Narrado por: um vampiro entediado

Era noite, é claro. Eu não posso sair de dia, a luz do sol me enfraqueceria até me matar. Pode parecer ruim, mas eu nunca gostei mesmo do sol, mesmo quando era humano, não que eu me lembre de muita coisa daquela época.

Eu estava caminhando por entre os humanos, observando-os. Diferente de outros vampiros eu não os desprezo. É preciso ter respeito pela comida. Mas não significa que eu goste deles. Eu analisava os cheiros, esperando encontrar um bom jantar aquela noite, mas nada. Todos tinham cheiros bem normais.

Eu me sentei despreocupadamente, ainda eram oito horas e eu só ia para o trabalho a meia noite. Observei-os até encontrar algo interessante. Na janela em frente onde eu estava sentado uma humana olhava umas amostras de sangue. O interessante nisso era que os olhos dela estavam vermelhos de tanto chorar. Coitada, eu pensei e me perguntei quais eram os problemas dela. Aposto que brigou com um namorado ou uma amiga. Quando se tem a eternidade pela frente, é bom encontrar algum drama, sofrimento alheio, esse tipo de coisa. Ser um vampiro pode ser bem entediante.

Eu escalei o prédio e espreitei pela janela. Ela falava sozinha agora, a voz quase um sussurro:

-Porque ele ta fazendo isso? Me trocando por aquela garota... ela nem é bonita... Droga, essa amostra era A ou B?

Tanto drama. Definitivamente era uma briga com o namorado. Ah, eu queria encontrar alguma história mais emocionante de vez em quando. Quando eu estava indo embora outra pessoa entrou na sala.

-Meu bem... você entendeu tudo errado e está exagerando na reação – nossa! A velha desculpa de sempre. Porque os machos subestimam tanto a inteligência da fêmea?

-Errado? Por favor suma daqui, eu estou muito ocupada e eu nem me importo mesmo. – ah importava, eu podia ver nos olhos dela que importava.

- Sabe eu estou cansado de você Mizi... eu desisto – o cara disse saindo e batendo a porta.

- O sentimento é recíproco –ela gritou pra ele, e alguns segundos depois sussurrou – seu idiota, super bobo, insensível e... lindo.

Aquilo já tava virando novela Mexicana – não que eu assista alguma – e eu preferir ir embora. Mas ela veio em direção à janela e eu tive que me esconder de cabeça pra baixo, na janela do lado – ainda bem que eu sempre fui um bom escalador. – Estava ventando muito, principalmente ali, no quarto andar. Eu, definitivamente não esperava por isso, mas o cheiro que vinha dela era quente e agridoce, apetitoso, bem diferente dos cheiros comuns que eu senti lá em baixo. Num golpe de sorte eu tinha encontrado o meu jantar.

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