— Pode nos explicar melhor, Gregory? – Cassius pediu sem esconder a preocupação com relação ao filho.

— Certamente. – o conselheiro respondeu. – O estado de Sua Alteza inspira um pouco mais de cuidados, sobretudo no emocional, pois ele tem predisposição a sofrer colapsos nervosos. E, após eles, seu coração dá uma enfraquecida momentânea.

— Será que ele herdou essa predisposição de mim? – Astrid perguntou.

— Talvez, Majestade... Porque isso sempre acontece após ele sofrer um grande baque emocional. Talvez, a princípio, seja necessário que evitemos que ele sofra qualquer emoção negativa. Infelizmente não temos, por exemplo, como prever que ele terá algum pesadelo, mas podemos fazer algo no tocante às outras emoções. E, claro, manteremos pelo menos cinco dias de repouso absoluto para ele, bem como o tratamento. E ainda precisarei examiná-lo melhor para ter certeza. Mas é certo que ele tem a predisposição a ter crises de colapso nervoso.

— Eu compreendo. Mas vamos ter que falar isso com o Landon.

— E falaremos, Astrid. – Cassius disse. – É para o bem dele.

*

Enquanto a conversa entre os quatro seguia animada, em um dado momento Landon mudou a expressão de seu rosto. De leve, colocou a mão no peito, mas sem fazer qualquer expressão de dor. Parecia mais uma expressão de apreensão. Catelyn percebeu aquilo e perguntou:

— Sente dor, Landon?

— Não. Nada me dói. Não precisa se preocupar.

— Tem certeza?

— Absoluta. – ele respondeu sem esboçar qualquer sorriso.

— Landon, não é o que a sua cara diz. – Marden observou. – Fique à vontade pra falar. Estamos aqui pra isso.

— Não é bom ficar escondendo as coisas. – Robert insistiu. – Isso não te faz bem.

— Está bem. – o jovem príncipe cedeu. – É que, não sei se vocês viram, o Gregory saiu daqui com uma cara preocupada. E tenho um pouco de medo de que talvez o meu problema possa ser mais grave.

— Não deveria pensar assim, Landon. – Catelyn disse, olhando em seus olhos.

— Eu sei, mas... Isso aparece, não porque quero, é que... Eu sinto um pouco de medo.

— Normal. Mas tente não pensar nisso. Afaste isso de sua cabeça, senão vai atrapalhar a sua recuperação. Pense apenas em ficar melhor.

A garota deu um doce sorriso tranquilizador, que fez com que seu noivo também sorrisse. Ele sentiu uma mão delicada e macia pousada por sobre a sua e, ao sentir o calor daquele pequeno e breve contato, corou. Apesar disso, Catelyn realmente conseguira tranquilizá-lo de uma forma única. Landon olhou nos olhos de sua noiva e viu ali, naquele olhar, tudo o que precisava para se tranquilizar.

— Espero que você esqueça um pouco esse seu medo e trate de ficar tranquilo, Landon. Não gosto de ver você assim.

— Vou procurar fazer isso. – ele sorriu. – Muito obrigado.

— Não precisa agradecer. – ela também sorriu. – Só quero te ver bem.

Robert e Marden não deixavam de olhar para o casal e sorriram. Perceberam que, diante daquele gesto de Catelyn, Landon ficava, de fato, mais tranquilo. Era tudo o que ele precisava para tirar do rosto aquela preocupação que possuía. Mesmo assim, os dois sabiam que aquela preocupação em breve voltaria. E os dois amigos também estavam igualmente preocupados com ele.

O que Landon realmente tinha?

*

Margareth estava sozinha, no jardim, após terminar as suas atividades. Contemplava o céu, que começava a ganhar tons alaranjados do entardecer. Porém, não o contemplava com tanta atenção, pois havia algo que não a permitia fazer isso.

Ou melhor, em sua cabeça havia alguém que não saía de seus pensamentos.

E esse alguém em questão era Landon de Zardren. Ele era três anos mais jovem do que ela, mas isso não importava. Encantara-se por seus modos gentis, apesar de ele não ter notado o olhar que lhe dirigira.

Suspirou. Como ele a notaria, não é mesmo? Como o príncipe de Zardren iria notar uma simples criada? E... Era um desperdício aquele belo príncipe ter aquela noivinha tão sem sal e tão grudenta! Será que ele não enjoava daquela pirralha?

A verdade era essa, aquela tal Lady Catelyn era apenas uma pirralha de catorze anos! Por que ela era a escolhida para ser a noiva dele?

— Ainda sonhando acordada com o príncipe Landon? – uma jovem recém-chegada a tirava de seus pensamentos.

— Do que está falando, Beatrice?

— Margareth, a mim você não engana. Pensa que não percebi o jeito que você olha para ele?

— Você... Você está vendo coisas demais...!

— Eu não sou boba. Reconheço uma garota apaixonada de longe.

— Mas eu...

— Está, sim. – Beatrice sentenciou. – E eu a aconselho a parar de ficar pensando no príncipe Landon, ele está comprometido. E, mesmo que ele não estivesse comprometido, que chances existiriam para que ele se comprometesse com uma simples criada?

*

Os tons dourados do entardecer passavam pela janela dos aposentos de Landon, que estava bem mais tranquilo e continuava a conversar com Catelyn, Marden e Robert. Ao contrário do que faziam ultimamente, os dois jovens Lordes comentavam com a jovem Lady sobre a convivência com o príncipe zardreniano. A garota ouvia atentamente algumas histórias divertidas envolvendo os três, com alguns pitacos de Landon, quando Robert fazia questão de mencionar algumas situações meio constrangedoras. Mas, em meio a isso tudo, era visível a união daqueles três garotos.

Aqueles três pareciam mais irmãos do que amigos. Irmãos de famílias diferentes... E que ela conhecia ainda melhor e também admirava.

E, claro, se divertia, assim como via que seu noivo também se divertia, apesar de algumas situações em que ele fechava a cara, mas, segundos depois, começava a rir. E, claro, como era típico de um garoto de quinze anos, também mencionou a ideia que tivera para “se livrar” dos dois amigos no encontro anterior que tivera com Catelyn. Com isso, havia sido a vez de Marden e Robert fecharem a cara, mas também por pouco tempo, pois começaram a brincar que no futuro Landon seria um grande estrategista.

Neste momento, a conversa foi interrompida, pois chegavam ali Cassius e Astrid, acompanhados por Gregory. Marden, Robert e Catelyn fizeram uma ligeira reverência e se retiraram. Não foi preciso nem pedir para isso ser feito, pois a expressão de Gregory já indicava que ali seria feita uma conversa particular com Landon.

O jovem príncipe zardreniano logo se ajeitou, para se recostar melhor. Imediatamente, o seu rosto voltava a ter aquela expressão apreensiva de mais cedo. Principalmente, por perceber, tanto no olhar de Gregory quanto nos olhares de seus pais, uma grande preocupação.

— Landon – Cassius disse. – Nós precisamos conversar.

— É sobre como eu estou, não é? – ele se adiantou. – O Gregory já sabe o que eu exatamente tenho?