Meu paizinho Naraku escrita por Okaasan


Capítulo 17
O fim de um sonho


Notas iniciais do capítulo

Duzentos anos depois, eu apareço...
Mais um capítulo da reta final de "Meu Paizinho, Naraku". O texto a seguir, na verdade, tinha mais de 7 mil palavras. Preferi dividi-lo para não sobrecarregar a quem lê e nem destoar do restante da fic, que é composta por capítulos mais breves.
Enfim, não percamos tempo! Vamos ler nossa atualização desta fanfic tão repleta de sentimentos.

Boa leitura!



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Alguns momentos antes

 

Kanna e Byakuya voavam velozmente em direção ao castelo. A pequena youkai soltou uma imprecação de revolta:

— O papai não podia ter feito isso! Veja quantas léguas ele se afastou de nós!

— Não precisa ficar nervosa, minha pequena — comentou o youkai ilusionista, olhando para a frente. — Não vai demorar até que consigamos alcançar o castelo.

Porém, nem tudo seria tão fácil. Os dois filhos de Naraku foram surpreendidos por uma explosão de energia sinistra bem abaixo de si, que quase os acertou, e um grito muito familiar aos ouvidos de Kanna:

— BAKURYUUHA!

— Ah, essa não! — protestou a pequena albina. — Esse pulguento tinha que aparecer logo agora?!

De fato, InuYasha vinha montado no lombo de Kirara com Miroku, enquanto disparava rajadas de youki contra o tsuru de Byakuya. Este, sem se abalar muito, sacou outro tsuru de dentro do quimono e o atirou em direção aos seus oponentes: um sem-número de youkais grotescos e horripilantes se materializou no ar, enquanto Kanna lhe dizia:

— Eles têm muito receio dos saimyousho do papai.

— Ah, bom saber — respondeu Byakuya, criando mais ilusões e confundindo seus perseguidores por um momento. — Então esse humano com orelhas de cachorro é o InuYasha?

— Ele é um hanyou, não um humano.

— Ah, claro... É que eu não entendo muito bem sobre essas coisas. Ele é como Naraku?

— Mais ou menos. Depois eu te explico, tá certo? Olha! Estamos chegando! Continue despistando esses dois. Eu vou pegar Ishiteimei lá dentro.

Byakuya flutuou sobre os muros da propriedade deserta, meio apreensivo por deixar a criança descer sozinha para lá. Enfim, ele intuiu que ela, apesar de pequenina, saberia se defender bem. Naquela família, ele é quem era o “recém-nascido”. InuYasha e Miroku ainda demorariam um tempo para conseguir encontrá-los, se é que eles conseguiriam, pensou o youkai.

Já no meio do quintal, Kanna enxergou rapidamente o youkai pedra, que reluzia fortemente. Preocupada, a youkai do espelho correu até ele, que parecia agoniado e nervoso. Ela recolheu os últimos galhos verdes do último azevinheiro que restava e se pôs a ‘alimentar’ o responsável pelo feitiço.

— Criança! Como pôde sumir por tanto tempo?! Falta pouco para que o encantamento se extinga.

— Eu sei disso. Agora quero que me diga o que devo fazer quando chegar a hora.

Ishiteimei ficou alguns instantes em silêncio, intrigando a criança.

— Vejamos, pequena... Eu existo já há algumas centenas de anos. No entanto, o encantamento que fiz para você é diferente de todos os outros que já realizei na vida. Seu pai é uma mistura de humano feiticeiro com sabe-se lá quantos youkais de diversas espécies. É impossível dizer o que pode suceder a ele...

— Quer dizer que ele corre perigo?!

— Quero dizer que pode ter algum problema, como também pode não ter — replicou o youkai, cauteloso. — Uma coisa é certa: eu preciso estar junto de seu pai à meia-noite. É de suma importância. Quando os efeitos do encantamento acabarem, assim que eu vir as reações de seu pai, poderei lhe dizer o que fazer.

Kanna pegou o youkai e saiu andando para dentro do castelo com ele, enquanto conversavam. Agilmente, ela chegou ao quarto de Naraku e pegou alguns dos novos pertences dele, enfiando-os numa mochila.

— Para que servem essas coisas estranhas? — indagou Ishiteimei.

— Meu pai pode precisar disso. Não voltaremos mais para este castelo, pois nossos inimigos estão nos perseguindo. É uma questão de tempo para que eles nos encontrem aqui.

Quando se deu por satisfeita, a albina foi até a caixa colorida onde seu akita dormia tranquilamente. Kanna se atrapalhou um pouco para carregar a mochila, Ishiteimei e o cachorro, mas se foi dali assim mesmo, desengonçada. Ao chegar do lado de fora, Byakuya já não estava mais sobre o muro. Ela iria gritar por ele, quando se lembrou do miosótis encantado em seus cabelos. Concentrando-se, Kanna mentalizou seu companheiro, que logo respondia ao seu chamado por telepatia.

— “Kanna, aqueles dois estavam muito próximos daqui, então fui obrigado a sair para afastá-los. Estou a oeste do castelo, você vai ficar bem?”

Suspirando resignada, a pequena fechou os olhos.

— “Sim, eu vou ficar bem. Não precisa voltar para me buscar, vou procurar Naraku.”

— “Mas preciso manter você segura. Seria melhor se você ficasse aí me esperando.”

— “Não temos tempo para isso, Byakuya. E eu sei me defender, nada de ruim vai acontecer conosco.”

Kanna recomeçou a andar com dificuldade. O youkai a interpelou:

— Criança, você está cheia de peso. Tem certeza de que isso tudo que carrega é necessário?

— São as coisas do meu pai.

— Mas ele pode voltar aqui para buscá-las, não pode?

Um sentimento novo e inesperado assaltou o coraçãozinho da albina. Ela experimentava a incerteza e o medo; tentando, porém, não se abalar, ela se aprumou, resoluta, e encarou longamente o akita, para depois olhar significativamente para Ishiteimei.

— Tive uma ideia, Ishiteimei. Pode realizar mais um desejo meu?

— Se estiver ao meu alcance...

Kanna estreitou os olhos.

— Você vai me levar até onde a miko Kagome está.

 

***

 

A alguns quilômetros dali, no lombo de Kirara, Miroku e InuYasha já estavam cansados de lutar contra as centenas de youkais que os atacavam. Inconformado, o hanyou xingava a todo momento. O monge, por sua vez, estava calado e reflexivo, com o cenho franzido.

— Que cara é essa, maldito? — inquiriu InuYasha, com a Tessaiga desembainhada, após lançar uma Ferida do Vento. Miroku olhava insistentemente para sua mão direita.

— Algo está errado — respondeu ele. — A Kazaana... É como se estivesse... Diminuindo.

— Naraku estaria ficando mais fraco, é isso?

— Não sei dizer. Mas é o que parece. InuYasha... Esses youkais estão nos fazendo perder tempo, já reparou? Eles sempre aparecem do nada, você os ataca e eles somem por alguns minutos, mas retornam... Praticamente idênticos aos que já morreram.

— Então é uma ilusão?

— Provavelmente! Lembra de ter visto um youkai com Kanna?

hanyou deu um tapa na própria testa.

— Só pode ser ele! Maldito! É mais uma cria de Naraku e está tentando ganhar tempo nos mantendo distraídos!

— O que você pretende, Inu? Vamos encontrar esse youkai?

— Não, vamos procurar o maldito Naraku! Talvez seja essa a chance de acabar com ele! Vou buscar Kagome, ela irá detectar os fragmentos da Joia e...

— InuYasha... — interrompeu-o o outro jovem, cético. — Kagome-sama não parece querer combater contra Naraku desde que ele a sequestrou. Ela afirma que ele está mudado e...

— Francamente, Miroku! Ele a iludiu! Como sempre faz com todo mundo! — exclamou InuYasha, inconformado. — Desta vez, ela virá conosco de qualquer jeito... Vamos matar aquele imundo antes que ele destrua ainda mais as nossas vidas!

Um youkai minúsculo, que parecia um olho com asas, observava e se preocupava com aquela reviravolta. Aquele era o olho esquerdo de Byakuya, que das alturas estivera ludibriando os dois amigos por vários minutos. No entanto, agora ele via InuYasha ordenar a Kirara que voltasse para o vilarejo de Kaede.

— Que porcaria! Esses enxeridos tinham que estragar tudo! — protestou o ilusionista, criando mais e mais youkais e os impelindo contra o híbrido e o monge. — Mas não vou permitir que encontrem Naraku. E ainda preciso cuidar de Kanna e Kagura... Preciso correr!

 

***

 

— Kagome-chan, estou com uma sensação estranha — comentou Sango, que estava sentada ao lado de sua amiga aprendiz de sacerdotisa, do lado de fora da casa da velha Kaede. As duas se surpreenderam quando InuYasha, momentos antes, anunciara ter sentido o cheiro de Naraku indo em direção ao sul.

— Estranha como, Sango-chan?

— Não sei explicar. É como se hoje fosse acontecer algo que... Sei lá, que pode mudar nossas vidas.

A colegial franziu o cenho, intrigada com o aparte da outra. No entanto, quando ela ia responder, o ambiente ao redor das duas ficou subitamente pesadíssimo, como se lhes faltasse o ar. Mal deu tempo para gritarem; Sango desmaiou e ela percebeu que estava totalmente petrificada, ainda recostada à parede. Apenas seus olhos se moviam, desesperados.

Detrás da frondosa mangueira, a pequena Kanna se revelou. Seu espelho, pendurado ao pescoço, cintilava e a colegial intuiu que a albina a mantivera consciente por algum motivo importante. Qual não foi o espanto de Kagome ao ver a youkai se abaixar para colocar uma estranha pedra no chão e abrir a caixa colorida que ela mesma havia escolhido para o cachorrinho. De lá, o akita saiu feliz, abanando o rabo e lambendo as mãozinhas de Kanna, que parecia travar uma luta interna consigo mesma.

Os olhos dela estão tão cheios de vida agora...”, considerou Kagome, lutando para conseguir se movimentar. Por fim, a pequena youkai a olhou, e, num suspiro dolorido, tomou o animalzinho no colo e se aproximou dela.

— Kagome... — anunciou Kanna, cujo tom de voz agora era mais vibrante devido à sua nova condição de possuir uma alma. — Sei que estamos em batalha. Vocês querem matar meu chichi-ue e ele também quer matá-los. Mas... O Sui-chan não tem um lado, ele não está a favor nem contra ninguém. Ele é só um cachorrinho. É o MEU cachorro.

— ...

— Kagura o deixou com você para que ele ficasse protegido. Estou fazendo a mesma coisa agora. Proteja-o para mim.

Como se pudesse ler os pensamentos altamente frenéticos da jovem, a miúda prosseguiu falando:

— Estou deixando ele com você porque sei que você é justa. Sei que Naraku ganhou o ódio do mundo por merecer, mas você não faria mal ao Sui-chan apenas porque ele é meu. Talvez vocês consigam nos matar hoje, apesar de que eu acredito muito na força do papai, mas... Eu não quero perder meu cachorro! Foi por causa dele que o papai começou a se esforçar para gostar de mim e de Kagura.

Os olhos da paralisada Kagome se encheram de lágrimas. Ver aquela youkai tão pequena, tão inocente, enfiada no meio daquela guerra era triste. Kanna tinha anseios e medos como qualquer outra criança tinha; se a colegial pudesse, esqueceria de tudo por um pouco de tempo e apertaria a albina em seus braços e lhe ofereceria um pouquinho de paz e conforto.

Mas era isso que Naraku queria... Queria paz para cuidar da família dele. Pena que seja tarde demais...

A albina se aproximou de Kagome, colocando a caixa do cachorro ao lado das pernas da jovem, e, antes de dar as costas, fez uma carranquinha. Kanna sentia algo estranho: um aperto na garganta, somado a uma grande angústia, e algo quente que, do nada, lhe escorrera de um dos olhos. Deu uma última olhada para o akita e disse, intrigada:

— Por que tem água caindo do meu olho? Bem, agora não tem como saber. Até logo, Sui-chan. A miko vai tomar conta de você, viu?

Não, não é tarde demais”, refletia Kagome, tremendo a cada passo que Kanna dava para longe de si. Não demorou para que a criança desaparecesse; cinco minutos depois, a colegial conseguia se mover. Sango ainda levou um tempo a mais para se recuperar.

— Hum? — fez a exterminadora, apatetada, olhando para todos os lados. — Que estranho esse desmaio... Ei, o cachorro... Aquele cachorro! Por que ele está aqui? — e, olhando para o lado, viu Kagome sair de dentro da casa carregando suas flechas, com os olhos avermelhados e fazendo uma série de recomendações para Shippou, que também tinha ficado inconsciente com a chegada de Kanna àquele local.

— Kagome, tem certeza de que vai ficar tudo bem? E se ela voltar para buscar o cachorro enquanto vocês estiverem fora? — indagava o kitsune, dividido entre o medo e a vontade de afagar o filhotinho.

— V-vai, sim, Shippou... Eu lhe dou a minha palavra — dizia ela, resoluta e ainda comovida. — Sango-chan, você está bem?

— Sim, estou... Mas não estou entendendo nada. Por que você está chorando? E para onde vai com essa aljava nas costas? Seu pé ainda não melhorou.

— Meu pé ainda dói, sim, mas isso não importa agora. Vou atrás de Naraku. Eu... PRECISO fazer alguma coisa!

A outra jovem, sem nada a responder, apenas agarrou o Hiraikotsu e se foi atrás da amiga.

 

***

 

Kanna havia se teletransportado para o local onde havia encontrado Ishiteimei pela primeira vez, para procurar mais azevinho. No entanto, para azar de ambos, não encontraram nada. O youkai estava esquentando, desesperado.

— Criança, e agora?

— Vamos continuar procurando! — retrucou ela, nervosa. Súbito, a voz de seu novo familiar, o youkai Byakuya, soou em sua mente:

“Kanna! Fique onde está, vou buscá-la. O cachorro e o humano estão me dando muito trabalho e estão à procura de Naraku! As ilusões não estão resolvendo. Precisamos ficar juntos agora.”

— Mais essa agora! — exclamou Kanna, segurando o espelho com muita força. Apesar de agoniado, o youkai pedra se compadeceu da pequena, que estava muito assustada não tanto com a situação e sim com seus sentimentos perturbadores.

— Procure ficar calma, criança. Eu só preciso de um único ramo de azevinho para ter condições de levá-la até o seu pai.

— Eu... Não sei explicar o que está acontecendo comigo — lamentou-se ela. — Meu corpo está tremendo e sinto um frio na minha barriga.

— Você está com medo.

— Mas eu nunca senti medo antes.

— É uma reação mais comum do que imagina, querida. Mas não se preocupe: o amor fará coisas poderosas a seu favor.

A menina não teve tempo de refletir para compreender aquela afirmação: a paz se findou quando eles ouviram gritos e explosões de energia sinistra no ar, bem perto dali. InuYasha e Miroku combatiam ferozmente Byakuya, que voava já cansado de lutar em seu tsuru. O jovem ilusionista se sentia estranho, enfraquecido e meio lento: os efeitos do encantamento indiretamente acabaram por atingi-lo também.

— Kazaana!

— Kaze no Kizu!

— Kanna, venha... Consegue voar até aqui? — chamou o youkai.

— Consigo... — respondeu Kanna, porém algo deu errado. Por mais que se concentrasse, seu youki estava instável e ela ficou imóvel, agarrada a Ishiteimei. Foi o jeito Byakuya dar um voo rasante para resgatá-la.

Ao ver que Kanna estava a bordo do tsuru, InuYasha e Miroku recrudesceram seus ataques. Eles também estavam exaustos, mas batalhavam implacáveis contra os filhos de Naraku. Já bem nervosa, Kanna apertou a manga das vestes do ilusionista, a voz aguda e já um pouco embargada:

— E-eu quero o meu pai...

— Não se preocupe, eu vou até o fim do mundo para encontrá-lo! — afirmou Byakuya, não menos preocupado, e fugindo em desabalada carreira. Kanna pressionava tanto o youkai pedra contra seu corpo que os nós de seus dedinhos ficaram brancos.

hanyou e o monge, notando a fuga, saíram em seu encalço, no lombo de Kirara. Era notório que algo estava fragilizando os dois.

 

***

 

A situação para Kagura não estava nada fácil. Encurralada por Sesshoumaru, que se aproximava impiedoso dela, a youkai não tinha para onde fugir — até porque Naraku estava caído embolado no chão, gemendo, as mãos pressionando a cabeça. Mesmo Kikyou parecia impotente naquele instante.

— Não vai sair daí? — rosnou o daiyoukai. — Pois bem, morra com ele. Eu não me importo se você tiver desistido de sua vida.

— N-não, eu não vou deixar o meu PAI sozinho — volveu a Mestra dos Ventos, com firmeza. Os sentimentos bons e platônicos que ela nutrira por Sesshoumaru durante todo aquele tempo desapareceram.

Mesmo que Naraku se levante dali e me mate, eu vou defendê-lo até o fim”, pensava ela. Sesshoumaru os atacou mais uma vez e ela revidou com sua Dança das Lâminas do Vento. O youkai branco ergueu uma sobrancelha.

— Para que esse circo, Kagura? Você enfeitiçou esse desgraçado com o intuito de deixá-lo fraco para que eu o eliminasse e você pudesse fugir, não foi? Eu senti que o cheiro de vocês mudou. Esse cheiro de azevinho é extremamente sutil, mas é real e não escaparia ao meu olfato.

Do chão, o dolorido Naraku ouviu aquilo e seu coração palpitou, enquanto seu corpo esfriava de nervoso.

— Isso não é verdade — exclamou a youkai, irada. — Eu... Eu não fiz nada disso...

— Você FEZ. Não tente me iludir, eu conheço a magia dos youkais pedra — ele sorriu com sarcasmo. — Essa magia é simplória, mas eu não fazia ideia de que, contra Naraku, seria tão eficaz. Ele está morrendo.

— Pare de falar essas loucuras, isso não... — Kagura estava com os olhos enormes. A última coisa que ela queria era que Naraku soubesse do encantamento daquela forma tão excessivamente mal interpretada...

— Se você não estivesse tão interessada na morte desse hanyou imundo, não teria me dito que ele estaria fraco à meia-noite, como, de fato, está. Reconheci o youkai pedra nas mãos daquela youkai do espelho desde a manhã do dia em que vocês tentaram matar o imprestável InuYasha.

Kanna está envolvida nisso?!”, gritou a mente do hanyou aracnídeo, prostrado no chão. A força daquelas palavras que o machucavam era tanta que ele teve uma crise de vômito; arquejando, Naraku se colocou de joelhos. Kikyou, estática a alguns metros de distância, queria ter pelo menos uma reação, mas o choque era grande demais. O moreno tremia.

Então aquelas dores de cabeça... A vontade de amar as crias... O carinho de Kanna e, agora, o de Kagura... Tudo mentira?!

— Kagura! — chamou Naraku, extremamente frágil e parecendo ter encolhido. Seus olhos agora castanhos cintilavam de dor, tanto física quanto emocional. Kagura, no entanto, estava com medo de olhar para o mestre e ser atacada por Sesshoumaru, além da extrema angústia que ribombava no seu coração recém-adquirido. — Kagura... KAGURA! Isso é verdade?! Olhe para mim e m-me diga que ele está mentindo!

— Você não se cansa de ser ridículo? — intrometeu-se Sesshoumaru. — Elas são SUAS crias, saíram de VOCÊ. Você foi capaz de matar essa miko de barro usando a imagem do meu irmão, fazer aquele moleque exterminador assassinar o clã inteiro, iludindo, mentindo, ludibriando qualquer um que passe na sua frente, dentre outras coisas. Você esperava mesmo que essas youkais que você gerou fossem agir diferente?

Kagura ainda permanecia de costas para Naraku, tentando bloquear os ataques de Sesshoumaru. Ela não conseguiu olhar para trás, os olhos derramando lágrimas mais uma vez. Sentia que era muito azar ter conseguido fazer as pazes com seu pai e agora perder tudo por conta de um mal entendido. Impaciente, Sesshoumaru desferiu mais golpes, dos quais a Mestra dos Ventos se defendia com muita dificuldade. Seus reflexos estavam sendo prejudicados e ela não sabia o porquê.

Como que por coincidência, um vulto grande despontou no céu, junto com uma multidão de youkais horríveis. Eram Kanna e Byakuya, a pequena já agoniada pelo calor excessivo do youkai pedra que gritava agoniado:

— EU PRECISO DE AZEVINHO SENÃO VOU EXPLODIR!

— BAKURYUUHA! — berrava InuYasha atrás deles. Miroku, por sua vez, havia fechado a Kazaana: ele não sabia bem o que esperar de tudo o que estava acontecendo, então preferiu ficar alerta, já que algo poderia dar errado e ele ser sugado pelo buraco do vento.

O tsuru veio para o chão, parando um pouco atrás de Naraku. Kanna arregalou os olhos ao ver o hanyou naquele estado, mas, antes que pudesse ir até ele, seu novo companheiro tombava quase desmaiado.

— Byakuya! NÃO! O que...

— Eu... — e ele perdeu a consciência. Kagura chamou-a com urgência para perto de si.

— Kanna! Me ajude, eu... — ela estremeceu e caiu também, arrancando um grito da criança. A única esperança para Kanna era Ishiteimei, que já soltava fumaça, machucando-a. InuYasha e Miroku se puseram em posição de ataque, rodeando a família de Naraku. Não tardou para que, do meio das árvores que ainda estavam de pé, Kagome e Sango aparecessem, sendo que a colegial fora guiada pela presença inconfundível da Joia de Quatro Almas.

— Mas o que está acontecendo aqui? — indagou a exterminadora.

— Kagome! Sango! Por que vieram para cá? — esbravejou InuYasha. — Aqui é perigoso.

— E sua perna não melhorou, Kagome-sama — aparteou Miroku. Ela, no entanto, parecia decidida, e caminhou em direção aos seus inimigos. Sesshoumaru, no entanto, impediu sua passagem.

— O que pensa que está fazendo, humana idiota? Eu já estou quase dando um fim nisso.

— Você vai abaixar essa espada AGORA — estrilou a jovem, furiosa. — Eu vim até aqui para tentar fazer um único ato de justiça! Vou levar Kanna comigo!

— O QUÊ?! — gritaram os outros.

— Você ficou louca?! — bradou InuYasha. — Esses malditos todos PRECISAM morrer, já fizeram estragos demais!

— Ninguém precisa deles, Kagome-chan! Você só pode ter sido possuída! — brigava a exterminadora e todos falavam ao mesmo tempo. Sem dar atenção à briga, Kanna apontava o espelho já sem poder algum para Sesshoumaru e suplicava a Ishiteimei que fizesse alguma coisa.

— Como pode defender Naraku, Kagome-sama?!

— Não estou defendendo Naraku! — explodiu Kagome. — Parem de pensar só em vingança! ME ESCUTEM! Aquela menina ali só queria uma chance para viver como uma criança normal! Eu me sinto no DEVER de fazer algo por ela!!!

Kagura havia acabado de desmaiar também, sob o olhar incrédulo de Naraku, que estava com a boca aberta, fitando ora seus filhos desacordados, ora Kanna com aquele youkai pedra nos braços. Então era verdade... A dor o consumia. O hanyou imaginou se aquela sensação de ter o coração arrancado do peito seria a consequência de ter destruído tantas vidas e famílias alheias.

Por breves momentos, cenas passaram diante dos olhos de Naraku. Todo o mal que ele havia feito desde seu nascimento na caverna de Onigumo veio às suas memórias como flashes. Ele entendeu que estava às portas da morte e que estava colhendo o que plantara.

Ele amava tanto as filhas e elas o haviam traído, mentindo para ele. Sua mente evocou os beijinhos de Kanna e a voz de Kagura o chamando de “pai” pela primeira vez. O amor das filhas fora tanto que ele deu à luz a mais um, que também amava muito. Inferno, Naraku aprendeu a amar e a gostar de amar. Era tão bom, o redimia, o levava a ver a vida com outros olhos... O fazia querer ser outra pessoa!

Por que ele estava sendo privado de tudo aquilo?

Foi quando ouviram um grito agudo vindo do colo de Kanna. Era Ishiteimei, totalmente luzidio e brilhante, além de muito quente... No limite de suas forças.

— PEQUENA KANNA! ADEUS!

— NÃO, NÃO!!! — gritou a menina, logo sendo cegada pelo excesso de luz. Uma explosão deixou a todos sem conseguir enxergar por alguns segundos e, ao abrir os olhos, eles viram pequenas fagulhas verdes de energia no ar, dando ao local uma atmosfera mágica. Era uma visão exótica e linda; mesmo Sesshoumaru desviou os olhos de Kanna para contemplar aquele fenômeno.

Uma das fagulhinhas pousou no miosótis dos cabelos da youkai do espelho e ela ouviu a voz do youkai pedra pela última vez.

“Não tive como garantir a prolongação do encantamento, pequena Kanna. No entanto, não se esqueça do que lhe disse, o amor fará coisas poderosas por você e sua família.”

A dor de cabeça de Naraku desapareceu totalmente. Ele chegou a sacudir a cabeça, muito confuso. De onde estavam, Kagome e Kikyou viram o exato momento em que a folha única de azevinho que estava presa no cocuruto da cabeça dele simplesmente evaporou, enquanto ele se colocava de pé. Vendo-o reestabelecido, Kanna quis correr para ele.

— Papai! Você ficou bom! Eu...

— Kanna, vocês me enfeitiçaram? — cortou-a ele, duro.

A albina estacou, chocada com aquele tom de voz, já não mais doce como outrora. O olhar de Naraku voltou a ter as nuances impiedosas e malignas, apesar de ele continuar em sua forma humana.

 

 

 

Continua...


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Notas finais do capítulo

O efeito do feitiço acabou, mas será que o Naraku perdeu o amor pelos filhos?
Haverá esperança para esta família?

Não perca! Muito mais tensão, revelações e 'plot twist' no próximo capítulo!

Obrigada, lindos da Mamãe!
@Okaasan



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