See The Light escrita por Junebug


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Heeey =]

Antes de tudo, quero dizer "muito obrigadaaa! ^^" pelas recomendações, Who Says e Laurinha, suas lindas! Fico muito feliz mesmo que estejam gostando e acompanhando a fic!
Quero dedicar esse capítulo a vocês. Ele é mais um complemento do capítulo anterior (por isso saiu um pouquinho curto), mas eu me diverti escrevendo e espero que gostem ^3^



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You do what you wanna do

Você faz o que quer fazer

And say what you wanna say

E diz o que quer dizer

So, come on and be my light

Então, venha e seja minha luz

Come on and lead the way

Venha e guie o caminho

(Do What You Wanna Do – Acid House Kings)

~

Apesar de um ou outro trovão mais intimidador e da casual luz do relâmpago invadindo o quarto, Nico gostava da sensação de se deitar ouvindo a chuva cair. Seria perfeitamente a paz que ele estava procurando se não pudesse ainda ouvir um pouco do ruído das risadas vindo da sala de vez em quando.

Nico chegava a se sentir ofendido com tanta felicidade. Achava que era particularmente cruel da parte de Will estar naquele círculo de alegria enquanto a cabeça de Nico fervia com pensamentos confusos e Will era um dos motivos, e devia suspeitar disso.

O garoto pensava na confissão que tinha feito e se debatia entre o arrependimento e o alívio. Mas tudo era ofuscado pela lembrança do rosto de Will de olhos fechados tão perto e Nico podia sentir de novo o toque macio e quente em seus lábios. Nesse momento a imagem de Percy Jackson surgia e Nico sentia raiva dele quase tanto quanto sentia de si mesmo, então cobria o rosto com as duas mãos, grunhindo.

Foi num desses momentos que ele foi surpreendido pela porta do quarto abrindo e Will entrou a tempo de vê-lo tirando as mãos do rosto, sem poder cumprir sua intenção de fingir que estava dormindo para não ser incomodado.

— Ainda acordado? – Will perguntou. –Não vai me dizer para dormir em outro lugar, vai?

— Durma onde bem entender, Solace – Nico retrucou, olhando para cima.

— Ah, que bom – Will suspirou teatralmente. – Eu estava pensando que você talvez estivesse com esse plano de me pedir para trocar de lugar com o Jackson ou algo do tipo... Você sabia que ele, Jason e Leo vão ter que dividir uma cama de casal no outro quarto de hóspedes? Leo diz que vai tirar uma foto e espalhar boatos pela escola só por diversão...

Nico quase achou graça e pensou em como tinha sorte de haver duas camas ali. Do contrário, ele teria que dormir no chão, porque seria simplesmente insuportável aguentar as piadinhas de Will.

Por um tempo, só ouviu o som dele se movimentando pelo quarto. Só depois que a última luz foi apagada e um barulho indicou que Will tinha se jogado na cama, foi que este voltou a falar:

— O que você acha que seria feito com essa divisão de quartos politicamente correta se eles, tipo, soubessem? –Nico não expressou nenhuma opinião e ele prosseguiu: - Digamos... Se houvesse só um quarto de hóspedes e eles soubessem... Será que nos colocariam para dormir com Piper e Annabeth?

Will riu sozinho da própria ideia. Nico revirou os olhos, ainda que o outro não pudesse enxergar isso.

— Dá até vontade de contar só para descobrir – disse Will, o final da frase saindo junto com um bocejo. – Se apenas eu não estivesse cansado...

Passaram-se alguns minutos e Nico chegou a achar que ele já tinha adormecido. Chegou a virar o rosto devagar para tentar enxergar, mas o quarto estava muito escuro. Will, no entanto, voltou a falar, agora sem sinal de brincadeira:

— O que tinha acontecido com o garoto?

Nico logo entendeu a que ele se referia, mas continuou calado.

— O garoto que estava no baú...

Nico acabou por quebrar sua decisão de ignorar Will. Começou meio que pensando em voz alta:

— Paolo... Era assim que ele disse que se chamava. Disse que havia soldados hospedados na casa, por isso precisávamos ser bem silenciosos enquanto procurávamos o tesouro... – Depois ele decidiu que já que Will o tinha feito falar, o jeito era explicar melhor: - Minha mãe tinha me levado para conhecer a Itália... Logo que os médicos me liberaram após o incidente, nós partimos para Veneza... Eu só pude entender direito o que tinha acontecido um tempo depois...Descobriram que ele esteve ali por várias décadas, desde a época da guerra... O interessante é que tudo indicava que ele tinha sido posto no baú depois de morto, sendo que não havia sinal de qualquer lesão nos ossos, indicando qualquer violência. Ele deve ter morrido de alguma doença... Mas não dava para saber a causa da morte, nem por que o colocaram ali... Talvez sua família tenha precisado partir às pressas sem poder enterrá-lo, foi o melhor que puderam supor.

— Você se sente mal lembrando disso? – perguntou Will em tom de desculpas.

— Você diz por causa do escuro? – Nico riu, sem humor. – O escuro é bom. É difícil enxergar qualquer coisa nele...

— Ah – fez Will, como se tivesse finalmente entendido algo importante.

Em algum momento no silêncio depois disso, Nico pegou no sono. Ele se viu do lado de fora com o sol de volta, mas era um sol mais firme que o daquela manhã, talvez de primavera. As flores espalhadas por toda parte pareciam querer deixar claro que aquilo era um sonho. Nico podia enxergar a baía e ouvir uma grande balburdia de pássaros, mas algo parecia errado, não só porque a estação parecia ter mudado. Depois ele concluiu que era porque estava naquela mesma baía, mas num ponto diferente. Em seu sonho, ele se perguntou se estaria muito longe da casa de Piper McLean, enquanto caminhava pela beirada elevada observando as gaivotas. Foi quando distinguiu um som além do que elas faziam. Era alguém cantando.

Ele se virou e seguiu na direção da música. Era uma cantiga francesa e quem a cantava era uma garota sentada ao pé de um imenso carvalho vestida em roupas brancas que eram claramente de outro século. Ela sorriu para Nico quando ele se aproximou.

— Olá – disse ela. – Estive esperando por um longo tempo. Por favor – ela pôs uma mão no chão ao seu lado.

Depois de hesitar um pouco, ele se sentou, se sentindo um pouco estranho ao perceber que estava com a exata mesma calça de moletom e camisa preta com que fora dormir.

Já sentado, ele se viu de frente a uma bela casa que parecia quase encaixada ao pé da colina. Parecia saída de um conto de fadas.

— Adorável, não é? Era chamada de “A Joia do Bosque” - disse a garota com orgulho.

Era um pouco difícil entender o que ela dizia com o forte sotaque francês e o vocabulário meio afetado.

— Ele foi construído por ordem de um General para sua jovem amante francesa... Com certeza já ouviu falar da condessa de Pellerin...?

Nico olhou para ela e fez que não. Ela pareceu decepcionada, mas continuou:

— Depois da conveniente morte de seu desprezível marido antes do inverno seguinte ao casamento, Sophie Briand veio para a América, numa ousada viagem além-mar, ansiando por novos ares... Era um novo mundo, todos alegavam. Não havia nada de tão novo... Mas ela viveu nesse château pelos dois melhores anos de sua vida... ou um pouco menos que isso... – terminou com um olhar triste para o colo, onde alisou o tecido de seu vestido.

— Era você? – Nico perguntou.

Claro que ele sabia que eram outros tempos, mas não deixou de se admirar sabendo que aquela menina, que devia ser só alguns anos mais velha que ele, tinha conseguido ser viúva e depois amante de alguém antes de morrer.

— A lápide costumava ficar aqui sob o grande carvalho... – ela virou o rosto para olhar o lugar exato. Seu longo cabelo louro avermelhado estava preso num meio coque e quando o vento bateu nele o olfato de Nico foi invadido por um aroma de flores silvestres. – Mas ela foi arrancada por aquele infeliz energúmeno...

— O quê?

— Ele! – os olhos dela voltaram-se novamente para ele, agora úmidos, vermelhos e raivosos. – Que profanou meu lindo lar dos sonhos com sua amoralidade!

— Está falando do seu amante?

— Meu Henry? Obviamente não! Falo daquele maldito homem que tomou minha Joia do Bosque para si! Você precisa fazê-lo ir embora!

Ela tomou as duas mãos de Nico nas suas e ele foi obrigado a encarar seus olhos cinza-azulados.

— Me desculpe... Eu... Eu não sei do que você está falando...

— Profanou minha bela casa, plantando a angustia e o sofrimento...– ela prosseguia.

Nico, que tinha certa experiência em situações do tipo, fechou os olhos com força quebrando o contato com os olhos hipnóticos da garota como se quebrasse um tipo de feitiço. Ele ainda pôde ouvi-la e sentir suas mãos até conseguir voltar a levantar as pálpebras pesadas e ver que estava de volta à sua cama e podia enxergar o teto do quarto de hóspedes.

Nico se sentou rapidamente, esfregando o rosto. Já era manhã. A chuva tinha passado, mas pela janela dava para ver que o céu continuava cheio de nuvens.A princípio, não havia sinal de Will no quarto, a não ser sua cama bagunçada, mas em pouco tempo ele voltou.

— Ah, bom-dia raio de sol – brincou ele.

Sentado na beirada da cama, com os pés pendentes, Nico perguntou, meio grogue:

— Que horas são? – Ele achou que devia ser tarde porque Will parecia muito acordado, não era como se tivesse levantado só para ir ao banheiro ou algo do tipo.

— Quase sete, acho.

Sete?! Que horas você acordou?

— Eu não consigo ficar dormindo por muito tempo depois que o sol aparece, mesmo quando ele tecnicamente não aparece... – Will deu de ombros. - É estranho. Eu sei.

— É bem estranho.

— Mas e você? Parece ter sido acordado por uma buzina...

Nico falou, bocejando:

— Eu tive um sonho esquisito com uma garota francesa... Ela dizia ser uma condessa e me mostrava uma casa que seu amante tinha construído para ela e que tinha sido profanada ou algo assim...

Falando essas bizarrices assim em voz alta nem ele mesmo levava a sério.

— Que coisa engraçada com que sonhar... – Will franziu a testa. - Olhe só, eu estava indo comprar algo para comer, você não quer vir?

Nico levantou os olhos e viu que Will tinha na mão uma chave de carro.

— Isso é...

— Do carro de Jason.

— Você pegou escondido?

— Não foi escondido. Eu perguntei baixinho se podia sair um pouco com o carro. Ele fez um barulho com a garganta e afundou a cabeça no travesseiro... A chave estava no criado-mudo... – depois acrescentou: – Sei que ele não se importa. De verdade.

— Você não tem idade para dirigir.

— Sério? – Will entortou a boca. – Eu estou só alguns meses adiantado!... Quer vir ou não?

Nico grunhiu. Bem, não seria ruim sair daquela casa um pouco...

— Me dê cinco minutos – ele disse, saltando da cama.

Eles compraram donuts e chocolate quente que Will não quis comer na cafeteria da estrada. Em vez disso ele parou o carro num acostamento de frente para o mar. Nico não teria gostado muito da vista se fosse um dia ensolarado, mas como o sol estava bem encoberto pelas nuvens e dava para ouvir o mar revolto batendo nas rochas lá embaixo, ele não chegou a reclamar.

Will pegou um donut e mordeu com vontade, o que deixou sua boca cheia de açúcar. Nico não percebeu que estava encarando até que ele perguntou com um sorriso:

— O que foi?

Nico desviou os olhos para sua própria caixa de donuts. Pegou um com cobertura de chocolate, mas não se sentia com muita fome, então resolveu dizer:

— Meu pai sempre manda comprar coisas assim para o café quando está em casa. Ele não teve uma infância muito normal, então não faz muita ideia do que famílias normais comem no café da manhã...

— Você nunca fala do seu pai... – comentou Will depois de uma pausa.

— Não há nada para falar... Ele é só um cara que quase nunca está em casa... Acho que toda vez que chega, ele demora um tempo para se lembrar quem são aqueles garotos que moram ali.

— Não sei se meu pai se lembra de mim quando isso não lhe traz algum benefício... – disse Will, como que dizendo que Nico não precisa se chatear por um comportamento tão normal. - Tipo, ele gosta de ouvir as pessoas dizerem que não é possível que tenha um filho da minha idade... Às vezes também acha conveniente me levar para conhecer alguma namorada... – depois acrescentou, simplesmente, encolhendo os ombros: - ou namorado.

Will sorriu vendo os olhos de Nico se arregalarem um pouco ao ouvir aquilo. Nico pensou que eles iam voltar ao assunto do dia anterior e se sentiu apreensivo, mas Will apenas suspirou e comentou:

— Acho que devemos voltar. Jason pode já ter acordado e não tenho muita certeza que ele tenha me ouvido pedir o carro emprestado...

Nico balançou a cabeça reprovadoramente com um esboço de sorriso, sentindo-se um tanto desapontado.

Quando eles saíram, Will ligou o rádio e falou com uma risadinha:

— Olha só! Falando no diabo...

Nico percebe a que ele está se referindo quando se dá conta que a música que está tocando é do próprio pai de Will, Apolo.

…Only you inspire the melody in me

(Só você inspira a melodia em mim)

I’m happy as the sun

(Eu fico feliz como o sol)

Lighter than a feather

(Mais leve que uma pena)

Walking on the clouds

(Andando nas nuvens)

When we are together

(Quando estamos juntos)

Everyday with you just keeps getting better

(Todo dia com você só fica melhor)

The world is as it should be

(O mundo é como deveria ser)

When you are here with me

(Quando você está aqui comigo)

How could I go wrong when you are here with me

(Como posso me enganar quando você está aqui comigo?)

How could I be anything, but smiling

(Como posso fazer outra coisa senão sorrir?)

Happy as the sun

(Feliz como o sol)

Lighter than a feather

(Mais leve que uma pena)*

— Argh – faz Nico, mudando de estação. – Isso parece um pesadelo. “Feliz como o sol”... Que piada!

Will apenas ri de novo, como se já esperasse essa reação. Nico para quando encontra outra música tocando. Ela está começando:

Hello darkness, my old friend

(Olá escuridão, minha velha amiga)

I’ve come to talk with you again…

(Eu vim conversar com você de novo)*

Ele olha para Will, que cai na gargalhada, e Nico acaba rindo também, de um jeito que ele muito raramente ria, a ponto de fazer seu rosto e sua barriga doerem.

Depois que eles voltam a ficar em silêncio o único barulho passa a ser o da música no rádio e Nico fica olhando pela janela, se perguntando se o château que vira em seu sonho realmente ficava além de algum daqueles caminhos que saiam da estrada, ao pé de alguma daquelas colinas.

— A casa da sua amiga francesa fica por aqui? – Will pergunta, de repente.

Nico vira o rosto para ele.

— Ah, por favor, não é difícil adivinhar – Acrescenta Will.

— Suponho que sim – responde Nico. – Mas, sinceramente, não faço questão de ter certeza... Ainda nem me livrei do último morto com quem me meti... – Ele se lembra de Tim Avery, que ainda parecia estar esperando algo de Nico.

— Você tem pensado naquilo que Rachel disse? Ainda acha que ela se referia a ele?

— Acho que sim, mas não tenho como saber o que ela queria dizer! Supostamente ele deveria salvar uma vida ou talvez ela se referisse à vida dele... Mas como a vida dele poderia ser salva se ele está morto?

— Tenho certeza que vamos acabar descobrindo – assegura-lhe Will, com um tom e um sorriso encorajadores que fazem Nico confiar plenamente no que ele diz, para logo em seguida se sentir tolo por isso.


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Notas finais do capítulo

As músicas:

*'Happy as the Sun' na "vida real" (rs) é cantada por Tyrone Wells.

*'The Sound of Silence' de Simon & Garfunkel.



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