A Seleção da Herdeira escrita por Cupcake de Brigadeiro


Capítulo 29
Como se eu fosse te perder | A Elite


Notas iniciais do capítulo

Oi! Oi! Como vão? *sorrindo torto, acenando serenamente* Muito obrigada pelos comentários no capítulo anterior, todos eles me animam muito! Espero que gostem desse, pessoal! Um beijão para todos, e eu espero que estejam aproveitando bastante esse dia das crianças! ♥ :) E o Josh, bem, que esteja sendo um aniversário bem divertido, não?
Espero que gostem do capítulo!



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Então eu vou te amar como se eu fosse te perder

Eu vou te abraçar como se eu estivesse dizendo adeus

Aonde quer que estejamos, não vou te desvalorizar

 

Pois nunca sabemos quando

Quando ficaremos sem tempo

Então eu vou te amar como se eu fosse te perder

Então eu vou te amar como se eu fosse te perder

 

Num piscar de olhos, uma tragada

Você pode perder tudo, a verdade você nunca saberá

Então eu vou te dar um beijo longo, amor, em qualquer oportunidade que eu tiver

Eu vou aproveitar muito os minutos e amar sem arrependimento

 

Vamos aproveitar para dizer o que queremos

Usar o que nós temos, antes que tudo se vá

Pois, não, o amanhã não nós é prometido

— Like I'm Gonna Lose You, Meghan Trainor ft John Legend

— Peeta, você precisa acordar — Layla disse, em um tom baixo, balançando meu ombro. — Por favor, é urgente. E os seus irmãos precisam ir para o quarto dos seus pais. Convocação Real.

Abri meus olhos, suspirando, me afastando um pouco de Amélia, que estava toda mole em um sono profundo, serenamente.

— O que aconteceu? São que horas? — perguntei, me sentando, com os olhos ardendo e a voz rouca, sem me importar com o cabelo todo para o alto. — Eita.

São nove e dez da manhã, está até tarde, na verdade, mas pensei que fôssemos acordar pelas onze da manhã, onde ficaríamos à vontade com nossas famílias.

Meus amigos se entreolharam, nervosos e com uma expressão abatida.

— Seus irmãos precisam ir para o outro quarto, você tem vinte minutos — Stefan disse, realmente sério e abatido. — Agora.

Despertei em um piscar de olhos, acordando meus irmãos, com exceção de Ben, que continuou dormindo e foi nos braços de Stuart, que apenas me deu um abraço rápido, quase caindo, enquanto Amélia colocou um braço por cima de seus ombros, e saíram abraçados depois que ela me mandou um beijo no ar, com um rosto altamente sonolento.

Em passos silenciosos, tomei um banho rápido, apenas para acordar, e vesti as roupas todas pretas, sem nenhuma outra cor além do azul marinho na minha blusa por baixo, para identificar meu Distrito.

— O que foi que aconteceu, gente? — perguntei, um pouco assustado. Todos estavam com uma expressão um pouco sem acreditar, com um misto de infelicidade absoluta. — Gente!

— Ordens de cima. Não podemos dizer o que aconteceu, e você está atrasado — Júlia disse, séria, escovando rapidamente o meu cabelo com o secador, que não levou mais de dez minutos.

Meus amigos pediram para eu seguir para o Grande Salão, e quando cheguei lá, Gale, Cato, Calvin e Blane estavam com roupas semelhantes as minhas, mas com outras cores da camisa, por cada um ser de Distritos divergentes. Finnick não estava ali.

— Vocês sabem o que aconteceu? — perguntei, sem sentir nenhuma vergonha. Todos pareciam sem saber o que acontecia, mas ainda sim, não custava perguntar. — Onde está o Finnick?

— A gente não sabe também — Blane respondeu de imediato. — Mas acho que não vamos para uma festa. E seja o que for, Finn vai ser parte do que vai acontecer.

Disse, em um tom baixo, mas todos nós ouvimos.

Então, os pais e irmão de Finnick apareceram do outro lado do Grande Salão, escoltados por guardas, e pareciam que tinham visto... alguém morto. Senti um frio na espinha, que congelou por uns segundos todos os vasos sanguíneos, e os outros Selecionados pareciam estar no mesmo estupor.

— Sigam-me — Effie pediu, séria, com roupas discretas, diferentes da festa ontem, onde ela estava fantasiada de borboleta. Hoje vestia uma calça social bege, e blusa de manga comprida e botões pretas, com um colete da mesma cor, sem maquiagem chamativa, apenas essencial para ser discreta, e realmente ela estava vestida para ir a um velório.

Nós a seguimos, em silêncio, e a cada passo era possível sentir toda a tensão no ambiente.

Entramos em um carro preto que coube todos nós e poderia ter mais cinco, com os assentos de couro claro, seguimos para fora dos portões principais, que só haviam sido abertos quando chegamos.

Effie não estava nesse carro, mas só passou para nós que não era para haver qualquer sorriso ou simpatia com a multidão por nossa parte, o que até me deixou internamente constrangido, e acredito que tenha sido com todos os outros, pois o tom dela estava afiado como uma faca amolada.

Ninguém se atreveu trocar uma palavra, sequer comer ou beber alguma coisa no período de uma hora, até que começamos a ouvir gritos calorosos, com muitos aplausos, fazendo que nós cinco trocássemos olhar, sem entender muita coisa. Todos do lado de fora soavam... felizes.

— Saiam — Um soldado pediu, com uma arma grande em mãos, não apontando para a gente, obviamente, mas aquilo era intimidador de mesmo modo.

Não foi nem um pouco difícil ignorar todos os gritos e chamados, toda a vibração, já começando pela parte que eu nunca gostei disso. Passei sério, sabendo que era a mesma posição que os outros Selecionados tinham, como se a multidão não nos merecesse.

Claro que eu não queriam que fizessem pensar que eu me sentia mais que alguém ali, e agisse de forma tão incomum e politicamente errada, mas eu sentia que algo nada bom estava prestes a acontecer. Nada bom mesmo.

Nos direcionaram para uma arquibancada, em uma zona separada, com vista privilegiada para um palco, com estruturas bem diferentes do habitual. O ambiente estava totalmente lotado, embora não fosse o maior estádio de Angeles, e sim um dos seus menores. Ali tinha aproximadamente dez mil pessoas, muitas câmeras, muitos jornalistas, uns com blocos de anotações em mãos e outros com um microfone de frente para grandes filmadoras profissionais, dizendo coisas das quais eu realmente não fazia ideia do que era, pois essa nossa zona era um pouco localizada no alto, com a visão absolutamente nítida do palco e do que acontecia ao nosso redor, de mesmo modo que eu acho que poderíamos ser vistos pelas laterais, que são transparentes.

O acesso até o centro também é muito simples, basta descer três lances de escadas.

A minha família apareceu, juntamente com as outras, incluindo a de Finnick, mas se sentaram em uma zona ao lado da nossa, onde uma placa de plástico acrílico transparente nos dividia. Ver o senhor e senhora Odair naquele estado só me deixava pior e mais nervoso. O que me deixava melhor era pelo fato que eu não era o único assim, mas todos.

Quando Katniss chegou, sem sua irmã, com os olhos um pouco perdidos, atrás de seus pais, olhando claramente tensa para o palco, embora discretamente, eu sabia que algo sério demais ia acontecer. Só que ela não olhou para mim. Depois que chegou à nossa zona, que era a mesma dela e de seus pais, não olhou mais para o centro do palco, não chorou, não procurou os olhos de ninguém, apenas ficou mais séria, em suas roupas cinzas e pretas que lhe caíam muito bem, mas talvez em uma ocasião onde ela estivesse sorrindo fosse melhor. Até a jaqueta para ocasiões especiais, claramente da realeza, lhe servia perfeitamente, mas realmente seria melhor se ela abrisse um sorriso sincero.

Olhei para os meus pais e irmãos, Ben estava sonolento, mas tentava prestar atenção nas coisas no colo do meu pai, Amélia estava abraçada à Stacy, parecia querer dormir, mesmo com toda a euforia das pessoas, me dando vontade de dar um sorriso sincero para aquela cena, mas não o fiz. Stuart estava distraído com os botões de sua blusa, balançando levemente o corpo, talvez cantarolando baixo alguma música, e Amanda conversava com a minha mãe, que assentia, com uma expressão neutra, mas interessada.

Voltei meus olhos para o centro do estádio, apertando um pouco os olhos, para poder entender aquelas duas estruturas...

Então meus lábios se entreabriram, e todo o ar saiu dos meus pulmões.

Meu Deus.

A mesma pilastra que prenderam Stuart uma vez na praça do Sete, e ao lado, uma espécie de retângulo, sustentado por duas madeiras grossas e fortes, com dois espaços em seus extremos.

— Gale... — falei, tocando no braço do moreno ao meu lado. — Olha bem para aquilo ali.

O rosto dele tinha uma expressão de pasmo.

— Eu já vi a segunda no meu Distrito. Você acha que... — Quando virou seus olhos para mim, a gritaria foi ainda maior, e eu senti que meu coração ia sair pela minha boca.

Levamos nossos olhos para o centro, onde guardas puxavam Finnick por correntes atadas em algemas, que estava com a bochecha sangrando, assim como o nariz. Suas roupas tão bonitas da noite passada estavam sujas, como se tivesse lavado na sujeira. Seu cabelo estava uma bagunça também, como se tivesse pego um secador e gel, passando por todos os fios.

Mas Annie, se não me engano esse é o seu nome, conseguia estar pior. Parecia que tinha sido mergulhada em uma piscina de lama, deixando apenas seus fios ruivos de fora, ainda presos na trança embutida da noite passada.

Sua sobrancelha sangrava, assim como o canto de sua boca. Juntei as minhas mãos no meu colo com força, por não estar conseguindo acreditar no que eu via, e no que está prestes a acontecer!

Céus... — Blane murmurou, perplexo, como todos.

Finnick levantou os olhos, um pouco fechados por causa da luz do Sol, e nossos olhos se encontraram por uma fração de segundos, mas ele logo voltou a olhar para baixo, com passos doloridos. Ergueu o olhar mais uma vez, procurando alguém na multidão, então, eu olhei para os seus pais, que estavam uma cabine ao lado da das famílias dos Selecionados, incluindo a minha. Sua mãe tremia, aos altos soluços, enquanto o irmão mais velho e o pai tentavam ser um pouco mais fortes, mas não parecia funcionar tão bem assim.

Porém, em meio a toda a dor, a toda angústia e sofrimento, os dois estavam próximos e andavam com um certo orgulho, davam passos um pouco mais decididos.

Não. Não, não, não...

Quando subiram ao palanque, um homem de máscara começou a falar, e a multidão se calou por para pode ouvi-lo. Mas de forma ou outra, algo semelhante já tinha acontecido, pois todos sabiam como agir ao procedimento.

— Finnick Odair — o homem anunciou —, um dos Selecionados, filho de Panem, foi encontrado na noite passada em um momento de intimidade com esta mulher, Annie Cresta, membro de confiança da Família Real.

A voz exalava arrogância e prepotência exagerado, como se nos contasse a cura de uma doença mortal. As pessoas vaiaram essas acusações, que me deixaram com um frio ainda maior na espinha.

— O senhor Odair quebrou seu voto de lealdade à nossa princesa Katniss! E a senhorita Cresta roubou algo que pertencia à família real através de suas relações com o senhor Odair! Temos aqui um crime de traição à família Real!

Gritava, e a multidão concordava, aos gritos, ansiosas para a punição.

Mas eu não conseguia compreender aquilo tudo. Não sabem que é o Finnick ali? O melhor amigo de todo mundo, simpático, confiável, gentil e engraçado, que nunca poderia fazer mal à vida de ninguém?

Empurraram Finnick com toda a raiva do mundo, fazendo-o ficar de pé na frente da pilastra rude, onde prenderam suas mãos com força, agoniando até mesmo quem só assistia a cena, assim como sua cintura, deixando suas costas nus, depois que tiraram fora sua blusa de forma nem um pouco cuidadosa. De antemão, jogaram Annie no chão, forçando-a ficar de joelhos, prendendo as mãos dela com força completamente desnecessária, prendendo suas palmas para cima.

— Este crime é punível de morte! — exclamou, ainda mais alto. — Mas em sua misericórdia, a princesa Katniss poupará a vida desses dois traidores. Vida longa à princesa Katniss!

A multidão, em coros, gritaram "Viva à princesa Katniss!" quatro vezes, mas quando olhei para a Princesa, ela estava com os olhos fechados, desviando o rosto, como se repugnasse tudo aquilo. Posso jurar que vi uma lágrima no rosto de Katniss, com toda a certeza.

Voltando meus olhos para a cena, onde ninguém conseguia desviar.

Não foi à toa que nos deram lugares na parte privilegiada, na primeira fileira, bem próximos a toda a cena: seria aquilo – ou pior –, que aconteceria conosco se fizéssemos igual ou qualquer coisa semelhante. Mas de onde eu estava, podia ter acesso ao que realmente importava.

Annie e Finnick se olhavam, bem dentro dos olhos, trocando algumas coisas. Eu podia ver melhor o rosto de Annie, mas conseguia ver o quão preocupado Finn estava com ela, e ela com ele. Ambos estavam cobertos de medo, e isso era claro.

Porém, também estava claro o quanto eles se amam.

— Eu amo você — Finnick disse, chorando, mas mantendo os olhos dentro dos dela. — Me desculpe, Annie.

Ela chorou mais, mas ainda sim, eu vi um sorriso em seu rosto, podendo reconhecer a sinceridade dele.

— Eu também amo você — só sei que foi isso o que ela disse porque estava perto, e quando eu estava assustado, preocupado, meus olhos me faziam enxergar melhor. Mas mesmo que estivesse longe, pode-se saber que se amam, e que estão cheios de amor um pelo outro. Com certeza, eles se amam muito, para terem se exposto tanto, correndo tantos riscos...

— Finnick Odair e Annie Cresta, vocês estão destituídos de seus Distritos. São os mais inferiores dos inferiores! São Oito!

A multidão vibrou, animada, o que para mim foi um grande absurdo. Eu sou um Sete, e os Oito, não gostariam de ser chamados dessa forma. Será que não entendem o quão ofensivo essa frase é?

— E para inflingir em ambos a vergonha e a dor que trouxeram à Sua Majestade, vocês serão açoitados com vinte golpes. Que suas cicatrizes lhes recordem de seus muitos pecados!

Eu não posso acreditar no que ouvi.

Os outros dois mascarados que prenderam Finnick e Annie tiraram longas varas de um balde d'água quente – pois podíamos ver a fumaça –, e começaram a agitá-las nos ar algumas vezes para testá-las, e a cada corte no ar, meu coração falhava mais, assim como a minha respiração. Meus dedos formigaram. As pessoas presentes aplaudiram aquele aquecimento com a mesma empolgação e a mesma adoração que dedicaram aos Selecionados minutos atrás.

Em questão de segundos, o dorso de Finnick seria arrebentado, em um idioma mais claro, assim como as delicadas mãos de Annie... E eu não podia ficar sem tentar fazer alguma coisa.

Mas nada conseguia sair da minha garganta, nenhuma palavra sequer.

— Eu não sei se vou conseguir dormir por um ano depois disso — Calvin disse, sem acreditar com o que assistia.

Cato estava em um estado de choque tão grande, que cobria a boca com uma mão, um pouco curvado, com os cotovelos nas coxas, sem acreditar, claramente, naquilo tudo. Gale, não tirava os olhos da cena.

Oh, Céus, Finnick... o que foi que você fez, irmão — sussurrou, balançando a cabeça em negativa. Duvidei que pudesse souber de alguma coisa, mas não era momentos para questionamentos.

Quis me levantar, mas meu pai olhou para mim, balançando a cabeça em não, mordendo os lábios, e eu obedeci, mas não queria. Meu sangue fervia de pura raiva e indignação nas minhas veias. Não era para fazermos alguma coisa?

Sim, é para tentar fazer alguma coisa.

Virei-me.

— Katniss! — gritei, mas ela não olhou para mim. — Katniss! Faça alguma coisa!

Pedi, quase chorando por ter que ser obrigado a ver aquela cena toda, mas ela não olhou para mim.

— Katniss! — chamei ainda mais alto, sabendo que ela escutava. Ela não é surda, e sabe muito bem aonde eu estou, menos de dois metros de distância.

Blane e Gale, que estavam ao meu lado, não reclamaram por eu estar chamando ela, muito pelo contrário, também olharam para ela, embora sem dizerem nada, e todos ali pareciam concordar de forma unânime que é injusto e muito, muito errado o que está acontecendo. Aprovavam minha atitude, mas de forma silenciosa.

— Não acho que ela possa fazer alguma coisa a essa altura do campeonato, e se tiver alguma coisa que possa ser feita, não acha que já o teria? — Cato se pronunciou, virando-se para mim, desviando o olhar da família Real. — Sem chances. Ela não vai fazer nada. É o proce...

Antes que pudesse terminar, berro de Annie preencheu nossos ouvidos, esvaziando nossos pulmões. Era como um cachorrinho na chuva sendo chutado da forma mais severa. Mas no final, era exatamente essa a forma pela qual estavam sendo tratada, ela e Finn, na verdade, como dois animais doentes.

Olhei para a cena, sem conseguir entender como puderam nos trazer para cá, e pior, obrigar que nossas famílias também presenciem a cena.

Finnick trancou o maxilar, fechando os olhos com força, e eu senti a dor dele por aquele instante, desejando desesperadamente fazer com que ele e Annie sejam livres daquilo tudo.

Um! — o homem exclamou, e eu podia jurar que sorria. Desgraçado.

Mais uma vez o golpe foi repetido, e Finnick oscilou.

Eu me mexi no meu lugar, sentindo a raiva subir cada vez mais, ainda mais depois que o guarda ordenou que eu ficasse no meu assento em silêncio.

Dois! — Annie gritava de dor, mexendo-se um pouco, tamanha dor, e eu sabia que não conseguiria permanecer até o final, principalmente depois que vi meus irmãos assistirem aquilo, e Ben com o rosto no colo de papai, tremendo de tanto chorar, em plenos pulmões, assustado.

Senti muita, muita raiva de Katniss também, e ódio de seus pais por permitirem que meu irmão de cinco anos tenha que assistir a uma coisa dessas, e que algo assim ainda aconteça.

Três!

Finnick gemeu, mexendo-se quando a vara abriu um corte grande em suas costas, que foi o fim para mim. O corte pegou de seu ombro direito até uns dois dedos antes da cintura. Era um corte em todos os Direitos Humanos.

Olhei para Amélia, que estava com os olhos marejados, abraçada ao próprio corpo, mas seus olhos se encontraram com os meus. Não precisei trocar nenhuma palavra, sei que ela entendeu que eu queria ir e me esforçar para algo quanto aquilo tudo se resolvesse. Em um leve manear com a cabeça, ela fez que não, e aquilo acabou comigo, tanto quanto ter ouvido o homem mascarado gritar um "Quatro!", e os berros de Annie preencherem meus ouvidos.

Só que eu não sou alguém que gosta de obedecer por tanto tempo assim. Já são quase três meses seguindo milhares de regras e respeitando limites. Uma hora a gente cansa e precisa agir por nós mesmos.

Levantei-me, com uma expressão séria, passando por Blane, já que Cato e Calvin estavam nos dois assentos abaixo, mas no mesmo gabinete que nós.

— Peeta! Aonde você vai?! — Calvin perguntou, sem acreditar.

— Tentar salvar a vida de alguém — respondi, passando por ele, e depois pela porta, que fechei atrás de mim, sentindo o olhar de Katniss e sua família sobre mim, assim como dos meus irmãos.

— O que você vai fazer? Volte para o seu lugar! — Um guarda exclamou, segurando meus braços com força, impedindo que eu passasse. Até me pressionou contra a porta, com agressividade.

— Eu quero passar agora! — sinalizei as escadas, as que davam para o centro do estádio. Não tinha guardas no meu gabinete, mas do lado de fora estava cheio, e foi só eu cruzar a porta que começou.

— Você não pode, moleque. Precisa obedecer as ordens do rei e da rainha! — gritou, pois eu tentava a todo jeito passar, tentando empurrá-lo, achando isso um outro absurdo. Não pode mais tentar nada nesse país.

— Não vai mesmo deixar eu passar de boa? — o mascarado gritou "Seis!", e toda fúria em mim se acendeu ainda mais intensamente.

— Não! Você não pode passar daqui, seu louco!

E no instante seguinte, o joguei no chão, com um golpe de defesa que aprendi nas aulas com o treinador, e comecei a descer correndo, quase caindo algumas vezes, encostando a ponta dos dedos no chão umas cinco vezes, pelo menos, mas eu necessito fazer isso, Finnick e Annie precisam de ajuda, essa forma de punição definitivamente não é a mais correta, isto é, se amor precisa de alguma punição.

— Ei, garoto! — Algum guarda exclamou, enquanto eu descia, tentavam me segurar, mas eu era mais rápido, esquivando-me deles e de muitas pessoas que tentavam tocar em mim também, já que a parede transparente e alta, mas nem tanto assim. — Segurem ele! Não o deixem passar!

Quando eu estava quase chegando na parte principal, o homem mascarado estava no nove, e Finnick, de joelhos no chão, por não aguentar mais. Não consigo mais ouvir sua voz, porque as pessoas estão ainda mais eufóricas, por me notarem tão perto delas, e também porque ele desmaiou.

Suas costas estão cobertas de sangue, assim como seu pescoço, por causa dos respingos, e também sua cintura, já que tanto escorria, manchando sua calça, que com certeza não há lavagem que tire aquelas manchas.

Passei com muito esforço, levando um soco nas costelas, que me fez ficar sem ar por uns dez segundos preocupantes, para me manterem longe da parte principal, mas consegui, e quando o fiz, ultrapassando a parte principal, as pessoas começaram a gritar ainda mais, apontando para mim. Olhei rapidamente para trás, vendo que ainda estou sendo seguido, porém, quando subi os três degraus, os guardas pararam, mas não as batidas completamente desenfreadas do meu coração, com meus pulmões queimando, e as minhas costelas doendo, assim como meus braços, por causa do soco que eu ganhei, senti uma grande vontade de chorar, por tudo, desde a atmosfera até o Sol escaldante acima de nós, sem nenhuma nuvem para deixar o dia um pouco melhor para suportar, porém, me mantive forte, entrando na frente da próxima vara nas costas de Finnick e mãos de Annie, sendo nocauteado antes que todos ali presentes se dessem toda a conta de que eu estava ali.

A vara passou assobiando alto embaixo do meu olho direito até o final da bochecha, e eu caí no chão, vendo estrelas, de tão forte que foi a dor. Apertei meus olhos, com as mãos sustentando meu corpo, cerradas, assim como os meus joelhos, virei um pouco o rosto na direção oposta do agressor. O que estou fazendo, perguntei a mim mesmo em pensamentos, e antes que pudesse lembrar de qual é o meu nome, ainda tonto por causa do golpe, pus me de pé, estável, abrindo um pouco os braços para não deixar que mais nenhum golpe seja dado no casal, que já não suportava mais.

— Como você ousa interromper uma punição de traição à princesa Katniss?!

O homem mascarado disse, e sua voz preencheu todo o ambiente, que puxou ar com força, prestando atenção em tudo. Um burburinho irritante surgiu entre a multidão, e eu sabia que todas as câmeras estavam apontadas na minha direção, assim como todos os olhares.

Amélia gritava em plenos pulmões por mim, junto com Stacy, Stuart e Amanda, mas eu não os dei ouvidos, e nem para ninguém. Fiz questão de manter os meus olhos fixados no homem de máscara, olhando bem dentro de seus olhos castanhos escuros que não estavam cobertos.

— Você tem três segundos para sair da minha frente — disse. Era isso? Todos assistiriam até eu ser punido também? Mas estou tão tomado pelo desespero de ver Finnick e Annie se acabarem tanto por simplesmente se amarem, que nada mais me importava naquele instante.

Não era para chamar atenção, não era para ganhar uma medalha, não era para ser inconveniente. A razão da minha atitude é para defender dois amigos.

— Um... — todo mundo estava tenso, até eu, com minha respiração ofegante, sentindo o suor no meu corpo, e o sangue escorrer pelo meu rosto, por causa do corte que a vara deixou. Mas não me importava. — Dois...

— Não vou sair daqui — eu disse, antes que falasse o três. Fiquei surpreso por ter conseguido falar em um tom suficientemente razoável para a minha voz ser ouvida no estádio, mesmo que um pouco baixa. Não vou voltar atrás depois de ter vindo tão longe. Finnick já está desacordado, com as costas carne viva, e Annie da mesma forma, porém suas mãos, e mesmo assim querem continuar?!

— Tudo bem — e pegou a arma, apontando para a minha cabeça. Gritos fora ouvidos de todos os lados. — Saia da minha frente, ou eu atiro.

— Vá em frente. Atira.

Falei, sério. O Sol batia no meu rosto, fazendo minha vista arder ainda mais, assim como o machucado. Poderia ouvir um alfinete cair no gramado em meio aquelas dez mil pessoas, que estavam com os rostos preenchidos com uma expressão de pura tensão e surpresa, pareciam pasmas com tudo aquilo. Ninguém ousava piscar. Nem mesmo eu, que mantive meus olhos nos do homem.

— Se quiser e precisar acertar mais um deles com essas coisas — indiquei rapidamente com a cabeça para as varas com sangue nas mãos dos outros mascarados — vai ter que atirar em mim primeiro. Eu só não posso ficar aqui mais nenhum segundo vendo eles sofrerem tanto e não poder fazer absolutamente nada. Vai — levantei um pouco mais o rosto, só para desafiar ainda mais. — Atira.

Pude ver que ele estava muito, muito, muito irritado, talvez ficando vermelho, a ponto que a sua arma fez barulho, sendo carregada, e eu sabia que ia ser meu último minuto vivo, o que não me deixou assustado, por tão convicto de que o que estou fazendo é o que deveria ser feito, porém, Haymitch apareceu, entrando na minha frente, fazendo as pessoas puxarem audivelmente o ar.

— Hey, hey, hey, senhor, com licença, me desculpe — falou, com as mãos levantadas em rendição. — Não gostaria de interromper, mas eu preciso. Ele é um outro Selecionado, eu sei que não quer ter problemas — disse, em voz baixa, para não ecoar no microfone, o que foi bem-sucedido.

Não consegui ouvir direito o que ele falou, porque estou tonto com a corrida, a chicotada no rosto e o Sol ardente, mas fiquei de pé, mantendo a posição de que dava a indicar que eu não ia sair lá a menos que tudo aquilo terminasse.

No final da fala de Haymitch, que não durou nem um minuto, quase, o homem tocou a orelha, onde eu reparei que tinha um fone diferente, e em uma olhada rápida para onde eu deveria estar sentado, vi Gale de pé, tentando ver ainda melhor, assim como Blane. Amélia dava soluços, com as mãos na boca, olhando para mim, balançando a cabeça. Meu pai estava de pé ao lado dela, assustado, claramente assustado, com os lábios entreabertos, assim como todos da minha família, e Ben não ousava olhar para cá. Seu rostinho estava escondido no pescoço de papai. Minha mãe parecia que não via aquilo, distraída com as próprias mãos.

Porém, Katniss estava de pé, com as mãos na nuca, os lábios entreabertos, os olhos com as pupilas um pouco dilatas, por causa de tudo, e seus pais nervosos, bem nervosos, falando ao telefone juntos, olhando para ela, que olhava para mim. Seu desespero e preocupação estavam latentes.

— Você é louco — pude descobrir o que ela disse, ao mexer levemente os lábios.

Não respondi, apenas voltei a olhar para o principal mascarado.

— Como sua punição por ter interrompido o que foi ordenado pela Sua Majestade, pode poupar aquele que você conseguir levar com você sem a ajuda de ninguém!

Mais uma vez, as pessoas voltaram a conversar intensamente entre si, criando uma onda de vibração nauseante, ao menos para mim, e Haymitch precisou se afastar. Obrigado, agradeci com o olhar, embora sem abrir um sorriso. Eu realmente sou grato à ele.

— Você tem um minuto!

Só foi terminar de falar que eu me virei, indo até onde Finnick estava preso, desatando as fivelas grossas e rudes, sentindo o silêncio de pura curiosidade da multidão, mas eu não me importei com nada além de soltar Finnick e Annie, passando um braço de cada pela minha cintura, abraçando-os de lado, pondo-os de pé, mas era difícil assim, porque Finnick estava desacordado.

— Vamos, gente, por favor, força — pedi, quase chorando, com os meus olhos cheios de lágrimas de dor, pois não estava sendo fácil me manter de pé, tampouco os dois, que estão mais fracos do que eu. — Vamos lá, amigos, força!

Pedi, suplicante, desejando que Finnick conseguisse forças para pelo menos se manter de pé, pois dessa forma eu sei que conseguiria segurá-lo. Mas então tive outra ideia.

Peguei Annie em meus braços, ouvindo-a gemer de dor, mas rouca, de tanto que gritou momentos atrás, e passei suas pernas pela minha cintura, segurando-a com um braço, então, com o outro, consegui manter Finnick de pé. Estava tão difícil quanto antes, mas eu conseguia lidar um pouco melhor sozinho.

— Vamos, gente, vocês já foram tão fortes... Só alguns passos, Finn — pedi, sem conseguir segurar o choro, abaixando um pouco a cabeça para que isso não seja registrado tão claramente.

Dei um passo, com esforço, mas dei, sem olhar para trás ou para os lados, porém eu sabia que todos os olhares estavam em nós. Não senti falta dos aplausos ou dos gritos de animação. Senti falta do senso de humanidade. É por isso que estou chorando. As pessoas não conseguem mais sentir a dor das outras, e isso é absurdamente terrível. Quem aqui não consegue perceber o estado em que eles estão? Quem aqui não consegue enxergar o amor nos olhos deles, juntamente com inocência? E mesmo que ambos se odiassem, nada, absolutamente nada dá o direito de espancarem alguém até esse ponto, de deixar carne viva e desacordado.

Mas ainda sim, dei o segundo, o terceiro e o quarto passo, parando para endireitar Finnick, totalmente apagado por causa da dor extrema. Chorei mais um pouco, levantando a cabeça, pois eu não aceito deixar que passem por todo esse sofrimento simplesmente porque eles se amam, porque sabem que nossos sentimentos não são controlados por nada nem ninguém.

Olhei para os lados, e fiquei emocionado mais uma vez. Todas as pessoas, com exceção dos guardas e da família Real, tinham os três dedos levantados, como o sinal que fazemos em meu Distrito, que significa admiração, respeito, geralmente feito quando alguém morre, mas eu entendi os dois primeiros significados. Não estou sozinho no sentimento de que algo consideravelmente errado há nas leis e no mundo que tolera tantas medidas cruéis assim.

Consegui passar pelos portões, sem que ninguém me ajudasse, e era a sensação que meus braços íam cair e as minhas pernas quebrarem, mas antes que fechassem as portas, olhei para trás, vendo que ainda faziam o gesto dos três dedos.

Não consegui aguentar, e teria deixado Finnick cair se ninguém não tivesse tirado Annie dos meus braços. Caí sentado na maca depois que pegaram Finn com cuidado, mas todos estavam mais em cima de mim, fazendo perguntas para mim, enquanto eles estão bem piores que eu, claramente. Isso me irritou demais, mas estou sem forças para discutir.

Me colocaram dentro de uma ambulância, e Finnick com Annie em outra. Quis saber como eles estão, porém, a dor que eu sentia era intensa demais.

— Você fez muito por uma vida toda, apenas descanse agora — uma enfermeira gentil disse, cuidando do meu ferimento no rosto, com todo o carinho do mundo, mas ainda doía muito, e eu não conseguia compreender ou absorver tudo o que tinha acabado de acontecer.

Por sorte, a viagem até o palácio foi muito mais rápida do que para vir.

Não consegui dormir ou relaxar, por estar sentindo muitas dores, principalmente depois de todo o esforço, então foi decidido que apenas seria feito coisas maiores comigo quando eu chegasse na ala hospitalar, e a enfermeira não se incomodou, assim como a outra, apenas limparam para não infeccionar.

Caminhei escoltado – o que eu achei tremendamente desnecessário, quatro guardas armados em cima de mim –, até a sala de Maggs, onde eu não aguentei, desabando em lágrimas quando os guardas fecharam a porta.

Ela me envolveu em um abraço, e com um rosto compreensivo, provavelmente já sabia do que aconteceu.

— Me desculpa — pedi, chorando alto, em seu ombro, mesmo depois que ela me fez sentar na cama, em um quarto separado da ala. — Eu estou te dando trabalho.

— Shhhh... — pediu, fazendo carinho na bochecha que não estava machucada, cuidando da outra, passando um pedaço de algodão com alguma coisa que não deixava arder. — Você nunca me dá trabalho. Pode chorar e me contar tudo o que aconteceu.

E contei. Contei tudo, até sobre o quão aborrecido eu estava com Katniss, por ser tão ela, só ausentei a parte de Delly e do que falaram que eu não posso falar, como da Biblioteca e do que sei sobre rebeldes. Apenas contei sobre o que eu estava sentindo, e aquilo tudo o que aconteceu com Finnick e Annie foi um absurdo sem medidas, ainda mais que a minha família fora obrigada à assistir aquilo tudo, meus irmãos foram corrompidos com aquela imagem. Contei que quero ir para casa, sumir daqui, e só depois de muito tempo mandar uma carta para a Princesa, por mais que eu sinta que não posso ficar mais de um dia sem vê-la mesmo que de longe, e essa dependência fique maior a cada segundo.

— Nesse momento, por exemplo, eu quero que ela entre pela porta desse quarto, que fique do meu lado, mas ao mesmo tempo eu sinto tanta raiva por ter deixado algo assim acontecer! Mas eu sei que ela ama Annie, que é sua amiga, mas... Por que não luta mais? Isso me irrita tanto!

Maggs abriu um sorriso, fazendo carinho no meu cabelo, já que acabei por me deitar na cama confortável do quarto da enfermaria. Tirei meus sapatos, ficando apenas com meias novas e gostosas de usar.

— Você ama ela, não ama? — Corei totalmente, negando.

— Olha, ainda não... — falei, baixo, suspirando, sem mais lágrimas, mas sentindo o vestígio delas pelas minhas bochechas e as pálpebras ainda estão úmidas. — Eu a amo como amiga. Por esse lado, tenho grande afeição. Mas não é amor, Maggs.

Riu, me dando um abraço gentil, de uma avó, eu acho – já que nunca conheci nenhum dos meus avós –.

— Ai, ai... Vocês jovens são tão engraçados e confusos! Complicam a própria vida! — bufei, revirando os olhos, fingindo estar entediado. Ela riu mais. — Se ela aparecer, o que eu digo?

— Que estou com raiva, por hora. Muita, muita raiva. Não quero vê-la por enquanto, até eu descobrir quem está por trás de toda a maldade do que aconteceu com Finnick e Annie.

Ela assentiu, sorrindo torto. Olhava para mim como minha mãe olha em seus momentos de lucidez.

— Você tem o absoluto direito de ficar com raiva, ok? Está tudo bem, pode sentir raiva por um tempo, mas não deixe que o Sol se ponha e você ainda carregue isso com você. E sabe que ela fez, com certeza o que podia, não sabe?

Suspirei profundamente, fechando meus olhos, assentindo. O pior é que eu sei.

— 'Tô com raiva dela por não conseguir ter raiva. Mas eu posso facilmente ter uma séria discussão se a ver agora, por mais que eu queira abraçá-la. Eu devo ser louco. Ficar tanto tempo no palácio não tem me feito nada bem...

Admiti, suspirando, extremamente cansado, já que eu não havia descansado ainda.

— Não se preocupe — disse, com a voz risonha, ainda fazendo carinho no meu cabelo. — As melhores pessoas são assim.

Sorri, mesmo com sono, inclinando um pouco a cabeça para sua direção, sentindo ela afagar meus cabelos.

— Só tenta descansar, ok? — pediu e eu concordei, sendo tomado pelo sono gradativamente até que a última coisa que ouvi foi ela falando algo como eu e Katniss devemos estar apaixonados um pelo outro. Só que estou tão cansado em todos os sentidos imagináveis, que não abri nenhuma aspas.

Porém, nem se eu estivesse todo lúcido. O que eu poderia dizer contra?

~*~

A notícia pior quando cheguei em meu quarto foi que ordenaram que as famílias voltassem para suas casas, sem cerimônias ou despedidas, e o quarto nunca me pareceu tão gigante e solitário, especialmente sem a presença de Julia, Stefan e Layla, que estão em algum lugar por aí.

Fui liberado depois do café da manhã, na manhã seguinte, mesmo que sentindo algumas dores consideravelmente fortes de cabeça e perto do olho direito, Maggs me contou que não acertou meu olho por dois centímetros, mas em compensação, uma semana com a marca na minha bochecha da maldita vara.

Porém, fiquei avoado quando vi dois envelopes de cartas sobre a minha cama um em cima do outro. Pulei na mesma, sorrindo, feito uma criança, de bruços, rasgando o envelope, reconhecendo a letra do meu pai.

Caro Peeta,

se eu pudesse falar com você depois daquilo tudo, eu teria te dado um tapa na cara pela primeira vez em toda a sua vida, e um tapa bem forte. Onde você estava na cabeça quando fez aquilo?! Peeta! Oh, Céus...! Você quase matou a mim e Amélia (que, aliás, está nervosa até agora), enquanto seus irmãos não sabiam se riam ou se choram por você ter tomado aquela atitude no meio de tantas pessoas, na frente de tantas câmeras, porém... devo admitir que na verdade, nós sentimos orgulho de você. Mas queremos te matar por todo aquele susto. Matar mesmo. Louco! Seu louco!

Sei exatamente como é ver tanta injustiça e ficar de braços atados, muitas vezes, e te admiro tanto, tanto, que não faz ideia. Sinto orgulho por saber que seus irmãos também se espelham em você, mas pequeno... Por favor, tome muito cuidado. Você arriscou a sua vida em prol de algo incrível, mas precisa se lembrar que existem pessoas que te amam, e que te querem por perto. Não faço ideia do que seria da minha vida e da Amélia, em especial, se a Princesa não tivesse intervido! Você é importante, Peeta. Sua vida vale mais que todo o dinheiro, poder e luxo do mundo inteiro. Não se esqueça disso de vez em quando, por favor!

Então. Eu queria ter mais tempo com você, queria que conversássemos mais, a falta que sinto das nossas conversas é tão grande que não há nada que eu possa usar para comparar, e você também é o meu melhor amigo, por mais clichê que seja, e sabe disso, não é? Queria que tivéssemos um tempo mesmo, só para nos falarmos sem pressa, mas ordens Reais solicitaram que todos nós fôssemos embora. Os outros Selecionados também não puderam falar com suas famílias, se isso te serve de consolo, quem sabe?

Filho, infelizmente não posso escrever muitas coisas mais, por mais que seja a Delly que vá deixar no seu quarto esta carta (aliás, ela foi outra que quase morreu quando te viu lá na frente, sabia? E no aniversário dela!), temos um horário para estarmos no hall principal. Mas quero que saiba, que se eu pudesse dizer em uma palavra o que senti quando te vi indo lá na frente lutar por algo mais certo e justo, em nome de um amigo — mas sei que faria algo similar mesmo que não fosse seu conhecido —, depois de "pavor" por pensar que eu ia assistir você morrer na minha frente, pode ter certeza que é Orgulho.

Pense bem quando eu digo que a sua vida é importante, que existe uma família que te ama muito e uma garota que realmente se importa — Katniss —, e preza a sua vida. Pequeno, sempre que puder, faça a diferença . Tente mudar o que está errado, fale o que deva ser dito, não se esqueça do tanto que todos nós sabemos que você tem potencial para ser rei, para ser presidente, para ser qualquer coisa que queira e se entregar nisso, dando sempre o seu melhor todos os dias da sua vida. Você terá sempre o nosso suporte, e depois que eu vi todas aquelas pessoas fazendo o sinal do nosso Distrito, posso te garantir: você nunca, nunca mesmo, estará sozinho. Te admiramos de forma que não pode ser descrita nem com todas as estrelas do Universo, e o maior presente você já deu para mim e a sua mãe, que foi deixar você ser nosso filho e amigo.

Nós te amamos demais, você não faz ideia.

Com todo o orgulho do mundo e do Universo,

Seu pai.

Ps.: Pelo amor do Santo Deus de Israel, Peeta, arruma um papel e caneta, ou um telefone ou um fogo de artifício, mas por favor, nos diga como você está! Por favor, não se esqueça disso, nos diga como te trataram!

Sorri, um pouco emotivo por ler essas palavras. Mas antes que eu pudesse pensar em outra coisa, tinha um papel também, com a letra de Amélia, que não preenchia mais que sete linhas.

Não posso apostar, mas se pudesse, Peeta, todas as minhas fichas estariam em você. Se as coisas não estão bem, não se preocupe, você sabe, porque no final todas elas ficam.

Manda alguém furioso atirar em você mais uma vez na minha presença que vai seu quem vai te matar. Seu maluco!

Mas também, acho que posso começar a mandar Amanda fazer as coisas para mim, pois sinto que vou ser uma Um em pouco tempo... *arrumando os cabelos e a roupa, sorrindo, acenando como uma princesa*.

Ps.: Arruma um jeito e nos diga como você está! Maluco!

E... _|||_

Não se esqueça do significado desse gesto.

Li e reli a carta do meu pai, assim como a de Amélia, sentindo uma vontade enorme de sair daqui e os abraçar tão forte! A ponto de quase matá-los sem oxigênio!

Sinto-me sempre abençoado por ter nascido em uma família onde eu tenha tanto apoio, embora me corrijam e eu não goste, é totalmente necessário para o crescimento de alguém. Eu só tenho que sempre agradecer à Deus por isso. E também por sempre me sentir tão amado, sabendo que gostariam de estar aqui também, é claro, com todos os luxos, as comidas, todas as cores... quem não gostaria, saindo de onde eu saí? Mas a felicidade deles é sincera por eu estar aqui, se eu estou feliz.

Mais uma vez, li aquelas palavras todas, sorrindo, e guardei na caixa que eu tenho com todas as cartas.

Peguei a outra, que não tinha nome, e eu não sabia de quem era a letra. Só ocupava metade da folha.

Querido "Querido",

Céus, você sabe como fazer o coração de centenas de pessoas parar, não é? Especialmente o meu e o da sua família. Peeta, se você tivesse morrido, eu ia morrer junto, ou melhor, eu ia fazer voltar a vida, e te socar tanto por ter feito meu coração parar de bater por pelo menos um minuto. Não me surpreenderia nada se me contasse você estudou tudo com precisão para mexer tanto comigo e com todos ali presentes!

Peeta, a gente precisa conversar. Eu tenho que te mostrar um lugar... dois, na verdade, muito importantes para mim, e até lá, tem todo o direito de sentir raiva de mim pelo o que aconteceu, mas eu juro que tenho como te mostrar que eu tentei ao máximo para que aquilo não acontecesse. Mas também tenho culpa. Me perdoe.

Eu me importo demais com você, com tudo ao seu respeito, para deixar tudo do jeito que está. Quando quiser conversar comigo – já que tenho o conhecimento que se você não estiver afim nada vai adiantar e você vai continuar chateado –, por favor, por favor, me fala, está bem?

Espero que se recupere bem, mas eu sei que vai, porque você é um Sete, mas com sangue de Um.

Sua amiga,

Katniss.

Katniss é ridícula. Tento ficar com raiva dela, com vontade de discutir, arrumar confusão, ir embora, mas vem e deixa um bilhete assim, com sua letra cursiva perfeitinha e sem quaisquer formalidades, colocando um sorriso torto no canto do meu rosto que eu não consigo tirar de jeito nenhum, nenhum.

— Mas vou ficar sem falar com você por dois dias, só pra eu pensar em como arranjar um jeito de ficar chateado contigo — murmurei, sorrindo, igual um idiota. Eu não deveria estar sorrindo, ainda mais depois de um dia como ontem. E tem a noite de anteontem, onde nós dois tecnicamente ficamos noivos.

Eu não estou conseguindo acreditar. Parece que tudo o que está acontecendo é mentira. É como um sonho, que de repente se torna um grande pesadelo, totalmente assustador, então volta a ser um sonho de novo.

— Preciso dormir para acordar... — falei, balançando a cabeça em negativa, esfregando os olhos, sem sentir fome, porque estou ainda em um estado de choque e a minha ficha ainda não caiu por completo.

Deitei-me na cama grande e macia, tirando meus sapatos, largando-os em qualquer canto, e mudei a roupa para uma bem mais confortável, para dormir, já que fui dispensado das refeições por três dias, até eu estar completamente recuperado.

Peguei os fones de ouvido, deixando em uma música que falava sobre imaginar um mundo sem guerras e países, todos vivendo apenas para o agora, mas logo pulei para a próxima, para não ficar triste, e dormi, suspirando profundamente, completamente cansado, desejando uma única coisa: acordar e não precisar pensar em nenhum de todos esses problemas que a vida traz.


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Notas finais do capítulo

Bem. foi isso, pessoal, espero que vocês tenham gostado, porque eu escrevi de coração, e larguei um pouco do livro A Elite para poder pensar no espírito de Jogos Vorazes um pouco, afinal, isso é um "remix" das duas trilogias (não considero A Herdeira como sequência, foi mal, é que foi tão decepcionante... e o A Coroa nem se fala! Nem se fala!), mas espero que tenham gostado ♥
Para o próximo:
Música: Encostar na tua, Ana Carolina
Trecho: ""Oi, Princesa! *mão na orelha* é importante. Podemos marcar naquele nosso lugar quando você tiver uma sexta-feira à noite e sábado de manhã livres? Só me avisa antes. Sou muito ocupado. Peeta"
Sorri, até um pouco orgulhoso por ter saído tão legal a forma que ficou escrito.
Ainda estou chateado, aborrecido, e penso a todo instante a razão de ainda existir punições tão severas assim, tal como achei um completo absurdo todas as família terem sido mandadas para casa antes de falar com os Selecionados. Quero que ela me esclareça muitas coisas, muitas mesmo, porém, algo no fundo do meu coração não deixa que eu queria deixá-la no vácuo. Algo muito forte é maior do que a minha vontade de demonstrar deste modo a minha indignação.
— Oi, me desculpe, mas a senhorita poderia por favor entregar isto à Princesa Katniss? — pedi, quando fui próximo aos outros quartos, onde Finnick ficava, inclusive. Achei uma criada, que tem os cabelos louros até a cintura, mas contidos em uma trança bem elaborada. Não sei o nome dela, mas sei que é uma das que trabalham pessoalmente para Katniss, pois tem uma cor dourada mas mangas de sua blusa cinza.
A loira sorriu para mim, encantada.
— Claro, pode ter certeza que eu vou entregar isso! Mas já te adianto que ela estava ficando louca na espera de uma resposta sua — sussurrou alto a última parte, pra que eu escute mesmo, mas saiba que sabe de tudo, ou pelo menos parte do que envolve a mim e Katniss. Corei intensamente, sorrindo torto, envergonhado. Nunca sei o que fazer nessas horas."
Será bem mais curto do que esse, com pouco mais da metade de palavras, enquanto o outro do outro vai ser o tão esperado novo encontro com a Katniss, e depois um bônus muito legal que mostra a família dela, além da megera da mãe, do pai e da Prim ♥ assim como os outros Selecionados.
Por favor, não desistam de mim! Eu prometo que as coisas vão se resolver e ficar muito legais! ♥
Espero vocês no próximo capítulooo! Beijos! Beijos! *sorrindo* Obrigada mesmo por todo o suporte que vocês tanto me dão! ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥