Lua Nova do Eduardo escrita por AmandaC


Capítulo 10
Motos


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora e obrigada a Belle_Almmy por recomendar a Fic! Espero que gostem!



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Eu estava na casa do Mike quando uma garota chegou, eu não queria ver aquela cena – doía ver outros se beijando. Mais do que depressa disse tchau e sai.

Não havia mais nada dentro de mim.

Peguei a caminhonete que ganhei, de aniversário, e não quis pensar muito em quem havia me dado ela.

Ainda não entendia que tipo de coragem maluca me fez entrar dentro desse indesejado presente. Mas eu queria fazer alguma loucura. Uma grande loucura!

Liguei e o motor barulhento rugiu. Comecei a dirigir apressado, não que quisesse chegar logo em casa, mas por que queria sentir o prazer da velocidade.

A noite anterior havia sido um completo pesadelo, a dor foi brutal e quando finalmente consegui dormir o terrível pesadelo apareceu.

Era sempre o mesmo...

Não havia fantasmas, não havia zumbis, ninguém gritando “bu”, mas ainda assim me atormentava profundamente. Havia apenas uma trilha no meio da floresta e um terrível vazio, eu procurava e procurava e continuava sozinho... Profundamente sozinho.

Acordava ofegante, arrebentado.

Eu não prestava atenção para onde estava dirigindo, apenas estava perdido em meus pensamentos. Havia começado a chover, mas não me incomodava. Alias, nada me incomodava além de mim mesmo ultimamente.

Mas, pensar no pesadelo me fez sentir uma agonia, torci meu rosto, exasperado. Eu sabia que não devia agir assim – mas não lembrava onde encontrar o orgulho que me faria superar essa deprê por uma garota.

Será como se eu nunca tivesse existido... As palavras correram em minha mente, mas não era como a voz clara de minhas alucinações, eram meras palavras.

Palavras que me feriam profundamente.

Pisei bruscamente no freio, sabendo que não conseguiria mais dirigir, larguei meu rosto sobre o volante e fiquei assim, agoniado, era como se eu estivesse sendo torturado de dentro para fora.

Eu sabia que no futuro, quando eu melhorasse, talvez eu pudesse ser o antigo Eduardo. Ou quem sabe, na melhor das hipóteses, me sentir agradecido pelo tempo que ela deu para mim.

Mais do que eu merecia.

Não... Eu não devia pensar assim. Mas eu ainda não sabia por que não pensar assim, não entendia como.

E se eu nunca me recuperasse? Se eu ficasse assim marcado e destruído por ela?

Eu me encolhi no banco, sentindo ondas de terror.

Como se eu nunca tivesse existido... pensei, desesperado. Que coisa estúpida, ridícula... Poderia levar suas imagens... sua família embora, mas nunca levaria as lembranças em minha mente. Ela havia me mudado, será que ela achava que eu podia esquecer isso?

Como se ela nunca tivesse existido? Era uma loucura, uma insanidade, algo que nunca funcionaria.

Ridículo. E eu não devia ser cuidadoso. Não mesmo. Por que se ela não se importava comigo, por que eu deveria me importar? Eu podia pensar em algo estúpido para fazer nessa cidade. Nem que fosse jogar o carro que ela me deu contra um poste e me matar assim.

Ou talvez, com os enormes ursos que disseram encontrar perto da serra, perto do Pirai, onde mora Julia, eu poderia visitá-la me embrenhar no mato e se tiver sorte esperar ser encontrado por um daqueles ursos gigantes e morrer!

Ursos, ninguém sabia que havia ursos nessa cidade insípida até que aparecessem esses monstros. Talvez fosse destino.

Então olhei para o lado da janela, e meu coração parou – infelizmente, não de verdade – sim, destino, é isso.

Eu sai da picape para a chuva, o frio e a água em meu resto fizeram com que eu recobrasse minha parca sanidade.

Aquilo era maravilhoso! Só podia ser destino. Duas motos estavam paradas, diante da casa, com uma placa que dizia estar à venda. Fiquei ali, encantado.

Eu queria fazer algo estúpido e quebrar minha promessa? Nem precisei pensar duas vezes antes de me aproximar do portão e bater palmas. Um jovem me recebeu – talvez eu o conhecesse, mas não lembro.

- Eduardo Souza? – ele me reconheceu e parecia surpreso ao me ver.

- Quanto quer pelas motos? – apontei.

- É sério?

- Claro. – resmunguei.

- Não funcionam.

Isso eu já imaginava. Ninguém as deixaria na rua e na chuva se funcionassem.

- Quanto? – prossegui.

- Minha mãe deixou ai para que fosse levado pelo lixo. Se quiser pode levar de graça.

Reparei os sacos de lixo ao lado.

- Tudo bem.

- Quer ajuda? Elas não são leves. – ele comentou.

Algo em mim, lá no fundo, sabia que eu devia dar outro tipo de resposta para ele, mas apenas falei:

- Tudo bem, mas quero apenas uma.

- Leve as duas, talvez possa utilizar algumas peças.

Ele me ajudou a carregar as motos para a traseira da caminhonete na chuva torrencial.

- O que vai fazer com elas? Não funcionam. – ele informou.

Eu não tinha uma grande ideia. Então parecia que estava na estaca zero de novo. Levar num mecânico sairia mais caro do que eu poderia pagar.

Ah não ser que...

Julia – ela havia me dito que montava um carro?

- Eu conheço alguém que pode dar um jeito nelas. – comentei.

O jovem parecia aliviado.

Apressado, voltei para casa e fui direto para o telefone, liguei para a minha mãe.

- Boa tarde! Renata. – ouvi a voz conhecida.

- Mãe.

- Eduardo? – ela parecia chocada. – Aconteceu alguma coisa?

- Não. Precisa acontecer alguma coisa para eu ligar? – comentei.

Ouve um silencio, ela parecia desconcertada.

- Não. Aconteceu alguma coisa?

- Não. Eu só queria saber como chegar a casa dos Galibi. Quero visitar a Julia, faz tempo que não a vejo.

Quando voltou a falar ela parecia extremamente feliz.

- Que ótimo Eduardo, tem uma caneta?

Eu anotei as simples instruções dela e parti correndo para a caminhonete, eu não me lembrava de estar tão ansioso por fazer algo há meses.

Assim, dirigi em alta velocidade pelas ruas escuras pela chuva em direção a casa de Julia.


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