A filha de Gaia escrita por Goth-Lady


Capítulo 28
De volta a Asgard


Notas iniciais do capítulo

Perdoem qualquer erro ortográfico, o corretor do word parou de funcionar.
Boa leitura.



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Convencer Njord era uma das coisas mais difíceis dos nove mundos. Freya e Frey sabiam disso há séculos e tentavam ao máximo preparar o terreno quando surgiam com uma notícia bombástica, mas Nicolas não era Frey ou Freya. Convencer seu pai a não descer fora difícil, até mesmo Diana teve dificuldades para segurá-lo. Se não fossem pelos gêmeos, não saberia o que seria deles.

— Pela primeira vez, eu gostaria de saber como era o casamento do seu pai com a Skadi.

— Tenho até medo de perguntar aos meus irmãos. Não quero partilhar dos traumas deles.

— Mas já é noite?!

— Pode ficar aqui, Dia.

— Eu agradeço, mas tenho que voltar a Valhalla. Meu pai e Frigga devem estar preocupados.

— Está bem. Até amanhã então.

— E boa sorte com o seu pai.

Diana retornou a Valhalla. No grande salão, encontrou seu pai ainda no trono. Odin só deixava o trono uma ou duas vezes ao ano para repousar, isso quando ele não tinha nenhum filho semideus, pois quando tinha, às vezes comparecia às reuniões escolares ou para impedir que o filho fizesse besteira.

— Pai, ainda acordado?

— Os nove mundos não irão se vigiar sozinhos.

— Mas você parece tão cansado.

— Há coisas estranhas acontecendo, Diana. Muito estranhas.

— Quando tirou sua soneca nesse ano?

— Depois eu penso nisso, Diana. Tenho coisas mais importantes para me preocupar.

— Como aquelas escavações?

— Sim, e temo que seja só o princípio.

— Nesse caso, você vai dormir e sem “mas”, senhor Odin. Os nórdicos precisam do líder deles em plenas condições de liderar caso o pior aconteça.

Odin arregalou os olhos, piscou umas duas vezes e depois começou a rir. Diziam que as filhas eram mais afeiçoadas aos pais e os filhos às mães, talvez fosse verdade. Nunca tivera uma menina e a que tinha foi a primeira entre seus filhos, consanguíneos e adotados, a mandá-lo descansar. Parecia até Frigga quando estava farta de tanta teimosia.

— Pai. – Chamou segurando sua mão. – É sério, o senhor precisa descansar. Nós precisamos de você bem. Pedirei a Uller que tome seu lugar enquanto descansa.

— É gentil de sua parte, minha filha, mas...

— Não comece com “mas”! Os nórdicos precisam do senhor. Vou ter que chamar Frigga para te arrastar até a cama?!

Odin pensou um pouco. Sua filha tinha razão, mas tinha trabalho a fazer, porém se recorresse à Frigga, aí sim Asgard não dormiria naquela noite. Por que nórdicos gostavam tanto de barraco mesmo?

— Dez minutos. Se não encontrar Uller, eu continuarei aqui.

Mas a ruiva já tinha sumido pelos corredores ainda na primeira frase. Abria porta após porta, mas quando não via quem procurava, deixava-a de imediato. Ouviu um barulho de metal contra ossos na cozinha e foi investigar. Lá estavam Thrud com uma torta que parecia ser de maçã, Magni e Modi com enormes galos na cabeça, Uller quieto e uma panela de ferro amassada.

— E fiquem longe da minha torta!

— Mas tem um cheiro tão bom!

— Cozinhem uma para vocês.

— O que está havendo aqui?

— Thrud fez uma torta de maçã e não quer dividir. – Contou Modi. – Aí ela jogou a panela no Magni, que ricocheteou e bateu em mim.

— Bem feito. – Disse a loira colocando um grande pedaço na boca.

— Você vai comer tudo! – Reclamou Magni.

— Eu fiz e eu posso comer o quanto eu quiser.

— É sempre isso. – Resmungou a ruiva. – Uller, o pai precisa que você o substitua de novo no trono. Tem muita merda acontecendo e ele precisa descansar.

— Eita, vida.

Com a missão parcialmente cumprida, Diana retornou com Uller ao grande salão, deixando Magni e Modi reclamando e Thrud comendo a torta inteira. Não que fosse surpresa, afinal Thrud podia comer três tortas inteiras e seus irmãos sempre reclamavam que ela cozinhava bem e não dava um pedacinho a eles. Nórdicos com fome eram perigosos.

— Pronto, voltei com o Uller.

Odin cedeu o lugar a Uller e foi para o quarto acompanhado da filha. Encontraram Frigga no caminho para o quarto.

— Odin, se passa algo?

— Nada com que tenha que se preocupar, Frigga.

— Convenci meu pai a repousar.

— Fez bem. Eu iria fazer o mesmo em alguns minutos.

— Isso é um complô ou algo do tipo?

As duas mulheres riram e o levaram até o quarto, onde elas o ajudaram ir para a cama.

— Bom descanso, pai.

Logo em seguida, a ruiva beijou a testa do pai. Frigga fez o mesmo e depois disso saírem do quarto.

— Acho que vou pedir a Odin que tenha mais meninas. Nenhum dos filhos homens conseguiu ser tão próximo assim.

— E você Frigga, não se incomoda com isso?

— Como o que? Filho é filho, não importa a origem. Irei receber todos os filhos de Odin de braços abertos, da mesma forma que ele receberá os meus.

— Pensa em ter mais filhos?

— Não penso, sou fiel ao seu pai desde que nos casamos, mas somos nórdicos Diana, tudo pode acontecer, por isso acordamos em receber os filhos um do outro caso tenhamos.

— Tudo pode acontecer?

— Bebemos muito hidromel e temos o Loki.

— Ah, é. Eu tinha esquecido do fator Loki.

— Agora, vá dormir. Há um longo dia pela manhã.

Enquanto isso em Folkvangr, Nicolas, Freya e Frey discutiam no salão.

— Finalmente o pai sossegou. – Disse o semideus.

— Por ora. Freya e eu sabemos do que ele é capaz.

— E por isso, vamos ter que vigiá-lo em turnos. O primeiro turno é meu.

— Você sempre pega o primeiro turno, Freya.

— Lógico. Quem termina de vigiar primeiro tem mais tempo de sono depois.

— Segundo! – Gritou Nicolas.

— Droga!

—Não se preocupe. Nicolas mandará seu javali te acordar assim que acabar. É melhor dormir enquanto pode.

— Eu sempre fico com o último turno.

Frey saiu do recinto cabisbaixo e reclamando, arrancado uma pequena risada dos outros dois. Nicolas também foi dormir e Freya ficou em frente ao quarto do pai, deixando o javali de ouro na porta. Esperou que ele estivesse dormindo para entrar. Njord roncava feito um cortador de grama, mas mesmo assim não se deu por vencida. Não acendeu a luz, ficou sentada nas sombras. Recostou-se à parede e fechou os olhos. Algum tempo depois, ela os abriu repentinamente.

— Afaste-se já desta janela.

— Nem no meu próprio quarto vai me deixar em paz, Freya?!

— Já determinamos que não irá a Midgard.

— Eu sou o seu pai!

— Mais um motivo para não te deixar ir.

— Você é igualzinha a sua mãe.

Resmungando, Njord voltou para a cama. Freya não o deixaria ir tão fácil, nem que para isso tivesse que pedir a ajuda de Skadi.

Nos salões de Valhalla, Thrud se aproximou do trono.

— Cabeçudo, preciso de um favor.

— Por que eu te faria favores? Você não me deu torta.

— Porque se você ainda quiser acordar homem depois que sair desse trono, é melhor me ajudar.

— Vou me arrepender disso, mas diga.

— Preciso que vigie um lugar para mim.

— Não estou gostando disso.

— É assunto de segurança nacional.

— E o que é?

Thrud apenas disse para observar o lugar onde se encontravam as coordenadas escritas em um papel.

— Isso é estranho. O que aqueles monstros fazem lá a essa hora?

— É o que vou descobrir.

— Esse assunto é propriedade de Asgard, Thrud.

— Não até eu averiguar.

— Thrud...

— Eu sei o que estou fazendo. Não quero alarmar Asgard inteira se não for nada.

— Não faça muito barulho. Sério, você é uma péssima espiã.

Thrud cruzou os braços e bufou. Logo deixou o recinto e se retirou para o seu quarto.

A noite seguiu normalmente. Em Folkvangr, Freya tinha trocado de turno com Nicolas. O semideus não teve muitos problemas com o pai, mas não podia deixar de compartilhar a mesma preocupação que ele. Quando foi a vez de trocar com Frey, Nicolas enviou o javali do irmão para acordá-lo e só saiu do quarto quando o deus chegou e assumiu seu lugar.

Ao invés de ir para a cama, Nicolas, sem sono algum, decidiu ir a Valhalla. O vento da noite castigava a todos que se aventurassem fora dos castelos e com Nicolas não foi diferente. Ao adentrar nos salões de Valhalla, Nicolas se deu por satisfeito e foi até o trono.

— Uller?! Onde está o Grande Odin?

— Repousando. O que faz aqui tarde da noite?

— Vim pedir para ver como a Jazz está.

— E precisava ir neste horário?

— É que era minha vez de vigiar o meu pai para ele não fazer besteira.

— O velho Njord não consegue ficar sem se meter em confusão. Por isso que a Skadi não parava um minuto quieta.

— Foi por isso que vocês se divorciaram?

— Foi porque eu não pude ficar com alguém que tinha assuntos mal resolvidos com o divórcio anterior. Skadi sempre se preocupou com Njord mesmo depois do divórcio, tanto que foi ela quem pediu para Freya e Frey ficarem com ele para impedi-lo de fazer qualquer besteira.

— Meu pai realmente é sensível quanto aos filhos.

— Coloque sensível. Já perdi a conta de quantas vezes a Skadi foi brigar com ele por conta dos filhos dele.

— Os outros antes de mim a preocupavam?

— O seu pai a preocupava e a preocupa até hoje. Minha mãe me contou cada perrengue que Skadi passou quando os gêmeos eram crianças. Mas vamos parar de falar disso. Alguns traumas não devem sair do passado. Vamos ver como está a filha da Gaia.

Logo Uller teve a visão do trono e a mostrou a Nicolas.

— Ela está bem e Angus está com ela.

— Quem é Angus?

— O filho de Anúbis.

— Lembro de ouvir algo a respeito.

— Eu vou voltar para casa.

— Mas antes vá à cozinha e tome um pouco de hidromel. Está tremendo desde a hora que chegou.

E realmente estava. Foi até a cozinha tomar um pouco de hidromel e lá encontrou Diana comendo biscoito enquanto usava um pijama.

— Acordada a essa hora?

— Tenho que vir antes do Loki ou ele acaba com tudo. O que faz aqui a essa hora? E céus, está tremendo!

— É o vento da noite. Uller disse para tomar um pouco de hidromel.

A ruiva pegou um pouco de hidromel do barril e entregou ao loiro esverdeado. Ele esvaziou em um único trago.

— Vai me dizer o que veio fazer em Valhalla a essa hora da noite?

— Vim ver se podiam mostrar como está a Jasmine.

— Ah, sim. Fiquei tão preocupada com o meu pai não querer repousar que acabei me esquecendo. Como ela está?

— Está bem. Angus está com ela.

— Fico mesmo feliz que esteja. Vamos, temos que descansar também.

— Sim e a viagem até Folkvangr é longa.

— Você não vai a Folkvangr a essa hora! Não, vai dormir aqui mesmo em Valhalla.

— Dia, eu não quero incomodar.

— Não é incômodo. Frigga diria a mesma coisa se te encontrasse a essa hora. Vamos.

A ruiva o levou até o quarto dela, o que o fez corar.

— Por que essa cara de protagonista clichê de fanfic? Afinal, é um viking ou o que?

— Não sou eu que estou levando alguém do sexo oposto para o meu quarto.

— Qual é o problema? Dormíamos juntos na mesma cama, eu, você e Helena. O que há de diferente nisso?

— Helena não está aqui e não somos mais crianças, Dia!

— E isso muda alguma coisa?

Mudava tudo. Sempre ouvira que na adolescência seu corpo mudaria, os hormônios tomariam conta e pensaria em sexo, mas ao mesmo tempo correia perigo. As mulheres nórdicas sempre foram mais independentes do que as outras, pois apesar de cuidarem do lar, elas lutavam, podiam possuir terras e até pedir o divórcio. A espada e a vassoura estavam sempre juntas e nem os deuses estavam livres da fúria de suas esposas, mães ou irmãs.

— Eu vou dormir em um dos quartos de hóspedes.

— Você que sabe, mas é bom arrumar a cama pela manhã, caso contrário, Frigga vai me obrigar a arrumar por ter sido ideia minha. E se ela me obrigar, eu arranco seu crânio e o uso como caneca.

— Por que os aesir têm que ser tão violentos?

— Não somos violentos, os vanir que não gostam de pegar em armas.

— É, tentei. Você continua a mesma mula de sempre.

— Faz parte de quem eu sou, não é mesmo?

— Então posso te chamar de Obara.

— Nem em sonhos, Minaj.

Os dois riram. Insultos eram comuns e sempre ressaltavam a importância da diferença entre aesir e vanir. Precisavam daquilo, Asgard nunca fizera tão bem aos dois.

— Eu durmo aqui, mas é bom que nenhum dos seus irmãos venha arrancar meu couro depois.

— Se fizerem isso, eles vão ter que se vestir de Freya para recuperarem suas coisas de novo.

— Não foi só Thor que fez isso?

— Sim e Loki foi de dama de companhia. Ele até reproduziu a imagem em uma das ilusões dele. Foi hilário.

— Esse Loki, continua o mesmo.

— É melhor dormirmos antes que a Frigga apareça.

Nicolas concordou. Eles foram para a cama de casal e se deitaram, cada um de um lado, deixando um enorme espaço no meio. Era incrível como Diana não desfazia as tranças nem mesmo quando ia dormir. Não que fosse algo importante, só um pequeno detalhe que o loiro esverdeado notou.

— Nick, você acha que os outros estão bem?

— Eu não sei, mas não vamos pensar mais nisso. Jazz está bem, Angus está com ela, Frey está vigiando meu pai e seu pai está repousando. Não há com o que se preocupar.

— Então, por que essa sensação não vai embora? Eu quero acreditar que está tudo bem, mas algo me diz que não está! É perturbador!

— Dia, calma, poupe seu coração. – Ele chegou mais perto e a abraçou por instinto. – Se preocupe com o agora, não o que aconteceu ou o que vai acontecer, mas com o agora. Você precisa descansar. Vamos precisar de você na Embaixada e para isso, precisa voltar forte, como você sempre foi.

— Obrigada, Nick. Você não sabe o quanto precisava disso.


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Notas finais do capítulo

Vikings eram treinados desde crianças. Eles recebiam espadas e machados de madeira para brincar antes mesmo de começarem a andar e aprendiam a manejar armas com os pais. Quando adolescentes, iam em viagens de invasão, mesmo que mal conseguissem carregar uma espada.
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Se um adolescente viking conseguisse arrebentar a cabeça de seu inimigo, ganhavam o direito de portar um machado.
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Ao contrário dos gregos e romanos, eles não tinham disciplina alguma, preferindo mirar nas pernas ou pescoço. Eles também podiam morder o pescoço do inimigo até romper uma artéria.
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Ao contrário do que pensam sobre as mulheres vikings, elas não pegavam em espadas e os filhos que se danassem. As mulheres vikings pegavam em espadas, mas elas também pegavam em vassouras.
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Diferente de outras culturas, as mulheres vikings podiam pedir o divórcio, ficavam com os bens que quisessem retirar da casa (incluindo o dote), cuidavam das fazendas,podiam ser comerciantes e até mesmo tinham voz na sociedade.
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Minaj na verdade é um apelido usado por conta da Nicki Minaj. O apelido de Nicolas e derivados (Nicolau, Nikolai) é Nick ou Nico. O resto é só se ligar na referência.
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Quando o martelo de Thor sumiu e descobriu que estava com um gigante chamado Thrym, ele ficou furioso e o gigante disse que só devolveria o martelo se Freya aceitasse se casar com ele. Lógico que nem a pau isso iria acontecer, então Thor teve que usar um vestido e um véu e partir com Loki, que se vestiu de serviçal. Ele só revelou quem era quando finalmente puseram o martelo no colo da falsa deusa e mandou todo mundo para viver com Hel.
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E é isso, fiquem por dentro porque ainda tem muito barraco para acontecer e coisas a esclarecer.



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