A Vida Secreta de Rachel escrita por L CHRIS


Capítulo 9
Beijo sabor hortelã


Notas iniciais do capítulo

A todos uma boa leitura!



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A casa de Frankie não ficara longe dali, mesmo assim o caminho em silencio ao seu lado parecia imenso. Perguntara-me se eu era a única a me sentir tão desconfortável com aquilo. Olhara para Frankie sobre ombros e ela parecia estar tão relaxada enquanto fumara seu cigarro, soltando a fumaça dos pulmões contra a brisa da noite.

– Fique a vontade. – Anunciou assim que abrira a porta.

A sala da sua casa consistia de uma mesa de madeira maciça envelhecida, um porta retrado - um homem e uma garotinha, o que me fez supor ser seu pai e ela. Mas não fizera nenhuma pergunta.

Apenas caminhei e me sentei no sofá de couro surrado, pude observar dali o restante da decoração, havia um quadro de algum pintor amador pendurado em uma das paredes, uma televisão de tubo – o que me fez pensar que talvez ela não fosse ligada em tecnologia – havia um rádio, aqueles de pilha que toda criança há dez anos antes quisera ter na infância, mais fotos penduradas em uma das palavras, eram fotos amadoras, mas quem a tirara conseguiria captar a essência de cada uma das pessoas.

– Aqui está. – Ela trazia um telefone sem fio nas mãos.

Por um momento fiquei sem reação, estava tão distraída observando as fotografias que me esquecera do real motivo de estar aqui.

– Ah, sim. Obrigada – anunciei ao pegar o telefone.

Disco o numero.

Após terminar de falar no telefone com uma empresa de taxi, devolvo o celular para Frankie cabisbaixa.

– O que foi?

– A empresa que conheço não faz viagens para esse lado essa hora da noite.

O semblante de Frankie parecia sensibilizado, mas ela não parecia de fato triste.

E talvez não estivesse, afinal, que diferença fazia, ela já estava em sua casa. A estranha aqui era eu. Pensei.

– Aceita tomar algo? Podemos tentar outra empresa. – Anunciou ela em tom amistoso.

– Tudo bem. – Concordei.

Fomos até sua cozinha, era um lugar pouco arejado com panelas penduradas polidas impecavelmente, havia um fogão de duas bocas e uma geladeira pequena. Uma mesa no centro e um armário de duas partes que concluíam a mobília do ambiente.

– Essa casa era da minha mãe – começou Frankie enquanto parecia procurar algo na gelada – quando ela faleceu deixou para mim e minha irmã mais velha.

Frankie surgiu de volta com duas latas de cerveja e me entregou uma. Normalmente eu não costumara beber, ainda mais com estranhos, mas naquele momento eu não tinha muita escolha.

– Obrigada – Agradeci enquanto abria a lata – E sua irmã, cadê ela? – Perguntei com a esperança de não estarmos sozinha ali.

Frankie puxou uma cadeira e sentou-se ao meu lado, seu corpo largado contra a cadeira, suas pernas longas esticadas, dava ar de desinteresse, mas aquilo só a deixava ainda mais sexy.

– Ela esta na universidade, ela só vem nas férias de verão. Então, basicamente moro aqui sozinha – Frankie deu um gole na cerveja – Você mora sozinha?

Naquele momento eu tive a plena certeza que talvez ela não tivera acreditado de fato que era casada. E aquilo de alguma forma me deixou embaraçada. Dissera algumas horas atrás que ela era uma mentirosa, mas agora, parando para refletir a mentirosa era eu.

– Eu sou casada – tomei mais um gole da cerveja – sou mãe de dois filhos.

Naquele instante eu esperei qualquer reação dela.

Mas novamente Frankie me surpreendeu quando sorriu.

– Qual o nome dos seus filhos?

Aquela pergunta me causou estranheza, em outra ocasião acharia que ela estava sendo invasiva, mas Francesca tinha uma forma tão gentil de perguntar, que era quase impossível lhe negar uma resposta.

– Bath e Arthur. São meus tesouros. – Concluo com um sorriso apaixonado nos lábios.

– Lindos nomes.

– Obrigada.

Silencio.

Frankie passou os cinco minutos seguintes fitando a mesa redonda da cozinha, entre um gole e outro de cerveja ela acendera mais um cigarro, e só então seus olhos vieram em minha direção.

– Quanto tempo?

– O-oque? – Gaguejei confusa.

– Seu casamento. Quanto tempo está casada? – Frankie refez a pergunta com mais clareza.

Respiro fundo.

– Já faz doze anos. – Sinto-me envergonhada.

Frankie ficara em silencio novamente e quando voltara a me olhar fizera uma pergunta direta.

– Você é feliz com ele?

Aquela pergunta me causara desconforto, talvez, agora Francesca tivera sido de fato intrusa.

Mas que culpa ela tivera? Penso.

Apenas uma mulher infeliz e casada procuraria encontros na internet. Pelo menos se fosse solteira eu tinha um álibi por estar lá. Mas sendo casada, a resposta era obvia.

Mas resolvo ignorar sua pergunta, eu não precisava passar por aquilo, Frankie, Francesca não saberá mais nada de minha vida.

Olho para uma das paredes da cozinha e lá de cima noto o relógio, o ponteira já passara das onze.

Por Cristo! Pensei colocando a lata sobre a mesa.

– Eu realmente preciso embora. – Visivelmente aflita, começo a andar de um lado para o outro.

Quais eram as minhas escolhas naquele momento?

Ligar para meu marido e dizer para me buscar por que estava na casa de uma estranha lésbica que conhecera na internet?

Ou ligar para minha irmã e contar-lhe a historia, talvez ela não me condenasse.

Talvez.

– As únicas opções que sobraram é ir de ônibus. Talvez com um pouco de sorte, você chegue viva. – Pela voz de Frankie era obvio que ela estava zombando de mim.

Por um momento senti uma vontade de lhe xingar e dizer o quão infeliz era aquele momento, mas no instante seguinte eu percebi que sua casa era o lugar mais seguro naquele momento.

– Eu posso passar a noite aqui? – Anunciei engolindo todo meu orgulho ferido.

Frankie não me olhara nos olhos quando se levantou colocando as latas de cerveja na pia. Passando por mim e só então tocou em minha mão para que eu a seguisse. E foi que eu fiz.

Caminhamos para um cômodo no andar de cima da casa, passando por um corredor neutro e sem muita vida, entramos na primeira porta.

Era um quarto revestido em um papel de parede floral, havia uma cama e um urso por cima do acolchoado feito a mão. Uma penteadeira estava encostada em uma das paredes ao lado dela um pequeno guarda roupa de madeira branca. Era um quarto de menina.

– Pode ficar com esse quarto. É da minha irmã – Frankie me olhara – Tem toalhas na gaveta e o banheiro fica ao final do corredor, vê se encontra algo no guarda roupa dela. Com sorte ela deixou alguma camisola.

Naquele momento me senti a pessoa mais egoísta do mundo.

Quem era eu? E o que eu fizera com a Rachel generosa que sempre enxergara o melhor de cada um.

Estava obvio que Frankie não era a pessoa ruim que pintara até o presente momento. E aquela atitude nobre me fez notar o quão errada estava.

– Frankie – Anunciei segurando seu braço, a impedindo de dar o passo seguinte – Me desculpe. A forma que me comportei não fora certa, sou uma mulher madura, e nesse momento me completei como uma imbecil.

Naquele instante eu sinto meus olhos úmidos, estava infeliz, e eu sabia que a culpada não era Frankie, se existia uma culpada era eu. Por ter vivido naquela situação por tanto tempo, por deixar que um homem infiel e distante tomasse o controle sobre mim.

– Você está chorando? – Frankie parecia preocupada – Ei, não fica assim – ela me tomou nos braços e naquele instante me desabei a chorar – Eu entendo sua reação, eu não sou aquilo que você esperava.

– Não é isso... – Murmurei contra sua camisa manchada pelo meu choro.

– O que é? – Frankie afagava meu cabelo.

– Eu sou uma mulher infeliz, Francesca. – A frase fora como um golpe certeiro. Como se pela primeira vez eu conseguisse admitisse de verdade o que já era obvio.

– Não diga isso. – Frankie me consolara.

– Mas é verdade! – Repliquei.

Frankie afastou-se de mim, e naquele momento meu subconsciente implorava para que ficasse.

– Você me parece ser uma mulher tão interessante, tão cheia de vida. Não deixe que nada tire isso de você. Rachel, só você pode se libertar.

Se libertar.

Rachel.

Se libertar.

Libertar.

Rachel.

As palavras invadiram meus pensamentos e por um momento fiquei petrificada, pensando em qual momento da minha vida havia errado de fato.

Meus olhos correram o quarto espirituoso e doce que dormiria aquela noite, e depois para Frankie. Seus olhos observaram-me cautelosos.

– Obrigada.

– Você não precisa agradecer.

– Sim. Eu preciso.

Naquele instante eu sinto uma coisa me invadir, quase como uma necessidade absurda de estar perto daquela mulher estranho de cabelo rebelde.

Frankie. Quem era você? E o que fizera comigo. Pensei sentindo uma quentura no corpo.

– Eu nunca beijei uma mulher. – Murmurei, me surpreendendo da forma que mudei o assunto.

Frankie pareceu surpresa com a troca brusca de assunto, mas pareceu gostar do rumo que a conversa havia tomado.

– Eu sei. – Francesca sorriu. Seu sorriso arrancara meu fôlego, era um sorriso, como se fosse uma arma secreta que atacara nos momentos mais oportunos.

– Talvez eu seja antiquada demais para isso. – A palpitação do meu peito tornou-se cada vez mais intensa.

– Talvez você seja hetero. – Replicou Frankie com um sorriso.

– Talvez – Concordo - Isso é louca, nossa – riu, sentindo-me nervosa – essa situação toda é tão fora do nor...– Frankie me calou com um beijo.

Demorou alguns instantes para que meu subconsciente tomasse noção do que estava acontecendo. O beijo de Frankie fora tão repentino que me deixara sem ação por um momento.

Não tivera experiência com muitos beijos ao longo da vida – fora Allan, tivera três namorados na adolescência, nada, além disso – mas eu podia ter a plena certeza que o beijo de Frankie era diferente de tudo que já havia provado.

Sua língua era quente é invasiva, ela percorria minha boca de forma sutil, como se procurasse sentir meu gosto, sentir verdadeiramente meu gosto. Minha mão toca seu rosto e aperto meus dedos firmes ali, alisando meu polegar em sua pele macia e convidativa. Minha língua gira em torno da sua boca e posso então sentir o seu halito fresco como uma folha de hortelã.

Meu coração palpita no peito, e naquele instante posso sentir que meu corpo estava morno demais.

Sinto um formigamento na região do ventre, e minhas pernas amolecem por um momento, e entre elas se tornara úmido demais.

E é naquele exato momento que tenho a plena certeza. Estava excitada.

– Passa a noite comigo, Frankie. – Murmuro entre nosso beijo.


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Notas finais do capítulo

E então? Me digam, o que estão achando da Frankie? Até o próximo capitulo!



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