Elope With Me escrita por Luiza Holdford, sweetie


Capítulo 2
Capítulo 2 - "...and we'll set something ablaze"




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Rose acordou com o barulho irritante do despertador, e quando ia começar a xingar mentalmente a própria vida entediante e “onde infernos eu meti minhas pantufas?” enquanto enrolava o edredom em torno de si mesma porque o aquecimento do apartamento era uma droga, ela lembrou que John estava dormindo no seu sofá, na sua sala do seu apartamento de aquecimento ruim.

Ele devia estar congelando.

Ela suspirou logo em seguida. Quem se importa com aquecimentos quando se tem uma vida como a dele? Ela sabia que ele aceitaria o café da manhã e depois iria para as aventuras de uma vida que ela não conseguiria ter, e eles nunca mais se veriam, mas... Estava ansiosa por aproveitar pelo menos mais uma horinha da sua adorável companhia, e não tinha muita certeza do porquê de se sentir assim.

Rose achou as pantufas e correu para fora do quarto, para só então se lembrar que estava de pijamas, quando já era tarde demais para voltar.

Escutou um barulho vindo da cozinha, e ele estava lá, fazendo alguma coisa que ela não conseguiu identificar porque estava ocupada demais reparando como o cabelo dele continuava incrível mesmo depois de acordar. “Devo estar parecendo um leãozinho ou algo do tipo” ela pensou, enquanto corria uma mão pelos cabelos, tentando deixá-los minimamente apresentáveis.

– Bom dia Rose! – ele sorriu quando a notou parada na porta do corredor. Era incrível como ele parecia uma daquelas pessoas que nunca ficam de mau humor, e sempre veem o lado bom em tudo.

– Bom dia. – ela respondeu, se aproximando – Posso perguntar o que você está fazendo?

– Oh sim, desculpa se estou sendo intrometido, mas eu acordei e lembrei que você mencionou que estava sem chá, então eu pensei em comprar mais... – ele abriu o armário procurando as xícaras – Eu estou sendo terrivelmente intrometido, sim, mas não será dessa vez que explodirei sua cozinha. Eu preparei um pouco. Espero que goste de chá de hortelã.

– Meu preferido. – Senhor, o que esse cara fazia de errado? – Mas você não precisava ter tido esse trabalho. E tudo bem ter sido um intrometido.

– Que isso, considere como um pagamento por você ter me deixado passar a noite.

– Tecnicamente, esse tinha sido um pagamento por você ter salvado minha bolsa ontem, então eu ainda estou em débito... Mas de nada.

Eles se sentaram na mesinha do canto e aproveitaram a companhia um do outro. Ele era gentil e engraçado, e quanto mais ele falava sobre as viagens que tinha feito, mais ela invejava a vida que ele tinha. E John só tinha mais certeza que havia encontrado a pessoa certa para ir mochilar com ele pelo mundo.

– Rose... – ele começou, enquanto ajudava a garota a lavar a pouca louça que usaram (e, ele insistiu, a acumulada também) – Você disse que ainda estava em débito comigo, certo? E mesmo que você não realmente esteja... – ele fez questão de frisar – O que você acha de viajar comigo?

– Como assim? – ela perguntou, sem ter certeza que ele estava sugerindo o que ela achava que ele estava sugerindo.

– Eu estou indo pra Suíça amanhã. Fiz um amigo da última vez que fui e vou visitá-lo. Claro, vou passar por outros lugares antes, vai ser bem legal, devem ser uns quinze dias...

– Doutor... – ela o interrompeu – Por mais que eu ame a ideia, e agradeço o convite... Não sei se eu posso, tenho meu trabalho e... Bom, meu trabalho é bem importante.

O que ela não queria admitir é que estava também com medo de ir. Largar tudo e ir com um anônimo para outro país... Era demais para ela, uma pessoa que sempre havia vivido ali tentando assumir o menor número de riscos possíveis. Além disso, eles iriam com que dinheiro? Ela não tinha nenhum sobrando de verdade. Quem cuidaria do seu apartamento? E, querendo ou não, manter o emprego era de fato importante.

– Entendo. – ele concordou, e realmente entendia que aquilo era um grande passo para Rose – Posso tentar te convencer mesmo assim?

Ela sorriu de leve, assentindo. Ele era impossível! E ouvir não arrancaria pedaço.

– Todos nós só temos uma vida, então qual o sentido se não fizermos o que queremos? Qual o sentido de não viver intensamente e agarrar todas as chances que conseguimos? De repente, nós somos velhos e, quando olhamos para trás, vemos que nada aconteceu de verdade. Eu quero olhar para trás e lembrar dos lugares bonitos que vi e das pessoas interessantes que conheci. – ele a olhou com olhos brilhantes – Olha, eu prometo ser uma ótima companhia. E sinceramente, se eu não achasse que nós nos daríamos bem... – ele fez uma careta – Eu nunca teria te convidado.

Era a primeira vez que alguém lhe fazia uma oferta tão tentadora. No fundo, ela queria dizer sim agora. Aquela vozinha na sua cabeça quando você está no alto de um prédio dizendo “pula, pula!” gritava para que ela aceitasse. Mas não era uma decisão tão fácil assim.

– Eu vou te deixar o endereço do hotel que eu estou, e o número do meu quarto. – ele disse, quando viu a dúvida no rosto de Rose e uma chama de esperança acendeu em seu peito – Como eu disse, só vou partir pra Suíça amanhã. Se você quiser, bata na minha porta.

– Eu vou pensar – ela respondeu, e ele ergueu uma sobrancelha, fazendo com que ela acrescentasse – Com carinho, vou pensar.

– Pense com o coração – ele pediu, abrindo o mais glorioso dos sorrisos.

Tudo depois foi rápido demais. Ele dobrou os lençóis no sofá enquanto ela trocava de roupa para o trabalho, e quando os dois desceram, foi após um longo abraço de quebrar as costelas que eles seguiram direções diferentes.

– Até mais ver, Rose Tyler – ele disse quando finalmente a soltou do abraço.

– Você virá me visitar, certo? – ela perguntou, esperançosa. Seria legal revê-lo quando ele estivesse novamente em Londres, sair para comer alguma coisa ou algo assim. Ou só sentar no pequeno jardim do prédio e admirar as estrelas enquanto conversavam, isso também seria o suficiente.

– Claro! – e com uma piscadela, ele completou: - Mas eu espero que eu não precise.

E foi com essas palavras e um aceno que ele seguiu seu caminho. Pretendia rever uma velha amiga para um café aquela amanhã, e tinha certeza que Donna o arrastaria para visitar seu avô, o que, na verdade, não era ruim. Ele amava Wilfred Mott tanto quanto amava a neta dele, eram ambos amigos que lembrava com muito carinho e consideração.

Rose parou no ponto de ônibus, tentando se proteger da chuva fina segurando o casaco mais próximo de si. O local estava cheio – como sempre, aliás – e o ônibus atrasou, além de vir lotado e ela ser obrigada a ir em pé espremida entre um banco e um cara que não sabia da existência de sabonetes ou desodorantes.

Se John estivesse ali, nada daquilo aconteceria, ela apostava. Eles provavelmente ganhariam uma carona numa Ferrari, porque ele tinha essa sorte. Rose suspirou pela enésima vez naquela manhã.

E pelo atraso do ônibus, ela chegou igualmente atrasada na loja, tendo de ouvir mais uma vez de seu chefe. E logo ela, que tinha ficado até altas horas na noite anterior trabalhando para ele – sem receber hora extra! - e nem tinha chegado tão atrasada assim.

Ela pendurou o casaco úmido no seu gancho na sala dos funcionários e tentou ter coragem para enfrentar o novo dia.

Pensando depois, ela tinha que admitir que foi até um dia calmo. Poucos clientes, a maioria das colegas ocupada lixando as unhas ou qualquer coisa parecida... Mas ela não conseguia parar de fantasiar sobre como seria conhecer novos lugares, e como seria divertido fazer isso com o Doutor. Sua mente passeava pelos mais fascinantes locais (e talvez pelo interior da Escócia, que ela fez questão de pesquisar fotos no seu celular de como era, quando ninguém estava olhando) e quando ela olhava de volta para a realidade, ela parecia mais cinza e decepcionante que o normal.

Pela primeira vez, Rose tinha se cansado de passivamente aceitar as infelicidades da vida e quis correr atrás do que a fazia sorrir.

A última gota foi no almoço, enquanto presa numa enorme fila para comprar peixe frito com batatas (um dos poucos pratos que seu bolso tinha condições de provê-la), ela decidiu que preferia comer um Älplermagronen. E direto da fonte. Ela, aparentemente, teria que ir a Suíça então. Parecia muito conveniente.

Ela abandonou a fila e voltou à loja só para buscar sua bolsa – imagina largar essa que foi a grande causadora de tudo – e deixar o crachá, para nunca mais voltar. E quem ligava para desconto de funcionários? Eles não a compravam um croute au fromage.

E por cinco minutos, enquanto dançava pelas poças do centro de Londres, Rose não se preocupou com nada. Depois, ela considerou todo o aspecto “oh, eu acabei de me demitir” e “com que dinheiro eu vou viver esse tempo?”.

A última pergunta que se fez, no entanto, foi “quando eu vou começar a viver de verdade?”. Agora. Rose queria agora. Ela poderia tentar outro emprego quando voltasse, ou até arrumar algum nas paradas que fizerem. O Doutor também vivia assim, entre trabalhos, e apesar de realmente parecer um pouco desnutrido, ele parecia também feliz. Ela queria ser feliz.

Talvez, se ele arrumasse algo para fazer, ela pudesse ajudá-lo e ganhar alguma coisa também. Isso não era importante agora. Preocupações não eram um maravilhoso maritozzi – e, sim, ela estava com fome e não conseguia parar de pensar em comida.

E, acima de tudo, era só uma viagem. Ela poderia voltar em duas semanas e tentar o emprego de volta (mesmo que, pensando bem, ela odiasse aquele lugar). Seu apartamento, suas coisas, elas continuariam ali, esperando por ela.

Rose chegou ao seu apartamento novamente e subiu as escadas aos pulinhos, pegou sua mochila, sua maior e única mala debaixo da cama e teve certeza que fazia a coisa certa.

(...)

Enquanto isso, do outro lado da cidade, John Smith, vulgo Doutor, tomava chocolate quente de uma garrafa térmica, sentado ao pé da barraca de camping de Wilfred, que podia passar a noite inteira ali, perdido nas estrelas, com seus com sua melhor amiga.

Ele estava perdido em algo que não era as estrelas, mas era tão brilhante quanto. O sorriso e os olhos de Rose Tyler. Ele via tanto potencial nela, ela merecia uma chance de ser feliz. Tudo o que ele queria era ver aquele sorriso mais vezes no rosto da loira...

Parecia estranha essa vontade, sendo que tinha acabado de conhecê-la, mas ele tinha um bom olho para pessoas no geral, e sabia que Rose merecia o melhor. Ou pelo menos mais do que ela andava recebendo da vida.

– Por que o senhor está tão aéreo? – Donna o cutucou – Em outra situação, eu diria que não está gostando da minha companhia.

– Não seja boba, Donna. Você é ou não é minha melhor amiga? – ele ergueu uma sobrancelha desafiadora para ela.

– Claro que sou. E é por isso mesmo que você deve me contar.

– Eu conhecia uma garota... – ele começou.

– Ah, é isso... Bem, eu não sou a melhor com conselhos amorosos, mas... – ela o interrompeu – Não importa, corra atrás.

– Donna! Será que eu posso terminar? – ele reclamou – Eu a conheci, e não é desse jeito. Mas ela leva uma vida tão triste. Eu não acho que ela mereça isso, eu queria levá-la para viajar comigo. Só uma vez, apenas esses quinze dias até a Suíça.

– Mas ela se sente insegura com isso? Com viajar junto a um estranho, deixando toda a sua vida para trás? – ele assentiu para a amiga – Sabe, foi exatamente assim que eu me senti quando você me convidou aquela primeira vez até a Rússia. Fora eu ter achado que você era um tarado, claro. – ela sorriu de leve então – E sabe, foi a melhor decisão da minha vida, e hoje em dia eu não me arrependo por um segundo dela. Eu te conheci, e tive a chance de fazer algo que sempre sonhei. Mas não dá para negar que é uma decisão difícil de tomar.

– Você acha então que eu deveria insistir?

– Acho que o meu primeiro conselho ainda está de pé: corra atrás.

– Você é demais, Donna, é bom que saiba disso! – ele sorriu, debruçando-se para abraçar a amiga – Definitivamente a melhor!

– É bom que eu seja mesmo! – ela o abraçou de volta – Agora, vá lá!... Como é mesmo o nome de essa sua amiga?

– Rose. – ele deu o maior de seus sorrisos – O nome dela é Rose.

Depois de diversas despedidas e promessas que voltaria o mais cedo que pudesse e tudo mais, ele correu até o hotel. Tinha esquecido o celular em cima da cama, o atrapalhado, e pretendia ligar para a Rose assim que pusesse os pés no quarto. Foi uma surpresa, então, quando chegou ao hall do hotel e a viu discutindo com a recepcionista.

– Eu juro que não sou uma doida qualquer! – ela exclamava – Eu sei o número do quarto, eu estou te dizendo o nome dele. Completo! Eu preciso subir, é uma surpresa!

– Eu já te disse, senhorita. – a moça suspirou, cansada da insistência – Eu não posso te deixar subir se ele não está aqui. Você vai ter que me perdoar.

– O que está acontecendo aqui? – ele chegou sorrateiramente por trás dela, e não pode esconder o sorriso em sua voz. Ela estava aqui.

Com o susto, Rose quase voou para o outro lado da sala. De fato, ela voou, mas para os braços de John logo atrás de si.

– John! – ela gritou, talvez alto demais para o hall de um hotel, enquanto o abraçava. Quem mesmo se importava?

– Rose! Você está aqui! – ele ergueu-a e girou-a pelo espaço vazio – Você vai mesmo comigo?

– Não, essa mala aqui é pra carregar minha geladeira, fiquei com medo de sentir fome vindo de casa até o seu hotel. – ela brincou, a língua entre os dentes como sempre fazia ao rir da cara de alguém assim.

– Muito engraçadinha a senhorita... – ele retrucou, enquanto chamava o elevador, com ela já posta no chão novamente. – Posso perguntar o que a fez mudar de ideia?

– Você tinha razão, sabe. Do que vale a vida se não vivermos ela? Nós só temos essa, então temos que fazer o melhor com ela. Eu tenho que me permitir se feliz.

– Bem, eu sempre tenho. – ele deu de ombros, escondendo o sorriso ao dar as costas para ela e entrar no elevador. – Mas concordo. Você, Rose Tyler, merece, mais do que qualquer um, ser feliz.

– Bobão. – ela deu uma cotovelada nele ao entrar também – Nós vamos nos divertir, certo?

– Mais certo impossível!

E a partir do momento que as portas daquele elevador fecharam e ele foi buscar sua mala para ambos partirem, a vida de Rose Tyler nunca mais foi a mesma.


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Notas finais do capítulo

Desculpaaaaa pela demora povinho, eu tenho uma desculpa muito boa: meu notebook tinha ido pro conserto e o capítulo foi escrito em um outro emprestado, e eu esqueci de passar pro meu de volta. Além disso, eu tive um mês super difícil com fim de greve, final de período... Mas está tudo certo agora!
Espero que tenham gostado! Esse é, teoricamente, o último, mas eu deixarei a fic sem marcar como finalizada por um tempinho porque VAI QUE surge algo. Mas não acho que vá surgir. É só para alimentar as esperanças de vocês.
Obrigada a quem leu e comentou (seja por aqui ou pelo twitter), e espero que tenhamos outra oportunidade de nos amarmos assim muito em breve



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