Sons of Theolen escrita por Live Gabriela


Capítulo 12
Steve - Steve Sozinho


Notas iniciais do capítulo

Observação importante: o texto em itálico ocorre num flashback.

Oi pessoal, já que atrasei uma semana o último capítulo, aqui está um presentinho pra vocês... Um capítulo do Steve escrito por Mateus de Fraga Rodarte!
[Mateus que mestra o jogo em que a história é baseada, mas como é um universo muito grande ele também já jogou e seu personagem é Steve Leon, o paladino de Theolen. Então, nada mais adequado do que ele escrever esse capítulo bônus pra vocês!]

Espero que se divirtam! Boa leitura ^^



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Uma ultima pedra foi empilhada sobre o corpo desfalecido na imensidão lúgubre e subterrânea de trevas.

Drico está morto. “Eu falhei”, pensou Steve Leon, o paladino escolhido de Theolen.

Steve colocou o clarinete de Drico sobre o túmulo improvisado e então se levantou. Após alguns segundos acendeu uma tocha, havia passado a ultima hora ajoelhado ao lado do corpo enterrado de seu recente companheiro de viagem. Rezou para que seu novo amigo pudesse partir e descansar em paz, que estivesse livre. Era tudo que podia fazer pelo bardo agora.

Steve já não sabia há quanto tempo estava ali e por vezes até mesmo se esquecia por qual motivo permanecia. Este pensamento passava em sua mente até que uma nova leva de mortos se levantasse do solo ou se esgueirasse pelas sombras. Eles lembravam Steve de sua missão, ele deveria eliminar o mal do norte.

Steve acreditava terem se passado meses desde que fora enviado para as distantes terras do abandonado reino de Thorrun, apesar de que, por estar no subterrâneo, não fosse possível saber quando era dia ou noite.

Hammel, o rei regicida, o havia enviado para lá com ordens para que voltasse apenas quando todo o mal daquele lugar maldito tivesse sido extirpado. Steve obedeceu, partindo sem amigos ou ideia do que encontraria a frente e apenas com uma noção um tanto quanto vaga de que possivelmente poderia não voltar.

— Adeus Drico – disse Steve enquanto se afastava do túmulo. À medida que caminhava o paladino pode sentir seu peito se enchendo de culpa. Ele havia falhado com Drico.

O subterrâneo era um lugar terrível, as sombras preenchiam todo o local, o cheiro de umidade e dos esqueletos putrefatos era uma constante e nenhuma alma viva, com exceção de Drico, havia encontrado com Steve desde que este chegara lá.

O velho paladino em seus trinta e oito anos, já com alguns pelos brancos por entre a barba e os cabelos loiros sentia falta de sua cidade, de sua família, amigos e de Xinomah Nailo, seu melhor amigo e dupla de aventuras, um dos Doze de Theolen.

“Xino... Você detestaria este local...”, pensou Steve enquanto caminhava tentando não se lembrar do corpo rasgado de Drico e de quão próximos da saída estavam no momento em que o bardo foi assassinado pelos mortos.

Duas horas se passaram depois de Steve ter deixado o túmulo do bardo para trás, o paladino caminhava com sua velha armadura segmentada, um presente de seu irmão, enquanto o barulho do metal ecoava pelos enormes salões de terra subterrâneos.

Ao longe Steve viu uma das cidades abandonadas feitas por anões a milhares de anos atrás, uma pequena vila com uns trinta prédios de dois andares, estranhamente bem conservada pelo tempo. Já havia passado por aquele local algumas vezes. Foi o primeiro lugar onde o paladino passou uma noite no subterrâneo, e também o primeiro onde foi emboscado por mortos-vivos.

“Deve haver mais esqueletos na cidade”, pensou. “Tenho que acabar com isso de uma vez por todas...”. Steve podia não ser nenhum gênio, mas sabia que se Drico havia viajado para o norte em busca de tesouros e aventuras, ele não seria o único fazê-lo. Steve tinha que limpar aquele local logo, caso contrario outros poderiam ter um final como o de Drico e ele não poderia permitir que isso acontecesse de novo.

A cidade silenciosa e sombria, com suas casas de portas largas e robustas, típicas da arquitetura anã, ecoou os sons da armadura metálica do paladino quando este a adentrou por entre as casas.

— Apareçam! – esbravejou enquanto puxava de sua bainha sua lendária espada, a Velha Bastarda.

Os olhos azuis característicos dos Leon fitavam o sinistro ambiente iluminado apenas pela branda luz da tocha. Steve continuou a esbravejar para que os mortos saíssem, estava irritado, precisava descarregar sua fúria contra algo, ele precisava de um combate.

— Apareçam covardes! – Steve continuou gritando. E assim permaneceu... Por mais de uma hora.

Tomado pela dor da falha em proteger Drico, a melancolia da saudade de casa e do ódio não extravasado em combate, Steve se ajoelhou no chão. O silencio era tal que pôde ouvir o som de sua própria respiração e batimentos cardíacos ecoando na penumbra. Ele se sentia sozinho, tão sozinho como não se sentia há anos.

A desesperança começou aos poucos a preencher seu peito, estava ali há tantos dias, havia eliminado centenas de esqueletos, alguns zumbis, bestas inumanas e monstros de todos os tipos e ainda assim podia sentir as trevas daquele subterrâneo tão poderosas e profundas quanto as produzidas pelo colossal Arquidemônio morto por ele e seus companheiros anos atrás. Mas desta vez Steve estava sozinho, sem a ajuda dos exércitos unidos dos reinos de Arul, Theolen e Arruna, sem seus poderosos amigos Angus e Xino, sem a ajuda dos outros Doze, era apenas ele e sua espada.

Steve também podia sentir seus poderes desaparecendo aos poucos naquele lugar, o contato com sua montaria sagrada foi o primeiro a desaparecer, em seguida o alcance de seu poder de detecção de inimigos e até mesmo sua lendária força de vontade.

“Levante-se” pensou o paladino. “Estes sentimentos são venenosos, levante-se Steve, você é um dos Doze, o escolhido de Theolen, eles contam com você”. Steve se levantou. Olhou em volta, não havia inimigos. “Mantenha-se focado” se auto aconselhou, sabia que aquele lugar o estava levando a uma gradual loucura. Não havia deixado transparecer para Drico, mas sabia que estava enlouquecendo, não aguentava mais ficar naquele local, apenas permanecia lutando por que assim fora ordenado. Ordenado, aliás, por um homem que detestava, um homem pelo qual Steve torcia secretamente que fosse destronado e preso pelas atrocidades e pecados cometidos, mas que ainda assim obedecia, por este ser o rei da cidade pela qual ele jurou lealdade, algo que sempre foi muito importante para o paladino.

Steve esticou a mão e pensou em Theolen, sua cidade. Uma onda mística se projetou invisível em raio em torno dele. Steve sentiu o mal ao seu redor, mas nenhum inimigo. “Por que estes bichos desprezíveis desaparecem às vezes? Para onde vão?” pensou irritado.

Sentia falta de Xinomah ali, o druida meio-elfo era seu parceiro desde que Steve tinha vinte anos de idade e sempre animava as aventuras do leal paladino com suas loucuras e bebedeiras. Seu poderoso leque de magias sempre foi uma arma com o qual Steve sabia poder contar, quer fosse para espalhar um pelotão inimigo com vinhas e espinhos projetados do chão ou para manter uma alma prestes a desencarnar ainda presa ao corpo. Sua coruja inteligente, a lendária Tyto, também sempre esteve presente nas aventuras da dupla, servindo por muitas vezes como consciência para os dois aventureiros de enorme poder e pouca noção de perigo.

Xino e Steve lutaram juntos desde a épica batalha que ficou conhecida como o Cerco de Theolen. Um conhecia cada tática de combate do outro e vê-los lutando era como presenciar um único guerreiro extremamente habilidoso e poderoso. Juntos haviam desafiado os oponentes mais poderosos e os demônios mais mortíferos, a amizade entre os dois guerreiros era quase tão lendária como as proezas feitas por estes em combate. E foi por esta amizade que Steve estava ali agora.

“Maldito seja Hammel.”, pensou Steve ao se lembrar do dia em que o atual rei de Theolen, assassino de seu antecessor Ryan Campbell, ordenou que Xino partisse sozinho rumo ao norte.

Todos sabiam que aquele lugar era maldito, nem mesmo o povo do local pôde sobreviver a aquela desolação amaldiçoada, Steve sabia que Xinomah não sobreviveria ao norte sozinho e mais importante, sabia que Hammel estava enviando o druida para aquelas terras sabendo que este não voltaria. Steve era o único que poderia sobreviver a aquele inferno...

 

Então devo partir? – disse Xinomah agachado sobre a mureta, com sua foice nas costas. Seu sobretudo verde balançava com o vento, junto de seu longo cabelo loiro preso em um rabo de cavalo.

— Parece uma boa ideia afinal. – respondeu Steve em pé ao lado da mureta.

Ambos conversavam do lado de fora de uma das muitas torres do castelo de Theolen e o paladino havia acabado de contar a Xino sobre a ordem do rei. Ambos sabiam que se Xinomah aceitasse tal ordem seria um suicídio.

— Sabe que não posso abandonar a cidade, não é mesmo? – indagou o Druida colocando seu olhos heterocromáticos de cor verde e azul sobre a triste figura do paladino.

— Não estou pedindo que deixe a cidade, sei o quanto este local é importante para você. – Steve olha abaixo a imensa cidade de Theolen coberta por uma linda noite estrelada. – Só precisa ficar um tempo longe dos olhares, operar anonimamente.

— Acha mesmo que Hammel vai largar do meu pé? Fugir não é a solução Steve.

— Não quero que fuja, eu só... – o paladino se interrompeu e olhou para a lua, que refletiu seus raios prateados sobre seus olhos  – Pode confiar em mim? Sei como tirar a atenção de Hammel de você, só preciso que você fique longe. É o único em quem eu confio para cuidar deles. – Steve olhou para seu companheiro com seus olhos azuis e profundos como tempestades. - Preciso que cuide de meu irmão, de Martha e da Dorothy.

— Nhum – Xino fez cara de desconfiado e balançou suas orelhas pontudas – Cuidar deles? Eu? Isso significa que você não vai estar aqui para fazê-lo, certo? Onde vai estar Steve?

— Xino... Apenas ... Confie em mim.

— Não vai fazer nenhuma besteira, certo?

— Vou resolver tudo.

— Não pode segurar o mundo sozinho Steve.

— Posso tentar.

Xino ainda agachado sobre a mureta olhou fixamente para Steve, podia sentir o coração do paladino centrado. Steve estava certo de suas escolhas.

— Não vai se livrar de mim tão fácil velho amigo – disse Xino – Mas sei que é teimoso o suficiente para não me ouvir mesmo sabendo que eu sou o mais sábio entre nós dois.

— Não sou eu que frequentemente sou encontrado bêbado em becos e sarjetas – disse Steve irônico.

— Ta, tá, que seja. Só não vá entrar em um problema do qual não possa sair.

Steve não respondeu. Xino sabia o motivo para aquilo, seu amigo não podia mentir.

O paladino esticou a mão para seu companheiro, Xino sentou sobre a mureta e estendeu a mão para Steve. Os dois apertaram as mãos próximas ao rosto, aquilo era uma promessa, ambos lutariam separados dali para frente, Xino ainda não sabia o que Steve planejava, não sabia que seu amigo iria se oferecer para trocar de lugar com ele na missão, que partiria para o norte e viveria o inferno por dias incontáveis, sabia apenas que aquele toque representava a confiança de um para com o outro, Steve havia prometido lutar contra o que fosse e Xino havia prometido cuidar da cidade e dos outros Leon enquanto o paladino estivesse longe.

Xino então olhou para sua coruja suindara, a Tayto e saltou para a cidade, caindo do sexto andar da torre do castelo de Theolen. “Até mais Steve” pensou, e antes que seu corpo tocasse o chão, o druida tomou a forma de uma coruja e partiu noite adentro.

Steve se virou para o corredor que levava até a sala de Hammel. “Muito bem, tenho trabalho a fazer”.

.

O paladino olhou em volta vendo as casas vazias do subterrâneo. Havia passado horas ali refletindo, sua tocha já estava prestes a apagar. “Meu trabalho aqui ainda não acabou”. Steve acendeu então outra tocha. “Mark, Xino, Martha, Dorothy...”. O paladino se levantou em meio às trevas iluminando o local com a luz das chamas. “Não perderei a esperança. Coragem, Honra e Justiça, esse é o lema dos Leon e enquanto eu me lembrar disso, não deverei parar de lutar”. A esperança retomou o coração do guerreiro sagrado. “Devo continuar até que todo o mal deste reino tenha sido eliminado”.

Um ruído saiu do meio das sombras. Steve olhou para o local. “Finalmente”, pensou.

Um zumbi de anão se aproximou de Steve, o paladino soltou a tocha no chão e olhou para os lados. Pode ver a horda de corpos reanimados vindo de todas as direções. “Vou acabar com todos vocês. Vou salvar este lugar. Hoje lutarei por Drico e por todos para quem desejo voltar em Theolen, vou voltar para aqueles que amo em minha cidade e vocês corpos, não ficarão em meu caminho!”

Em uma devastadora investida o paladino dilacerou o zumbi com um único golpe de sua lendária espada. “Menos um.”, ele pensou.

Os mortos se aproximaram de todas as direções, suas sombras projetadas pelas chamas da tocha no chão tremulavam sobre as casas abandonadas, havia pelo menos cinquenta deles. Eram poucos para Steve.

O paladino sacou o escudo e em sucessivos golpes foi liquidando cada um dos adversários, sua técnica era exemplar, não havia aberturas para golpes em áreas que não fossem reforçadas em sua armadura, seus ataques eram precisos e mortais, sua espada anormalmente longa para um paladino necessitava ser empunhada com ambas as mãos por um lutador comum, mas comum era algo que aquele homem não era.

— Por Theolen! – urrou o paladino enquanto obliterava a horda de inimigos que caiam um a um pelo fio de sua espada.

Com um humor revigorado o herói lutou por horas a fio, o suor escorria por seu corpo ainda em forma apesar da idade, seu cabelo estava molhado e sua determinação ainda queimava com força, um brilho de esperança havia lhe tomado o olhar.

Steve havia combatido os sentimentos tóxicos em seu peito e agora acreditava que ainda havia esperança, ele poderia limpar o mal do norte e então voltar para família e amigos, poderia festejar seu retorno em uma taverna ao lado de Xino, poderia abraçar seu irmão mais uma vez, poderia terminar o treinamento de Dorothy, ele sabia que havia um enorme potencial na garota, embora ela ainda não estivesse pronta para se tornar A Escolhida, mas não importava já que ele sentia em seu peito que iria acabar com todos os mortos e criaturas malignas daquele local, ele sentia que poderia voltar para Theolen. Infelizmente ele estava errado.


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Notas finais do capítulo

Curiosidades: se lê "Xinomã Nailo" - o nome do Xino.

Mas e ae, gostaram desse capítulo?
E dos personagens nele citados?
Comentem suas impressões!
E até a próxima!