Meu paizinho Naraku escrita por Okaasan


Capítulo 9
Kikyou, a Alma Furiosa


Notas iniciais do capítulo

Kohaku e Kikyou finalmente entram em cena! A pobre e infeliz sacerdotisa é vitimada por uma estranha e desagradável TPM.
Naraku e Kagome estão prestes a voltar para a era feudal. Como será o retorno?

(NOTA: Pessoal, eu curto demais a Kikyou, mas 'cês tão ligados que isso aqui é humor, né?)



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Kikyou, a Alma Furiosa


Kohaku, desanimado, contava uma fileira de formigas saúvas sob uma pereira, enquanto aguardava a sacerdotisa revivida terminar um curativo de uma idosa, num vilarejo que fora atacado alguns meses atrás por bandidos. Com muita perseverança e esforço, os aldeões aos poucos se reerguiam do monturo. O adolescente se sentia honrado em ajudar aquelas pessoas e mesmo feliz por seguir uma alma bondosa como Kikyou. Era um bálsamo para sua alma atormentada, depois daqueles meses tenebrosos em que fora vítima do demoníaco Naraku.

Contudo, aquele dia não estava sendo nada agradável. Kikyou estava estranhamente irritada e impaciente; ignorava-o quando ele perguntava o motivo de sua zanga e mantinha o cenho franzido constantemente. E, a todo momento, lhe mandava procurar abacates para ela comer. Aquilo, obviamente, não era normal.

— Muito grata, muito grata, sacerdotisa! Que os deuses te protejam! Mas não se vá, vamos comer... — exclamava a filha da velhinha, fazendo muitas reverências. Kikyou, entretanto, parecia apressada.

— Não é preciso, não tenho fome... Vou partir, adeus! Boa sorte a todos!

Os filhos da dona da casa também apareceram à porta, acenando para Kikyou.

— Adeus, senhorita bonita! — disse o garotinho de uns seis anos. Ela acenou de volta, dando um pequeno sorriso (o primeiro do dia, na verdade). Contudo, um garotinho menor que também estava ali exclamou:

— Senhorita bonita, o que é essa coisa perto do seu nariz? Foi um bicho que te picou?

— Que coisa? — indagou ela, confusa. A mãe do menino apressou-se em se desculpar:

— Makoto, seu mal educado! Me perdoe, senhorita Kikyou, vou dar um corretivo nesse moleque... Não se fala assim com os mais velhos! Principalmente com uma pessoa tão generosa quanto a sacerdotisa, não importa que ela esteja com uma espinha inflamada no rosto! Entendeu, Makoto?

A sacerdotisa piscou várias vezes, apreensiva, sem ouvir o restante da frase após o termo “espinha”. Despediu-se desajeitadamente e chegou à pereira, inquirindo respostas do jovem taijiya:

— O que há de errado em meu rosto, Kohaku?

— Err... — titubeou o menino, corando.

— Não precisa ficar com receio, meu jovem, diga.

Kohaku suspirou, ainda temeroso.

— Tem uma espinha inflamada perto do seu nariz, senhorita... Senhorita?

Kikyou recomeçou a andar um tanto quanto depressa para suas condições de saúde. Seu corpo frágil, oriundo de barro, ainda estava envenenado com o miasma de Naraku. E, como se não bastasse, experimentava todos os desagradáveis sintomas que precediam suas “regras”, pela primeira vez desde que fora ressuscitada à força por Urasue. Por isso, ela não esperava...

Alheio a esses detalhes, no momento, tudo o que Kohaku via era uma mulher absurdamente furiosa.

— Espere, senhorita Kikyou! — exclamou Kohaku.

— Ande logo, temos muito o que andar hoje! — retrucou a moça, irada. — A propósito, Kohaku, quero um abacate!

— O quê? Mas a senhorita não disse há pouco que não estava com fom- — o jovem calou-se, ao ver a expressão amedrontadora daquela alma furiosa que era a sacerdotisa.

— A-ba-ca-te! Quero comer um abacate! Vá caçar um para mim! AGORA!

***

Entardecer em Tóquio, templo dos Higurashi.

Sacolas, mochilas, malas: Naraku e Kagome estavam prontos para voltar. Ou melhor, quase prontos, pois o pequeno akita estava agitado dentro da sua caixa colorida para animais. O vilão, agora, vestia suas roupas de senhor feudal, mas ainda conservava os sapatos de dança nos pés. Os cabelos continuavam com o volume miraculosamente controlado.

— Eu não suporto mais esse bicho latindo! — bradou o hanyou, meio emborcado devido ao peso das bagagens.

— Deixe de ser chato! O pobrezinho está assustado aí dentro, não é, meu fofinho? — replicou Kagome, fazendo um biquinho engraçado para se dirigir ao animal. Naraku fez cara de nojo.

— Odeio cachorros, sejam eles animais ou youkais! Ou hanyous, como um idiota de coleira-kotodama que eu conheço...

— Quer parar de palhaçada, projeto mal feito de youkai? Deixe InuYasha fora disso!

— Ah, então sou eu que sou atirado ao chão sempre que você diz "senta!", é? Quem é o projeto mal feito de youkai agora? — retrucou o hanyou ironicamente.

Kagome quis erguer a mão para dar um tapa em Naraku, mas o excesso de sacolas não deixou. Olhou furiosa para ele, que ria sem reservas.

— Huhuhuhu... Opa, temos um trato, pequena miko. Sem ataques durante uma semana.

— Au, au! — fez o cãozinho, impaciente.

— Tá, tá! Vamos! — disse ela, muito contrariada, já se sentando na beira do poço. Porém Naraku parecia meio ausente, olhando uma última vez para a casa. — O que foi agora?

O hanyou relembrava os momentos alegres que vivera naquela era agitada e desconhecida; a música de Michael Jackson, o restaurante, os sorvetes, as lojas, até mesmo a companhia jovial de Kagome lhe agradara. Sentiu uma imensa saudade das crias, ao ver os diversos humanos passeando com seus filhos, na praça próxima à Ice Cream City.

— Acho que vou sentir falta daqui... — murmurou ele, pensativo.

— Ah, não enrole, Naraku! Não temos o dia inteiro! — replicou Kagome, não querendo que ele notasse que ela também apreciara aquele dia divertido.

Desajeitadamente, o vilão se aproximou do poço; Kagome optou por deixá-lo ir primeiro, saltando logo em seguida. Enquanto mergulhavam naquela dimensão paralela, Naraku sentia seu youki recuperar a força e vibrou de contentamento. Os olhos castanho-claros voltaram à cor de sangue e um tentáculo saiu da base da coluna de Naraku, agarrando Kagome pela cintura. Que, claro, não gostou.

— O que você está fazendo, idiota? — gritou a jovem.

— Isso! Fique bem nervosa! Grite!

— O quê?!

— Estou te sequestrando! Assim que o seu bando nos encontrar, vou dizer a eles que você é minha refém. Então, aquele tapado do InuYasha vai me atacar, vou te largar no chão e você fingirá que quebrou a perna...

— Ei, isso é loucura! — protestou ela.

— Por acaso, você quer que eu quebre sua perna de verdade, maldita?

— ... — Kagome estava sem palavras diante de Naraku e sua ideia bizarra, que tinha tudo para dar errado.

— Por fim, eles te pouparão e ficarão pelo menos uma semana sem ir atrás de mim — arrematou ele, triunfante.

— Você já foi mais inteligente, Naraku... — resmungou a jovem.

— O que está insinuando, miko? Minha ideia é perfeita!

Emergiram do poço, dentro da barreira criada pelo vilão. Ele notara que ainda estava muito fraco, mas não comentou nada a respeito com a jovem. Kagome olhou para o hanyou e deu por falta das bagagens e do cachorro.

— Cadê o akita? E suas coisas?

— Absorvi tudo — respondeu ele, com simplicidade. — No castelo eu as tirarei daqui. Agora vamos!

— Para onde? — inquiriu ela.

— Ora, para a casa da miko velha. Com certeza, seu bando estará lá — e, empolgado, concluiu: — Estou louco para voltar para casa!

***

Com um copinho infantil de plástico, InuYasha, já recuperado da indigestão, se aproximava meio receoso de seu irmão, que permanecera sentado ao pé da mangueira, com uma expressão de desagrado, os olhos fechados.

— Ei — fez o hanyou. Sesshoumaru continuou imóvel. — Isto é um antiácido. Remédio. Para o estômago.

Silêncio.

— É para você, idiota. Eu que prep... Digo, a Sango que preparou.

Silêncio.

— Por acaso você morreu aí, filho da...

— Claro que não — resmungou o youkai branco, ironicamente, enquanto se remexia desconfortável. — Estou apenas apreciando a voz do meu prezado meio-irmão enquanto sinto esse desconforto pavoroso no ventre, depois de tomar aquele veneno gelado...

De repente, Sesshoumaru arregalou os olhos; lembrara-se de que Rin também ingerira a substância desconhecida.

— InuYasha! — tonitruou ele, aflito. — A taijiya deu o antídoto do veneno para minha Rin também? Como ela está?

— Veneno? O refrigerante? — volveu InuYasha, rindo. — A pirralhinha está ótima, já tomou mais duas latinhas e não sentiu nada. Só não para de cantarolar que “o arroto do senhor Sesshoumaru é animal, fez o senhor Jaken voar como um pardal”...

O youkai branco fechou a cara. Era bem típico de Rin inventar cantigas estranhas relacionadas a ele...

— Anda logo, Sesshoumaru, tome logo o antiácido.

— Não preciso disso — rosnou o outro.

— Deixe de ser idiota, até o seu quimono está molhado de suor! Deixe de pose e tome logo essa porcaria. Senão, eu vou conto para a Rin que você está parecendo um moleque humano teim-

Pof! O hanyou fora derrubado no chão sem sequer notar de onde fora atingido. Voltou furioso os olhos para o irmão que, ainda sentado, segurava o copinho de plástico. Sesshoumaru aspirou de leve o odor do medicamento e, por fim, bebeu-o, sentindo um leve ardor na garganta.

— Você me derrubou com uma rasteira, maldito! Quer brigar? — vociferava o mais novo, já com a mão na bainha da Tessaiga. — Eu juro que vou te...

E, seguido de um ruído ensurdecedor, um arroto do youkai branco derrubou InuYasha no chão, mais uma vez, fazendo-o sair rolando pela grama. Mais aliviado, Sesshoumaru se ergueu e saiu andando em direção à casa de Kaede.

— Até que você não é tão inútil assim, hanyou — disse ele, sem se virar para trás, dando um de seus raros sorrisos. Era seu jeito de agradecer.

***

Kikyou, acompanhada por Kohaku, andava a passos lentos pela floresta, desconfortável, quando estacou repentinamente e empunhou seu arco. O garoto, que já estava meio cansado do mau humor que a sacerdotisa demonstrava desde o dia anterior, piorado por causa da espinha inflamada que lhe aparecera na face pálida, questionou:

— Algum problema, senhorita Kikyou?

— Naraku está por perto, Kohaku. Prepare-se.

De fato, alguns minutos depois, o hanyou aparecera com Kagome presa pela cintura. Ambos se surpreenderam, mas Naraku logo se pronunciou:

— Prezada miko Kikyou, jovem taijiya Kohaku — sorriu, sarcástico. — Que bom revê-los.

Kikyou apontou a flecha.

— O que está tramando, Onigumo? Solte Kagome imediatamente!

— Huh, que agressividade, minha querida. Mas não tenho tempo para você agora. Quanto a Kagome — olhou para cima, fingindo pensar — não acho que devo soltar minha refém...

A sacerdotisa e Kohaku se espantaram, mas não saíram da defensiva.

— Kikyou, Kohaku! Fujam! — gritou a jovem.

— Claro que não! — bradou Kikyou. — Solte-a ou vou purificá-lo! Não sei o que você está pretendendo com essas folhas e flores no cabelo, mas nada o torna imune a uma flecha purificadora!

— De novo essa tolice? Você e essa maldita aqui estão loucas, não tem nada em meus cabelos... — retrucou ele, aborrecido. — E saia do meu caminho com esse moleque, Kikyou! Tenho pressa!

O fato era que a proximidade com duas sacerdotisas estava minando todo o youki de Naraku, que, justo naquele instante, voltara a sentir dor de cabeça. Contudo, ele não resistiu a uma provocação:

— Que marca feia essa na sua fronte, querida Kikyou. Você não tinha espinhas antes... Huhuhuhu...

— Vou matar você, Onigumo! Solte a menina! — gritou a moça, totalmente furiosa.

— Você é quem vai ser morta se ousar atacar o meu chichi-ue, miko Kikyou — soou uma voz infantil e inexpressiva vindo do alto.

Imediatamente, Naraku voltou os olhos para cima: suas crias miravam Kikyou e Kohaku com o espelho e o leque, de cima da pena voadora. Pelos deuses, vai haver uma guerra aqui!, pensou Kagome, aflita.

— Kanna, Kagura! Minhas meninas! — bradou ele.

— Mas o que está acontecendo aqui? — berrou InuYasha, que chegava apressado no local, após sentir o cheiro das sacerdotisas.

— Naraku! Se afaste das mikos! Você corre perigo! — gritou Kagura.

— Venha, chichi-ue, vamos para casa... — disse Kanna, estendendo a mãozinha para ele, que se esqueceu de tudo naquele instante. Atirando Kagome de qualquer jeito sobre Kikyou, o hanyou flutuou até a pena de Kagura e abraçou fortemente as crias, apaixonado, sufocando-as.

— Kagome! Kikyou! — gritou InuYasha, indo acudi-las. A sacerdotisa, no entanto, estava furiosa. Empurrando a colegial de sobre si, empunhava o arco de novo, mirando o trio de youkais que estava distraído.

— Ei! — bradou Kagome. — Kikyou, espere!

A flecha foi certeira contra as costas de Naraku, que estava tirando as sacolas de dentro do corpo. Antes de ser atingido, contudo, num rápido reflexo ele jogou uma caixa contra a flecha. Ainda fraco para fazer uma barreira eficiente, ele gritou de cima da pena, que rapidamente sumia das vistas de todos:

— Nos deixem em paz, infelizes!

Em seguida, houve um estrondo no ar e uma chuva de bombons derretidos, que deixou todos os presentes bastante sujos de chocolate.

***

O youkai branco se aproximava da casa da velha sacerdotisa, quando ouviu alguns gritos e reconheceu as vozes de Naraku e Kagome. Apenas bradara para os humanos da casa: “Naraku está próximo” e, sem esperar ninguém, rapidamente voou até o local de onde vieram as vozes. A cena era estranha: Kagome, Kikyou, Kohaku e InuYasha estavam totalmente cobertos de uma substância viscosa de cor marrom, farelos de coco ralado e pedacinhos de avelãs.

— Aquele maldito Naraku! — vociferava o hanyou. Kagome, ao cair sobre Kikyou, acabou por machucar o pé de verdade e franzia o cenho, devido à dor. Contudo, estava aliviada por ver que não houvera confrontos. Kohaku, após ajudar Kikyou a se sentar em uma rocha, olhava curioso para um doce intacto que havia caído sobre si.

— Pode comer, Kohaku, é uma trufa — disse Kagome. O jovem imediatamente pôs a guloseima na boca.

— Kagome, o que aquele maldito te fez? Ele a atacou assim que você saiu do poço? — ia perguntando InuYasha, quando viu Sesshoumaru alçar voo. — Ei, onde você vai, Sesshoumaru?

— Já que você prefere abanar o rabo para esses humanos, este Sesshoumaru irá atrás deles, maldito.

— Não! Você não tem nada a ver com isso, quem vai sou eu! — berrou o outro. — Kohaku! Cuide delas para mim! Leve-as para Kaede!

— Espere, InuYasha! — gritou a colegial. Mas já o hanyou tinha sumido das vistas deles. No mesmo instante, chegavam Sango, Miroku, Kaede e Jaken, que não se conformava por ter sido deixado para trás por seu mestre. Kikyou, calada, teve um mau pressentimento.



Continua...


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Notas finais do capítulo

Eu sei que esse capítulo não ficou assim tão engraçado, mas é que a Kikyou, para mim, evoca melancolia, tristeza. Não consegui zoar muito com ela (o que, de certa forma, será melhor para o desenrolar da trama).
(A propósito, quem aí curtiu a "Rin compositora"? kkkk)

Sinto informar, mas, no próximo capítulo, vai rolar um pouco de 'angst'. Um personagem vai morrer, infelizmente. Preparem os corações, porque máscaras vão cair!

Muito obrigada a todos que acompanham esta história.

~TheOkaasan



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