—Então...é isso mesmo? - perguntei novamente – O terceiro cristal Eternium está espalhado pelo universo afora?

—Sim – confirmou Estrela – Se queremos o terceiro cristal, precisaremos unir todos esses quatro pedaços.

—E dá para fazer isso em dois dias? - perguntei. Dois dias era tudo que tínhamos antes de Aster e as forças do Setor W chegarem à Terra para pegarem os cristais.

—Temos o Portal Gun – respondeu Estrela – Com as coordenadas dos locais dadas pelo programa, chegar até eles é fácil. Mas...não tenho ideia do tipo de região em que esses fragmentos estão.

—Talvez...a garota de cabelos brancos tenham dividido o cristal propositadamente – falei – Não acho que ela tenha mandado esses pedaços para locais totalmente inacessíveis, afinal, ela deve precisar dele em algum momento.

—Olhando por esse lado...acho que é bem possível – concordou Estrela – Bom, mas só vamos saber se tentar.

—E então, galerinha? Estão esperando o quê? - perguntou Lua, em uma voz animada – Vocês só tem dois dias!

Estrela e eu nos entreolhamos.

—O que foi? - perguntou ela – Não posso torcer por vocês?

—Achei que só queria ver o circo pegar fogo – disse Estrela.

—É que não gostei nada daquele Aster – explicou Lua – Por isso, quero muito que vocês consigam todos os cristais e joguem isso na cara dele.

Sim. Nosso plano era conseguir todos os três cristais Eternium e levá-los para Edenis, o tal mundo solitário que as lendas dizem ser o ponto de retorno da Grande Unificadora. Talvez invocando a tal Unificadora, os planos esquisitos do Setor W de abrir portais para outros mundos sejam impedidos.

—Bom, a primeira coisa que precisamos fazer é garantir que os dois cristais que temos fiquem juntos – disse Estrela, pegando o Eternium que tínhamos nas mãos – Não tem jeito. Vamos ter que falar com a CICE.

—Ah, que legal. Eu nunca fui para lá – disse Lua animada.

E foi justamente o que fizemos. Abrimos um portal e fomos parar direto nos corredores da CICE, o centro de investigação para casos extraterrestres. Caso você não se lembre, era uma área subterrânea bem secreta, onde circulavam funcionários tanto terráqueos quanto alienígenas – era a única área da Terra com esses dados. Chegamos em um setor vazio do local, sem muita gente circulando, exceto por um dos frequentadores do local que era bem conhecido da gente. Um mouseano caminhava por ali cantarolando enquanto segurava uma caneca com café.

—Morgan – chamei.

Ele se assustou um pouco, mas depois se aliviou ao me reconhecer.

—Ah, são vocês. Vitor e Estrela. Que susto. Achei que era a chefia. Sabe, eu deveria estar ajeitando uns relatórios sobre meu planeta, mas não resisti em buscar um cafezinho – disse ele.

—Preguiçoso como sempre – comentou Estrela.

—É um rato? - perguntou Lua.

—Ah, é a primeira vez que você vê o Morgan, né, Lua? - falei – Na verdade, ele é um mouseano. Só parece com os ratos do nosso planeta.

—Que grosseria. Todo mundo que me conhece pela primeira vez acha que sou um rato. E quem é você, menina? - perguntou ele.

—Essa é Lua, a irmã mais velha da Estrela – apresentei.

—E aí? - disse ela, totalmente tranquila.

—De qualquer modo, prazer – disse ele – E o que vieram fazer aqui? Estão precisando de alguma coisa?

—Onde está o Kevin? - perguntou Estrela – Tenho algo importante a tratar com ele.

—Acho que está conversando alguma coisa com a Capitã Elena na sala dela, lá no setor 34-B – disse Morgan. Para quem não lembra, Elena Hackling é a superiora de Kevin, uma mulher bem séria, centrada e, de certo modo, assustadora.

— Disseram que não querem interrupções e...

—Ótimo, obrigada. Vamos, Vitor – disse Estrela, abrindo um portal para o tal setor (bem, Estrela já visitou a CICE outras vezes para investigar, secretamente, alguma coisa sobre o Eternium, então ela já conhecia bem o local).

—Esperem! A capitã Elena vai me matar por vocês se intrometerem nos negócios dela e...

Mas as lágrimas desesperadas de Morgan não adiantaram muito. No mesmo instante já estávamos na sala de Elena, onde Kevin também estava, juntamente com...Kaldi e Margareth?

—Mas o que...o que significa isso? - disse Elena, levantando-se de sua mesa indignada.

—Olá – disse Estrela, comigo e Lua logo atrás dela.

—Estrela – Kevin parecia mais aterrorizado do que qualquer coisa – Invadir uma reunião privada é passar de todos os limites.

—Vocês?! - reclamou Kaldi.

—Cuidado, mestre Kaldi – disse Margareth, já começando a limpar o rosto de seu chefe – Seus nervos podem prejudicar sua pele.

—Pára com isso! - reclamou ele.

—Estamos em uma entrevista importante – disse Elena – Estamos tentando tirar informações desse criminoso há horas.

—Já disse que não tenho mais nada para dizer – falou Kaldi – A menos que...

—Não, não vamos te dar mais creme de amendoim. Sua cota semanal é o máximo que nosso orçamento pode cobrir – disse Elena.

—Vocês tornam tudo muito mais difícil – reclamou ele.

—Estão querendo que tipo de informação? - perguntou Lua.

—Quem é essa garota? - perguntou Elena.

—É a irmã de Estrela – disse Kevin – Na verdade, ela também é uma alienígena de alto risco.

—Ei! Eu ouvi isso, viu? Vou lembrar disso quando precisar de nota – reclamou Lua.

—Nota? - perguntou Elena.

—É. Ela também é professora na escola em que estamos disfarçados – explicou Kevin.

—Seja como for, vão embora – disse Elena – Não temos tempo para brincar com vocês.

—Opa. Eu não falaria isso se fosse você – disse Lua.

—É-é verdade, capitã Elena – tentei intervir, para tentar pelo menos amenizar o clima do local – Temos algo muito importante para tratar.

—E o que poderia ser? Seja o que for, eu... - mas Elena logo mudou de ideia, ao ver Estrela mostrando o cristal em sua mão.

—Isso é... - Kevin também não podia acreditar.

—O que é isso? Você pegou nosso Eternium? - perguntou Elena.

—Eternium? - repetiu Kaldi.

—Pelo que posso analisar, é um cristal de grande capacidade energética – informou Margareth.

—Justamente o que preciso para controlar o universo e... - mas a empolgação de Kaldi foi logo interrompida por Elena que abriu um alçapão bem abaixo dele e Margareth, mandando os dois de volta para suas celas.

—Agora isso é bem mais grave – disse Elena – O que significa isso, Estrela?

—Não é o Eternium de vocês – expliquei – Esse é outro.

—Como assim outro? - perguntou Elena.

—É uma longa história – disse Estrela, suspirando.

Contamos a longa história e Elena parece perturbada.

—Você tem noção do que está nos dizendo? - falou Elena – Temos uma civilização extremamente avançada com um conflito iminente com a Terra. A CICE não tem como dar conta disso sozinha. Vou repetir: você tem ideia da gravidade da situação?

—Por isso que viemos aqui pedir a colaboração de voces – explicou Estrela – Há um meio de impedi-los, quer dizer, pelo menos uma esperança.

—Esperança? Esperança quer dizer que não é certeza – reclamou Elena.

—Bem, é melhor do que não fazer nada, certamente – disse Estrela. Ela explicou a lenda de Edenis. Mas Elena ainda não parecia convencida.

—Parece muito fabuloso para mim – reclamou Elena.

—Escute, precisamos pegar o último cristal Eternium, mas ele está dividido em quatro fragmentos espalhados pelo universo. Já temos a localização deles, graças à tecnologia w-ana, mas preciso que vocês confiem para mim o outro cristal.

—Confiar a você? - disse Elena – Será que posso mesmo fazer isso?

—Por que não? - perguntei.

—Você também não é do Setor W? E se estiver nos enganando? Por que você ficaria do lado da Terra ao invés do seu local de origem? - perguntou Elena.

—Mas se estou me dando ao trabalho de fazer tudo isso é justamente por estar do lado da Terra, não é? - disse Estrela.

—Capitão Elena – Kevin entrou na conversa.

—O que foi? - perguntou ela, claramente irritada.

—Estrela pode ser excêntrica, mas é confiável – disse ele – Não quero admitir isso, mas...acompanhando o que ela fez desde que a conheço, posso garantir que é uma pessoa responsável.

—Ainda assim – Elena parecia irredutível.

—Já que não confiam em mim, o jeito é eu confiar em vocês – falou ela – Tome.

Estrela jogou o cristal para Elena, que o pegou prontamente com as mãos.

—O que está fazendo? - indagou a capitã.

—Pelo menos mantenham o cristal seguro enquanto Vitor e eu buscamos os fragmentos – disse Estrela – Quando conseguirmos todos, voltaremos aqui para pegá-lo de volta. Se estão tão desconfiados, venham com a gente para Edenis depois que tivermos todos eles.

—Bom...ficar com o segundo cristal certamente não é problema para nós – disse Kevin – Mas vocês acham que vão conseguir pegar os fragmentos?

—Só vamos saber se tentar – disse Estrela – Se precisarmos de ajuda, contataremos vocês. Vamos, Vitor.

—T-tá – já estava envolvido demais naquilo, era natural que eu precisava ir junto.

—E eu? - disse Lua.

—Você fica aqui – disse Estrela – A missão já será difícil. Com uma maluca como você junto, só tornará tudo mais complicado.

—Estrela, você é uma chata mesmo – disse Lua, mostrando a língua. Mas já tínhamos aberto um portal direto para a localização do primeiro fragmento do cristal. Assim que abri os olhos, dei de cara com um local bem estranho.

—É...aqui? - perguntei.

Realmente, era um lugar bem peculiar...