Amor à venda. escrita por Nina Olli


Capítulo 36
Capítulo 32 - Parte I


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores! O capítulo 32 é muito maior do que isso, porém, como eu já corrigi essas oito páginas resolvi postar logo, já que demorei mais tempo do que eu planejei para atualizar (não me odeiem)... Mas, bem, chega de enrolar, né? Falo com vocês nas notas finais. Boa leitura.



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"Apenas me ferem muito esses teus silêncios". (Caio Fernando Abreu)

Gil poderia resumir as últimas horas em um único sentimento: angústia.

Angústia pelas notícias que nunca chegavam. Nenhuma de Elaine e tampouco de Vincent. Aquela altura, já havia perdido as contas das vezes que ligara para o celular do chefe, e das inúmeras mensagens que deixara na caixa postal. 

Mas era um esforço inútil. Estava claro que Vincent não queria ser encontrado. E cerca de três horas depois – ou até mais, Gil já havia perdido a noção do tempo – o médico finalmente apareceu na ala de espera e a sua expressão não era nem um pouco animadora.

— Como ela está? — Gil foi direta.

— Estável. — o médico fez uma pausa diante do olhar cheio de dúvidas de Gil. — Isso é bom, dentro do possível. Ela perdeu muito sangue.

— Mas Elaine ficará bem? Eu preciso saber a real situação dela. — seu pedido aflito, de alguma maneira, convenceu o médico a abandonar a armadura profissional.

— Ela não corre risco. Não mais… — o médico respondeu e Gil soltou a pressão de seus ombros, entretanto, o homem não parecia compartilhar do mesmo alívio que ela. 

— Doutor, não me esconda nada.

O médico suspirou longo.

— Temo que a Sra. Parker não sairá mais daqui… Com vida. — ele respondeu a última parte quase num sussurro.

Ouvir aquilo doeu. Gil sabia o quanto Elaine odiaria acordar ali, em uma cama de hospital, longe de sua casa, longe de todas as coisas que lhe eram familiares. Ficar presa naquele lugar era tudo o que Elaine vinha evitando. Os seus olhos lacrimejaram com uma força brutal, mas antes que uma única lágrima caísse, Gil respirou obstinada. Não tinha o direito de chorar. Estava ali para ser forte. 

Forte por Elaine. Forte por Vincent.

Vincent.

A ausência dele a amargava de muitas maneiras. Ela queria sentir raiva, ou qualquer coisa menos deprimente do que preocupação. Mas a sua maldita mente só conseguia se importar. Onde ele estaria? Onde havia passado a noite? Como dizer para o chefe que Elaine não sairia mais daquele hospital?

No momento em que essas questões a rodeavam, a porta da sala de espera foi escancarada. E o homem que a olhava não passava de uma sombra, um espectro quase irreconhecível. Se não o tivesse decorado tão bem, todos os seus detalhes, todas as suas cores e pequenas linhas, juraria que estava diante de um outro homem, qualquer um, exceto Vincent.

Existia alguma coisa na personalidade do chefe que Gil, com certa perseverança, conseguia identificar. Algo disforme, fragmentado. Algo que a havia atraído de todas as formas erradas. 

Mas a sua aparência impecável raramente deixava refletir qualquer resquício dessa vulnerabilidade. E talvez somente quem o observasse tão desesperadamente, como Gil fazia, poderia notar.

Só que naquele momento, Vincent parecia transparente. Para qualquer um que o quisesse ver. Era um homem exposto, como areia em águas claras e cada expressão de seu rosto se via nítida. 

Estava destruído. Vincent estava apavorado.

Olhos fundos e castigados, roupas desalinhadas e mal abotoadas e um cheiro de bebida tão forte que impregnou todo o ambiente. Aquela era uma versão de Vincent que Gil nunca havia conhecido.

— Onde ela está? Eu quero vê-la. — sua voz era o reflexo de toda a bagunça de sua imagem. Triste e massacrada.

— Mantenha a calma, Sr. Parker. — o médico pediu, e sabiamente se afastou alguns passos de Vincent.

— Não me peça para manter a calma, eu quero vê-la agora! — seus lábios pareciam machucados e secos, e tremiam, não de frio, mas de desespero. — Eu preciso vê-la.

Gil se aproximou de Vincent, tocando o seu braço com cuidado e o encarando da maneira mais branda possível. Vincent a fitou de volta, mas Gil não tinha certeza se ele a estava enxergando de fato, ele parecia perdido dentro de sua própria mente. Ela precisava que ele a percebesse ali.

— Vincent, olhe para mim.

E ele a olhou. Dessa vez, de verdade.

Tudo pareceu melhor. Mesmo que por poucos segundos. O ritmo de suas respirações entraram em sintonia e a força daquela conexão dizia muito mais do que qualquer palavra. Era uma cumplicidade estranha para dois desconhecidos, para duas pessoas que sempre se privaram tanto de uma real aproximação. 

O chefe deu alguns passos em sua direção e Gil prendeu o ar. Teve a impressão de que o chefe fosse dizer algo, ou até mesmo, a abraçar. Mas ele apenas desviou o olhar. E a consciência dessa rejeição a atingiu. Gil queria tanto ajudá-lo. Tanto. Mas Vincent não a deixava sequer tentar.

— Ela ficará bem? — Vincent perguntou ao médico, sua voz agora mais comedida.

— O quadro da Sra. Parker é estável, a hemorragia foi controlada e se tudo ocorrer bem nas próximas horas, eu poderei liberar a visita de vocês.

— Não foi isso que eu perguntei, doutor.

Um silêncio esmagador tomou conta daquela pequena sala de espera. A expressão do médico revelou tudo o que Vincent parecia temer, e Gil sabia que a sua própria não deveria ser diferente.

Vincent apenas assentiu, com os ombros caídos e o rosto ainda mais abatido do que antes, se é que isso era possível. O médico se retirou resignado e o chefe se sentou em uma das poltronas da sala, com as costas curvadas e as mãos apoiadas em suas pernas. Gil sentou-se ao seu lado. Não sabia o que dizer. Não havia o que dizer.

— Ela não vai mais melhorar, não é? — Vincent murmurou.

— Elaine será bem cuidada, eles a deixarão confortável. — Gil se sentiu idiota com o comentário, mas não havia como amenizar a situação. Qualquer coisa que dissesse pareceria uma mentira.

— Ela odeia esse lugar. — Vincent sorriu sem humor.

Gil odiava tanto esse sorriso. Não alcançava os olhos dele. Não cobria o seu rosto com as linhas adoráveis de suas expressões. Era mais triste do qualquer outra coisa.

— Você pode tentar transferi-la. — Gil se virou determinada e encarou os olhos escuros do chefe. — Pedir para que Elaine seja atendida em casa. Deve ser um pouco caro, mas bem… Você com certeza pode pagar por isso, Vincent.

— Acha que eles me deixariam levá-la? — Vincent devolveu o olhar com uma faísca de esperança.

— Não custa tentar, certo? Vamos aguardar essas horas de observação, depois poderemos conversar com o médico sobre isso. — Gil procurou encorajá-lo com um sorriso. — Se ela continuar pelo menos estável, quem sabe não conseguimos tirá-la daqui? Seria ótimo, não seria? 

— Obrigado. — a intensidade do olhar de Vincent a deixou um tanto desorientada. — Obrigado por tudo, Gilan. 

— Você não precisa me agradecer por me preocupar com Elaine. — Gil tomou fôlego. — Eu que não deveria ter insistido para andarmos de bicicleta, fizemos tanto esforço inútil. Se eu não tivesse-

— Nem sequer termine essa frase. — Vincent agarrou o rosto de Gil com as duas mãos, forçando-a a encará-lo. — Absolutamente tudo o que você fez para a minha mãe, a ajudou. Você não teve culpa de nada. Acredite em mim. Você só a fez bem, Gilan… Você nos fez bem.

Gil sentiu sua garganta arranhar e se contorceu um pouco, tentando parecer mais tranquila do que realmente estava. Era sempre surpreendente quando Vincent soava tão honesto com ela. Entretanto, a sua mente não conseguia ignorar o fato de ter passado aquela noite sozinha.

— Onde você estava? — precisou perguntar. Não conseguiria mais ficar sem saber.

 Vincent cessou o toque em seu rosto e Gil se sentiu injustamente abandonada.

— Eu não te explicarei isso agora, Gilan.

— Por que? — ela franziu o cenho, mais irritada do que gostaria. — Por que você não quer me dizer? 

— Eu não falei que não quero te dizer, eu só não explicarei isso agora. — o chefe soou tão enérgico que quase a ofendeu. Odiava ser repreendida como uma criança.

— Por que você saiu daquela maneira? — o seu amor-próprio já estava no fim do poço, e Gil não dava a mínima para isso. Ela só queria respostas. — O almoço estava quase pronto… Você ao menos comeu em algum lugar?

— Eu prometo que responderei todas as suas perguntas, numa outra hora. — Vincent a repreendeu mais uma vez. 

Gil engoliu toda a sua vontade de contestar e apenas assentiu.

 Não suportaria escutar aquele tom novamente. Era humilhante demais. Se Vincent não queria que ela soubesse, não iria mais insistir.

Algumas horas mais tarde, finalmente conseguiram visitar Elaine. Infelizmente, a sogra ainda estava fortemente sedada e sequer notara a presença dos dois no quarto, mas, pelo menos, a visita havia servido para acalmar um pouco a sua preocupação. 

Elaine parecia bem acomodada e dormia com um semblante sereno e confortável. Vincent deve ter percebido o mesmo, pois o seu maxilar, antes travado e tenso, parecia mais relaxado agora. E isso era uma boa coisa, afinal. 

Depois de muita insistência da parte do chefe, Gil concordou em voltar para o apartamento e tomar um banho. E embora Vincent precisasse mais disso do que ela própria, não havia a menor possibilidade de convencê-lo a sair daquele quarto de hospital.

Não depois de passar a noite toda ausente.

A culpa do chefe transparecia em todas as suas expressões, e Gil se perguntou se aquilo tinha a ver com a conversa que Elaine e ele tiveram na tarde anterior. Gil tomou banho e se arrumou em tempo recorde. E aproveitando que estava no apartamento, fez uma pequena mala para o chefe, com roupas limpas e alguns itens de higiene. Se Vincent pretendia passar essa noite no hospital, precisava urgentemente colocar uma roupa que não estivesse fedendo a cigarro e bebida.

Já estava prestes a sair quando escutou o telefone tocar. Bufou um pouco irritada mas correu para atendê-lo.

— Alô? — disse ofegante.

A linha ficou em silêncio.

— Quem fala? — insistiu impaciente. — mas a linha continuava silenciosa, embora Gil pudesse jurar que escutara uma respiração ao fundo. — Eu estou realmente ocupada então-

— Oi, Gilan. — finalmente houve uma resposta e Gil imediatamente reconheceu aquela voz.

— Oi, Amelia.

— Eu tentei ligar para o celular do Vince várias vezes, mas ele não atendeu. — Gil revirou os olhos, odiava o fato de Amelia ainda se sentir íntima daquela maneira.

— O que você quer? — Gil não pretendia soar tão ríspida, mas estava com pressa e sem a menor paciência para lidar com Amelia naquele momento.

— Queria saber que horas ele mandará buscar o carro dele.

— Como? — Gil não tinha certeza se havia escutado direito.

— O carro dele, você sabe… Ele não estava em condições de dirigir. Ele pegou um táxi e deixou o carro aqui. — Amelia respondeu como se aquela situação fosse banal e corriqueira.

— O carro dele está na sua casa? — Gil perguntou o óbvio.

— Me desculpe, ele não te contou? — Amelia soltou um suspiro tão forçado que quase fez Gil desligar o telefone. — Vincent passou a noite aqui.

Ela sabia. Mesmo que todos os seus sentidos preferissem negar, lá no fundo Gil sabia. Porém, escutar isso de Amelia parecia mil vezes pior. Era quase insuportável. Apertou o telefone entre os dedos e foi necessária uma força sobrenatural para não despejar tudo o que sentia vontade de dizer. Mas se conteve. Não daria esse prazer para aquela mulher, ela não merecia o esforço.

Francamente, nenhum dos dois merecia.

— Gilan? Você ainda está-

— Mandarei alguém buscar o carro, Amelia. — Gil a interrompeu bruscamente. — Agora, se você me dá licença, eu realmente preciso desligar.

Que se foda Vincent. 

Gil não ficaria nem mais um minuto naquele apartamento.




 


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Notas finais do capítulo

Como está o começo desse ano para vocês? Eu comecei a fazer exercícios físicos, estou me sentindo mais disposta, entre todos os meus problemas, eu estava muito sedentária. E eu adoro cantar, então, estou atrás de algum lugar para voltar a ter aulas de canto (achei alguns, mas estão mto caros, se souberem de alguma escola mais barata em Curitiba me avisem hahahaha). Cantar é uma das minhas resoluções de fim de ano, sabe? E escrever mais também. =P Tô a todo vapor para terminar esses sete capítulos finais da nossa história! Muito ansiosa para que vocês leiam tudo o que eu preparei (os capítulos estão enoooormes). Bem... É isso, espero não demorar muito para postar a segunda parte do capítulo 32. Até a próxima... o/



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