Sad Songs for Dirty Lovers escrita por JeanJeanie


Capítulo 4
About Today OR Trouble Will Find Me


Notas iniciais do capítulo

Oi gente.

Aqui minha escrita muda um pouco porque essa foi, na verdade, a primeira história que eu criei, antes de pensar em toda a série. Espero que gostem mesmo assim ;;~

Entrando na cabeça da Raven, SE SEGURA MALANDRO.
O capítulo está tamanho gigante e tem poucos diálogos, mas aguentem firme que tudo vai fazer sentido!

Sim, é foco em BBRae



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– Her -

4. About Today (OR Trouble Will Find Me)

Eles não são o primeiro amor um do outro, e ambos sabem disto. Ele guarda velhas polaroides de dias ensolarados, e ela abre portas para idiotas no meio da madrugada.

Estaria tudo bem, se essa crua consciência não a frustrasse de tal forma que a faz cogitar conjurar um portal para retornar ao começo de suas vidas e cravar Garfield em sua alma e coração para todo o sempre. E não há espaço para se preocupar com o equilíbrio dimensional entre o passado e o presente quando Raven acha que assim tudo seria mais fácil.

Sem Dick Grayson. Sem Terra.

Em sua fantasia, decidiria amar Beast Boy desde o começo. Ele seria o único em sua vida, e ela seria como as heroínas românticas dos livros do século passado que lera vezes demais. Seu amor por Garfield consertaria tudo, consertaria ela… Como num passe de mágica, seus erros se tornariam acertos. E então ela finalmente dormiria sem medo de acordar para uma mais nova e mais mortal ameaça causada por um de colapso de seus poderes.

Descansar.

Verdadeiramente… Descansar.

Ela pode gemer em satisfação (ou frustração) apenas de imaginar este cenário. Seus olhos fecham-se, e por um momento seu corpo quase sente aquele deleite imaginário.

Como seria a sensação de não estar vigilante o tempo todo?

Mas Raven é uma bomba-relógio que nem ela mesma sabe desarmar. Vigilância eterna vinha com o pacote, e agora sua alma cansada escorrega ao tentar se ajustar a todas aquelas emoções que antes se esforçara em não sentir.

E as noites são longas demais.

Ela aperta a xícara de chá que segura entre as mãos até os nós de seus dedos perderem a cor e cacos voarem pelos ares de encontro aos azulejos do chão. De longe (do banheiro ou do quarto?), Raven ouve a voz abafada dele perguntar se algo está errado.

Um suspiro.

Oh, não. Tudo está no seu lugar.

Menos ela.

Sempre ela…

Faz algum tempo, Garfield lhe dissera que a amava de todas as formas, que ela deveria focar no que poderia fazê-la feliz e as coisas se ajeitariam mais cedo ou mais tarde. Em troca, ela prometera que o deixaria entrar e que lhe confiaria seu futuro.

Mas hábitos ruins não morrem tão fácil.

Eles sempre voltam, os hábitos. E o medo é que fiquem. Que o controle, tão gradualmente construído, suma por completo. Que reine o desejo puro em essência.

E se tudo parasse? Estancasse? E se ela parasse de fluir…?

Não seria, na verdade, escoar? Transbordar. Deixar ser.

Ela nunca teve muita certeza dos seus desejos.

Mas o controle… Ah, o controle.

Tão sonhado, tão admirado. É tijolo sobre tijolo, é concretude e cimento. É medo emparedado. É engasgue de garganta engolido. É ansiedade contida com meias palavras que só ecoam dentro dela, vazias.

De qualquer forma, o dia sempre amanhecia e o mundo a chamava para continuar. Mesmo que aquilo (tinha nome? Nunca tinha achado um, pendia pr'aquilo na falta de algo melhor) estivesse lá, não merecia atenção. Há as missões, há os Titãs, há mais o que fazer.

Se correr bem rápido, quem sabe esqueça. Quem sabe aquilo suma dali. Quem sabe se fechar os olhos, se correr como o vento e misturar-se com a paisagem que passa. Misturar-se com o verde das árvores, com o asfalto, e tudo o que vira um borrão com a velocidade. Quem sabe se só parar para dormir. Quem sabe se estiver cansada nem dê tempo de lembrar.

Mas quando é que não estava cansada até os ossos?

Dizem por aí que se não podemos nos livrar dos nossos monstros, devemos tirá-los do armário ou de trás da porta ou de dentro do coração (aonde é que ficam mesmo?), levá-los até a cozinha e fazê-los uma xícara de chá para nos acompanhar na madrugada de insônia. Raven deixa escapar um riso abafado quando pensa que Garfield, definitivamente, é um adepto fiel dessa filosofia.

Mas hábitos ruins não morrem tão fácil, e ela apenas se sente patética varrendo os cacos espalhados pelo chão, tendo a certeza de que não há nenhum romance no fato de que qualquer dia desses pode explodir de tanto absorver os sentimentos de todos a sua volta. Por isso, o baú que guarda as relíquias que podem desintegrá-la no espaço-tempo fica na estante a observá-la. Como um lembrete teimoso de algo que se quer esquecer, talvez a pequena caixa de madeira perca um pouco do significado a cada dia, fique empoeirada e meio sem sentido.

Raven não sabe.

A única certeza que tem é a de que espera ansiosamente pelo dia em que não sinta mais nada ao abrir o pequeno baú. Não sabe se é verdade, porém esse parece ser o dia em que estará, finalmente, livre. A liberdade com que sonha desde que pode se lembrar.

Talvez esteja errada, talvez amor não possa consertar tudo.

Talvez seus monstros sejam grandes demais.

Talvez seja melhor se partir de uma vez por todas.

Porque se ficar, os problemas logo a encontrarão. Eles sempre encontram, e invariavelmente arrastam todos à sua volta.

Arrastam Garfield. E isso Raven não pode suportar.

Pensando bem, eles só podiam estar bêbados de hormônios quando acreditaram que essa maluquice poderia levá-los a algum lugar. Porque, Azar* os projeta, eles não tem o melhor histórico, não. E mesmo assim, seus fracassos haviam traçado o caminho para que hoje estejam juntos.

Beast Boy nunca terá coragem de descartar suas polaroides antigas. E Raven nunca terá coragem de admitir que mais do que desprezar Terra, sente inveja da forma que ela se entregara a Garfield. Certamente, é mais fácil amar alguém com a luz dos sol em seus olhos do que alguém que não consegue esconder a escuridão que engole seu coração.

Oh, não entenda mal.

É bem verdade que Raven odeia aquelas polaroides com todas as forças. (Kori que lhe ensinara esse sentimento – ciúmes.) Mas que direito tem de exigir que ele se livre de seu passado quando ela nunca hesita em curar todas as feridas de Dick toda a vez que ele bate em sua porta sem avisar?

Tsc...! Sua porta?

Quase esquecera… A porta deles.

Mas que merda, Dick…!

Raven cerra seus punhos achando que deveria tê-lo socado mais forte da última vez, porque mesmo que as palavras dele a assombrem nestas noites, Dick está errado – não há jeito para ela e Garfield, assim como não há para ele e Koriand'r. Estão todos fodidos, e não tem nem a decência de admitir. Eles apenas seguem brincando de esconde-esconde enquanto usam fantasias para salvar o mundo, e esperam os próximos capítulos para ver quem será o próximo a ser machucado.

Quem estão tentando enganar? E ainda ousam dizer que haviam crescido, empurrando a Liga* para fora dos seus assuntos, ignorando que estão tão perdidos em si mesmos que não conseguem enxergar nada a sua volta.

Aparentemente, aprender com os erros cometidos não é uma especialidade dos gloriosos Titãs. E ela acha que Os Jovens Titãs na Terra do Nunca seria um nome mais honesto, para começo de conversa.

Raven adentra o quarto na penumbra e deita-se na cama.

“Hmmm… Gelado!” Garfield sussurra ao sentir o corpo dela colar-se contra suas costas, as mãos frias escorregando para dentro de sua camiseta sem pedir licença.

Ela sempre encontra conforto no toque suave da pele aveludada dele. Mesmo em sua forma humana, ele ainda se parece a um gatinho dormindo aninhado no meio daquelas cobertas, e ela apenas quer acariciá-lo para vê-lo ronronar sob seus dedos.

“Você está acordado?” Ela estreita o enlace, enrolando suas pernas e escondendo o rosto na curva do pescoço dele. Um murmúrio preguiçoso desprende-se dos lábios de Garfield em uma afirmação mecânica.

“Como foi seu dia?” Ele mal pode processar a pergunta e seus olhos não conseguem se abrir, é como se houvesse dois elefantes sentados em suas pálpebras. Que horas seriam? Ela ainda não havia pego no sono?

“Você estava lá, Rae” oh, não. Ela não estava. Alguém estava, mas não ela. Raven suspira, exausta, e sente seu corpo estranhamente entorpecido. Ele se remexe para abraçá-la, seus olhos se abrem por um momento e encontram aquele mar violáceo lhe revirando a alma. As íris dela saqueiam-lhe as entranhas como se quisessem absorvê-lo por inteiro. Por algum motivo, ela está consumindo-lhe os sentimentos, alimentando-se dele, anestesiando-o. “O que foi?”

“Nada…” Ela sente seu estômago afundar, aquela angústia toda está prestes a engoli-la de dentro para fora. E ela quer gritar, quer pedir socorro, quer correr para longe. Mas apenas afoga-se em si mesma ao acomodar-se contra o peito dele, silenciosamente.

Garfield logo cede ao sono outra vez, os dedos dela carinhosamente passeando pela sua espinha embalando-lhe os sonhos – ele não tem tempo de ver o sorriso bobo que baila nos lábios dela, segurando um soluço choroso que ameaça se desprender a qualquer momento.

Uma hora dessas, ele se cansaria de apaziguar os demônios dela.

Um dia desses, ele a deixaria.

No fundo, ela sabe. Parece ser o certo a fazer, na verdade.

E tudo o que Raven sente que pode fazer é esperar que não seja antes de ela arranjar forças para partir.


"Today you were far away
And I didn't ask you why
What could I say
I was far away
You just walked away
And I just watched you
What could I say
How close am I to losing you
Tonight you just close your eyes
And I just watch you
Slip away
How close am I to losing you
Hey, are you awake
Yeah I'm right here
Well can I ask you about today
How close am I to losing you
How close am I to losing"

(About Today - The National)


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Notas finais do capítulo

Música do capítulo: About Today, The National. Uma opção alternativa seria Sea of Love, The National.

*Terra: uma membro do time que foi "namoradinha" do Gar (na verdade, era amante do Slade, hue) e traiu a galera.
*Azar: deusa de Azarath que acolheu Arella (mãe da Rae) e cuidou da educação de Raven.
*Liga: Liga da Justiça, os quarentões mais bonitos, charmosos e sábios que estão sempre se metendo na vida dos nossos amiguinhos Titãs para que eles não façam (muita) besteira.

Vamos falar um pouco sobre o histórico amoroso da Raven para vocês pegarem a vibe?
Wally (o Kid Flash I e Flash III) e Zatara: ela pisou no coração dos coitadinhos. Na verdade, só faltou ela comer o coração do Wally cru em uma bandeja de prata ;;~
Dick e Erik: MIGA, PARA, VOCÊ ESTÁ FAZENDO PAPEL DE TROUXA.
É 8 ou 80 com a menina. Mas vamos dar um desconto, sentimentos são coisas estranhas pra ela.



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