Após a crise de risos Andrew começou a ensinar Salácia alguns movimentos que lembravam a quem visse uma dança solo, lenta e suave, com movimentos fluidos.

– Sinto como se a energia corresse mais livremente!

Salácia sorria verdadeiramente, para ela era como encontrar sua verdadeira natureza e aceita-la de braços abertos.

– Essa energia que você sente correndo é sua magia!

– Minha magia?

– Sim, quando cheguei eu pude senti-la, viva, vibrante e implorando por liberdade, você ainda não se conhece Salácia, mas eu sei, posso sentir o quão poderosa você é, tudo o que precisa é aceitar e se libertar!

Os dois param com os movimentos e se encararam.

– O que você quer dizer Andrew!

– Você sabe o que eu quis dizer Salácia, mas voltando ao foco, esse movimentos irá lhe ajudar a compreender sua magia, seu potencial e com o tempo você poderá usa-lo de verdade e não em meros acidentes quando se sente calma e relaxada!

– Como você sabe disso?

– Por que para que eu posso usar a minha magia eu preciso recorrer a algum tipo de sentimento, antes eu apenas usava da adrenalina, mas isso porque sou um dragão do fogo!

– Quanto tempo levou para você amadurecer?

Andrew sorriu e bagunçou o cabelo da ruiva.

– Mais tempo do que eu gostaria, se eu não tivesse sido um pirralho com a Sophie a teria tido bem antes!

Salácia desviou seus olhos do dragão e encarou seu capitão que discutia animadamente com Sophie e Gregory.

– Quanto tempo ele levara para amadurecer?

– Ele já não é nenhuma criança Salácia...

– Pode me chamar de Anny!

– Como?

– Meu verdadeiro nome, o dado por meu pai, é Anny, preciso ouvir alguém me chamando assim, só princesa e Salácia já está me dando nos nervos!

– Então Anny, ele não é nenhuma criança, ele só é mulherengo mesmo e isso é uma coisa difícil de curar!

– Mas você se curou!

– Sophie me curou!

– Como?

– Como eu disse não tenho paz na minha mente, ele pode ver, ouvir e sentir através dela, então toda vez que eu pensava em algo nada gentil para com minha namorada ela me cortava na hora, digamos que ela cortou minhas asinhas e me domou por completo!

– Ela parece ser esse tipo de garota!

– Ela é terrível, tem mals modos, péssimo temperamento e quando nos conhecemos era um bicho do mato, mas também tinha um bom coração e era bem leal, não havia como não me apaixonar!

Salácia sorriu e sentou no para peito do deque.

– É bom conversar com você Andrew!

– Também é bom conversar com você Anny!

– Queria poder conversar com ele assim também!

A ruiva suspirou e olhou para o chão, Andrew sem entender o porque a abraçou.

– Um dia você vai conseguir, princesa, acredite nisso!

– Eu não posso acreditar, não quero acreditar, você vai entender meus motivos quando atracarmos no porto!

O som das ondas preenchia o ambiente enquanto que Salácia e Andrew permaneciam abraçados em silencio, o moreno consolando a ruiva.

– O que infernos esta acontecendo aqui?

Kallel, Nathan e Sophie estavam ali, a morena a olhava com carinho, mas os dois homens pareciam possuídos, Salácia já estava tão cansada daquele tipo de cena que apenas se afastou do dragão e foi para sua cabine, os rapazes fizeram menção de ir atrás da ruiva, mas Sophie e Andrew os impediu.

– Ela não quer conversar!

– Ela esta cansada!

– Cansada de que?

Sophie encarou o capitão com certo tipo de tristeza.

– De vocês, do ciúme doentio de vocês!

Nathan encarava a morena e depois a porta que levava para a cabine do capitão.

– Alguém deveria falar com ela!

– Para que?

– Para convencê-la a não ficar agarrada com qualquer um assim!

Sophie suspirou e encarou seu dragão que olhava fixamente para a porta da cabine.

– Vá falar com ela!

Andrew franziu o cenho.

– não seria melhor você falar com ela?

– Não, você é mais indicado, eu confio em você Andrew, você ira entende-la melhor do que eu!

– Eu não o quero perto da Salácia!

Sophie se virou para responder ao capitão, mas Gregory apareceu e os interrompeu.

– já estamos chegando ao porto capitão!

– Obrigado Gregory!

Sophie o encarava furiosa e já não havia pistas de onde Andrew estava.

Salácia estava jogada na cama olhando para o teto enquanto segurava suas lagrimas, não entendia porque queria chorar, ou esmurrar alguém, ou fazer as duas coisas, ela só queria se libertar daquele aperto no peito.

– Ficar trancada aqui não vai lhe ajudar a tirar esse peso de você!

– Ficar lá fora também não!

– Mas lá podemos treinar!

– Não quero treinar Andrew, eu so queria poder chorar, gritar, esmurrar alguém, sei lá, só queria extravasar, mas não posso, não tenho esse luxo!

– Porque não?

– Porque ficaria mais obvio para os outros os meus sentimentos!

– E você acha que o resto da tripulação não percebeu seus sentimentos pelo capitão?

– Não quero dar motivos para eles terem a certeza!

– Porque?

Salácia olhou pela janela e pode ver o porto, feito de pedras, assim como toda a cidade, a natureza os cercava e la riu sem humor.

– Eu vou te mostrar o porque!

– O que você quer dizer?

– Hoje a noite ele vai sair junto dos demais tripulantes, eu quero que você vá junto e ai você vai ver sobre o que eu estou falando!

Logo eles ancoraram e Salácia caiu no sono e Andrew se juntou a sua maga.

– Ela parece tao cansada!

– Essa viagem maluca esta fazendo isso com ela!

– Não Sophie, ela pertence ao mar, são os sentimentos dela que estão lhe cansando!

– O que você quer dizer?

– Ela não sabe lidar com eles, esta apaixonada por um cafajeste e não quer ter esses sentimentos!

– Eu a entendo!

– Eu sei que sim, mas ela me pediu algo!

– Eu sei Andy, e eu quero que você vá!

– Por quê?

– Pois Kallel é algo que você teria se tornado se eu não houvesse posto rédeas em você!

– Entao posso ir?

– Sim e você sabe o que lhe acontecera se você se engraçar com alguma mulher!

Andrew sorriu e puxou sua morena para si.

– Eu sei Sophie, não se preocupe!

Ele lhe beijou o topo da cabeça e ela descansou em seus braços.

A noite caiu e os homens começaram a sair, Kallel ia liderando enquanto ria junto dos seus, mais atrás Andrew os seguia.

Salácia estava em sua cabine, de uma sacola tirou uma roupa toda preta, uma top frente única com alças longas em forma de sino em um tecido transparente, um short preto, uma calça de um tecido transparente da mesma cor e com vários cortes laterias, uma sapatilha, pulseiras em ouro e muitos adereços em sua maquiagem, detalhes em preto e dourado, seus cabelos fora preso em um coque com vários fios soltos e em meio de toda aquel negritude seus cabelos fumegantes e seus olhos verdes foram destacados, por fim jogou um sobretudo por cima de si, quando já estava fora do navio fora surpreendida por outra sombra.

– Posso lhe acompanhar?

– Sophie?

– Acertou!

A morena saiu das sombras sorrindo.

– Porque quer ir junto?

– Quero entender de primeira mao a sua dor e bem, presenciar a dor de um imbecil!

– Mas mulheres não entram la!

– E como você pretende entrar?

– Como dançarina!

– Eu vou com você!

– Tem certeza?

Sophie sorriu de canto e seus olhos brilharam.

– Não perderia isso por nada!

Salácia abaixou o capus e abriu o sobretudo.

– Você tem que ir assim!

Sophie analisou e por fim estou os dedos sua roupa se transformou no mesmo modelo da ruiva e sua face estava impecavelmente maquiada, seu cabelo fora preso em um rabo alto e a franja deixada de lado.

– Estou pronta, podemos?

Salácia sorriu e liderou o caminho até a porta do fundo de uma enorme casa, que parecia bem movimentada.

– Esta casa é bem conhecida por suas iguarias e dançarinas, a alguns anos vim para esta cidade com meu pai e acabei amiga da dona, e quando soube que viriamos para esses lados sabia que ele iria querer dar uma parada aqui!

– Como sabia?

– Conheço o Kallel, conheço sua voracidade por um corpo feminino e aqui só ficam as melhores, nenhuma vende seu corpo por obrigação, elas os vende porque querem e porque a grana que rola é alta!

– Entendo!

Mal colocaram os pés dentro da casa e Salácia foi abordada por uma linda mulher loira de um metro e setenta, com seios fartos, cintura fina, quadril largo, pernas bem torneadas, e com olhos de cores diferentes, um verde e um castanho, um sorriso matador e dentes perfeitos.

– Minha querida!

– Brenda, quanto tempo!

– Mais do que eu gostaria, mas você cresceu tanto, já é uma mulher!

– Sim!

– Mas o que lhe trouxe aqui!

– Há um cliente precisando de uma liçãozinha!

– Não me diga que é o seu pai?

– Nem perto disso, um certo capitão metido a dom juan, que pensa que pode mandar em mim!

– Entao você veio dançar!

– Assim como lhe disse na carta!

– Oh minha querida, finalmente vai exibir esse seu corpinho aqui, do jeitinho que eu lhe encinei!

Os olhos da loira brilhavam de excitação, até que seus olhos recaíram na morena a suas costas.

– E essa?

– Essa é a Sophie, uma amiga minha que veio ficar de olho em seu namorado!

– Sabe dançar criança?

– Magnificamente!

– Irei confiar em sua palavra, pois estamos com poucas garotas!

– Obrigado Brenda!

– Sou eu quem deve agradecer Anny!

Salácia e Sophie entraram em um enorme salão, meses era bem espalhadas, sofás ficavam nas paredes dando bom espaço para as dançarinas passarem e dançarem para seus clientes, tecidos eram pendurados no teto caindo e formando “barrigas” e voltava para o teto, o ambiente era iluminado por diversas velas. Mal as duas entraram e já avistaram seus alvos, Andrew estava encostado em uma parede olhando para tudo com tédio, mas Kallel esta em um dos sofás com uma dançarina em seu colo e outra sentada ao seu lado, escorada em seu corpo, enquanto que o braço dele caída distraidamente em seus ombros enquanto que o outro acariciava a cintura da que estava em seu colo.

– Esta vendo Sophie o porque eu não posso deixar meus sentimentos tão livres?

Sophie encarou aquela cena com nojo e olhou furiosa para andrew que se assustou e encarou sua noiva.

– Entendo Salácia, mas agora eu preciso ir agradar o meu noivo!

Salácia acenou de forma positiva, retirou seu sobretudo e o jogou em algum lado, enquanto que de forma lenta e delicada ela se aproximou de uma mesa e começou a dançar, seu corpo se movimentava como se fosse feito para aquilo, era tao delicado, mas também tao sensual, logo a dançarina ruiva chamava a atenção de todos no salão e Brenda assistia orgulhosa de longe.

Enquanto que encarava a ruiva ela podia-se lembrar de outra dançarina que passara por ali, com um sorriso cativante, uma dança linda e sedutora, também possuidora de longos cabelos cor de ouro e olhos turquesa. As duas se pareciam tanto apesar da cor dos olhos e do cabelo, o corpo, a dança, a forma de falar e agir, se não soubesse que aquela garota era Anny, herdeira do trono, ela suspeitaria que ela e a outra dançarina eram a mesma pessoa.

Kallel mal prestava atenção ao seu redor com aquelas duas garotas a sua disposição. Salácia estava tirando ele tanto do serio que agora ele precisava relaxar, mas seu devaneio fora interrompido quando a musica mudou e seus olhos foram atraídos por um ponto vermelho que dançava sensualmente no meio do salão com outras mulheres. Seus olhos sedentos percorriam aquele corpo perfeito como se fosse a ultima gota de agua do deserto. Porem ele logo a reconheceu e a fúria lhe invadiu quando viu um capitão da marinha a puxar para perto e ela dançar para ele, grudando seus corpos e o deixando que colocasse aquelas mãos em sua pele.

Ela dançava com graça e sensualidade, não se importava de aquele homem estar lhe tocando, ela havia encontrado uma parte de sua natureza que não conhecia, não sabia que era capaz de fazer aquilo e quando sentiu os lábios daquele homem em sua pele riu e se afastou negando com a cabeça, sabia que brincava com fogo, mas não se importava, pouca coisa lhe importava da forma em que se embriagava com a dança, quando ele se aproximou novamente ela lhe sussurrou causando-lhe arrepios.

– Sinto muito querido terá de encontrar outra dançarina para passar a noite!

Com um beijo no rosto do homem Salácia se afastou e foi para perto de sua amiga loira.

– Você foi perfeita Anny!

– Obrigado Brenda, mas creio que já dei uma lição em quem merecia!

– Sim, ele não tirava os olhos de você e quando Jason beijou a curva de seu pescoço eu jurava que ele iria arranjar encrenca!

– Tenho certeza que suas garotas o distrairão durante o resto da noite!

– É ai que você se engana!

Salácia arregalou os olhos.

– O que?

– Ele esta vindo até aqui espumando de raiva!

– Entao creio que é minha hora de desaparecer, ate a próxima Brenda!

– Venha me visitar querida!

– Assim que der!

Sem mais uma palavra Salácia se misturou a escuridão da noite e voltou para o navio, onde rapidamente trocou de roupa eu foi dormir. Acordou sendo balançada.

– Acorde agora Saláci!

– Me deixe dormir Kallel!

– A noite foi muito longa para você então?

Salácia não saberia dizer o que a fez abrir os olhos e se sentar tao rapidamente, se fora o tom ou a frase em si dele.

– O que quer dizer?

– Se divertiu muito com aquele cão da marinha?

– Cão do que? De quem infernos você esta falando?

– Do imbecil com que você estava dançando ontem a noite, ou você acha que iria passar despercebida?

Salácia sorriu de canto e lambeu lentamente os lábios enquanto encarava o moreno.

– Em momento algum eu quis passar despercebida!

– Entao se divertiu!

Um sorriso de canto se formou no rosto da ruiva, enquanto que o moreno espumava de raiva.

– Como nunca!

– Então foi boa a noite com o capitão?

– Você não faz ideia!

– Entao ele pode te tocar e eu não?

– Se eu não me engano você também já me tocou, ou não?

– Eu nunca te levei para a cama de um bordel barato!

– Muito menos o Jason o fez!

– Já sabe até o nome dele!

– Claro que sei, ele é um cliente regular da Brenda no Lótus desde que ela começou ali!

– Você dormiu com ele?

– O que você acha?

Salácia o provocava e Kallel caia na provocação.

– Eu não acredito que você se deitou com um qualquer!

– E você Kallel? Sua noite foi divertida? Conseguiu se aliviar com as prostitutas de luxo da Lótus?

– Do que você esta falando?

– Não se faça de sonso, assim como você me viu eu também lhe vi, com aquelas duas dançarinas, eu conheço a Lótus há muito tempo Kallel, Brenda é uma das minhas poucas amigas e agora é a dona daquele bordel de luxo, você realmente acredita que eu não sei o que se passa por ali? Eu não sou ingênua e você muito menos!

Salácia se levantou e ia caminhando até a porta, quando o moreno lhe impediu.

– Minha noite não foi nada divertida ou relaxante!

Salácia sorriu, mas se voltou seria para o rapaz.

– Sério? Por quê? Elas eram tão bonitas!

– Mas não tanto quanto a dançarina ruiva daquela noite!

– Pobrezinho, enquanto se deitava com as duas ficava pensando nessa ruiva? Foi?

Um rosnado baixo saiu dos lábios do moreno.

– Não provoque Salácia!

– Me diz, chamou por mim enquanto se derramava dentro delas? Pensava em mim enquanto acariciava seus corpos?

– Salácia...

– Isso é para você aprender a não brincar com os meus sentimentos Kallel, não toque mais em mim, não venha com seu ciúme para cima de mim, você não tem esse direito, não enquanto não se comportar como homem de verdade, você não passa de um moleque!

Salácia se afastou dele e foi para o mar, mergulhou na água e sumiu em meio às ondas.