Slasher Story escrita por PW, Felipe Chemim, VinnieCamargo


Capítulo 4
1x04: Lobotomia Frontal


Notas iniciais do capítulo

Escrito com sangue e vísceras por 483ViniKaulitz.



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Evellyn Hardy ergueu-se diante do corpo estirado de Gabriella King. Folhas das árvores ao redor caíam sobre o cadáver ensanguentado e lentamente aderiam a textura viscosa do sangue. Lentamente se transformavam num tom de vermelho rubro.

Ver a vizinha estraçalhada daquele jeito destruía um pedaço de sua alma. Ergueu a câmera e tirou o que provavelmente seria a última foto antes de levarem o corpo da garota.

O flash iluminou a madrugada e ela pode ter certeza que viu alguém observando a algumas árvores de distância. E então viu não uma — duas silhuetas desaparecendo na escuridão da mata.

Ela pensou se deveria ficar mais preocupada do que já estava. Ela tinha certeza que as silhuetas eram de Vince e Brenda.

OPENING THEME

SLASHER STORY

1x04: Lobotomia Frontal

Após acompanhar Vince desabar diante de seus olhos, Peter limpou o excesso de sangue de sua mão em sua camiseta, empunhou a Magnum e apontou na testa do jovem.

— É aqui que sua história acaba, filho da puta. — Peter firmou os olhos numa expressão de ódio e abaixou-se diante de Vince, que por sua vez estava ajoelhado diante de si, os braços amarrados nas costas. O rapaz o encarava de volta, o rosto ainda preso na surpresa, o baque de ter acompanhado uma carnificina. — História de merda, a propósito.

— Então é isso, porra? Fim de jogo? — Vince calculou as palavras. — A polícia já está chegando, cara! Você tem ideia do que fez, porra? Eu posso ouvir as sirenes daqui...

— Fique feliz que você vai ser o último take do filme. — Peter sussurrou e posicionou o dedo no gatilho. — Termina contigo.

— TOMMY, NÃO!

Vince tapou o rosto e encolheu-se, perguntando-se se a pistola estaria carregada. É claro que estaria.

Peter disparou.

— CUT!

XXX

Vince caiu na risada e sentou-se na cadeira de rodinhas. Estavam agora na sala de maquiagem do set de filmagem.

— Olsen #1, você é um ator horrível. Você não consegue fazer o vilão! Traz o seu irmão, pelo menos ele tem a sobrancelha sinistra.

— E você é o pior mocinho. — Peter cuspiu. — Sempre a mesma expressão de que não lavou a cara, me diz, como é que você conseguiu esse papel?

— Não precisei subornar a diretora de elenco.

Vince empurrou Peter, que recuou e o empurrou de volta. Peter arremessou o protótipo da Magnum no colo de Vince e saiu marchando em direção a porta.

— Eu avisei a eles que você seria um problema, Vince. Vou te arrancar dessa série o mais breve possível.

XXX

O jovem tatuado recuou com um orgasmo inesperado e os fluídos se espalharam na cara da loira meio pin-up. Ela sorriu e passou o dedo no canto dos lábios preenchidos artificialmente, então espalhou a porra toda nos peitos gigantes, lançando um olhar para Vince.

Três anos após a gravação de “American Slasher Story”, contracenando ao lado de Peter e Phillip e reencenando um dos casos de serial killer mais polêmico de um dos cidadãos de Reaperswood, Vince não imaginava que trabalharia num estúdio de filmes adultos.

Atrás da câmera principal, Vince observava os atores. A atriz loira, alguma coisa XXX era o nome dela, parecia estar interessada mais em Vince no que na lente da câmera.

— Você pode terminar aqui, Bruce? — Vince gritou, ainda manuseando a câmera e recuando o foco. — Eu tenho reforço de Álgebra daqui há 45 minutos.

A loira pareceu recuar. Vince achou que ela tinha murchado pois ele ainda era estudante do ensino médio.

— Tudo bem. — Bruce ergueu-se da cadeira e aproximou-se. — 22 anos e ainda não terminou o colegial. O que há de errado com você, garoto?

— Ele trabalha num estúdio pornô indie. — Alex surgiu do backstage com uma toalha na mão e uma bolsa plástica. — É isso que tá errado com ele.

— E com você também. — Vince sorriu e observou Alex entregar o kit para a atriz e apontar o caminho da ducha para ela. — Alex, você tem 19 anos.

Bruce era dono da produtora e Alex era auxiliar de backstage. Bruce era um cara simples, pacato demais para parecer que tinha um negócio no ramo da putaria. Baixinho, feições pesadas, e um rosto com feições escuras e mediterrâneas, quase que esquecível, Bruce era normal até demais. Já Alex por sua vez parecia um desenho, ou apenas um produto da pressão que Reaperswood colocava em seus moradores. Roupas darks e apertadas, pernas longas e pele lisa. Os cabelos tingidos e descoloridos incontáveis vezes, olhos verdes e lábios cheios, Alex era uma interrogação constante.

Bruce e Alex eram os melhores amigos de Vince naquela parte da vida. E Vince sabia apreciar.

— A Bre melhorou? — Alex casualmente perguntou enquanto o encarava novamente. — Deve ter sido horrível.

— Foi pra todos nós. — Vince deu de ombros. — Mas tá tudo bem agora. Quer ir pra Álgebra comigo?

— Jesus, Vince. Vaza daqui.

XXX

Vince tinha 22 anos e agora finalmente cumpria as matérias que havia reprovado. Ele sempre tinha sido o cara esquisito demais, mais faltando do que indo, e aquilo tinha durado por anos.

O problema era que Vince se envolvia demais com filmes. E além de “American Slasher Story”, tinha participado de alguma maneira em milhares de projetos de filmes, séries e curtas que haviam aparecido ao redor de Reaperswood nos últimos quatro anos. E era por isso que ele perdia tanta aula.

Ele marcava todos os créditos dos filmes no IMDB. E vários dos alunos de Reaperswood que tinham pretensão em seguir carreira no cinema o respeitavam por aquilo. Eles achavam que Vince tinha contatos.

Vince era alto e grande, num nível atrapalhado. Cabelos e olhos escuros e estreitos com a pele naturalmente queimada. Rosto ossudo, lábios cheios e uma barba confusa tendendo ao ruivo, ele era no mínimo exótico no meio de tantos jovens que seguiam o padrão de Reaperswood. E aquilo, agora ele via como uma boa vantagem.

Aproximando-se do estacionamento da Reaperswood High com sua moto, ouvia a rádio local pelo fone de ouvido.

“O prisioneiro que estava na cela do lado oposto afirma que Tommy Warland esfaqueou o guarda no momento em que a grade automática de sua cela foi aberta. Warland é conhecido como o “cineasta assassino de Belmont”, que assassinou o lendário James Brando, e também metade da equipe de filmagem numa chacina, no bairro de mesmo nome, no sul de Los Angeles, dez anos atrás.”

Vince conhecia bem aquela história.

“Tommy Warland era natural de Reaperswood, sul da Califórnia, cidade conhecida por exportar um grande número de profissionais do cinema para o mundo todo. As investigações sobre quem invadiu o sistema para abrir a cela de Warland ainda estão em andamento. Tommy Warland está desaparecido.”

Vince riu e estacionou a moto. Guardou os fones de ouvido no bolso e suspirou.

Tommy Warland era o vilão da websérie “American Slasher Story”. Tommy Warland era Peter. Vince era o mocinho da websérie, James Brando.

Vince tinha reencenado aquela história toda três anos mais cedo. E agora o assassino estava solto, e por um acaso talvez assistisse a série.

— Que dia.

XXX

— Vince?

Vince estava subindo os degraus do estacionamento apressado e deu de cara com o Diretor Cortez. Ao lado dele estava uma jovem ruiva que Vince nunca havia visto antes.

— Oi seu Cortez. Oi moça que eu nunca vi.

A jovem deu um sorriso tímido e quis desaparecer atrás de Cortez. Vince não conseguiu segurar a risada. Ela quis desaparecer de novo.

— Vincent, vou aproveitar que você já virou mascote do Reaperswood High e pedir que você acompanhe a jovem Jac até a sala de aula dela. Ela está perdida... de novo.

A jovem conhecida como Jac encarou o diretor ressentida.

— Tudo bem. — Vince concordou.

O diretor saiu correndo de volta à escola. Vince e Jac se encararam.

— Alemanha? — Vince perguntou confuso. Jac fez uma expressão negativa. — Reino Unido?

Jac ficou séria.

— Ok. Itália? Não... Portugal... Não... Grécia? Espanha não pode ser, não tem ruivas na categoria do pornô de lá...

— Eu sou francesa, pour l’amour de Dieu.

— Desculpa. — Vince deu de ombros. — Gosto de tentar adivinhar.

— Devia tentarr outra coisa. — Jac mostrou o número da sala que precisava chegar. — Você não ééér bom niss.

— Fica no caminho da minha sala. — Vince pareceu sério agora, recuando. — E aí, já encontrou sua turma? — Ambos começaram a andar pelo colégio.

— Non. — Ela não pareceu se importar. — Também não vejo sua turma.

— Sotaque bonito. — Ele disse rápido. — Eu não tenho turma, sou um floater.

­— “Flow – terrr”?

— Isso. Floater. Diga nesse sotaque de novo que eu me derreto. Enfim, eu me misturo bem.... De qualquer jeito, só faço algumas aulas que reprovei, não tenho 17 anos que nem todo mundo aqui.

— Dá parra ver. Isso faz dois de nós.

Daorra.

— Na Frrança, os grupos de adolescentes são mais separrados. Aqui está tudo espalhado...

— Bem-vinda a Amérrica, Jac.

— Não nesse sentido, idiota.

— Quer que eu te explique? — Vincent deu de ombros. — Bom.... Todo mundo tem a parte superficial de cima, a que você quer que os outros te vejam, e a camada logo abaixo.

— Exemplo?

— Ali naquele canto. — Vince apontou para Brenda e Johnny. — Eles parecem apenas dois góticos hello darkness my old friend só, certo?

— Cerrto.

— Bom, pois o Johnny, o esquisito do cabelinho toim oim oim, é o cara do clube de cinema. — Johnny imitou uns movimentos de Pulp Fiction. — Ele é meio doido, mas é gente boa.

Brenda tapou os olhos para não ver Johnny e caiu na risada.

— E a jovem do lado dele, que parece a gótica do The Breakfast Club, o dia inteiro fazendo cara de sofrida e carregando vela na bolsa, na verdade, ela é uma das pessoas mais legais que você pode conhecer. Se você precisar falar sobre absolutamente qualquer coisa, ela é a pessoa certa.

— Ela é bonita...

— É claro que é bonita, é minha irmã.

Jac virou os olhos.

— Consigo enxergar as semelhanças.

— E aquelas são a Kat e a Victorya. — Vince apontou discretamente e Jac observou. — As duas causam um fuzuê por onde passam, são as "abelhas rainhas". — No mesmo instante, Victorya tirou dois batons da bolsa e entregou um para Kat. Então passou a retocar o batom de Kat no mesmo instante em que Kat retocava o de Victorya. As duas faziam isso com os bumbuns empinados e os meninos próximos começaram a filmar.

— Finalmente terminei a make amiga. — Kat virou os olhos e encarou o espelhinho. Pareceu desapontada. — Seja honesta, Victorya.

— Miga, tá linda. — Victorya abraçou Kat.

Victorya virou os olhos fora do alcance do olhar de Kat e começou a retirar toda a make do próprio rosto.

— Vamos começar de novo a minha make que tá horrível...

—Tem um rumor pela escola que as duas vão gravar um pornô lésbico numa produtora de filmes locais quando completarem dezoito anos. — Vince deu de ombros. —Pelo menos é o que a galera aposta.

Absurde...

— Se você não for uma delas, recomendo passar longe. Não queira ter seu nome escrito no livro do arraso.

— Je non suis uma abelha rrainha.

— Vamos descobrir isso ainda. — Vince deu de ombros. — Aquele é Mark Reynolds. — Vince apontou para um garoto moreno de olhos claros que parecia falar sozinho ou pelo menos com uma árvore. — Se você precisar de dicas de como desprender um pinto de um zíper sem arrancá-lo, pergunte para ele.

Jac encarou confusa.

— É uma longa história.... Aqueles dois grandões vindo, se a jaqueta gigante do time não deixou claro, eles são os atletas do time. — Vince apontou para Lucky Woods e Marley Andrews. Um cochichou algo no ouvido do outro e os dois deram um high five exagerado no ar, assustando algumas garotas próximas.

— Basicamente, ouvi falar que o Lucky sonha em estrelar uma adaptação do John Green. — Lucky desvencilhou-se de Marley e lançou um olhar dramático para as garotas. — O pai trabalha numa filial da Microlins e Lucky é modelo dos vídeos propagandas e do website. Pelo menos era até descobrirem e espalharem as propagandas pela escola e então todo mundo começou a cantar música da propaganda quando ele passava. Quanto ao Marley... — Marley deu uma risada rouca e cheirou a mão, num gesto descoordenado. — Ele só quer fumar, beber e assistir Sharknado e outros filmes ruins.

— Por que você faz isso, Vincent?— Jac pareceu envergonhada. — Rotulando as pessoas...

— Estou te guiando, Jac. Comecei, então agora me deixa terminar.

Uma garota aproximou-se de Lucky e apalpou a bunda dele. Lucky pulou e agarrou a garota, então os dois começaram a se beijar. Rolaram no gramado.

— Aquela é Melissa. Alguns dizem que ela é canadense e tinha uma carreira de pop star lá naquelas terras.

— Achei que Miles erra um nome de homem.

— Eu também.... Aquela moça lá é Terry Mackenzie. — Vince apontou para uma moça exótica com um gravador nas mãos, gesticulando e rebolando. — Ela comanda a rádio da escola. Recomendo que não compartilhe seus segredos com ela, a não ser que queira que Reaperswood inteira saiba. Uma vez eu disse que tinha problemas na bexiga brincando com a Brenda e ganhei potinhos para fazer exame de xixi por uma semana de todo mundo.

Intense.

— Fiz uma coleção. Enfim... aqueles são Newton de Neve e Maycon. — Newton mordeu uma maçã e caiu na risada ao ler uma mensagem no celular. Maycon o observou através de seus óculos e voltou para o seu livro.

— Basicamente o Sunshine faz trabalhos para os populares babacas sob ameaças e Newton morde maçãs o tempo todo. Corre o boato que é o único alimento que ele pode comer, por isso o Newton de Neve. Os dois são muito inteligentes e legais de qualquer jeito, então se você for gênia, o que eu desconfio, é um bom lugar para você.

Jac encarou com desdém.

— Aquele com o bloquinho é o Marcus. — O jovem Marcus rabiscava ferozmente um bloquinho de notas. Então arrancava o rascunho do bloco, amassava, jogava em direção a lixeira e errava. — É um ótimo escritor e intérprete de suas obras. Tenho medo dele, basicamente, gente como ele nasceu para ser chefe de gente como eu

— Ué. — Jac comentou.

— Apenas tô sendo honesto. Aquela lá que está cantando que nem doida é a Hannah Athos. — Hannah caprichava no falsete e balançava os cabelos enquanto um carinha cabeludo tocava violão. — Ela tem phd em divas pop. Ela só sabe falar disso, é uma droga. E aquele menino do lado dela... — O menino ao lado dela encarava furiosamente o estacionamento. — Aquele é o Wendy. Ele é melhor amigo dela. Não conheço ele, mas toda vez que ouço ele falando alguma coisa, eu dou risada. Ele é um mene. Enfim, esses são os espécimes mais comuns que você vai encontrar aqui em Reaperswood.

— E quem são aqueles saindo do carrrro? — Jac perguntou curiosa. Vince encarou.

Dois caras bem vestidos saíram de um carro novíssimo.

— Ah claro. Phillip e Peter Van Der Hills. Ou como eu apelidei e espalhei pela escola, as gêmeas Olsen.

— Quem é a Olsen bonita? — ela sorriu.

Vince a encarou e riu.

— Não vou nem responder sua pergunta. Tá na cara.

— Ahn?

Vince notou o interesse de Jac nos dois e deu de ombros.

— Talvez você seja do grupo deles, mas aí cada um com seus problemas.

— Me fale sobrre eles. — Jac não tirou os olhos dos rapazes.

— Gêmeos, filhos de um casal bem-sucedido e tradicional da cidade. É esquisito dizer, mas se o diretor disse que eu sou um mascote da escola, esses dois benditos são quase um patrimônio histórico da cidade. Basicamente, eles lideram o grupo dos populares. Eles têm poder sobre a administração da escola, provavelmente comprado com o dinheiro dos pais deles, e então pisam em todo mundo que estiver no caminho.

Uma garota de óculos e aparelho que estava ouvindo a conversa estourou uma bola de chiclete e andou em direção a Vince e Jac.

— Uma vez o Phillip Van Der Hills bateu a toalha suada na minha cara.

— Que horror. — Jac comentou. — Por que ele fez isso?

— Eu não sei, mas adorei. — A garota se afogou na risada, tirou uma toalha da mochila e esfregou na cara. Jac quase caiu para trás.

Vince sorriu descrente.

— Tá vendo, esse é o efeito que os gêmeos tem sobre os outros alunos. No fórum da escola mesmo, tem uma teoria detalhada sobre como os alunos acham que os gêmeos têm um tipo de bipolaridade doentia. Eles são pessoas diferentes o tempo todo, um dia são doces, no outro dia devoram alguém vivo. Sem contar que parece que eles esquecem algumas coisas.

— Tipo o quê? Fala!

— Outra hora te explico. Só sei que já trabalhei com eles, e foi a fase mais insana da minha vida.

— Meus pêsames.

— Tá tudo bem. Sobrevivi.

— De todos que você me falou, em quem devo confiar?

— Sobre o quê? Eu não confiaria em ninguém, com esses assassinatos acontecendo pra todo lado...

— Não no sentido dos assassinatos — Jac sorriu. — No sentido de amizades...

— Ah sim. — Vince sorriu. — A escolha é sua. Escuta, você está em Reaperswood, cidade que mais exporta gente talentosa pra Hollywood e em direção ao mundo todo. Há um tipo de cultura e pressão local para que os alunos sejam modelos no que eles sabem fazer de melhor para se darem bem no futuro, e por isso, não duvide... qualquer um deles pode te dar uma rasteira em um piscar de olhos.

— E isso inclui você, Vincent? — Jac exagerou no sotaque e Vince quis derreter.

— Inclui se você quiser. Mas não se preocupe, não vou te esfaquear pelas costas se é o que você quer saber.

— Mas... quem é você? — A ruiva perguntou. — Você falou bastante sobre todo mundo e ainda não sei nada sobre você.

— Eu diria: rabugento, bêbado, beligerante, irracional e mal-humorado.— Vince estava sendo honesto. — Mas você poderia confiar em mim 50% a mais do que as outras pessoas só porque estou te contando tudo. E provavelmente você deve estar achando que eu sou uma pessoa amarga que só tem coisas ruins a dizer sobre os outros adolescentes. Olha, tudo bem se você pensar assim. Eu passei a manhã falando dos outros alunos.

— Pensei assim um pouco, un petit.

— Pensa por esse lado. — Vince sorriu. — Acabei de ser super honesto contigo.

— Parrece justo.

— Totalmente justo. Da próxima vez eu te deixo falar mais, Jac.

O sinal tocou e ambos se assustaram. Trocaram um sorriso tímido e Vince finalmente entregou Jac em sua sala de aula.

Vince suspirou. Ele quase nunca falava e então quase não deixou Jac falar. Belo jeito de assustar a aluna francesa.

XXX

Vince não encontrava Brenda. Ela não estava mais no pátio e nem em algum de seus outros esconderijos. O jovem andava pelos corredores da Reaperswood High apressado e sem sucesso.

Deu a volta, subiu no andar superior. Passava apressado por uma série de salas de aulas até que parou.

Brenda estava no centro de uma sala de aula. Ao redor dela estava uma rodinha de alunos, e Vince aproximou-se em silêncio.

No grande laboratório de biologia, além dos diversos armários e equipamentos, aquários e gaiolas,lá estavam os Van Der Hills, Victorya, Lucky, Mark e Marley. E Bre os fuzilava do meio da roda.

— Que porra é essa? — Vince chutou a porta.

As Olsen deram um pulo. Brenda o encarou e forçou um sorriso.

—Imaginei que você seria acostumado a arrebentar portas. — Phillip virou os olhos. — Projeto X.

— O que tá acontecendo aqui? — Vince repetiu.

— Oi Vince. — Victorya sorriu. Peter a lançou uma cara feia.

— O que aconteceu, foi que encontraram isso no quarto dessa doida.

Peter ergueu um saco plástico contendo uma faca ensanguentada.

— Doida varrida que por um acaso é irmã dele. — Phillip completou. — Tá no sangue.

Victorya, Mark e Marcus expressaram surpresa. Vince e Brenda trocaram um olhar feliz.

— Você sabe que isso é um elogio, certo?

— Melhor elogio. — Brenda finalmente falou. — Olha, eles invadiram meu quarto, Vince.

Vince parou nos trilhos.

— Que porra vocês estavam fazendo no quarto da Brenda?

Silêncio. Peter e Phillip se encararam e Vince pegou.

—Phillip. — Vince riu. —Tinha que ser o otário que se acha o herói. Cara, você acha que tá na porra do CSI? Já ouviu falar em algo chamado invasão de propriedade?

— É claro que eu ouvi. E você já parou para se perguntar porque a faca que matou Gabriella está nas coisas da sua irmã?

Vince recuou.

— Você não sabe disso. — Brenda sibilou.

Peter que estava calmo até o instante se adiantou.

— Phillip, não seja otário. Os dois podem estar trabalhando juntos.

Phillip pareceu chocado enquanto calculava.

— Os irmãos esquisitos resolvem começar a sair matando. — Phillip riu. — Faz todo o sentido. Gabriella era sua vizinha, certo Vincent?

— Ela era amiga da Brenda e eu conheço ela desde criança. Mais fácil vocês dois serem os assassinos.

— Dois playboys com bipolaridade. — Brenda pegou o gancho e encarou Peter. — Gabriella me contava sobre o relacionamento de vocês dois. Era problemático.

— E sem contar que vocês dois parecem ter uma coisa... — Vince insinuou.

— Que tipo de coisa? — Peter se aproximou de Vince de modo intimidativo. Vince não se abateu. Ambos eram da mesma altura, porém Vince era visivelmente maior.

Gente...

Todo mundo encarou. Mark limpou o óculos na camiseta e continuou:

— Qualquer um de nós pode ser o assassino. Inclusive eu.

A sala irrompeu numa risada.

— Você ainda não respondeu minha pergunta. — Peter grudou no colarinho da camiseta fina de Vince.

— Você é quem me diz. — Vince não pestanejou. — Olsen.

Peter empurrou Vince em direção a parede. Vince rapidamente retomou o equilíbrio e voou na direção de Peter.

Phillip correu para ajudar, mas Peter o encarou.

— Só eu.

— Vince, não! — Brenda gritou. — Você vai matar o coitado!

— Assim como ele fez com a Gabriella? — Phillip cuspiu.

— Eu não matei ninguém, otário! -

Vince gesticulou como se fosse atacar dessa vez, e Marley voou para afastar. Marley tropeçou no cadarço e deu de encontro com a lousa, então diversos apagadores caíram no chão. Bre deixou um risinho escapar. A tensão assombrava a sala.

— Nenhum de nós é o assassino. — Lucky comentou, olhando do celular e lendo uma notícia. — Tommy Warland, o assassino de Belmont foi visto aqui em Reaperswood essa manhã, nos arredores de sua casa antiga.

— Nossa. — Victorya pareceu assustada e interrompeu o retoque de maquiagem. — Os Warland eram meus vizinhos. Então ele estava perto da minha casa?

— Tommy Warland deve ter voltado e saiu matando geral porque assistiu a merda da sua atuação na American Slasher Story, Peter.

Peter correu em direção a Vince e empurrou-o contra um dos aquários vazios do canto. Vince desequilibrou-se e despencou sobre a estrutura de vidro, trazendo Peter consigo.

Houve o som do vidro estilhaçando e os dois garotos atingiram o chão. No mesmo instante a porta abriu e Sr. Cortez adentrou a sala seguido de vários alunos curiosos.

— Que porra está acontecendo aqui?

Peter levantou-se do chão, seguido de Vince. Ambos tinham cortes pequenos nos braços e nas mãos, devido aos cacos. Bre correu em direção a Vince enquanto Phillip ia ajudar o irmão.

— Não sei nem por onde começar. — Vince deu de ombros.

— Ah eu sei. – Sr. Cortez estava puto. — Amanhã mesmo, quero todos vocês na detenção. Mas vou aproveitar, já que vocês adoram quebrar as coisas, vou mudar as regras e vocês vão ajudar a limpar a escola depois do jogo.

Todo o grupo reclamou. Um dos fiscais da escola já saiu distribuindo as fichas de detenção.

— Eu tô fora. — Victorya deu de ombros.

— E quanto aos dois lutadores de UFC, antes de subirem na Diretoria para acertarmos o prejuízo sobre os equipamentos, alguém faz o favor de levar eles para a enfermaria.

Vince passou de cabeça baixa para Sr. Cortez. Já Peter não tirou os olhos fumegantes sobre o homem.

— Não acredito que vou passar o sábado com um bando de idiotas.

— Não se preocupe mano. — Phillip riu batendo na costa do irmão. — Você vai ter companhia.

— A porra do Clube dos Cinco. — Marley riu sozinho.

XXX

Após dividir as despesas do aquário e despachar o Anderson Silva e o Chris Weidman da Reaperswood High, Sr. Cortez deu uma olhada ao redor, tentando entender o que estava de errado com sua sala.

Na semana anterior, tinha encontrado sua sala arrombada, mas nenhum de seus objetos tinha sido roubado. Contudo... parecia que um pedaço visual de seu dia estava faltando.

Observou a tela do computador, se perguntando se era algo no desktop. Não... Em sua mesa... Não.

Mas era exatamente esse sentido. Ele não estava sendo observado dessa vez.

Olhou para o canto da sala esperando enxergar o uniforme do mascote de Reaperswood e finalmente entendeu. Tinham levado o uniforme. Era o Reaperface, um manto negro e uma máscara de caveira, cujo reza a lenda dizia que alguns dos ossos na máscara eram reais. Sr. Cortez não admitiria, mas achava o fato de manter aquela caveira em sua sala totalmente badass.

Inclusive, um dos alunos tinha dito aquilo uma vez.

Discou um número que estava num post it colado na lateral do seu monitor.

— Xerife Browning? Tudo bem? Sou eu o Javier Cortez, diretor do Reaperswood High.

De praxe, o diretor começou a andar pelo escritório enquanto falava.

— Não, tá tudo bem aqui. Eu... — Javier se interrompeu. — Quer dizer, bem na medida do possível. Foi realmente triste perder o...

Procurou uma colinha com o nome do aluno que tinha cometido suicídio numa das piscinas. Não encontrou. Droga.

— Perder o aluno lá. Nossos psicólogos já estão conversando com diversos estudantes. — Sentou-se na sua própria cadeira do diretor e encarou sua foto na parede oposta. Javier ainda tinha a mesma cara de latino safado que tinha quando era jovem. Gracias papá. Agradecia por seus genes latinos. — Então... você me disse para ligar caso eu notasse algo suspeito, certo? Ok... certo. Então, é que eu acabei de notar que a máscara e um manto negro, tradição de Reaperswood High, enfim, desapareceram da minha sala.

Começou a deslizar o dedo pelo pó da mesa. Desenhou peitos. Coçou o bigode.

— Você sabe qual manto e máscara xerife, você estudou aqui, então... sumiu. Provavelmente sumiu na semana passada quando encontrei minha sala arrombada, porém fui perceber só agora... Isso... Tudo bem... Eu que agradeço.

Desligou o telefone e ergueu os pés na mesa. Suspirou.

XXX

Marcus acordou cedo no dia seguinte.

O campeonato regional de Lacrosse era o que o próprio nome dizia. Escolas da região traziam seus competidores e a festa começava. Ganhando ou perdendo, sempre tinham festas regadas a álcool e drogas em alguma casa da cidade.

Não que Marcus era acostumado a ir em festas. Ele gostava apenas de observar.

Mais tarde o Reaperswood High jogaria contra o time de Lakewood. Mas naquele instante, Marcus não estava preocupado. Era sábado, quase 12:00, o dia tinha amanhecido chuvoso e a escola ainda estava vazia. Provavelmente os funcionários chegariam a partir das 16:00, e o jogo a partir das 19:00.

Marcus estava sentado no topo da arquibancada úmida do campo, sozinho. Havia entrado no terreno facilmente por um buraco na grade dos fundos do prédio escolar. O campo tinha um belo tom de verde-limão e se estendia por um espaço gigante. Várias riscas de diferentes cores para diferentes esportes. As arquibancadas de madeira eram distribuídas nas quatro extremidades do campo, cada uma com cerca de oito metros de altura. Marcus estava praticamente no topo.

Naquele instante, tentava encontrar inspiração para escrever algo que pudesse expressar exatamente como ele estava se sentindo em relação a aquele dia em especial. Celular na mão, o aplicativo de notas o encarando de volta, Marcus pensava.

Respirou fundo e tombou a cabeça para trás. Ainda de olhos fechados, sentiu o sol finalmente surgindo detrás das nuvens e aquecendo seu pescoço. Uma sensação ótima.

Então ouviu o barulho. Era um barulho contínuo, metal contra metal. Riscando...

Olhou ao redor, assustado.

— Quem tá aí?

Ninguém respondeu.

Ouviu passos. Observou ao redor outra vez, estava sozinho. Ele não estava enlouquecendo.

Suspirou. Ergueu-se e então viu um par de mãos vestindo luvas pretas surgindo na fresta entre os degraus da arquibancada. Foi rápido demais e ele gritou.

As mãos fecharam com força ao redor de seus tornozelos e foi puxado para a fresta. Perdeu o equilíbrio e desabou para frente. Gritou desesperado enquanto sentia o mundo girando e lembrava-se de quando tropeçava num sonho.

Mas dessa vez era real.

Ele caiu pra frente e atingiu a testa na madeira de um dos degraus abaixo. Sentiu a dor explodindo em sua testa, sentiu como se sua cabeça fosse explodir, como se seu crânio tivesse rachado ao meio, mas a escuridão desapareceu de seus olhos e ele voltou a consciência num único reflexo. Contudo, não continuou caindo, pois as mãos que tinham tirado o seu equilíbrio se mantiveram firmes ao redor de seus tornozelos.

Marcus sentiu sendo puxado em direção a fresta dos degraus acima. Gritou. Esperneou, mas as mãos eram firmes, seladas contra sua pele. Com certeza era alguém forte. Tentou encontrar uma maneira de encarar quem o puxava, mas não conseguiu.

As mãos puxaram novamente e ele não conseguiu segurar. Sentia-se machucado com a queda, porém a adrenalina era maior. Observou o celular que antes estava em suas mãos, agora aberto sem a tampa da bateria vários degraus abaixo.

— MERDA! SOCORRO!

Então as mãos juntaram num único impulso e ele foi puxado. Sentiu seu corpo ser sugado para o buraco, então decidiu que deveria tentar encarar quem estava fazendo aquela merda.

Marcus atravessou o buraco de costas e sentiu-se adentrando no que era a parte inferior, o interior das arquibancadas, a parte invisível ao público que se mantém as vigas de sustentação. Sentiu-se entrando de costas no buraco e o pouco de sol desapareceu.

O garoto despencou por uma altura que acreditou ser vários metros. Ao cair, balançou os braços e sentiu atingir a cabeça de quem estava o puxando. Mas tinha um tecido.

Pousou no chão com o traseiro. Ignorou a explosão de dor na bunda e olhou para o seu inimigo.

Era uma figura sinistra. Vestia o manto negro da escola e usava a máscara de caveira que havia botado pesadelos em centenas de crianças ao longo da última década. Ossos reais.... Aquilo era a fantasia do mascote de Reaperswood.

A figura esquelética passou a mão na nuca, provavelmente devido ao golpe inesperado de Marcus. Em seguida inclinou a cabeça para o lado e encarou Marcus. Quase como se encarasse uma presa.

— Que porra é essa? — Marcus gritou.

Foi aí que algo estalou em sua mente e algumas coisas fizeram sentido. Ao mesmo tempo que viu o Reaperface alcançando algo no interior de suas vestes, o pensamento atingiu em cheio.

— O assassino. — Marcus sussurrou.

O garoto ergueu-se num escorregão e sentiu uma facada riscando superficialmente a pele de suas costas. Gritou e pôs-se a correr.

As vigas da arquibancada dificultavam a fuga, mas era um caminho curto. Alcançou a ponta e pulou para fora da estrutura. Virou-se e o Reaperface estava bem em seu encalço.

O assassino empurrou-o no instante em que Marcus pisava fora da estrutura. O garoto perdeu o equilíbrio novamente e chocou-se contra a parede do vestiário, mas continuou firme.

Não teria tempo de buscar o celular, enfiar a bateria e ligar por ajuda. Então lembrou-se dos telefones públicos e linhas no interior da escola. O vestiário tinha uma porta que dava acesso ao interior do edifício, e Marcus imaginou que pudesse estar destrancada.

Chutou a porta do vestiário masculino e entrou. O vestiário parecia um galpão gigante, diversos armários de alunos distribuídos como se fossem estantes de livros. No fundo inúmeras duchas e uma entrada para o interior da escola. Marcus rapidamente pegou um capacete que havia visto jogado no chão e correu em direção aos armários.

Parou e observou.

O Reaperface entrou no segundo seguinte e trancou a porta com uma chave. Filho da puta. Marcus grunhiu e disparou a correr em direção a outra porta do vestiário, em direção ao interior da escola. Contudo, seria difícil de despistar o assassino e ter tempo de ligar.

Escorregou e disparou a correr outra vez, a sombra do assassino sempre presente, sempre consciente.

— O que você quer, porra? — Ele gritou.

O assassino não respondeu.

Marcus avistou um taco de madeira e largou o capacete que estava em suas mãos. Agarrou-o. Passou pelas cabines dos chuveiros e alcançou a porta da escola.

Trancada.

— Porra!

Virou-se e escapou do alcance do assassino outra vez. Voltou a correr por um corredor cercado de armários e pela primeira vez, se viu mais rápido do que o assassino. Lançou um olhar para trás e viu que o assassino estava fora do alcance dessa vez.

Então ouviu passos no lado oposto. O assassino poderia surgir de qualquer lado agora. Olhou para uma extremidade do corredor, o assassino poderia surgir por lá e esfaqueá-lo. Encarou a outra extremidade e imaginou que aconteceria a mesma maldita coisa.

Então ele abriu a porta do primeiro armário que viu e entrou.

Pelas ranhuras finas da porta de metal, observou a sombra do assassino surgindo no corredor naquele mesmo exato instante.

Trancou a respiração. Com certeza o filho da puta tinha ouvido o barulho do armário metálico se fechando. Mas tinham vários armários naquele corredor. Era só Marcus esperar o momento certo, abrir a porta e dar uma tacada na cara daquele filho de puta.

Mas cadê o taco?

Marcus xingou a si mesmo nos pensamentos. Deixou encostado no armário ao lado do lado de fora. Pior, o taco iria indicar onde ele estava. Rezou para que o assassino não visse a merda do taco na porta do armário ao lado, denunciando onde ele estava escondido.

Decidiu que iria pular em cima do assassino quando o mesmo abrisse a porta.

Por que você só faz decisões estúpidas, Marcus?

Trancou a respiração.

O assassino abriu a porta de um armário. Marcus observou pelas frestas do armário o que imaginou serem os ossos reais na máscara. Sentiu um arrepio. Sentia o suor escorrendo. Esforçou-se para não respirar.

Abriu a porta de outro armário. Tentou a de um terceiro, estava trancada. Tentou o mesmo, trancada. Viu o assassino se inclinar para tentar observar pelas ranhuras. Abriu um quarto armário.

Aquele estava vazio.

Então o assassino desistiu e voltou pelo mesmo corredor de onde estava. Marcus respirou e então ouviu o taco de madeira escorregar do lado de fora e cair rolando.

Marcus fechou os olhos. O assassino estava voltando. Era tudo ou nada. Chutou a porta do armário e no instante seguinte viu um capacete sendo arremessado em sua direção. Acertou com força em seu maxilar e ele viu estrelas enquanto observava o próprio sangue de seus dentes sendo cuspido no ar.

Caiu de quatro no chão. Observou outra vez e agora o assassino tinha o taco de madeira em suas mãos. O mascarado deu uma olhada na nova ferramenta que havia conseguido e então deu de ombros.

Desceu o taco com força na cabeça de Marcus.

E foi aí que o pobre poeta não viu mais nada.

XXXX

Recostado contra o banco da recepção do Reaperswood High, ouvindo a chuva caindo lá fora e esperando o zelador surgir para que todos os alunos da detenção finalmente começassem a limpar a bagunça, Marley aproveitava o momento e descansava do jogo.

Já passava das oito da noite e o jovem estava em partes desapontado.

O time da escola havia perdido pro Lakewood. Em casa! Era a pior perda da equipe em anos.

Marley sentia como se o treinador quisesse matá-lo. Mas também não tinha culpa, afinal, Nina, a cheerleader do time da cidade vizinha, parecia estar a fim dele. Até deu o número dela. Ela tirou a atenção – e o fôlego – do garotão, diversas vezes durante o andamento do jogo.

Fazer o quê. Marley podia ser muita coisa, mas não era bobo. Alisou o blusão do time da escola e suspirou.

— Otário. — Lucky fechou os olhos e amassou o papel com o número de telefone da tal Nina. Lucky também vestia o blusão da escola e tinha os cabelos molhados de ter acabado de sair do banho no vestiário. — Muito otário, Marley. —Marley não entendeu. — Ela te deu um número faltando dois dígitos. DOIS DÍGITOS!

— Mas qual é — Marley riu. — Só tem do 0 ao 9 em dois dígitos. Só a gente tentar todas as combinações ué. Deve dar umas vinte.

Lucky tapou a cara e quis morrer.

— Na verdade dá mais de 1 bilhão de combinações, se formos considerar que ela pode ter dado a ordem errada dos números. — Mark surgiu logo atrás, sendo útil. Mark vestia apenas uma camiseta e uma calça jeans e tênis. Por vezes se abraçava para tentar evitar o frio.

— Número infinito de combinações na verdade. — Vince sentou-se ao lado de Marley. Vestia um capuz cinza de Star Wars e uma calça jeans rasgada, cabelo e barba molhados de ter acabado de chegar da chuva. Tirou o óculos escuro, dobrou e prendeu o na gola da camiseta. — Ela pode ter rabiscado números aleatórios e você vai passar o resto da eternidade tentando descobrir o número dela. Mas olha, me escuta, acho que você não tem chances. Ela é areia demais para o seu basculante.

— Menos, Vince. — Marley deu de ombros. — Ela estava na minha.

— A cheerleader gostosa dando em cima do atacante do time rival. — Lucky comentou. — Isso é tática, Marley. Ela só queria tirar sua atenção.

­­— Parece que não aprende. — Vince abriu um jornal local e pôs se a ler enquanto erguia uma perna em formato de quatro na outra. — Você já fez o mesmo papel de otário no jogo anterior.

Marley apenas encarou Vince.

— O diretor falou que o zelador Andrew ia nos encontrar aqui as 20:00. — Victorya disse chateada. — Ele já está atrasado. — A garota vestia um capuz rosa e tinha todo o cabelo liso jogado para um lado só. Impecável.

— Vamos procurá-lo. — Peter virou os olhos. O rapaz esperava com ambas as mãos dentro dos bolsos de uma jaqueta cara e deslizava a sola do tênis caro no piso barulhento da escola. — Não quero passar mais tempo que do que o necessário preso nessa droga.

— Eu sei onde é a sala dele... quarto, sei lá. — Mark disse e deu de ombros.

— Eu vou contigo. — Vince levantou-se e seguiu.

Brenda vestia um capuz preto e um short curto, com uma meia calça descendo até o tênis preto, cabelo também molhado de ter chegado junto de Vince. Seguiu de perto os dois garotos. Estavam no meio do caminho quando Lucky surgiu também.

Vince lançou um olhar confuso.

— Só pro caso de vocês dois serem assassinos e matarem o Mark. Não caí naquela de Tommy Warland.

Vince sorriu e fez um high five com Lucky.

— É aqui. — Mark disse. — Andrew?

— Ô Andrew? — Vince bateu na porta. — Tem trabalho pra fazer....

A porta abriu-se e a luz estava acesa. Houve o suspense de dois milésimos de segundos, então o corpo de Andrew surgiu de ponta-cabeça, pendurado com as pernas para cima no batente da porta. O pescoço tinha sido cortado de uma extremidade a outra.

Os quatro gritaram.

XXX

Brenda, Vince, Lucky e Mark voltaram correndo em direção ao resto do grupo assustados.

— Que porra foi essa? — Peter gritou. — Cadê o Phillip?

— Mataram o zelador. — Vince respondeu. — Puta que pariu. Brenda, você... CADÊ A BRENDA?

Brenda e Phillip haviam desaparecido.

— Meu telefone tá sem sinal! — Victorya acrescentou. — O que tá acontecendo?

O som do funcionamento das travas digitais dos portões da escola ecoou pelo hall principal e o grupo trocou olhares preocupados. Vince saiu cambaleando atrás de Brenda e Peter saiu procurando por Phillip. Em seguida ecoou o som de um interruptor sendo acionado e as luzes da escola se apagaram, deixando o grupo no escuro. Relâmpagos do lado de fora passaram a dar vislumbres dos rostos preocupados dos jovens.

— Que porra é essa? — Marley gritou.

— Estamos trancados! — Vince respondeu. — Essas portas não abrem nem com macumba.

Enquanto as lanternas dos celulares acendiam, o sistema de alto-falantes chiou e uma voz sombria e artificial soou pelos corredores da escola.

Olá jovens. — A voz disse num tom doentio. — Querem jogar um jogo?

XXX

Vocês acabaram de gritar. — A voz continuou. — Porque estão tão quietos agora?

— Que porra é essa? Porque nenhum celular tá pegando?

— Vejo que meu bloqueador de sinal está funcionando perfeitamente.

— Eu já ouvi essa voz antes. — Peter sussurrou. — Esse filho da puta andou me ameaçando pelo telefone.

— Eu posso ouvir vocês. — A voz ecoou. — Você não vai querer me ameaçar agora.

— O que você quer? — Victorya gritou.

— Eu já disse. Quero jogar um jogo. Já assistiram The Purge?

— Meu filme. — Mark completou preocupado. — Acho que todo mundo já viu.

— Então. Basicamente a regra do meu jogo, justamente será a falta delas. Bem-vindos ao meu expurgo. Vocês vão conseguir sobreviver a essa noite?

— A polícia vai vir nos buscar! — Vince gritou. — Alguém vai procurar por nós!

Não se todo mundo achar que vocês estão numa festa. — A voz riu. — Já confirmei presença para todos vocês.

— A festa da Hannah. — Victorya completou. — Todo mundo ia pra lá.

— Tem as saídas do porão. — Lucky sussurrou. — Ou as do vestiário. — Elas não são automáticas...

Ninguém sai do prédio até o amanhecer. — A voz ecoou.

— Você disse que não tem regras! — Peter gritou.

Bom. — Riu. — Estou criando elas agora. Como eu já disse, é a porra do meu jogo.

— Onde ficam as centrais de alto-falantes da escola? — Lucky perguntou. — Vamos pegar esse filho da puta!

— Vocês não vão querer me encontrar.

— Por que não? — Peter gritou. O rapaz girava e andava desconfiado pelo hall tentando encontrar sinais de Phillip ou encontrar sentido nas palavras do assassino. — Ficou com medo é?

— Se eu fosse você, eu teria medo. Afinal, não sou eu que tenho algo a perder.

Do que você tá falando?

Veio o som de um tapa pelo alto-falante.

— Peter... — A voz de um Phillip atordoado ecoou pelo alto-falante. — PETER PEGA ESSE FILHO DA —

O som de um golpe no alto-falante. Todo o grupo encarou Peter com a luz do celular.

— Philip... — Peter pareceu chocado. — O que você quer? Tommy Warland é você?

— Tommy! — Mark criou coragem. — O Peter sente muito pela atuação do —

Não importa quem eu sou! — O assassino gritou. — O que importa é o que eu vou fazer se vocês tentarem trapacear! POSSO ESTREAR MINHA FACA NOVA NO PESCOÇO DO SEU IRMÃO, É ISSO QUE VOCÊ QUER?

Peter suspirou. Passou a mão ao redor do rosto tentando ficar calmo. O grupo ficou em silêncio ainda o encarando.

— Você pegou Brenda? — Vince perguntou, suando.

Brenda?

— Ele não pegou ela. — Vince encarou o grupo. — Eu vou procurá-la!

Chegamos àprimeira fase. — O assassino riu. — Procurando Brenda.

Vince fechou os olhos e encostou na parede.

— O que temos que fazer?

— Descubram pelas minhas pegadas pelo prédio. Vão descobrir o que eu quero logo logo. E talvez, algum de vocês possa salvar um de seus entes queridos ainda essa noite. Talvez vocês sobrevivam ao expurgo.

O alto-falante desligou com um chiado.

— O telefone está mudo. — Victorya tentou o telefone público da escola. Tentou outros três e não conseguiu. — Gente, eu não posso morrer! A escola vai desandar sem uma líder.

— Sem Wi-Fi. — Marley comentou.

— Não queria ser o cara a dizer isso. — Lucky comentou. — Mas a gente vai ter que se separar agora.

XXX

Peter, Victorya e Mark caminhavam pelo hall em direção a escada do andar de baixo.

— Ele disse para seguir as pegadas dele. — Mark parou. — Vocês estão pensando no que eu tô pensando?

— Eu só quero pegar esse filho da puta e achar meu irmão. — Peter respondeu. — Não falem comigo mais do que o necessário.

— Eu só queria estar em casa. — Victorya deu de ombros. Tirou um espelhinho do bolso, um rímel e pôs-se a passar.

— Larga essa porcaria! — Peter bateu de leve na mão de Victorya e os objetos caíram. — A garota lançou um olhar seco para o ex, então recuou.

— Me desculpa. — Ela pareceu triste. — Eu só não consigo pensar direito.

— Me escutem! — Mark deu um berro silencioso. — Vocês não estão me ouvindo? Vamos seguir as pegadas dele! Os rastros.

— O zelador. — Peter completou. — Faz sentido.

XXXX

Vince, Marley e Lucky pisaram no terceiro andar.

O terceiro andar era composto por cômodos de escritórios, a parte administrativa da escola. A chance era grande de que o assassino estava ali, e os três sabiam daquilo muito bem.

— Sinistro. — Marley comentou.

— SHHH! — Os dois garotos o interviram.

Os três passaram pela porta de duas salas e não viram nada de suspeito no interior. Na terceira sala, ouviram um barulho.

XXXX

Peter aproximou-se do corpo do zelador, ainda pendurado de ponta-cabeça no batente da porta.

— Jesus. Esse assassino é doido.

— Se não fosse pelo Phillip, eu juro que já teria dado o fora desse prédio. — Victorya comentou. — Nem que fosse pela janela. Tô nem aí pra menina Evanescence.

Mark observou os dois totalmente tranquilos e próximos do corpo, quase como se estivessem acostumados. Passou a lanterna no pescoço degolado de Andrew e pareceu notar algo esquisito.

— Olha.... No pescoço dele!

Peter e Victorya olharam. Além da carne fatiada, podiam ver a fina camada de músculos e carne, agora com o sangue já parcialmente seco. Além da camada, viam os tecidos que mais cedo compunham as artérias e veias do homem, antes de morto. Podiam ver até um pedaço da garganta. E justamente nesse pedaço, havia algo errado.

— Parece um... — Peter aproximou-se, uma expressão de nojo no rosto. — Um barbante.

Peter esticou a mão para puxá-lo, então o corpo do zelador se desprendeu do batente e caiu no chão.

Os três gritaram.

XXX

Os três rapazes ouviram o grito dois andares abaixo e tropeçaram um no outro.

— É ele. — Vince comentou.

Os três olharam de volta para o corredor.

— Não vamos nos separar ainda mais. — Lucky falou. — Sempre dá merda!

Vince os encarou com a lanterna do celular.

Um flash de relâmpago irrompeu através das frestas de janelas e Vince gritou.

— ATRÁS DE VOCÊ LUCKY!

O ser mascarado ergueu um taco em direção a cabeça do menino, mas o grito de Vince o alertou. O taco acertou seu ombro e Lucky rolou no chãoe berrou.

Vince observou. O ser usava a máscara de caveira do mascote do colégio, mas naquele instante pareceu muito mais assustador do que realmente era.

— Meu pai. — Marley disse.

— Então é você. — Vince disse impressionado.

Repentinamente o assassino saiu correndo, deixando os três rapazes confusos.

XXX

Peter abaixou-se próximo ao corpo outra vez, agora nervoso. Segurou a respiração e finalmente pegou o barbante. Puxou um pouco.

— Tem algo lá dentro.

— Então puxa cara! — Vic adiantou.

— Calma porra. — Puxou.

O barbante continuou vindo pelo que parecia um metro. O assassino tinha enfiado algo no fim do barbante no fundo das entranhas do pobre zelador. O fio que saía pela garganta rasgada do homem trazia fluídos e sangue juntos.

Victorya levantou-se enojada e então Mark abaixou-se próximo ao corpo, iluminando com o celular.

O barbante finalmente acabou e Peter ergueu a ponta no ar. Era uma chave.

— Aonde isso entra? — Mark perguntou confuso. — Parece antiga.

— Vou descobrir. — Peter encarou. — A chave fica comigo.

Victorya estava de pé, encostada próxima a um dos telefones públicos. Observava os dois garotos observando a chave que haviam achado. Tentava aquecer as mãos nos bolsos do capuz rosa.

— Temos coisas mais importantes a fazer! — Ela aproximou-se de pé perto dos três. — Meninos, olhem para mim!

Peter olhou para Victorya e um relâmpago iluminou o corredor atrás dela. Abriu a boca.

Atrás da garota, uma silhueta ameaçadora. Era um ser vestindo um manto preto e usando a máscara do Reaper, mascote da escola. Era a máscara original. E nas mãos, a figura tinha uma faca de caça. Parecia uma peixeira.

— TORY!

A garota gritou e jogou-se no chão, por pouco escapando de uma facada certeira que reluziu. Peter enfiou a chave no bolso da jaqueta e levantou-se, seguido de Mark.

Os três jovens saíram correndo pelo corredor em direção as escadas e o assassino os seguiu, acompanhando a corrida. Não tinha como sair do térreo, então teriam que subir no andar de cima.

— Vai dar merda! — Peter gritou.

Peter voou nos degraus, Victorya acompanhando logo em seguida. Mark ficou por último e Peter viu o assassino se aproximando com determinação.

— Corre moleque!

Mark pulou para subir mais degraus de uma vez e o assassino deslizou a ponta da faca pela panturrilha do garoto. Rasgou o jeans e sangue jorrou na parede. O moleque berrou.

Victorya subiu os degraus correndo, sendo seguida de Peter. Mark veio correndo logo atrás, parcialmente mancando.

— Me esperem!

— Então anda logo menino!

O assassino parecia ter recuado, mas não podiam arriscar.

Victorya e Peter foram os primeiros a pisar no segundo andar e correram em direção a uma sala de aula. Mark subiu mancando, então Victorya voltou correndo até ele, grudou na camiseta do menino e puxou-o para que os acompanhasse.

Ela jogou Mark para dentro da sala com Peter e entrou logo em seguida.

— Menino lerdo. — Ela virou os olhos e escondeu um sorriso. — Vai atrasar a gente.

Mas Mark não ligou. Ele deu um largo sorriso.

Victorya fechou a porta e Peter empurrou a mesa do professor em direção a porta para dificultar a entrada do assassino. Então os dois encostaram na mesa e ficaram observando o corredor pelo quadradinho de vidro da porta da sala.

O assassino surgiu na porta com a máscara. Peter e Victorya recuaram e seguraram a mesa contra a porta.

— Ajuda a gente, Mark!

Mark adiantou-se contra a porta também. O assassino tentou girar a maçaneta diversas vezes, a máscara ainda encarando suas vítimas através do vidro.

— Não vai conseguir! — Peter gritou.

O assassino desapareceu.

XXXX

Vince, Marley e Lucky voltavam agora pelo corredor em direção as escadas. Lucky apoiava-se em Marley e Vince iluminava o caminho. Desligou a lanterna e deu de ombros, a visão de todos já tinha se acostumado ao escuro naquele instante.

E então uma figura coberta por um manto negro surgiu na escada, vindo do andar de baixo e mancando em direção aos três. Outro relâmpago a iluminou.

— Filho da puta! — Marley gritou.

— Você vai ver agora! — Lucky gritou e correu em direção a figura, raivoso.

Mas havia algo sinistro para Vince. A figura tinha apenas uma capa escura ao redor dela, não havia algo de ameaçador.

Não havia máscara.

— Lucky, espera!

Lucky arremessou-se contra a figura coberta com uma força surpreendente e ambos caíram no chão. A figura grunhiu. Vince e Marley se aproximaram correndo.

Vince já sabia o que viria.

Lucky puxou a capa.

Era Brenda.

XXXX

Vince empurrou Lucky de cima de Brenda que estava furiosa, mas com dor.

— Foi pra despistar a gente! — Marley disse. — O assassino fez isso com ela.

— Eu não sabia! — Lucky gritou. — Me desculpe Brenda!

— Você tá bem? — Vince perguntou e segurou a garota. — Ele te machucou?

— Desamarra minha mão, Vince!

Vince o fez. Enxergou sangue no moletom da irmã.

— Ele te machucou? De quem é esse sangue?

Brenda levantou-se de pé num único golpe e encarou Vince e os meninos. Parecia recuperada.

— Brenda, de quem é esse sangue? — Marley perguntou, suspeito.

— Sério? — Brenda deu de ombros e virou os olhos. Ergueu a lateral do moletom e revelou o que parecia ser um buraco profundo na lateral de sua costela. Fez uma careta de dor. Vince abriu a boca.

— Brenda...

— Esse sangue é meu. — Ela disse. — Mas o idiota errou. Não acertou nada de importante. Não entende nada sobre como esfaquear alguém direito.

Vince sorriu e abraçou-a. Ela retribuiu. Marley e Lucky trocaram um olhar.

XXXX

Victorya, Peter e Mark desceram de volta ao hall, cansados. Mark mancava e se apoiava nas paredes. Avistaram Vince, Brenda, Marley e Lucky os esperando próximos a recepção.

— Então é isso? — Peter perguntou desanimado enquanto se aproximava. — CADÊ O MEU IRMÃO, PORRA?

— Vocês viram o assassino? — Vince perguntou. Observou Mark. — Ah.... presumo que sim.

— O que você acha? — Mark tirou os óculos e secou os olhos na manga da camiseta. — Que detenção de merda.

— CADÊ O MEU IRMÃO, PORRA? — Peter repetiu.

— Eu tô fora desse prédio. — Vince deu de ombros. — Tô indo pro vestiário.

— Ele vai machucar meu irmão! — Peter gritou. — Você ouviu ele falando!

— Seu irmão super gente boa? — Vince perguntou. — Olha, não me leve a mal, mas tô preocupado com a minha pele aqui. Pede para namoradinha dele te ajudar.

— Hm? — Victorya encarou.

— Hm? — Peter repetiu.

— Ué. — Vince deu de ombros. — A festa da fogueira do mês passado, Victorya e Phillip se beijando quase transando no meio da galera.

— Parecia uma pornô. — Brenda riu.

Peter pareceu chocado.

— Então você não sabia? Que engraçado. — Vince continuou — Não me venha com esse papo de que era você, Peter, vocês podem bancar a Usurpadora e fazer um passar pelo papel do outro o tempo todo, mas eu sei bem diferenciar a Olsen bonita da Olsen feia.

— Todo mundo sabe, na verdade. — Marley sorriu.

— Quantas vezes isso aconteceu Victorya? — Peter parecia muito mais do que desapontado.

— Eu... eu não... a gente só ficou uma vez, nada de mais.... Nós dois estávamos bêbados...

Os alto-falantes chiaram outra vez. Uma iluminação intensa acendeu no lado oposto do pátio e eles viram algo aceso refletindo nas paredes. Naquele canto ficava o retroprojetor.

Os sete jovens andaram calmamente em direção a iluminação. Então finalmente chegaram a um ponto em que eram capazes de enxergar o telão.

No telão uma imagem branca lentamente entrava em foco. Imagens confusas e distorcidas montavam e desmontavam, uma seguida da outra. O clarão era refletido no rosto de todos.

— Gostaram de virar a isca hoje? — A voz riu nos alto-falantes. — Pois a baleia parece que adorou.

— O que você quer? — Peter berrou. — Devolve meu irmão!

Sabe qual a melhor sensação do mundo? — A voz grossa e artificial parecia fazer as coisas tremerem nas paredes da escola. — A sensação de segurar uma cabeça embaixo d’água... e ver as bolinhas desesperadas subindo até a superfície.... até finalmente pararem. Assassinato é que nem batata frita...

Você não consegue parar em apenas uma. — Mark completou. — É Stephen King, galera.

— VOCÊ VAI PAGAR PELO QUE FEZ PELA GABRIELLA! — Peter gritou. — E É UMA PROMESSA!

Você fala muito, Peter. Já eu, vou lá e faço. Aproveitem o vídeo!

Finalmente o foco ajustou e uma imagem escura se formou no telão do pátio. Era o que parecia ser um porão, devido aos artefatos antigos nas paredes ao fundo.

No centro da filmagem, uma pessoa estava deitada em uma maca de hospital.

— Meu Deus. — Mark sussurrou. — É o Marcus.

Marcus parecia distante, perdido. Sozinho. Ele ergueu a cabeça e olhou ao redor. Tinha um pano amarrado ao redor de sua boca e sangue descia na lateral de sua cabeça.

— Onde ele tá? — Victorya perguntou. — Fala seu filho da mãe!

Vince observou os letreiros de trademark de uma filmadora no canto da tela.

— É tarde demais. — Vince comentou. — Seja o que for, isso aconteceu hoje mais cedo. Não é ao vivo.

Eram 18:02 o horário de filmagem.

O assassino surgiu na frente da câmera, a mesma máscara de caveira e a mesma capa. Ele tinha uma expressão curiosa. Todos que acompanhavam o vídeo recuaram e respiraram fundo.

Já ouviu falar de full frontal lobotomy? — O assassino disse na mesma voz artificial no vídeo. Apontou para Marcus na maca.— Consiste em romper as ligação do córtex pré-frontal do cérebro. — O assassino apontou para a própria cabeça, gesticulando feliz. —Obter controle... Sempre quis tentar.

O assassino aproximou-se de Marcus com um prego gigante nas mãos. Posicionou-o acima do olho esquerdo do garoto que estava desesperado e ergueu o martelo no ar.

Alguns dos presentes no pátio taparam os olhos.

Ele desceu o martelo e o prego entrou de uma vez na cavidade ocular do garoto. Sangue espirrou na máscara do assassino. Foi possível ouvir Marcus gritando mesmo através da mordaça em sua boca.

— Puta que pariu. — Marley exclamou. — Puta que pariu.

Lucky apenas observou a cena, chocado. Mark tirou os óculos e olhou para o chão.

Marcus começou a ter uma convulsão na maca. O assassino retirou o prego gigante da cabeça do garoto e arremessou-o no canto do vídeo. Então desamarrou o garoto da maca, que caiu no chão e parou de convulsionar.

Marcus levantou-se logo em seguida. Confuso, desorientado. Ele apoiou-se na maca e ficou segurando, tentando entender o que acontecia. Caiu no choro. O assassino estava no canto da tela, encarando ansioso.

O assassino então aproximou-se de Marcus e abraçou-o. Marcus retribuiu e caiu no choro, o rosto manchado em sangue. O garoto não entendia absolutamente nada: provavelmente tinha esquecido de tudo. Tinha dado certo.

O assassino tirou um facão do manto e começou a enfiar repetidas vezes no estômago do garoto, ainda durante o abraço. Enfiava a faca e tirava, quase como se quisesse descavar alguma coisa.Onze... doze... treze vezes.

O garoto finalmente deixou-se cair nos braços do assassino. Fraco, sem forças e agora sem vida. Babou sangue e a vida finalmente desapareceu de seus olhos.

O assassino largou o corpo e o garoto despencou no chão. Então andou lentamente em direção a câmera, e limpou o sangue que havia espirrado na própria máscara.

Desligou a filmadora e a escuridão engoliu o pátio novamente.

— ACHARAM QUE O CAPÍTULO HAVIA ACABADO, CERTO?— O assassino gritou no alto-falante. — Meus caros, é só aqui que a banheira de sangue começa.

Vince estava chocado. Em seu próprio canto de visão, enxergou algo rolando pelo chão e tentou prestar atenção. Seria uma granada?

— Que porra?!

Acendeu a luz do celular e finalmente viu um gás sendo expelido no ambiente.

Gás lacrimogênio.

Marley caiu do seu lado. Peter. Então tudo pareceu uma piada muito engraçada e Vince caiu também.

XXX

Victorya acordou num grito. Ela estava ajoelhada no chão e sentia uma corda ao redor de seu pescoço e ao redor de seu tronco.

As luzes se acenderam. Victorya percebeu estava no meio do palco do auditório da escola.

— QUE PORRA TÁ ACONTECENDO?

XXX

Marley gritou também. Estava ao lado direito de Victorya, posicionados no palco do auditório da escola. Tinha uma corda ao redor de seu pescoço e sentia uma dor intensa em seu tronco. Uma corda ao redor do próprio tronco também.

Olhou para cima e sua visão recuperou o foco. A corda subia até um apoio no teto, então voltava até a plataforma no topo do palco. Os técnicos do palco de teatro organizavam refletores e iluminação naquela plataforma, dez metros acima do palco e diante da plateia.

Do outro lado de Victorya, Vince estava na mesma situação. Uma corda ao redor do pescoço e uma corda ao redor do tronco, logo abaixo das costelas.

Olhou para a própria corda ao redor das costelas. Em cada ponta havia um gancho, cada um enfiado superficialmente logo abaixo de suas costelas. Era isso que machucava. Os dois ganchos estavam ligados em cordas que iam até um apoio no teto, e então iam de volta para a plataforma também — de modo para que quem estivesse na corda, pudesse puxar os ganchos na horizontal.

Levou alguns segundos para finalmente entender o que tinha acontecido. Vídeo no hall da escola, então escuridão. Provavelmente foi arrastado até ali. Isso mesmo.

Na plateia, amarrados contra as cadeiras da primeira fila estavam Peter, Mark, Lucky e Brenda. Eles estavam acordando também e tinham mordaças em suas bocas.

— O que é isso? — Vince berrou encarando os ganchos ao redor do próprio tronco. — Me solta!

Marley sentiu suas mãos também amarradas em sua costa. Vince e Victorya também estavam na mesma situação. Marley ajoelhou-se no chão, Victorya e Vince fizeram o mesmo.

— Socorro! — Marley gritou. — Ajuda!

A luz acendeu por completo e cada uma das vítimas amarradas recebeu um holofote em sua direção.

Eu disse que só tinha começado. — A voz do assassino veio de um megafone dessa vez, mas ainda usando o efeito sombrio. Todos viraram-se para a origem do som e puderam ver o assassino na plataforma, escondido contra os holofotes. Ainda vestia o manto e a máscara.

— O que você quer? — Victorya gritou. — Olha o que você já fez cara!

Jogar. — O assassino riu. — Vocês são retardados? Já repeti umas mil vezes hoje a noite.

— Vai se fuder! — Vince gritou. — VAI SE FUDER!

O assassino puxou a corda ao redor do pescoço de Vince lá de cima. Vince levantou-se de pé, totalmente amarrado, desarmado, lutando para conseguir altura e não ser enforcado.

Vou explicar a brincadeira. — O assassino continuou. — A escola tem pesos de cerca de 300 quilos erguidos no teto para controle da iluminação e das cortinas durante as apresentações teatrais. É simples, amarrei cada um dos pesos nas cordas ao redor do pescoço de vocês, e se vocês errarem minha pergunta, solto os pesos e vocês sobem pelo pescoço. É uma espécie de catapulta, mas com gente viva. Ao infinito e além!

Vince imaginou-se sendo levantado até o teto pelo pescoço. Por quanto tempo ele aguentaria?

— E esses ganchos? — Victorya choramingou. — Por favor não!

Interessante você perguntar, Victorya. — O assassino deu de ombros. — Se vocês quebrarem as regras e tentarem fugir, irei puxar a corda. Tais ganchos afiados foram posicionados de modo que, se forem puxados, irão enfiar em suas costelas. Não será legal.

— Que tipo de perguntas? — Marley gritou. — Que jogo seu doente?

O jogo vai até alguém errar. Sinto muito informar, mas um de vocês não vai sair do palco vivo.

Victorya caiu no choro.

Victorya chorando eu até entendo. Agora quanto a plateia, não tô entendendo o chororô. — O assassino comentou. — Não é como se vocês estivessem na pele deles.

— Que perguntas? — Vince repetiu Marlon. — Que perguntas você vai fazer?

—Bom meu caro, me responda: qual o seu filme de terror favorito?

XXXX

Ajoelhado no palco, Vince sorriu. Sentia a ponta dos ganchos já entrando em suas costelas.

— Que porra?

Não é esse o seu filme de terror favorito, Vince. Eu fiz minha lição de casa. Quero saber se você fez a sua. — O assassino pausou e suspirou. — RESPONDE O TEU FILME DE TERROR FAVORITO SEU MERDA! — O assassino puxou a corda ao redor do pescoço de Vince de novo e ele lutou para respirar.

— Ok ok ok. — Vince respondeu. — É Final Destination.

Como eu imaginei. — O assassino comentou. — Como eu quero que esse jogo dure bastante tempo, vou começar do nível mais básico. Você vai acertar com certeza.

Vince suava.

— Marley e Victorya, vocês não podem ajudar o Vince. A punição será a morte de vocês. Enfim, Vince, me responda, qual o diretor de Final Destination 5?

Vince riu. Fechou os olhos. Os jovens na plateia encaravam confusos, desesperados.

— É Steven Quale. — Vince respondeu. — Steve Quale.

O assassino parou. Andou em direção ao peso da corda de Vince e parou.

— É STEVEN OU STEVE SEU MERDA?

Vince suspirou fundo e fechou os olhos como se lembrasse.

— É Steven.

O assassino tocou no peso e pareceu começar a empurrá-lo.

— AH QUE PENA VOCÊ ACERTOU.

Vince não sorriu. Encarou Brenda da plateia, que lutava para se soltar.

— VICTORYA VICTORYA. Quem foi que escreveu o estúpido Jennifer’s Body mesmo?

DIABLO CODY! — Victorya gritou. — DIABLO CODY! EU SEI!

— NÃO FOI ESSA MINHA PERGUNTA, SUA ESTÚPIDA. — O assassino puxou a corda de Victorya e ela levantou gritando, puxada pelo pescoço. — Que outro filme clássico de terror Diablo Cody ajudou a reescrever na última década?

Victorya congelou.

Evil Dead, Vince pensou.

Ainda de pé, Victorya lançou um olhar desesperado para Vince. O rapaz apenas a encarou de volta e olhou para o chão.

— É Evil Dead. — Victorya disse. — Evil Dead. Eu me lembro.

Ah que pena. — O assassino comentou e soltou a corda de Victorya. — Essa tava fácil também. Quase achei que você ia voar hoje com essa, garota.

O assassino riu e Victorya ajoelhou-se no chão novamente. Caiu no choro outra vez.

— Marley Marley! — O assassino chamou e Marley ergueu a cabeça, disposto e confiante. — Qual o diretor de REC?

Marley encarou Vince e Victorya. Então encarou a plateia.

— Essa eu sei. — Marley comentou calmo. — Espera.

Não esquece que eu tô falando do original espanhol. — O assassino riu. — Não a droga americana que é a cópia perfeita mas ainda sim é uma droga.

— Eu não sei. — Marley soltou e soluçou. — Eu não sei, eu não lembro!

— Marley! — Vince gritou para o garoto. — O diretor do filme, caralho, pensa!

— Eu não sei! — Marley chorou. — Eu nem ligo pra essas coisas, porra!

— É essa sua resposta final? — O assassino gritou. — Não achei que seria tão fácil te levar pro saco, seu bosta.

— MARLEY, PENSA! — Victorya gritou. — Tenta lembrar da capinha do DVD!

— EU NÃO SEI PORRA!

O assassino empurrou o peso que desceu como um tiro de canhão. No mesmo instante, a corda de Marley subiu e o garoto foi puxado para cima num piscar de olhos.

Vince pulou do palco no instante em que o peso da corda de Marley caía em sua direção. Então olhou para cima e observou o garoto: Marley estava voando.

Victorya berrou.

XXXX

Pendurado no ar no que pareciam dois andares, Marley encarava a plateia lá embaixo. Nas cadeiras, Marley enxergava olhares curiosos, desesperados, chocados, aterrorizados. Ele podia ver que alguns deles choravam. Vince tentava soltar a corda do peso lá embaixo. Victorya estava ajudando.

Talvez Marley ainda tivesse tempo. Vai Vince!

Ainda no ar e sem conseguir respirar, tentando desvencilhar-se da corda ao redor de seu pescoço, ele se debatia. Braços desesperados, pernas desesperadas, ainda não podia fazer nada. Olhou em direção a plataforma e o assassino estava no mesmo nível de altura que ele e o encarava atrás da máscara. Se pelo menos Marley fosse capaz de alcançá-lo...

O nó ao redor do pescoço ficou muito apertado de repente. Marley sentiu o pulmão queimando e pareceu que tudo ia explodir. Então seu pescoço esquentou e as coisas começaram a ficar confusas.

Enquanto sua visão escurecia, acompanhou o assassino escolhendo a corda que controlava os ganchos em sua costela. Fechou os olhos.

XXXX

Brenda viu Marley parando de se debater. A gótica berrava mesmo com a mordaça na boca. Então viu o assassino puxar a corda dos ganchos com toda a força e congelou apenas para observar.

Os ganchos entraram totalmente abaixo das costelas de Marley de uma só vez e o garoto pareceu voltar a vida. Ele berrou outra vez, o assassino puxou a corda outra vez e o tórax de Marley rasgou.

Pareceu uma explosão no ar.

Os ganchos arrancaram e rasgaram as duas costelas frontais do garoto e uma chuva de sangue, intestinos e órgãos vitais choveu na plateia. Marley parou de se debater no exato instante e pareceu um boneco sem vida, apenas derrubando seus restos.

Brenda fechou os olhos e sentiu-se encharcada por um líquido quente.

XXXX

Vince berrou chocado, rapidamente pulverizado por um spray de sangue. Ajoelhou-se no palco outra vez. A corda finalmente soltou-se do peso e o corpo sem vida de Marley despencou lá de cima e caiu em cima de suas tripas e ossos com um baque molhado, arremessando mais sangue na plateia.

Mark pareceu ter ficado na linha de tiro e estava encharcado, dava apenas para enxergar seus olhos, após o garoto arrancar os óculos com o ombro. Peter balançava de um lado para o outro, tentando soltar-se da cadeira e livrar-se de todo aquele sangue. Lucky encarava o corpo sem vida do amigo sem conseguir dizer nada.

Um interruptor foi desligado, as luzes dos holofotes se apagaram e uma claridade natural adentrou o auditório. Vince cobriu os olhos rapidamente e então entendeu.

Era o sol finalmente amanhecendo e atravessando as vidraças do auditório.

XXX

Os seis jovens ensanguentados da cabeça aos pés, atravessaram a porta da escola em silêncio. Marcharam em direção ao gramado principal. Sentaram-se e ficaram ali se encarando, como num transe, apenas sentindo o sol secar o sangue em suas peles. Então uma viatura da polícia estacionou, seguida de outra.

Phillip saiu mancando de uma das viaturas acompanhado de Jac em direção a Peter. Phillip tinha um corte grande em sua testa e mantinha a mão no antebraço, que ainda parecia sangrar.

— Meu Deus! — Phillip exclamou. — De quem é esse sangue?

— Marley. — Peter respondeu sem encará-lo diretamente nos olhos. — Onde você estava?

— Eu pulei do segundo andar no gramado e desmaiei.

— Eu tava passando aqui uns minutos atrás e vi ele caído. — Jac respondeu preocupada. — Andei com ele até a delegacia. Acabamos de voltar.

Peter nada respondeu.

— Cadê o seu sotaque? — Vince perguntou curioso para Jac. — O gato comeu?

Clarro que não. — Jac corrigiu. — Vince? Oh mon Dieu!

Vince deitou-se no gramado. Brenda sentou ao seu lado e o encarou. Policiais faziam dezenas de perguntas, mas nenhum deles seria capaz de responder tão cedo.

XXX

Peter observou Vince tirando um canivete do interior de seu coturno.

— Se você estava com essa faca o tempo todo, porque não cortou a corda de Marley desde o começo?

Vince encarou a faca em sua mão e pareceu amedrontado.

— Eu não sei.

Brenda olhou para a faca e então para Vince. Ela balançou a cabeça decepcionada e saiu marchando em direção a uma ambulância enxugando as lágrimas.

XXXXXXX

Twenty-five years and my life is still

Trying to get up that great big hill of hope

For a destination.

— Você não pode esquecer do seu sotaque, Jac. — Phillip comentou baixinho. — Lembre-se, você é francesa.

Jac concordou e suspirou.

— Foi mal, Phillip.

I realized quickly when I knew I should

That the world was made up of this brotherhood of man

For whatever that means

Sentado no chão, observando os jornalistas tentando cruzar a faixa amarela que os policiais tinham estendido, Peter então observou Victorya conversando mais do que o necessário com Phillip.

Sentiu-se passado para trás. Phillip então aproximou-se, mancando.

— Papai e mamãe foram pra Flórida ontem. Conversei com os policiais e eles me deixaram te levar em casa pra você tomar um banho. — Phillip estendeu a mão. — Levanta bro.

Peter encarou-o.

— Prefiro ir sozinho.

O gêmeo ergueu-se do chão e saiu andando pela rua. Ignorou a mão ainda estendida do irmão e não olhou para trás.

Longe o suficiente de todos, sorriu.

And so I cry sometimes

When I'm lying in bed Just to get it all out

What's in my head

And I, I am feeling a little peculiar.

Evellyn tinha acabado de despedir-se de Brenda para começar a perícia nos corpos. Body Count: 3. Marcus tinha sido encontrado no porão do colégio. Brenda ainda não conseguia acreditar.

Brenda encostou-se na lateral da ambulância enquanto a enfermeira finalmente fazia os curativos no local que havia sido esfaqueada.

— Se ele fosse um pouquinho mais fundo, atingiria alguma coisa importante. — A jovem enfermeira sorriu. — Você tem muita sorte garota.

Brenda forçou um sorriso e caiu no choro outra vez. Johnny surgiu ao lado da porta e a encarou. Colocou a mão no queixo de Brenda e sorriu para ela. Então suspirou e ficou sério.

— Brenda, preciso te falar uma coisa. — Johnny sorriu desconsertado. — Acho que esqueci uma coisa no seu quarto.

And so I wake in the morning

And I step outside

And I take a deep breath and I get real high

Victorya conversava com seus pais e tentava explicar que tudo estava bem, ela era uma garota forte. Sempre tinha sido.

Observou o céu claro e sol quentíssimo naquele belo domingo que viria. Observou também as dúzias de jornalistas e policiais que cercavam a escola.

Então enxergou Vincent erguendo o moletom de Star Wars e mostrando o abdome para o próprio pai, um homenzarrão também grande. Vince exibia os ferimentos profundos que os ganchos do assassino haviam feito nele.

Confusa, ergueu o próprio moletom rosa. Sua barriga estava intacta. Olhou para o outro lado da rua e alguém a observava.

Era seu antigo vizinho, Tommy Warland.

XXXXX

And I scream at the top of my lungs

What's going on?

— O que aconteceu Lucky? — Era Melissa. — Fiquei te esperando a noite inteira na festa.

— Isso te explica alguma coisa? — Lucky mostrou todos os diversos policiais e jornalistas. — Fiquei preso no maior massacre de Reaperswood High.

— Marley não deveria morrer, né? — Miles perguntou. — Desculpa.

— Não estava no plano. — Lucky respondeu. — Meu melhor amigo.

And I say: Hey! yeah yeaaah, Hey yeah yeah

I said hey, what's going on?

Mark encostou-se numa árvore, cansado de explicar para seus pais que tudo estava bem. Pelo menos um pouco melhor.

Tentou tirar um pouco do excesso de sangue do rosto e acabou derrubando o óculos no chão. Abaixou para pegá-los e a chave que tinha roubado de Peter caiu de seu bolso.

Olhou para os lados. Ninguém tinha visto.

— Todo mundo pode ser o assassino. — Mark sussurrou.

And I say: Hey! yeah yeaaah, Hey yeah yeah

I said hey, what's going on?

Vince escondeu de volta o canivete em seu coturno e abraçou o próprio pai.

— Senti sua falta, velho.

Edward era um inglês incorrigível, daqueles que nunca perde o sotaque. Sorriu e encarou o filho com seus olhos azuis cinzentos.

— Também senti sua falta.

— Pai, você ficou sabendo que o Tommy Warland fugiu, certo? E se for ele? E se ele vier atrás de você de novo?

— Então vamos tomar as medidas necessárias, Vinny. Como combinado, lembra?

— Como combinado. — Vincent sorriu.

Edward piscou para o filho.

Vince virou-se e observou Brenda sentada na ambulância, sendo atendida. Ele seria o próximo.

Enquanto aproximava-se da irmã, sorriu ao perceber.

Brenda seria a final girl perfeita.

XXXXXX

I said hey, what's going on?


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Não esqueçam de comentar!



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