

— Deu positivo, somos mesmo irmãos.

— Cara, que doideira! – Exclamou Eliot. – Como está se sentindo?

— Não responda, Angus. – Ordenou Raven.

— Poxa, você nem me deixa mais brincar.

— Responder o que? – Perguntou o cabeça de alga, mas dessa vez todos estavam com essa mesma dúvida.

— Filho de Anúbis. – Eliot, Tyler e o próprio Marcos deram de ombros.

— Quem é Anúbis?

— Vocês poderiam não responder dessa forma?

— Mas aí que graça teria? – Perguntou o próprio Angus.

— Não querendo acabar com essa amistosidade... – Começou Nicolas. – Podem me contar como foi o teste?

— Em todos os detalhes. – Disse Parvati. – Até porque Marcos vai ter que resolver o problema amanhã.

— Que problema?

Deixaram que Parvati falasse, mas apesar disso, ela era interrompida por cada um dos gregos na narrativa. Seja para perguntar algo ou acrescentar um detalhe ou perguntar sobre um detalhe. Isso enfureceu as duas nórdicas e a inuit e só parou quando Diana mandou todos calarem a boca ou enfiaria a cabeça de um na bunda do outro e Helena e Sienna transformaram a atmosfera em um frio glacial. Ao fim do relato, a atmosfera ofensiva se desfez.

— Isso é grave. – Disse Raven.

— Muito grave! Os maias não vão deixar barato. – Disse a ruiva. – Marcos, amanhã mesmo você vai concertar essa merda.

— Por que eu?

— Porque são os seus deuses! E se eles declararem guerra, a merda cai para a gente também! Nossos pais podem até nos arrastar para casa pelos cabelos!

— E nós iremos. – Comentou a egípcia.

— Você não está falando sério! – Reclamou Jason. – Querem fugir de uma guerra se acontecer?

— Se houver guerra será entre gregos e maias. Nós não teremos nada com isso.

— Eu terei. – Pronunciou-se Sienna. – Os maias são aliados dos inuites.

— E dos astecas. – Complementou Marcos.

— Pior ainda.

— Mas a gente não pode cair o fora assim! – Reclamou Tyler. – Eu sou maori e não temo a guerra.

— Assim como os nórdicos, os hindus, os celtas e os egípcios, mas se houver e ficarmos, quantas mitologias lutarão nessa guerra?

Todos ficaram em silêncio. Alguns faziam as contas.

— Raven tem razão. – Disse Parvati. – Se todos nós ficarmos, mais mitologias se envolverão e quem mais perderá será não só o Acampamento, mas o resto do mundo. Será um massacre nunca antes visto.

— E será seu irmão e a mitologia dele que mais sofrerão.

— Do que ela está falando? – Perguntou Leo.

— Os gregos preferem mandar seus filhos ou até mesmo mortais resolverem suas merdas do que resolverem eles mesmos. Os outros não, vocês não terão chance contra nossos deuses.

— Desculpe, mas nós enfrentamos Cronos e Gaia, podemos nos virar com os outros deuses. – Disse Jason.

— Cronos e Gaia não transformaram o Acampamento Meio Sangue e o Acampamento Jupiter em verdadeiras carnificinas sozinhos, mas dois egípcios sim.

— Quando foi isso? – Perguntou a filha de Atena.

— Antes do Pacto dos Três Maiores ser selado. Por que acham que tem um pacto de não agressão de deuses para com semideuses de outra mitologia?

— Isso já aconteceu antes.

— Sim. Foi uma guerra entre gregos e egípcios proclamada pelo meu pai. A guerra tomou tais proporções que os nórdicos tiveram que intervir.

— Disso eu não sabia. – Disse Jasmine.

— Estávamos esperando que amadurecesse mais para contar sobre isso. – Contou Helena.

— Meu pai pode ter convencido Zeus e Rá a fazerem esse pacto, mas nenhuma mitologia estrangeira tem medo de proclamar guerra. Se forem insultados, vão proclamar e lutar, por isso cabe aos Três Grandes de cada mitologia apaziguar os ânimos e impedir que isso aconteça.

— Alguns até almejam e vivem para isso. – Disse Tyler. – O meu pai mesmo é um. Meu tio Tawiri, pff! Não o chamam de Rayquaza por nada. E tem meu outro tio, esse adora uma briga. E tem outro temperamental também.

— Cara, quantos tios você tem? – Perguntou Angus surpreso.

— Sete.

— Porra! Você tem mais tios do que eu.

— Só temos dois tios, Angus.

— Até a putaria aconteceu entre irmãos. Primo do pai é considerado tio, não? Se não temos um tio só, mas eles também são primos. A gente seria primo de primeiro ou segundo grau?

— Um grau e meio talvez?

— Isso é complicado.

— Podemos voltar ao assinto principal? – Perguntou a loira.

— Para que? Já cansou.

— Sienna, aonde você vai? – Perguntou Tyler vndo-a subir as escadas.

— Dormir. Esse assunto já me cansou.

— Eu achei que era o único! –Exclamou Angus abertamente, recebendo olhares de desaprovação, mas não dos estrangeiros.

— Realmente está tarde. – Pronunciou-se Frísio pela primeira vez.

— Sim. – Disse Nicolas. – Vamos, Jazz. Você ainda precisa descansar.

— Está bem.

Nicolas guiou Jasmine até o andar de cima, desaparecendo em seguida. Os outros discutiram para saber onde iriam dormir. Annabeth e Jason prefeririam se arriscar com as harpias da limpeza e lógico que Percy e Piper foram com eles. Leo e Calipso ficaram por lá. Leo queria algumas respostas e Calipso não queria ter que encontrar as harpias. Acabou que Leo teria que dormir com Marcos, já a outra foi com Parvati e o tigre Niraj teve que dormir no sofá ao invés de sua caminha ou na cama da sua dona.

Quando o trabalho finalmente acabou, Hades foi ao Olimpo, convocar Zeus e Poseidon. Os irmãos estavam cansados e ao indagar o que houve, contaram sobre o teste.

— Puta que pariu! Saio por algum tempo e vocês me arrumam uma cagada dessas?!

— Não precisa explodir, suquinho.

— Não precisa é o caralho! Vamos ter que negociar com eles. Maias e astecas sempre cobram o preço do sangue, mas como o garoto não se feriu, não iremos pagá-los com sangue.

— Eu não irei negociar com um bando de nativos mexicanos!

— São nativos americanos. América é um continente.

— Tanto faz, é tudo um bando de índio querendo apito mesmo.

Hades respirou fundo. A ignorância de seus irmãos para com as outras mitologias, principalmente as indígenas, lhe causava irritação. Sempre cogitava em trazer Ah Puch ao Olimpo. O deus maia da morte tinha todos os seus órgãos, coluna vertebral e tendões expostos, como um boneco de anatomia e às vezes perdia um órgão ou outro, além de possuir algemas nos pulsos e tornozelos. Sua face era uma caveira de jaguar, ou era de uma coruja? Acontece que Ah Puch não era hediondo apenas na aparência, seus métodos, como os de todos os maias, eram cruéis, até mesmo os gritos das corujas eram associados aos gritos dele até os dias de hoje. Com tantos atributos, logo percebia-se que não era um deus para insultar.

— Não sabem que os maias são aliados dos astecas e dos inuites?! Se eles levarem como ofensa, as três mitologias vão cair em cima de nós!

— Sério?! Dessa eu não sabia!

— Nem eu!

— Deveriam saber. Como o garoto não se feriu, podemos pagar o prejuízo em cacau.

— Por que cacau?

— Porque maias adoram cacau, sua mula marinha! E agradeça por ele não ser asteca, porque os astecas só aceitam sangue.

— Mas onde iremos arrumar cacau?! – Perguntou o senhor dos raios.

— Isso é problema seu! Por falar em problemas, temos outro para lidar.

— Outro problema?

— Outra escavação surgiu. Dessa vez, chamamos os Três Grandes responsáveis pela jurisdição.

— E por que seria problema nosso?

— Porque as coisas estão estranhas e nem mesmo eu estou gostando disso.

— Pedirei a Hermes que mande uma mensagem a Quíron.

— Você não entendeu. Dessa vez deverá ter colaboração de todas as mitologias e nossos filhos não saberão lidar com deuses estrangeiros, ainda mais com deuses que não temem a guerra.

As horas passavam, ou seriam apenas minutos? Isso não importava, pois naquele quarto, que mais parecia uma floresta tropical ornamentada com artes do período pré-colombiano, Leo se revirava. Não gostara de dividir a cama de casal, mas nada que uma coberta extra enrolada de forma que servisse de muro não ajudasse.

— Não consegue dormir?

— Aquilo que disseram lá embaixo... É verdade que pode haver uma nova guerra?

— Infelizmente, mas eu não vou deixar acontecer.

— E como?

— Irei falar com meus deuses. Meu pai também não irá deixar que isso aconteça e dois dos Três Grandes Maias também não.

— Então não há com o que se preocupar. Os Três Grandes sempre decidem.

— Alguns deuses não se importam com o que os Três Grandes decidem. Tohil, Camazotz, Jaguar e Ah Puch vão querer guerra e ninguém manda em Ixchel, nem mesmo o marido dela consegue segurá-la. E Huracán dará causa a eles.

— Como vai conseguir convencer todo mundo?

— Não vai ser fácil, mas eu tenho meu pai para me ajudar, assim como Itzamna e Akna e Gucumatz e Tepeu vão votar contra a decisão de Huracán.

— Se quiser, posso convencer meus amigos a ajudar.

— Melhor não, vão atrapalhar e eu vou virar babá de vocês.

— Qual é, só estou tentando te ajudar!

— E eu tentando evitar traumas, principalmente com meus tios Tohil, Ah Puch e Camazotz. E a Ixtab também.

— Oh, não sabia que tinha medo de nos apresentar aos seus tios.

— Medo vocês teriam se os conhecessem, especialmente Ah Puch. Ele sempre me faz procurar pelos órgãos dele.

— Por que, ele é um traficante de órgãos ou coisa assim?

— Só se traficantes de órgãos deixarem crianças brincarem com intestinos.

— Você brincava com um intestino?

— Não, mas já brinquei com a bexiga dele. Acabei todo mijado e ainda enchi a bexiga de água e usei como um balão. Ah Puch ficou puto, ainda mais porque ele e meus outros tios tiveram que me limpar antes do meu pai chegar. Nunca mais Ah Puch me deixou perto de uma bexiga de novo.

— Cara, não queria ser você.

— A sorte deles é que conseguiram me lavar antes de me devolverem para Giovana.

— Giovana?

— Minha mãe adotiva e grande amiga do meu pai. Ele me deu para ela cuidar ainda bebê, já que não podia morar com eles ainda.

— Ah.

O silêncio se formou entre os dois. Era estranho e ao mesmo tempo desconfortável.

— Como era a nossa mãe?

— Não quero falar sobre isso.

— Me contaram o final, mas não o começo e eu só me lembro dos traumas que ganhei dos maias.

— Então sabe do incêndio?

— Não foi sua culpa.

— Você não estava lá.

— Mas soube que antes disso, meu pai pediu para te criar com os maias, assim como eu fui.

— Nada pessoal, mas chuva não é a minha praia.

— Claro que não. Por isso que quem iria te criar seria Tohil, o obsidiano.

— Ele mexe com fogo?

— Fogo e sangue. Literalmente um Targaryen.

— Só falta ter pokémon também.

— E quem disse que não tem? Os Três Grandes Maias são o Force of Nature.

— Então não falta mais nada.

Riram em conjunto e depois foram dormir.


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Notas finais do capítulo

Necrófilo - termo usado para praticante de necrofilia (cenas +18 com cadáveres). Na fic, Hel e Ah Puch preferem necrófilos por conta de seus corpos deteriorados, já que uma pessoa normal sairia correndo e um viciado em RE e TWD acharia que o apocalipse zumbi começou. Sedna prefere homens afogados por conta de seu rancor que a impede de subir à superfície e conhecer um cara normalmente.
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Por que colocar algo assim em uma fic inocente? Para quem se lembra do mito de Hórus, Ísis o concebeu quando Osíris virou múmia. Não há nada de inocente em nenhuma mitologia, então até os excluídos podem ter filhos mesmo que pareça estranho ou condenável. Outros assuntos também serão abordados.
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Fazer festa em um animal significa fazer carinho e até brincar com ele enquanto acaricia.
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Macuahuitl é uma arma usada por astecas e maias. Ela se assemelha a uma palmatória impregnada com cacos de obsidiana por toda sua extensão.
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A obsidiana é uma pedra formada por vidro vulcânico capaz de cortar. Ela foi muito usada na pré-história e nas tribos indígenas como pontas de lanças, flechas, facas e até mesmo em outra armas.
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A obsidiana também foi usada em Game of Thrones, sendo conhecida como "vidro de dragão". Ela é uma das poucas coisas que podem ferir um caminhante branco.
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Na fic, a obsidiana é capaz de matar uma criatura mitológica, assim como o aço asgardiano.
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O disco se chama chakram. Ele é a arma principal em Xena, a Princesa Guerreira (para quem se lembra e não sabia o nome do disco, é esse). O chakram é indiano e foi utilizado no sul da Ásia e até mesmo no Oriente Médio.
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Durga e Kali são avatares da deusa Parvati. Falaremos delas mais para frente.
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Garuda(mon) é um (digimon) ser mitológico hindu. Ele tem o corpo de uma águia e é conhecido como Águia de Fogo. Em seu mito, a mãe de Garuda a posta com a mãe dos Nagas qual seria a cor do cavalo divino que sairia da batedura do oceano e aquela que perdesse viraria prisioneira da outra (provavelmente deviam ter fumado muito ópio para isso, é que nem aposta com tatuagem, nunca façam). A mãe de Garuda perdeu e ele foi tentar libertá-la. Para conseguir a liberdade da mãe, ele teve que roubar a água da imortalidade dos deuses, sendo que teve que derrotar um exército e dois dragões para isso. Tudo correu bem, mas antes que os Nagas pudessem beber a água, vieram os deuses e tiraram deles.
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Garuda também é a montaria de Vishnu e símbolo nacional utilizado pela Tailândia e Indonésia.
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Diferente dos outros deuses, os astecas e os maias não deixam seus filhos morarem com eles até os 12 anos. Isso é uma garantia para que a criança tenha uma mente saudável, já que as mitologias maia e asteca são cruéis e sanguinárias.
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O sangue era muito valioso tanto para os astecas quanto para os maias, mais para os astecas do que para os maias. Eles acreditavam que através dos sacrifícios de sangue, a magia que existia no nosso mundo se renovava e que o sangue pertencia aos deuses.
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Sangue é algo personalíssimo, por mais que outra pessoa tenha seu tipo sanguíneo, ela jamais será igual a você ou terá suas características. Mesmo com gêmeos idênticos, é possível diferenciá-los com um exame de anti-corpos.#
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O sangue é tão personalíssimo que pactos e contratos de sangue não podem ser quebrados, mas podem ser modificados e anulados. Acreditava-se que o sangue de m nobre tinha mais importância que o de um pobre, e até mesmo o de um guerreiro valia mais que o de um serviçal. No entanto, eles preferiam sacrificar prisioneiros.
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Por conta disso, os nobres poderiam exigir o preço do sangue se fossem feridos por um rival.
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Também é possível realizar rituais de magia com o sangue, mas ninguém aqui vai fazer isso ou vai ter a orelha puxada.
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Ah Puch (finalmente ele!) é o deus maia da morte. Ele é uma espécie de boneco de anatomia vivo. Ele é representado com os órgãos e a coluna vertebral expostos, de forma que dê para ver tudo, sua cabeça ter tanto a forma de um crânio de jaguar como o de uma coruja. Ele era muito temido e os pios das corujas eram associados a ele.
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O cacau é a planta cuja semente é usada para fazer chocolate (o melhor remédio para TPM e o melhor amigo nas horas de solidão). Os maias idolatravam o cacau a ponto se ser sagrado (eles têm até um deus do cacau!). Da mesma forma que o cacau era importante para os maias, a batata doce era para os maoris.
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Tohil, o obsidiano, é o deus maia do fogo, da guerra e dos sacrifícios. Assim como os bebês precisam de leite materno, Tohil precisa de sangue dos corações arrancados. Nos rituais, fazia-se um corte, tirava o coração da pessoa ainda viva e o ofereciam a Tohil. Há também relatos de esfolar a pessoa viva depois e se fosse um guerreiro andavam com a pele dela. Nos rituais astecas, que eram para outro deus, tinha até canibalismo (por isso que os filhos só podem morar com eles depois dos 12, imagine a mente da criança convivendo com isso todo dia).
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Por ser o deus do fogo e da guerra (e viciado em beber sangue), fiz um trocadilho entre Tohil e o lema dos Targaryen de ASOIF/GOT (Fogo e Sangue).
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O personagem Kotal Khan de Mortal Kombat X foi inspirado na mitologia maia, inclusive no fatality em que arranca corações e bebe como se fosse gatorade.
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Seshat me representa. E isso é tudo por essa semana, espero que tenham gostado e que não tenha traumatizado ninguém. Quem eram aqueles três? Isso só esperando pelos próximos para saber.



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