Estar ali me trazia lembranças difíceis de esquecer, mesmo que o momento não fosse adequado, a lembrança do corpo de Frankie quente sobre meu, estava viva em meus pensamentos.

Frankie seguiu para cozinha assim que adentramos na casa, tudo exatamente igual – as fotos, tudo continuara no lugar – segui-a em silencio. Ela abre a geladeira e pega uma cerveja me oferecendo, mas apenas nego com a cabeça.

Sentamos-nos, e diante daquela mesa, lembro-me da primeira vez que estive ali, seu olhar, suas palavras, o desejo, tudo era tão vivo e intenso dentro de mim. Mas agora, encarando-a em minha frente, parecia tão frágil, como se ela precisasse de mim.

Eu sabia que no fundo era tudo que ela precisava. Um ombro amigo. Alguém para se apoiar. Sua dor era tão presente. Penso preocupada.

Respiro fundo.

Em um gesto amigável eu toco sua mão que estava por cima da mesa, Frankie parece surpresa com meu toque inesperado. Mas parece gostar, seu sorriso é tristonho. E aquilo parte meu coração.

Talvez fosse melhor ir embora, Frankie não estava bem. Penso.

Quando estou prestes a me despedir, Frankie me encara – seus olhos estavam avermelhados pelo recente choro, mas continuavam intensos.

– Eu sinto muito por ter envolvido-a nisso tudo – agora Frankie apertava sua mão na minha – eu sei que fui egoísta, eu não sei o que deu em mim quando falei sobre você.

Suas palavras me pareciam sinceras, mas ao mesmo tempo eu não queria suas desculpas e muito menos que se culpasse por algo. Eu estava feliz por estar ali, era embaraçoso pensar isso. Eu sabia o quão era embaraçosa tudo que envolvia Frankie e a mim. Afinal de contas, eu ainda era casada.

– Não se culpe – aperto sua mão em uma caricia lenta – eu quis estar aqui. Eu ainda quero.

Os olhos de Frankie pairam sobre mim, deixando-me morna, como se o seu olhar me aquecesse a alma.

Ela parece sorrir, mas é um sorriso breve.

– Eu sou tão errada, Rachel.

Nego em silencio.

Frankie achava-se mesmo errada? Então o que eu era? Uma mulher infeliz que se tornara infiel.

Respiro fundo.

Frankie havia mudado algo em mim, algo que parecia errado no começo, mas que agora se tornou intenso demais para voltar atrás. Eu sabia que estava me arriscando demais. Não só por mim, mas também pelos meus filhos. Eu era uma mulher adulta, e pessoas adultas tendem a tomar decisões corretas – pelo menos a maioria – mesmo assim, eu sabia a decisão que queria tomar. E mesmo que estivesse arriscando minha vida confortavelmente estável, eu não me importara. Eu sei que sou mãe, mas antes de ser mãe eu sou mulher, uma mulher que está apaixonada por outra mulher.

Levanto-me em silencio, nossos olhares se cruzam à medida que caminho em sua direção, Frankie parece serena – talvez estivesse mais calma - seu olhar sobre mim era de afeto. Carinho.

– Eu quero você Frankie. E estou disposta a isso. Não importa o quão difícil será eu quero segurar sua mão.

Inclino meu corpo e posso sentir meu calor contra o seu – Frankie tinha algo bom, algo único – meus lábios tocam sua pele, posso sentir o quão macio e convidativo é o seu pescoço. Seu cheiro me preenche as narinas e naquele instante eu sei o quanto a desejo.

Frankie era ela. A única pessoa que eu queria estar.

Mas sua reação me surpreende, ela esquivasse do meu toque, por um instante fico confusa, mas talvez, eu saiba que no fundo Frankie não estivera bem. Fora um dia difícil, era necessário respeita-la. Afasto-me.

Estava em sua frente, podia sentir o quão tremula estava, era como se algo estivesse fora do meu controle, estava difícil até mesmo de respirar.

Mas Frankie estava imóvel, seus olhos me encaravam, mesmo assim pareciam distantes demais. Como se ela não estivesse de fato ali.

Passaram-se alguns instantes – tempo suficiente para aumentar meu nervosismo – Frankie ergueu seu olhar, naquele momento passou a me encarar com firmeza. Algo dentro de mim estremeceu.

– Eu não posso.

Suas palavras foram como um soco no rosto, talvez, eu soubesse que algo assim pudesse acontecer, mas de alguma forma eu não queria, eu queria acreditar que ela me abraçaria e diria o quão feliz estava por me ter.

Mas eu estava errada.

Como sempre.

Eu era realmente uma mulher patética ou inocente demais.

Idealizava a vida como gostaria que ela fosse, mas eu nunca parecia preparada de fato para o pior. E aquela situação demonstrou exatamente isso. Eu não estava preparada para a real vida.

Engulo a seco.

– Você tem uma família – continuou Frankie – eu não quero e não posso estragar isso. Família é algo importante, Rachel.

Frankie estava com medo de estragar minha vida – meu casamento – mas ela não sabia que meu casamento estava arruinado desde o momento que eu dissera sim para Allan na igreja.

– Frankie... – suspiro me ajoelhando ao seu lado tocando sua mão – eu quero estar com você. Frankie, você me trouxe vida. Algo que achei perder.

Abro um sorriso tremula, eu podia sentir o desespero tomar conta de mim, como se eu estivesse apavorada com o fato de perde-la.

E de fato eu estava.

– Eu estou disposta a...

– Não, Rachel – Frankie me interrompeu desviando o olhar – é melhor você ir.

Naquele instante posso sentir meus olhos marejados, não conseguia acreditar no que estava acontecendo.

Frankie estava me colocando para fora de sua vida, como se eu não significasse nada para ela.

Talvez eu não significasse. Eu criei uma ilusão para fugir da minha vida. Da minha realidade.

Estava obvio quão tola eu era. Eu só tinha sido uma mera diversão para Frankie. Eu era uma grande tola por achar que seria mais do que isso.

Nunca foi.

Encaro-a pela última vez, mas ela desvia o olhar.

Talvez fosse difícil me encarar depois de ter me mandado partir.

– Adeus. – Falo secamente.

– Adeus, Rachel.

Ela não me olha nos olhos.