Pov Tris

Acordei bem cedo, me arrumei, peguei o carro e dirigi até o lugar onde eu sabia que conseguiria um emprego. Não iria para o lugar que Evelyn me indicou, ainda estou com um pouco de raiva dela e não quero sua ajuda, acho que estou me tornando uma pessoa orgulhosa demais. Acho que fiquei muito tempo com Tobias.

Cheguei na empresa do Jack onde minha mãe trabalhava e pedi para falar com ele. Tive que esperar por bastante tempo e enquanto isso peguei meu celular e fui olhar o Facebook.

Decidi stalkear Tobias. Ele apagou todas as nossas fotos juntos e ainda postou uma foto com os meninos dizendo "partiu acampamento". Que ridículo! Ele foi se divertir com a galera enquanto eu fiquei pensando que agora, nesse exato momento eu poderia estar no meio do Mato me divertindo com meus amigos e com meu ex namorado. Não acredito que fui tão babaca assim!

Ele é muito infantil mesmo, Evelyn deve estar morta de preocupações enquanto ele deve estar pisando em cima dela, assim como está fazendo comigo. Eu espero de coração que algum dia ele possa me perdoar, mas não para que eu possa voltar com ele e sim para tirar o peso da minha consciência porque a última coisa que eu quero é voltar a namorar alguém que me usou, jogou na minha cara e ainda me humilhou.
Não, eu não...

– Beatrice! - Deixo meus pensamentos de lado e ouço Jack me chamar. Ele parece bem contente - Que bom que veio, aconteceu alguma coisa?

– Muita! - digo suspirando.

– Bem então venha até minha sala, vamos ver se posso te ajudar.
Pego minha bolsa e o acompanho até sua sala no quarto andar. Conto pra ele o que aconteceu, sobre meu pai ter voltado e sobre eu querer arranjar um emprego para ganhar dinheiro durante os três meses de verão.

– Bem... Acho que eu posso conseguir uma coisa pra você. Melhor! Vou te colocar para trabalhar com o George, meu sobrinho. O trabalho não é pesado, você vai dar conta e vai se divertir.

– Pra mim, qualquer coisa serve. Eu só quero não ter que ficar sem fazer nada nesses três meses.

– Então venha, vou te levar até a sala dele. Você chegou na hora certa, espero que seja tão eficiente quanto sua mãe - dou um sorriso ao lembrar das histórias que ela sempre me contava sobre o trabalho dela quando chegava de noite um pouco cansada mas mesmo assim gostava de tagarelar. Mas aí também me lembro do que meu pai disse e então tento afastar da minha mente todo e qualquer pensamento ruim.

Sigo ele até uma sala um pouco distante da sua e quando ele abre um rapaz nos recebe. Ele é alto e forte como Tobias. Sua pele é um pouco morena, seu cabelo é escuro e liso e seus olhos são castanhos claros. Ele é muito bonito, devo admitir.

Jack explica pra ele sobre mim e sobre eu precisar de um trabalho apenas durante o verão, ele parece gostar da ideia, apenas concorda com tudo enquanto batuca os dedos na mesa.

– Eu vou deixá-los a sós, com licença tenho muito o que fazer hoje - Jack sai da sala e George me encara.

– Não precisa ficar tímida não - ele sorri abrindo uma covinha de cada lado em seu rosto - Senta aí - ele indica a cadeira á sua frente e então eu sento. Olho pra ele que faz menção para que eu comece a falar mas eu travo e então ele prossegue passando a mão em seu lindo topete - Bem, eu tenho 26 anos e acabei de levar um pé na bunda. E você? - diz extrovertido e então começo a rir.

– Eu tenho 19 e também levei um pé na bunda - ele sorri surpreso.

– Wow. Quem te deu um pé na bunda? Pelo amor de Deus me diz quem é o louco - sorrio envergonhada - Acho temos algo em comum. Quer um cerveja pra afogar as magoas? - diz abrindo o frigobar à sua direita.

– Ah, não obrigada. Eu não bebo - ele da de ombros e abre uma garrafa de ice - E então? O que mais ou menos eu vou fazer?

– Eu vou te adiantar que você tem sorte em trabalhar como minha secretaria, sabia? Eu não sou do tipo que faz muita coisa aqui então você também não vai fazer quase nada - ele dá uma boa golada - Você estuda?

– Sim. Estou no último ano da escola e não eu não reprovei. Apenas não vem ao caso agora.

– Tudo bem - diz arregalando os olhos e depois semicerrando - Você é bem novinha... Me lembra a Lara.

– Sua ex que te deu um pé na bunda? - pergunto rindo e ele faz cara de ofendido mas logo sorri.

– Sim, ela mesma. Mas não é fisicamente até porque você é muito mais bonita que aquela vaca, é que o seu jeitinho, sua mania de ficar contraindo o lábio todo hora, sua voz, timidez...tudo isso me faz lembrar de Lara.

– Nossa - suspiro - Incrível que você também me lembra ele com esse jeito hilário e extrovertido de ser... o sorriso bonito - ele sorri.

– Você acha meu sorriso bonito? Deve ser o poder das minhas covinhas - ele aponta para os buraquinhos de sua bochecha.

– Não! Ai é que... esquece, vamos mudar de assunto - digo envergonhada e ele tapa a boca com as mãos para abafar a risada - Que foi?

– Nada - ele da de ombros, contrai os lábios mas logo sorri - Você é muito atrapalhada com as palavras, Deus...
☆☆☆

Eu aceitei o emprego. Não era grande coisa mas eu conseguiria ganhar um bom dinheirinho e me distrair. Meu chefe é bem descontraído e dei boas gargalhadas com ele. Todo seu jeito me fazia lembrar alguém que eu tenho muito ódio, alguém que quero esquecer; mas acho que assim não vou conseguir tão fácil.

Cheguei em casa de noite e meu pai estava me esperando com um violão, nós passamos a noite tocando e cantando para matar a saudade e pra variar pedimos pizza. Se continuarmos assim em duas semanas não passarei na porta.

Se minha mãe estivesse viva, com certeza estaria brigando com a gente pela nossa bagunça e pela nossa alimentação super saudável.

Ainda não consigo aceitar e acreditar que ela fez tudo isso. Também não consigo sentir raiva dela e tento ignorar, quero guardar apenas boas lembranças e não o fato de que ela tirou meu pai de mim. Passei a noite em claro, não consegui pregar o olho. Decidi então me levantar antes das seis já que é verão e o sol nasce mais cedo.

Já me arrumei logo para o trabalho, eu gostei de lá e se continuar assim creio que o meu verão não vai ser tão ruim e em poucas semanas já não vou mais sentir nada pelo Tobias, nem desprezo, nem amor e nem nada. E se por um acaso sentir, não vai ser algo com tanta intensidade.

Não vejo a hora das meninas voltarem desse acampamento logo pra gente poder sair juntas, estou com saudades delas e dos meninos também. Tobias provavelmente já contou o que aconteceu com a gente e então já estou me preparando fisicamente para o bombardeio de perguntas inoportunas deles