A Seleção da Herdeira escrita por Cupcake de Brigadeiro


Capítulo 26
Doces ou Travessuras | A Elite


Notas iniciais do capítulo

Eu nem tenho o que dizer sobre toda essa demora! *jogando as mãos para o alto, com uma expressão de que não estou acreditando em toda essa minha ausência* Estou há quase três meses pensando nesse capítulo, e terminei há... SEIS DIAS, e só estou dizendo para mim mesma "amanhã eu posto, amanhã, amanhã". Como podem ver, esse amanhã teve seis dias.
Mas na verdade, eu queria ter postado no dia 30 de julho, quando eu fiz dois anos de escritora no Nyah, mas é aquele ditado: eu sou carioca. e tudo o que eu faço, mais ou menos tem que ser atrasado (não que isso defina todos os cariocas, ok? pelo amor. mas se marcar algum evento, adianta entre trinta a quarenta minutos, só pra nós chegar na hora certa, só de precaução!)
Bem, gostaria de agradecer a todo o carinho, a todas as mensagens lindas que vocês me mandam, mas ainda peço um milhão de desculpas por vocês terem precisado me enviar uma mensagem! *suspirando, mais uma vez decepcionada comigo mesma*
Dedico este capítulo em especial para a Anny, que recomendou a fic! ♥ Nossa, gente, sério, eu fico tão feliz em ler que vocês estão gostando, que estão aproveitando, até mesmo se identificando com os personagens, é TÃO importante para mim, que eu realmente não sei o que poderia fazer para agradecer! Obrigada mesmo pela recomendação, Anny! ♥ ♥ E todos que comentaram... Cara, vocês são os melhores, como sempre. Os melhores. Sem sombra de dúvidas! ♥
Espero que gostem, fiz com muuuito carinho, e tenho uma surpresa quando chegarem ao final dessa leitura *emoji de sol do whatsapp*



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Um amor tão profundo, nada se iguala a ele

Cicatrizes profundas, mas eles não podem encontrar

Uma chama tão brilhante que fará a luz do dia parecer escura

Cruze meu coração que eu morrerei por você

Cruze meu coração que eu sempre guardarei você

Cruze meu coração como uma tatuagem agridoce

E iremos

 

Oh, você é meu futuro reino

Oh, você é meu futuro reino

Então me sente em seu trono

Yeah, yeah, yeah

 

Deixe que se entrelacem

A sua mão na minha

E preencham o espaço vazio

Todos os demônios irão chorar

Porque eu e você

Encontramos o amor em um lugar destruído

— Kingdon Come, Demi Lovato ft. Iggy Azzalea

Os dois dias seguintes para a vinda dos familiares para a festa, juntamente com convidados de Katniss foram simplesmente estressantes para todos, desde a Rainha — que parecia a fúria em pessoa juntamente ao seu marido (sim, o rei Snow está tremendamente irritado ultimamente) —, até os meus criados, que pareciam explodir de exaustão e preocupação a qualquer instante. Dei a tarde e noite antecedente ao encontro para eles, que se recusaram, mas como eu sempre precisei ficar mais sério para cuidar dos meus irmãos, não foi muito difícil convencê-los de que eu estava bem e as roupas me serviriam, que dava para terminar a fantasia depois.

— Por favor, não desperdicem toda a educação que aprenderam nos últimos meses. Sei que a saudade é enorme, mas não há desculpas. Sem gritos, nada de escândalos, por favor. Especialmente você, Gale.

Tia Effie advertiu, quando em nossas melhores blusas e blazers no posicionamos na entrada do Palácio, mas na parte de dentro, apenas esperando nossas famílias. Eu estava tão nervoso, que chegava a ficar pacífico.

— Mas... mas... — o moreno tentou contestar, ficando com uma expressão triste. — Ok.

Todos rimos de sua expressão, um tanto incomum. Ele só sorri.

— Ótimo, excelso! — Effie exclamou, enquanto Haymitch revirava os olhos, bufando, endireitando sua gravata azul marinho, que fazia contraste com o terno preto. Era um pouco excêntrico vê-lo com roupas tão sociais, os cabelos alinhados. E exalando perfume.

Pus as mãos no bolso da calça jeans que Katniss me permitira usar no nosso primeiro "encontro", sendo olhado com reprovação pela tia Effie, mas depois ela me deu um forte abraço, dizendo que eu sempre fazia as melhores escolhas. Não entendi nada também.

Eu parecia que ia morrer de tanta ansiedade e felicidade. Nem sei quantas vezes respirei fundo apenas hoje para acalmar os ânimos. Eu veria minha família. Todos eles. Nós estávamos sem nos ver a mais de três meses, quase, porém parecia três anos sem eles.

A primeira família que entrou foi a de Cato, que soltou ar, e pela primeira vez eu o vi emocionado. Todos pararam para olhar para ele naquele jeito, coisa que nunca imaginamos um dia. Sua família era pequena, composta pela mãe e a irmã, apenas, e não pensou duas vezes antes de abraçar as duas ao mesmo tempo. Nossa, ele tem sentimentos. Bacana.

Menos de meio segundo depois, a família de Calvin entrou, com mais três filhos, três crianças iguais, três meninas de sete anos, eu acho, loiras com os olhos cinzas, e atrás delas a mãe e o pai, sorrindo com os olhos cheios de lágrimas. Ele pareceu ficar confuso no instante, como se não acreditasse, no que via, então, correu até as irmãs, dobrando os joelhos para ficar na altura delas, abraçando todas de uma só vez, calorosamente, e os pais fizeram o mesmo.

O mais estranho é que a família refletia muito em quem as pessoas eram. Calvin era calmo, falava certo, contido, o mesmo de sua família. A de Cato tinha um passo mais refinado, como se fossem destinados para aquela vida desde sempre.

A família de Blane e Finnick eram diferentes. Blane tinha dois irmãos e uma irmã pequena, nos braços da mãe sorrindo ainda banguela, pareciam mais quase da mesma idade que ele, mas mais novos, e Finnick apenas um irmão mais velho, idêntico a ele, porém com os cabelos pretos e a pele um pouco mais clara, mantendo os mesmos olhos verdes e porte levemente atlético.

Quando a família de Gale chegou, ele desarmou, saindo correndo — correndo mesmo — na direção dos irmãos caçulas, que pouco lembravam ele em aparência, pondo-os no colo, começando a chorar, sendo cercado pelos pais.

Ai, eu já estava uma pilha de ansiedade, sentindo as mãos tremerem, um frio descomunal na barriga. Cadê a minha família?

Então, vi os inconfundíveis cabelos loiros acastanhados de Amélia.

Tudo começou a ficar mais devagar, minha respiração falhou, meu sorriso apareceu, em meio a algumas lágrimas nos olhos.

— Licença, por favor — pedi, empurrando de leve algumas pessoas que estavam na minha frente, que impediam-me de ir até minha irmã. Corri, mais do que Gale, embora fosse me ordenado ficar no lugar. Tia Effie queira me desculpar. Senti meu cabelo mexer, e o sorriso surgir no meu rosto, como se estivesse brincando na rua, então mamãe me chamou para almoçar cachorro-quente.

Amélia se jogou em meus braços, e eu a levantei, abraçando-a com todas as minhas forças pela cintura, tirando seus pés do chão, escondendo meu rosto na curva do seu pescoço, sem acreditar que eu estava ali, abraçando minha irmã, minha amiga, minha alma gêmea.

— Ai meu Deus, como eu senti sua falta — falou, chorando, e eu também, sem ligar para os bons modos. — Céus, que saudade — sussurrou.

Eu nem conseguia falar nada, apenas retribuir, retribuir.

— Mels, tenho tanta coisa para te contar... — falei, finalmente sorrindo, mas sem pô-la no chão. — Mas antes quero te ouvir falar a noite inteira.

— Ah, então prepare os ouvidos, tenho muito para contar — ri, pondo-a no chão, finalmente olhando para ela. Acho que cresci, pois ela está mais baixa, e não acho que pessoas encolham. Vestia roupas bonitas, deixando ela ainda mais formosa com uma saia amarela solta depois da cintura e uma blusa social branca, com os cabelos soltos por completo.

— Onde estão os outros? — perguntei, franzindo o cenho.

— Estão su... — antes de terminar, meu pai e Stacy entraram de braços entrelaçados ao da mamãe, em passos calmos. Ao lado da minha irmã, Stuart – Deus, como ele cresceu –, e no outro lado Amanda segurando na mãozinha de Ben, que olhava para os lados, parecendo perdido.

Ninguém olhava para a gente, o que tornava ainda mais especial o momento.

— Gente! — exclamei, indo em passos apressados até eles, com Amélia parada onde eu estava, aproximando-me da minha mãe, que estava com uma expressão feliz, mas algo nos olhos indicavam um pouco de medo.

— Peeta! Peeta! — Ben gritou, abrindo o maior sorriso de todos os tempos, empurrando Amanda, que fez uma careta engraçada, mas logo eu sorria ainda mais, pegando-o no colo.

— Tampinha, você cresceu demais! — exclamei, impressionado, mesmo que tenha sido apenas um dedo a mais, para deixá-lo animado.

— Eu sei! Falei pala o papai que vou ser mais alto do que ele um dia, não é, papaaai? — Olhei para o meu pai, que sorria torto, mas podia ver a sua emoção e felicidade. Mais uma vez, o admirei por sua paciência e a descrição.

— Ben, você vai ser mais alto do que todos nós — brinquei, fazendo um pouco de cócegas em sua barriga pequena, vendo seus olhos azuis brilharem, empolgado, batendo palminhas.

— Siiiiiim! — gritou, na voz de criança, mas as irmãs de Calvin também falavam bem alto, juntamente com os irmãos de Gale, e o próprio Gale. Esse aí é o trio elétrico todo e um pouco mais.

— Peeta, a mãe quer falar com você — Stacy disse. Quão bom era poder ouvir a voz dela novamente. Sua voz era digna de uma Cinco, mas com postura de uma Um perfeita.

Todos nós levamos o olhar para a nossa mãe. Ben escondeu o rosto na curva do meu pescoço, fechando os olhos. Não entendi muito bem até olhar para Stuart, que mordia os lábios, prestes a explodir em lágrimas. Anotei mentalmente que ele passaria a tarde e noite comigo.

— Oi, mãe... — falei, me aproximando mais. Já que parei para segurar Ben no colo, não fui cumprimentar meus outros irmãos e pais. Como fui egoísta.

— Lembra de mim? — perguntei, querendo abraçá-la, mas sei que ela pode se assustar e fazer um escândalo. Por mais que doesse, meu coração batia desenfreado, sem acreditar estar por estar vendo todos eles ali, tão próximos à mim.

Sussurrou algo para o meu pai, que ouviu com atenção, sorrindo depois, concordando. Ela abriu um largo sorriso, deixando o braço do marido e de Stacy, me abraçando. Ninguém esperava por uma coisa dessas, mas não levei nem dois milésimos para abraça-la de volta, passando um dos meus braços por sua cintura enquanto outro deixava Ben suspenso em meu colo.

— Senti muito a sua falta, Peeta — disse, me abraçando bem apertado. Só a abracei ainda mais forte, fechando os olhos, escondendo o rosto na curva de seu pescoço, sentindo aroma de baunilha.

— Eu também, mãe — respondi, querendo chorar, pedir para ela dormir abraçada a mim e me dizer que vai me fazer polenta com salchichas ou carne moída, falando que tudo isso é um sonho.

— Pensei que tivessem te trocado. Ele tem os seus olhos, e o outro a sua aparência, mas não era você — ela disse, afastando-se um pouco. Eu via apenas o reflexo da mãe que se despediu de mim antes de vir para o palácio. Só via o rosto, o corpo, mas não era minha mãe, Alícia Lawrence Mellark. Era o reflexo borrado, eu podia ver pelos olhos ainda confusos. Isso me doeu demais.

O que eu deveria falar?

Travei, querendo dizer alguma coisa, talvez elogiar o batom laranja que ficou bonito nela, ou o quanto seu cabelo estava mais hidratado e sedoso, no quanto a amo e sinto loucamente a falta, mas nada saiu por causa do que Ben sussurrou agora mesmo.

— Ela só fala de vochê, nem sabe quem é a gente — sussurrou o mais novo, que eu sabia que começaria a chorar a qualquer instante.

— Senhoras e senhores, imagino o quanto esperaram para tal ocasião, porém, vamos todos saudar ao Rei, a Rainha e a nossa Princesa Everdeen — tia Effie disse, serena, sorrindo gentil, e todos voltamos nossos olhos para o alto da escada com o corrimão da melhor madeira, com detalhes de brilhantes, mínimos dos mínimos detalhes que faziam total diferença, ainda mais em dias tão ensolarados como hoje, que fazia um brilho suave refletir.

— Oh, Deus! — Amanda exclamou baixo ao meu lado, cobrindo as mãos com a boca quando a família real apareceu. Sorri para ela, que sorriu para mim. Fico feliz por poder estar vivendo tudo isso. Ela merece e muito mais.

— Isso porque não a ouviu cantar — sussurrei, cúmplice. — Aquela música que você fica cantarolando em casa.

— Almost Is Never Enough? — perguntou, impressionada. Assenti, sorrindo. — Você tem que ser amigo dela para eu ser também. Vou poder aprender canto com a melhor!

— Só não sei se ela tem tempo para ficar com você e te ensinar canto, porém, pode ter certeza de que se ela puder, vai te ajudar. Mas não acho que precise. Você parece um rouxinol de tanto que canta.

Ficou corada, mas sorriu orgulhosa. Se tem um ponto marcante em Amanda é o orgulho. Não é possível vê-la chorando ou totalmente envergonhada. Ela bate de frente até mesmo quando está errada. Minha mãe costumava dizer que eu faço a mesma coisa, mas demonstro quando fico com vergonha e fico quieto.

Shhhh — Stacy pediu, sorrindo, me dando uma leve cotovelada, passando um braço pela minha cintura, como em um abraço.

A abracei de volta, beijando o alto de sua cabeça, sorrindo. Como eu amo essas crianças.

Mas todos precisamos nos separar cordialmente para recebermos a família real.

Katniss e Prim desceram na frente, uma ao lado da outra, em vestidos que as deixavam aparentemente confortáveis. O rei e a rainha não estavam presentes

— Elas são tão bonitas! — Stuart sussurrou, passando seu braço direito no meu braço esquerdo, sorrindo. Contive uma revirada de olhos, mas não o sorriso.

— Calado — respondi.

Eu sei que é o meu irmãozinho, e que eu e a Katniss não temos nada além de uma amizade colorida, porém eu sinto ciúme.

Muito ciúme.

Nós fizemos reverências, normal, então elas fizeram um gesto de agradecimento, terminando de descer as escadas, e começaram a conversar com a família de Cato, sorrindo, as duas juntas, depois a de Calvin, conhecendo cada um, o que foi bacana da parte delas, mas enquanto não chegava nossa vez, comecei a conversar com os meus irmãos, sorrindo, voltando-me para Stuart, que sorria também.

— Eu pedi para você passar o dia comigo e Amélia, a Princesa deixou, e aí eu e você podemos nos arrumar juntos. Meus amigos mal podem esperar para conhecer você pessoalmente.

— O que?! Mas eu sou sua cópia mais nova, Peeta! — ri, abraçando-o mais uma vez, reconhecendo que ele é muito "obrigado pelo seu amor, agora, se afaste de mim, mundano". Ele não gosta muitos de abraços. — Pode me largar? Estou ficando com raiva de você por saber que eu odeio abraços.

— Por essa razão estou te abraçando, ou eu não seria o seu irmão mais velho.

Mesmo sabendo que ele estava um pouco irritado, riu sinceramente, e eu nos afastei um pouco.

— Mas você vai ficar comigo se arrumando.

Sorriu, assentindo. Stuart estava mais alto, com uma aparência madura, e isso me deixou deslocado, um pouco, pois ele não tem mais os traços infantis. Está ficando um rapaz até na aparência, Ben também cresceu, embora só um pouco, mas cresceu. Amélia está mais mulher, no sentido de tudo e Stacy estava mais séria, atenta, como se estivesse pronta para um acidente, pronta para agir.

Me sinto como se não fosse mais a minha família, a minha casa. Eu sempre os tive tão perto de mim, embora não os visse, geralmente, durante a semana, por causa dos trabalhos excessivos, mas eu os acompanhava em momentos importantes, sendo o irmão mais velho o jogo parecia qie tinha mudado.

Conversei com o meu pai, enquanto Stacy e Amélia falavam com a minha mãe, que parecia perdida, olhando as coisas ao seu redor, como se eu não estivesse mais ali, tivesse voltado no tempo e se esquecido de absolutamente tudo o que viveu. Para conseguir ter uma conversa com meu pai, precisei mentalizar que era temporário, que ela só havia se confundido debaixo de tanto luxo e conforto que o palácio oferece.

— Você não sabe o quanto a gente sofre quando não aparece na televisão às vezes — ele começou, sorrindo brincalhão. Sorri também. — Como está se sentindo sabendo que é o favorito do público depois do Finnick e Gale?

— Ah, eu acho que pressionado, pai — riu, assentindo, sabendo que essa seria a minha resposta. — Me dá sono só de pensar.

— Você não muda, não é mesmo? — perguntou, sorrindo torto. Esse é o meu pai, embora com os olhos um pouco triste, um azul um pouco fosco.

— Porque o senhor não sabe que a única coisa que faço por aqui além de comer é dormir. Depois, se sobrar tempo, estudo. É a vida.

Ele riu, e me deu um abraço. Permiti que ele fizesse isso, e através desse abraço, orei mentalmente para que ele soubesse que eu ainda estou aqui. E que mesmo que seja seu filho, pode contar sempre comigo, para toda e qualquer situação.

Começamos a conversar sobre como eu estou — já que ele sempre mudava o assunto sobre a família —. Aceitei que era um assunto que seria discutido amanhã. Então, comecei a contar sobre o palácio, meus amigos, e Katniss.

— Pai, você estava certo... — falei em um tom baixo, pois mesmo que estivéssemos entre família, e os outros Selecionados com seus parentes estivessem longe, não era adequado dizer sem cuidado. — Só por favor, não fala para ninguém.

Olhei em seus olhos, como se segurasse as palavras "gosto dela, talvez mais que o desejado", e como sempre, meu pai não me olhou com deboche ou brincadeira, embora tenha aberto um sorriso.

— Eu não tenho absolutamente nada haver com isso, pequeno. É você quem decide com quem passará o resto da sua vida. E essa vida pode ser por mais três meses ou trinta anos, mas ainda é o resto da sua vida, e é muita coisa.

Suspirei, assentindo. Quando os pais não estão certos?

— Sério, pai, o senhor deveria me mandar mais cartas. E eu poder realizar ligações. Tem coisas que eu preciso te contar — falei, olhando em seus olhos, com uma certa apreensão, com o tom de voz baixo. — Nem sobre ela, sobre o palácio — e discretamente fiz um gesto com a cabeça para o lado esquerdo, onde tinha uma fotografia perfeita da família real.

— Qual deles? — perguntou, quase em um sussurro, disfarçando com clemência, se aproximando de mim, olhando para meus irmãos.

— Ela — e assentiu levemente. Era sobre a rainha. — Queria que pudéssemos dividir o quarto. Preciso te contar umas coisas.

— Depois da festa, acredito que vão deixar a gente à vontade para conversar, então você me atualiza, pois preciso conversar sério com você também, Peeta — olhou em meus olhos, que o olhavam com atenção, quase emocionado por tê-lo ali ao meu lado. — Apenas converse com os seus irmãos. Sua mãe... — suspirou profundamente, fechando os olhos, balançando a cabeça em negativa. — Não quero estragar seu dia. Amanhã eu falo. Só fique com os seus irmãos, e não se preocupe. Eu posso passar uma semana toda escutando tudo o que você tem a dizer. Sinto falta das nossas conversas.

Antes que eu pudesse dizer que também sentia, e muito sua falta, levamos nossos olhares para de onde vinha a gargalhada de Ben, onde Prim estava ajoelhada, fazendo cócegas no meu irmão, e Katniss ria junto com Amélia da situação, como se já se conhecessem. As outras famílias estavam nos olhando com rivalidade, com exceção de Finnick e Gale, que riam também, junto com os irmãos.

— Mas que risada mais gostosa! — Prim exclamou. — Continue! Continue!

Pediu, e eu sorri, como se um peso saísse de meus ombros, aparentando o mesmo ter acontecido com meu pai, com um de seus mais calmos e sinceros sorrisos.

Katniss cumprimentou todos os meus irmãos com um largo sorriso, sincera, pois conheço quando está fingindo alguma coisa, e ela não fingiu em nenhum momento com nenhum familiar dos outros Selecionados, então deu um sorriso torto para mim, tomando na mão de Prim, que um pouco relutante se afastou de Ben para ir até o pé da escada com a irmã mais velha.

— Gostaria de agradecer a todos por terem vindo. Estamos muito contentes no palácio, não apenas para comemorar o primeiro Halloween em décadas, mas também para conhecer-los. Peço desculpas pelos meus pais não estarem aqui, mas prometo que os conhecerão em breve — Katniss disse, sorrindo. Parecia feliz.

— Todas as mães e irmãs, estão convidadas a tomar chá comigo, Katniss e minha mãe no Salão das Mulheres. Seus filhos poderão conduzi-las até lá. Já os cavalheiros e os Selecionados poderão passar a tarde com o meu pai. Os criados lhes dirão o quarto que ficarão, todos o mais próximo possível de seus filhos.

Prim completou, com maestria e completo domínio, tão bem quanto a irmã mais velha. As duas sorriram, acenando, então se retiraram.

Em um piscar de olhos, uma criada apareceu ao nosso lado, sorrindo.

— Família Mellark, eu os levarei para os seus quartos — disse, calma, com um rosto cheio de animação. Meus pais e irmãos não fizeram outra coisa além de sorrir.

*

— Quero que você comece agora a contar o que está acontecendo, Stuart — quase ordenei ao meu irmão mais novo, quando Júlia se afastou um pouco com uma outra moça que cuidava dos nossos cabelos. — Por que você está tão triste?

O outro loiro suspirou, fechando os olhos, balançando levemente a cabeça em negativa, mexendo nervosamente nas mãos enquanto seus fios loiros estavam cobertos por papéis alumínios, assim como os meus.

— Peeta, eu quero que essa coisa toda acabe — disse, como se estivesse atolado de palavras e sentimentos, o que eu acredito que esteja, realmente. E isso me deixou aborrecido comigo mesmo. — Eu não aguento mais, não sou você, não sou. Só tenho 14 anos, mas tenho que agir e viver como se tivesse 30. Estou triste porque sei que essa droga de viagem vai durar benditos três dias, e depois vou voltar para aquele inferno que é a nossa casa. E quando digo nossa, não inclui você. Seu lugar é aqui.

Olhou intensamente nos meus olhos, castanho claro no azul, e eu pude enxergar que Stuart está realmente maduro. Isso não é bom, não para alguém da idade dele. Seu dever é se divertir, quebrar algumas coisas por acidente, rir, correr, estudar. Não ter tantas responsabilidades, embkra muitas tarefas, mas esse é o normal.

— Stuart, você não faz ideia do quanto eu desejo o fim dessa Seleção — confessei, em voz baixa, virando a cadeira para o ver ainda melhor. — Eu não aguento mais.

Suspirou, assentindo.

— Eu sei que não, Peeta. Sei que tem a... — olhou em volta, tinha gente perto, então não disse o nome Delly, mas entendi. — E tudo mais, mas você precisa me ajudar, cara. Eu não sei mais o que fazer. Amélia está afogada em suas próprias obrigações e fora que ela é quem deveria ser chamada de mãe agora. Faz tudo em casa, tudo, enquanto Stacy a auxilia com a mamãe. Eu tento distrair todo mundo, desviando a atenção, mas está claro.

Seus olhos estavam cheios de lágrimas, e quando escorregaram por suas bochechas brancas e com sardas, passei os polegares por debaixo de seus olhos, sofrendo junto dele. Eu quero fazer alguma coisa, mas o que posso fazer? Nunca me senti tão inútil em toda minha vida.

— Não faz ideia de quantas vezes já pensei em largar tudo e voltar pra casa, Stuart — confessei, quase em um sussurro, abraçando meu irmão, que estava tão grande, mas ainda era tão criança. Fechei meus olhos, apertando-o, como se aquilo fosse tirar todas as incertezas, preocupações, dores embora.

— Eu fico com muito medo às vezes, de ela se esquecer de tudo para sempre. Peeta, eu não vou conseguir mais — disse, soluçando de tanto chorar. Segurei as minhas lágrimas, apenas lançando um olhar significativo para Júlia e Flávia para nos deixarem a sós pelo máximo de tempo possível. Infelizmente por dez minutos, por causa dos produtos, mas o importante era ficarmos a sós.

Beijei o alto da cabeça de Stu, deixando que molhasse minha roupa, meu pescoço, deixando-o à vontade.

— Me desculpe por não ser um irmão melhor — falei, com meus olhos bem fechados para não chorar. Eu fui um grande idiota pensando somente em mim nos últimos meses, pensando em meus sentimentos. Por isso me sinto tão deslocado da minha família.

— Não, Peeta, não é a sua culpa — disse, quando nos separamos, e ele ainda chorava, embora pouco. Seu rosto estava todo vermelho, assim como seu pescoço, fazendo-me aceitar que eu não estava diferente, embora tenha segurado as lágrimas. — Sei que não é a sua culpa, nem da mamãe, nem da Mel, ou do pai. A culpa é desse sistema idiota em que vivemos. Você está tendo a oportunidade de mudar isso, e ainda ficar com quem você ama. Ama como nunca amou ninguém. A gente pode ver claramente isso quando os dois estão juntos. Hoje mais cedo na hora de receber as famílias, você estava conversando com o pai, mas ela tratou a gente como se fôssemos os mais importantes. Não sou bom em observar as coisas, mas eu vi isso nela e na Princesa Prim. Sem contar o sorriso que vocês trocaram no final, mesmo sem falar uma só palavra.

— Mas a D... — fiquei um pouco envergonhado, sem graça. Ainda é um verdadeiro desafio falar sobre Delly com ele, que é o único que sabe a verdade no assunto, mas sei que Amélia desconfia, e há muito tempo. Só que antes que eu pudesse completar o nome da loira que agora está morena, ele me interrompeu, cuidadoso.

— Não, não estou falando dela... estou falando da Princesa, não se finja de desentendido, seu idiota — brigou, um pouco mais sério, por mais que estivesse claro em seu rosto a vontade de chorar. — Estou falando sobre a Katniss. Vocês se amam, e isso está nítido, tão claro que os outros Selecionados te odeiam, claramente, junto com suas famílias. Peeta, estou sendo bem sincero com você. Está tendo uma chance da qual nunca poderíamos imaginar... Você está no palácio, a Princesa te olha como se você fosse a vida dela, e você a olha da mesma forma, só ainda não admitiu isso para você mesmo. Você precisa parar de brincar com você mesmo e se esconder da verdade.

— Stuart, eu não sei se devo comentar sobre isso... — falei, baixo. — Não estou com cabeça para lidar com essas coisas de Seleção enquanto vejo você tão maduro e preocupado assim. Quero ir para casa e fazer o possível para ajudar vocês com o que eu puder.

— Não sei se isso resolveria... — murmurou, olhando para um ponto na parede, como se tivesse visto algo hipnotizante e muito ruim. — Nem com toda a atenção do mundo impediu que ela tomasse metade dos remédios de uma vez.

Não consegui reagir. Como assim metade dos remédios de uma vez?

— Ela o que?! — Minha voz saiu mais alto do que eu esperava, assustando-o, por causa das lembranças ruins. — Stuart, me conta isso agora!

Quase cai da cadeira quando me coloquei de pé, com muitas coisas pela minha cabeça, tentando pensar. As coisas comigo parece que gostam de conversar entre si e resolvem uma aparecer atrás da outra, mudando todo o cenário.

— Não era para eu te contar, Amélia quem pediu aos soluços, com o pai. Não era mesmo para eu te contar, Peeta. Tenta esquecer o que eu te disse, embora eu saiba que não seja possível! Você não pode contar que eu acabei contando! — Em seus olhos, vi as lágrimas começarem a preenche-los rapidamente, e seu nariz que já estava razoavelmente vermelho, ficou um pouco mais, e os lábios começaram a ficar trêmulos. — O que eu quero que você entenda é que ninguém mais aguenta esse inferno lá dentro de casa, nem a mamãe. Você sempre soube lidar melhor com essas coisas junto com a Amélia, sem se corromperem com a depressão. A gente poderia ser o dobro, mas você sabe lidar com as coisas. A gente não. Falta você.

Suspirei, sentando-me no sofá do meu quarto aqui no Palácio, escondi o rosto nas mãos, com meus olhos fechados e um pé batendo constantemente no chão. Pense, Peeta. O que posso fazer para melhorar essa situação? O que fazer?

Meus irmãos precisam de mim, mas eu não posso fazer nada, aparentemente, nada além de fazer algumas orações e acreditar que a situação pode melhorar. Mas não vai. Stuart, Stacy, Amanda, Amélia, Ben... Meu pai. Todos sabem que a tendência é ficar sempre pior, pior, até que tudo tenha fim. Pode ser por causa de um resfriado, uma alergia, um atropelamento, suicídio ou vegetando em uma cama, quando o corpo realmente não consegue reagir a absolutamente mais nada, não há forças carnais, espirituais, que a façam ficar.

Isso corrói com a inocência e infância de qualquer um.

Quando olhei para meu irmão mais novo, ele estava chorando silenciosamente, encolhido na cadeira de salão que fora posta próxima à minha, assim como pedi. A cadeira dele estava voltada para a frente, para o espelho (por onde pude notar que chorava), e aquela imagem tão real me partiu aos milhões de pedaços. Mais do que nunca quis terminar, sair, dessa Seleção para poder ir para casa, dar o meu melhor, cobrir todos eles com todo o sincero amor, carinho e afeto que eu pudesse, protegendo de todo o mal que eu pudesse, só para não vê-lo com tanta dor assim.

Porém, não importa o quanto queiramos ajudar uma pessoa, não importa o tamanho do seu amor, não importa o seu tamanho... porque quando se trata de sentimentos, quando se trata de consequências da vida, não há absolutamente nada para se fazer a não ser fazer algumas orações e abraçar essa pessoa.

Desta vez, eu repensei a volta para casa e no quanto isso seria mais difícil e pior de ser enfrentado. O dinheiro que guardam não é suficiente para um ano de tratamento da nossa mãe, se não houver o dinheiro da Seleção, vou ter que voltar aos trabalhos de antes e sacrificar o domingo.

Com certeza eu não me incomodaria, nunca, pois é algo para a minha mãe, que tanto já fez por mim, o problema é que posso realmente fazer alguma coisa aqui, no Palácio.

Fui até Stuart, envolvendo-o com meus braços, virando a cadeira dele contra o espelho, e usei o alto de sua cabeça para apoio da minha bochecha direita. Fechei os meus olhos, cansado, querendo tomar só para mim todas as dores dele, todas as angústias, voltar no passado e dá-lo uma infância digna, onde não pudesse nem cogitar a ideia de que há fome, dor e sofrimento no mundo. Não pude fazer isso, mas era as minhas intenções, não só apenas quanto a ele, mas também com Amanda, Stacy, Ben, Amélia...

— Vocês precisam sempre me contar a verdade, nunca me esconder nada — pedi, em um tom baixo. Minha voz não sairia mais alto por um tempo. Estou com muitos pensamentos na cabeça e o coração transbordante de sentimentos e emoções diversos. Não consigo calcular o que sinto neste momento, com Stuart chorando alto no meu peito e seus braços na minha cintura.

É o meu irmão mais novo sofrendo por uma coisa que eu não posso resolver. É como estar morrendo de sede enquanto vê uma cachoeira de água doce diante os seus olhos mas você não pode beber, pois não tem mais nenhuma força para chegar até lá.

— Não fazemos isso. E não espere que isso aconteça. Sabemos que você pode deixar o amor da sua vida ir embora só para resolver alguma coisa para a gente. Queremos sua felicidade, mas sentimos falta da sua presença.

Olhou nos meus olhos, e foi ainda mais doloroso ver aqueles olhos castanhos claros avermelhados e um pouco inchados por causa do choro, me olhando quase suplicantes por alguma ajuda.

— E o que eu posso fazer para ajudar vocês? — perguntei, absolutamente sincero e desejando que pudesse ajudá-lo. — Stuart, eu posso não poder voltar, ou curar a mamãe, mas Katniss me deu o livre acesso a muitas coisas, posso fazer algumas coisas...

Contei, sabendo que não sairia de entre nós dois o fato de eu chamar a Princesa pelo nome e de ter algumas coisas extras dentro do Palácio como um Selecionado.

— Só quero que a gente fique junto nesses três dias, ok? — Seu pedido é tão simples, tão puro, que é impossível negar. A voz dele ainda estava infantil, às vezes, provando ainda mais sua fragilidade. Stuart é apenas uma criança.

Que precisou crescer rapidamente por conta das circunstâncias.

— Seu pedido é mais que uma ordem — garanti, beijando o alto de seus cabelos, com cheiro de chocolate. — Seremos só eu e você até a festa, e amanhã de manhã também. Ok?

Assentiu, suspirando, parando um pouco com o choro.

Sentei-me na minha cadeira quando Flávia bateu na porta, indicando que o meu tempo e o do meu irmão estava no fim, pelo menos por hora, mas não me irritei. A presença dela e de Júlia nos trouxeram sorrisos, pois vieram com um enorme sorriso e uma bandeja com doces e salgados, todos que eu disse que Stu gosta, pois seu gosto é similar ao meu.

De vez em quando, eu olhava para ele, mesmo que através do espelho, e ele apenas deixava Flávia mexer em seus cabelos, e tinha os olhos fechados, rindo de alguns comentários, voltando a ter a aparência de adolescente novamente. Isso me fez ficar tranquilo.

Relaxei no meio das lavagens de cabelo, apenas pondo fones de ouvido e fechando os olhos, mas não dormi, porém, saber que terei três dias com a minha família é simplesmente a melhor coisa que eu poderia imaginar no momento.

*_*

Quando abri a porta que meus pais irão ficar com Ben e as meninas, já que Stuart está certo desde o princípio, comecei a rir, assim como Amanda, que encontrei no meio do caminho enquanto ia ver a minha irmã gêmea.

Amélia estava em uma cadeira confortável, grande, com os olhos fechados, cabelos em uma cascata perfeita, os olhos com dois pepinos e as unhas terminando de serem feitas, assim como a minha mãe, mas Ben dormia feito um bebê recém-nascido, todo encolhidinho no colo da minha irmã, dormindo. Todos ali pareciam da realeza, sem exageros. Principalmente Amélia.

— Por favor, eu preciso desse perfume em casa — disse minha irmã sorrindo, com os olhos ainda cobertos por pepinos, relaxando o pescoço no suporte atrás da cadeira, assim como em um salão, sem se preocupar com nada.

— Já foi anotado, senhorita Mellark — Lucy, uma das criadas que trabalham no salão do palácio disse, sorrindo, enquanto tirava cautelosamente a toalha do cabelo da minha irmã gêmea, nos fazendo começar a rir mais alto com Mandy.

— Oi, Peeta e Mandioca — disse, sorrindo, tirando as fatias de pepino de seus olhos, passando carinhosamente um braço ao redor de Ben, para não acordá-lo. Se ela perder o medo de ter filhos — que eu também tenho —, vai ser a melhor mãe do mundo, ao começar por todos esses carinhos demonstrados com os nossos irmãos.

— Não me chama assim! — Amanda exclamou, tentando ficar irritada, mas só começou a rir, sentando-se na beira da cama, tranquila feito uma garoa. — Está se fantasiando de que?

Também fiquei curioso, sentando-me ao lado da minha irmã caçula, enquanto minha mãe tinha a sobrancelha sendo feita com muito cuidado pela Tracy, outra cabeleireira.

— Ela escolheu se vestir de nobreza — Lucy disse, cúmplice, sorrindo tranquila. — O que acham?

E nos estendeu uma folha de papel única com o desenho de um vestido de princesa, bem discreto, mas muito bonito, com traços antigos, leves, na cor mel. Vai ficar simplesmente perfeito, perfeito.

— Mal posso esperar pra te ver vestida assim — eu disse, sorrindo, me levantando para abraçar a minha irmã, em um abraço muito apertado, para irritar ela. Sinto prazer em vê-la feliz, mas irritá-la também, é claro.

— Seu bobo — ela disse, irritada, com o rosto começando a ficar vermelho de raiva. — Me soltaaaa! Eu vou te morder!

Ri mais, fechando os olhos, abraçando-a ainda mais apertado.

— Mãe! Olha o que o Peeta está fazendo com a Amélia! — Amanda exclamou, em uma falsa preocupação. Apenas para incluir a nossa mãe na situação toda, o que me fez sorrir mais, olhando para ela com expectativa.

Mamãe tirou as rodelas de pepinos de seus olhos castanhos claros, sorrindo pra nós, completamente normal. Isso fez uma chama de felicidade aquecer meu coração e suspirei aliviado.

— Vocês sempre foram assim — disse, sorrindo torto, carinhosa. — Só não se machuquem, por favor.

— Ele está me apertando, mãe! — Amélia exclamou, irritada mesmo, tentando me dar socos no meu peito, mas era falho. Era quase uma massagem. Só consegui rir.

— Que nada! Eu quero só demonstrar um pouco do meu amor! — exclamei também, boquiaberto. As criadas riram, sem medo de censura. — Estou há uma eternidade sem te ver!

— Dois meses sem me ver! Agora me larga! Peeeetaaaa! — Até se debateu, a petulante. Eu só conseguia rir. — Sai daqui, cara! Estávamos na maior paz, não é, mãe?!

Nossa mãe ria da cena, com a cadeira virada para nós. Era tão gostoso estar assim com a família, que quase acreditei que não existia doença ou que o tempo não está ao nosso favor. Pareceu que aquilo se repetiria pela eternidade, de tão bom que era tudo isso.

— Ok, eu te solto se você jurar que vai ser o meu par nas danças — pedi, abraçando-a ainda mais apertado, sem machucá-la, mas seu rosto estava vermelho, vermelho mesmo.

— 'Tá! — gritou, quase como berro, me empurrando a todo custo enquanto Mandy ria também. — Quero só ver quando eu contar para a Princesa Katniss que você fechou de dançar comigo a noite toda! Quero só ver! Tomara que ela brigue muito com você!

— Nossa, fiquei até com medo da punição agora — Amanda disse, rindo, tentando falar de forma bem séria.

As criadas caíram na risada, depois de se entreolharem.

— A punição da Princesa talvez seria mandar a senhorita para casa no dia seguinte de ciúmes — Lucy brincou, mas sorrindo, e eu nem me incomodei com a segunda intenção que seria a "provável" punição da Katniss sobre mim. Antes eu sentia no fundo, hoje está bem na superfície que eu me sinto totalmente eufórico quando alguém me mostra o quanto a Katniss tem ciúmes de mim e não é coisa da minha cabeça. Porque eu também tenho ciúmes demais dela. Muito, muito, muito ciúme.

— Esse abusado! Abusado! — Amélia disse, e eu pude ver que ela não via graça, e sim estava com muita raiva, se levantou. — Eu estava toda relaxada aqui! E você veio me procurar!

A irritação dela era um enorme presente para mim, mas me lembrei do que Stuart disse, e que ela está uma pilha de nervos. Por essa razão, resolvi sentar ao lado de Amanda, e deixar que a minha irmã gêmea extravagasse sua indignação sobre mim em mim.

— E mais o que eu sou, meu doce? — perguntei, colocando uma toalha aberta em cima do meu cabelo, e joguei pra trás, como se o meu cabelo fosse grande assim, e todo mundo riu, menos Amélia. — Ai, meu Deus! Minha maquiagem acabou! Você interrompeu meu sono da beleza, Peeta!

Debochei, fingindo ser garota.

— Para com isso! Você é um idiota! — ela continuou, tirando a toalha da cabeça pra jogar em mim, que peguei com a mão direita, fingindo uma cara de indignação. — Mãe! Ele está fazendo um jogo comigo!

— Eu não estou nem aí — a resposta da minha mãe não poderia ser melhor. Amanda gritou, rindo, se jogando pra trás na cama.

Mamãe se virou novamente para o espelho, enquanto Carmen terminava de arrumar o cabelo dela, rindo, assim como Lucy, que estava atrás de Amélia, ajeitando o que podia já que ela estava irritada e andando.

— Você é um idiota! — disse de novo. Acho que é a frase favorita dela de hoje. — Não sei como a Princesa gosta tanto de você.

— Ai, você é um idiota! — Continuei, muito debochadamente, gesticulando exageradamente. — Só isso que eu sei dizer quando estou com raiva! Que você é um idiota! Vou ligar pras minhas amigas e falar mal de você pra Princesa!

— Vou mesmo! — e pegou o celular.

A coisa parece que ficou séria.

— Ô, Amélia, pra quem você vai ligar? — perguntei, me inclinando um pouco, tirando a toalha da cabeça, tomando um pouco de vergonha na cara.

— Pra Katniss! — E colocou o telefone no ouvido, com um sorriso torto vitorioso.

— Vamos parar com a palhaçada, por favor — me levantei, e tirei o celular da mão dela, por ser mais alto, e fiquei - literalmente -, boquiaberto. — Você está ligando mesmo! Sua abusada!

Apertei um monte de botão, um pouco desesperado.

— Ela está cheia de coisa pra fazer! — eu disse, preocupado com a outra morena, que nesse momento deve estar um verdadeira pilha de nervos com os preparativos dessa festa, assim como ela me disse. — Louca!

Quando me certifiquei que estava mesmo desligado, coloquei no bolso da minha calça.

— Sabe nem brincar! — Continuei, enquanto ela voltava para a cadeira, e Lucy estava muito vermelha, assim como Mandy e Carmen, de tanto rirem. — Só queria te dar um pouco de carinho! E aonde você arrumou esse celular, gracinha?!

Pus as mãos na cintura, com os olhos semicerrados, balançando a cabeça como sinal de desconfiança e reprovação.

— Comprei semana passada, assim como um pro papai e pra casa, para caso aconteça alguma coisa... — mordeu um morango que pegou no pote em frente ao espelho que fora colocado junto a cadeira que ela estava — a gente fica sabendo. E eu não quero seu carinho. Você me deixou sem ar.

— Ah, que se dane, tchau, não quero mais dançar com você também — joguei a toalha na cara dela, com força, e me virei pra sair, mas ai... — Eu não acredito que você fez isso. Sua...

Fechei os olhos, congelando no lugar, no mesmo tom da água que ela jogou na minha cabeça, que escorre lentamente pelas minhas costas.

— Sua vaca — eu disse, com os olhos bem fechados, sem acreditar. — Toma isso aqui também!

E joguei outro copo cheio de gelo na barriga dela, que gritou, rindo, tudo ao mesmo tempo, e jogou em mim alguns cubos, enquanto Mandy não sabia o que fazer, só gravava a cena com uma câmera bem antiga que nós tínhamos.

— Você me chamou de vaca! — Amélia disse, sobressaltada, mas com um sorriso, aquele que indica que ela quer rir, mas que não é a hora certa para isso. Eu estava com tanta saudade desse sorriso! Que nem posso descrever em palavras.

— Chamei mesmo! E chamo de novo! Vaca! Ficar ai, jogando água nos outros! Eu deveria ter falado mal de você pra todo mundo!

— Pode falar, de longe as pessoas sabem que suas acusações são faltas! — revirei os olhos, ainda com as mãos na cintura, um pouco impaciente por nem sei a razão. Acho que eu estava lidando bem com a ausência dos meus irmãos nesses dois últimos meses. É a bipolaridade na adolescência, não suporto isso.

— Peeta — Layla disse, depois de dar um toque na porta, antes que mais alguém pudesse falar alguma coisa a mais na discussão. Virei-me, observando minha amiga com apenas a cabeça para dentro do quarto, em sua calça preta e blusa cinza habitual para o trabalho. — Me desculpa incomodar... mas tem uma mensagem para você.

Pelo seu olhar vi que era somente para eu ouvir. Fiz um gesto que estava de olho para Amélia, fingindo desconfiança, então fui até a porta.

— O que aconteceu? — perguntei, fechando a grande porta atrás de mim.

— Nada demais — disse rindo, sem a expressão séria que estava. — A mensagem é que a gente terminou a sua fantasia! Vem ver, e se arrumar também. Devo perguntar a razão de estar molhado?

Ri, caminhando ao lado dela de volta para meu quarto, sentindo uma felicidade que me aquecia de forma avassaladora todo o meu coração. Eu estou tão feliz, que não poderia usar todo o vocabulário traduzido para explicar o que estou sentindo. Toda a minha família está fazendo parte desse momento tão especial para mim.

Quer dizer... Katniss torna esse lugar especial. E isso é assustador. Mas a sensação de que o mundo está em uma redoma de vidro contra qualquer tragédia é magnífica. Mágica.

Depois disso, de trazer minha família e a de todos os outros para uma festa por três dias é muito mais do que eu poderia imaginar.

Quando entrei no quarto, fui como uma criança até o cabide onde minha roupa estava pendurada, e ri, puxando para ir logo trocar depois de tomar um banho.

Hoje à noite vai ser longa, e eu mal posso esperar para ver todos os meus irmãos vestidos em suas fantasias, assim como mal posso esperar para poder apresentar por mim mesmo os meus pais para Katniss, que, embora não tenha trocado nenhuma palavra comigo depois que dormimos juntos dois dias atrás, sem mandar nada, apenas aparente me evitar, acho que o momento mais esperado da noite será vê-la entrar.

Não sei, mas sinto que quase em um piscar de olhos, meus pensamentos e falas se tornaram tão infantis e sonhadoras... talvez seja porque eu não me sinto realmente completo e feliz há muito, muito tempo, que nem me lembrava como era ficar tão ansioso por alguma coisa.

Porém, não importa. Tudo isso é incrível. E de todos os lugares do mundo, de todas as situações boas que poderiam existir, eu gostaria de estar bem aonde estou, com quem estou e como estou.

Independentemente do que aconteça, sinto que um fato vai mudar a vida de todo mundo essa noite, nem sei a razão ainda! Mas será uma noite para ficar na memória, para sempre.


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Notas finais do capítulo

Surpresa abaixo, porque vocês todos são lindos, e eu sou muito agradecida por tudo o que me dizem através do site, ou de redes sociais, e também como um meio de eu me desculpar com vocês por toda essa minha demora... ♥ Espero que gostem! *sorrindo, ansiosa*