Twilight - a Magia do Amor escrita por Sol Swan Cullen


Capítulo 1
1 Capítulo Primeira Vista




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(Bella POV)

 

- Bella, tu não tens que fazer isto! – A minha mãe diz-me pela milésima vez. Julguei que este assunto já estivesse arrumado!

- Mãe, eu já te disse que sim! Tenho que fazer isto! – A mesma resposta, pela milésima vez!

Qual será a dificuldade de aceitar o simples facto de eu querer ir para Forks? A cidade mais pequena, mais irritante, mais fria, mais chuvosa, mais tudo! Ok, é difícil de aceitar que eu, Isabella Swan, uma amante do sol brilhante e quente de Phoenix, vá trocar o calor da minha cidade natal pelo frio e humidade da cidade do meu pai.

- Tens mesmo a certeza de que queres fazer isto?! – Outra vez a mesma pergunta. Suspirei mas a minha mãe não pareceu ter compreendido o cansaço da minha parte por ter aquela mesma conversa. – Bella, querida, o Phil...

- Mãe! Pára! Tenta perceber isto! Eu quero ir para Forks! Quero passar algum tempo com o Charlie! Tu e o Phil têm o direito de estar sozinhos por uns tempos, não achas? Então ficamos assim, tu e o Phil vão viajar e eu vou para Forks! Simples, fácil e eficaz! Tu e o Phil, fora do país, sozinhos! Eu e o Charlie, na mesma casinha pequenina em Forks, juntos! Percebes? – Perguntei num esforço absurdo para manter a calma. Cansada! A palavra que melhor me designava naquele momento!

Olhei para a minha mãe e percebi que ela se tinha resignado com o meu pequeno discurso, voltei a olhar para a paisagem solarenga de Phoenix e suspirei. Ia sentir saudades daquilo, do sol, do calor, de casa! Abanei a cabeça para tentar afastar o pensamento e evitar a terrível vontade de chorar que sempre me tentava apanhar desprevenida desde que eu tinha decidido ir para Forks.

A minha mãe continuou o caminho até ao aeroporto, fomos ambas em silêncio, eu a olhar pela janela para a rua e a minha mãe com a vista focada na estrada. O silêncio no carro era bastante confortável, não fosse pelo facto de haver algo que me incomodava, algo que não era a minha ida para Forks, algo fora do carro! O meu olhar voou pela paisagem procurando algo, nem eu sabia o que...

- Querida? – A voz da minha mãe despertou-me, por momentos penso ter-me esquecido que ela ainda estava aqui.

- S-Sim? – Respondi despertando rapidamente.

- Sabes que caso precises de alguma coisa, eu vou estar sempre com o telemóvel disponível!

Eu acenei dando-lhe a entender que compreendia, era difícil ver a minha mãe tentar ocupar o seu lugar como tal...

- Mãe! – Disse esperando que ela me olhasse pelo canto do olho. – Eu estava a pensar ir visitar a avó no natal.

E lá estava a reacção tão esperada: a minha mãe engasgou-se com o próprio ar ao ouvir-me referir a minha avó.

- Porquê, querida? Já não vamos à tua avó há tanto tempo e eu nem vou cá estar nessa altura...

- Eu queria ir vê-la! É só! E tenho a certeza que o Charlie não se vai importar... – Tentativa para parecer desinteressada quase que bem sucedida!

- Diz-me os teus verdadeiros motivos, Bella! – Aquilo era uma ordem, difícil tentar escapar desta. – Sabes muito bem o que eu tenho contra o que a tua avó faz.

- O quê?! Tens alguma coisa contra ajudar as outras pessoas?!

Bella, inspira, expira!

- Não, mas tenho contra o modo como ela o faz! Bella, tu sabes o que dizem dela!

- Estupidezes! – Murmurei entre dentes. Odiava o que a minha mãe estava a fazer naquele momento, preconceituosos!

- Eu ouvi, Isabella! – A minha mãe chamou-me à atenção.

- Não.Me.Chames.Isabella! – Exclamei pausadamente de modo a que a minha mãe pudesse reparar que eu não gostava do meu nome todo.

Ela riu-se, nunca se zanga realmente comigo mas não gosta que eu me meta do lado da avó, porquê? Boa pergunta!

O caminho para o aeroporto foi acabado em silêncio, depois lá nos despedimos, a minha mãe com lágrimas a verterem-lhe dos olhos e eu a evitar as minhas, foi mais difícil do que eu pensei que seria. Subi abordo do avião de destino a Seattle, sabia perfeitamente o tempo que duraria a viagem: três horas, três terríveis horas dentro de um avião, depois mais uma maldita hora num minúsculo avião até Port Angeles e por último, uma hora dentro do carro da polícia com o meu pai para Forks.

Foca-te noutra coisa! Disse mentalmente para mim própria. Pensar naquelas coisas só me ia deixar mais deprimida do que eu já estava.

A meditação, minha querida, torna-nos imunes a todo o tipo de coisas! “ As palavras da minha avó encheram-me o pensamento, ela tinha-me ensinado tanta coisa e eu não conseguia pô-las em prática junto da minha mãe, ela não aceitava nada daquilo que a avó fazia e eu não tolerava a intolerância da minha mãe. “A intolerância só representa a falta de conhecimento, Bella! Nunca te deixes levar pela intolerância e age sempre do modo mais sensato!

As palavras sábias da avó são óptimas distracções, tão boas que eu nem sequer dei pelas três horas no avião a passarem, quando dei por mim, já o avião estava a iniciar a aterragem no aeroporto de Seattle. Suspirei cansada, antes de sair do avião e ver o céu outrora azul com um sol brilhante estar agora encoberto por nuvens cinzentas mas não muito carregadas, como eu odiava aquele tempo!

Segui até ao outro avião e embarquei, desta vez deixei-me distrair com a vista da janela e a hora passou mais lentamente que as três horas que eu passei a pensar nas memórias da minha avó, quando aterrei, saí do avião e fui buscar as minhas malas para encontrar o meu pai à minha espera junto do seu carro de rádio-patrulha da polícia. Quando o vi abri um sorriso desconfortável, por um lado, estava feliz por o ver, por outro, estava desejosa por me ver na segurança do meu quarto.

- Bella! – Cumprimentou-me o meu pai abraçando-me desajeitadamente. – Como está a minha pequena...?

Sorri ao perceber o que ele me ia chamar, era o nosso pequeno segredo, abracei-o como conseguia visto estar a segurar nas minhas malas num só braço. Ele pegou-me nas coisas e ajudou-me a colocá-las no porta-bagagem, entrámos no carro e arrancámos para a miserável cidade natal do meu pai.

- E então? Como tens passado, querida? – Ele perguntou-me tentando manter uma conversa desnecessária. – Não tenho tido muitas noticias tuas... E como está a Renée?

- Eu tenho estado bem, pai! E a mãe está óptima! Casou-se outra vez como já sabes e agora foi com o Phil para fora do país. – Comentei com uma leve animação na voz. – E tu, pai? Como estás?

- Desejoso de poder passar mais tempo contigo! – Ele riu-se nervoso. – A tua avó fez-me pequenas previsões da tua estadia cá! E a tua mãe fez uma data de inquirições para que tu cá fiques! Para não falar da Ana que ainda não estavas cá tu já te enviou um presente de boas-vindas a Forks!

Ri-me com o mesmo nervosismo, o Charlie tinha falado com a avó? Só para saber o que ele poderia esperar comigo ao pé dele? Era realmente estranho ficar a saber coisas sobre o meu pai. E a Ana tinha-me enviado um presente de boas-vindas? A minha irmã gémea que tinha escolhido abandonar-me com a nossa mãe quando descobriu os seus poderes?

Ele olhou-me pelo canto do olho e eu vi um sorriso aparecer no canto dos seus lábios, o canto dos seus olhos enrugaram-se e eu vi neles o homem pelo qual a minha mãe se apaixonou, ele era realmente um homem muito bonito. Também ele se riu e depois disse calmamente:

- Não te preocupes! Tudo o que a tua avó me disse não te inclui em grandes males que te façam ficar malvista em frente de toda a cidade. E o presente da Ana não é grande!

- Como é que está a avó? – Perguntei depois de ficar durante um tempo em silêncio a observar a paisagem a ser tingida de verde.

- Cheia de saudades tuas... Diz que tu lhe fazes muita falta! – Ele respondeu-me com um ponto de tristeza. Logo percebi porquê, a avó nunca mais tinha tido muitas notícias minhas depois de a mãe me ter levado com ela.

Ficámos em silêncio durante o resto da viagem, a paisagem do lado de fora do carro era perfeitamente nítida com a velocidade a que o carro ia, a paisagem era praticamente verde! Tudo, desde as mais pequenas pedras aos ramos mais altos das árvores que cercavam a estrada, tudo estava coberto por uma camada irritante de verde!

O céu já não tinha nem sequer uma pequena parte de azul, nadinha! Estava totalmente coberto por nuvens cinzentas carregadas de chuva, também não era de esperar, estamos em Forks! A cidadezinha irritante onde é raro haver sol!

Bem-vinda a Forks! Foi o meu pensamento ao ver as gotas de chuva começarem a cair.

O Charlie percebeu o meu desânimo quando começou a chover e então disse:

- Encontrei um bom carro para ti, a um preço bastante reduzido.

- Que género de carro?

Isto era uma das coisas para as quais eu devia ter iniciado o meu pé-de-meia mais cedo. Eu não queria ter que ir para a minha nova escola no carro de patrulha do meu pai – que era o chefe Swan da esquadra da polícia da pequena cidade de Forks – e em contradição a ir para a escola no carro do meu pai, era percorrer a pé três quilómetros à chuva. Mas outro ponto da pergunta era que a frase “um bom carro para ti " tinha um ar suspeito!

- Bem, na verdade, é uma pick-up, uma Chevrolet.

- Onde a encontraste?

- Recordas-te do Billy Black, que mora lá em baixo, em La Push?

La Push, Reserva Índia junto à costa. Billy Black, morador de La Push...

- Não.

- Ele costumava ir pescar connosco durante o Verão. – A sua explicação iluminou-me.

Claro que não me lembrava do homem, eu tinha um óptimo defeito de memória no que tocava a recordações dolorosas.

- O Billy encontra-se agora numa cadeira de rodas, pelo que não pode conduzir e propôs vender-me a sua pick-up a um preço reduzido.

- De que ano é?

Quando olhei para ele, vi uma ruga de expressão formar-se entre os seus olhos, a mesma ruga de expressão que me carregava o rosto quando eu própria estava num estado bastante pensativo. Esperei impaciente pela resposta e então ele disse num suspiro:

- Bem, ele já lhe fez muitos melhoramentos.

- Quando a comprou?

- Creio ter sido em 1984.

- E, nessa altura, era nova? – Desde quando sou uma entendida de carros?

- Não propriamente! Nessa altura, já devia ter pelo menos uns vinte ou trinta anos. – Disse timidamente como se esse facto o envergonhasse.

Tempo de admitirmos a verdade, Bellinha!

- Pai, eu realmente não percebo nada de carros. O que me pode trazer complicações caso a pick-up tenha algum problema. E dinheiro também não tenho muito para pagar a um mecânico...

- Acredita em mim, filha. Aquela coisa não funciona nada mal!

Olhei-o desconfiada. Coisa? Ele chamou-lhe coisa... Bem, talvez o “apelido carinhoso” servisse realmente para a pick-up.

- E...

- Não vale a pena perguntares o que vais perguntar! – Ele cortou-me as hipóteses de falar. – Eu já ta comprei! Como um presente! Gostava que fosse um carro melhor mas lá mais para a frente podemos tratar disso juntos.

Duas palavras: Muito Obrigada! Eram simples de proferir e ao mesmo tempo embaraçosas. Dificuldades de comunicação eram os meus problemas no que tocava aos sentimentos, herança do meu pai. Mas por outro lado, malditos genes! O meu pai não podia ter herdado os genes do avô?

- Obrigada, pai! A sério! Mas não precisavas de gastar dinheiro comigo!

Ele gargalhou com nervosismo, outra vez. Olhou-me pelo canto dos olhos e sorriu-me de um modo carinhoso, era estranho vê-lo sorrir assim para mim.

- Eu também já tive a tua idade, Bells! – Ele disse-me. – Eu odiava quando o meu pai me ia levar à escola! E não quero nem embaraçar-te perante toda a Forks nem que tu vás para a escola à chuva!

Uou! Que discurso era aquele? Ele tinha mesmo dito aquilo? Eu não estou a sonhar, pois não? Quer dizer, eu nunca o ouvi dizer nada daquele género...

- E outra coisa, Bella! Não quero que te comportes TÃO bem como te comportavas com a tua mãe! – Ele sorriu ao ver os meus olhos arregalarem-se como se estivesse escandalizada pelas palavras dele, e eu estava! – Aqui comigo em Forks, só tens uma regra! Tem cuidado para não atrair as atenções!

Desta vez eu tinha que me rir, não atrair as atenções era algo que eu conseguia fazer perfeitamente! Olhei-o e vi-o sorrir, aquilo significava que todas as práticas que a minha avó me tinha ensinado estavam autorizadas a serem utilizadas.

- Julgas que eu também não as uso? – Novamente a gargalhada! – Minha querida Bella, tens muito a aprender com o teu velho!

Não evitei o sorriso que me surgiu nos lábios. Para um dia que jurava ser negro com a minha chegada à minha cidade mais odiada, este dia estava a correr melhor do que eu podia pedir. Já tinha ganho autorização para utilizar os meus poucos conhecimentos sobre aquilo que a avó me tinha ensinado, já tinha ganho um carro novo – novo para mim – e a convivência com Charlie prometia ser agradável.

- Vais ensinar-me? – Perguntei subitamente e percebi que ele não esperava que eu perguntasse aquilo.

- Tudo o que quiseres aprender! – Prometeu-me sorrindo.

Finalmente chegámos a casa, que tinha sido comprada pelos meus pais nos seus primeiros tempos de casados. Estacionada na frente da casa, encontrava-se a minha pick-up. A carrinha tinha tom vermelho desbotado, grandes pára-choques arredondados e uma cabina abaulada.

Cheguei-me instintivamente à frente para ver melhor, pisquei os olhos mais que uma vez e Charlie riu-se da minha expressão, parecia satisfeito com o meu ar aparvalhado, isto para não dizer maravilhado. Aquela pick-up tinha a minha cara! Eu conseguia ver-me naquela carrinha, melhor ainda, eu conseguia ver-me a conduzi-la calmamente para a escola!

- Pai, eu adoro-a!!! – Exclamei com a voz a falhar-me.

- Ainda bem! Espero que te entendas com ela! – Charlie disse-me parando o carro.

Sai do carro tropeçando nos meus próprios pés e dirigi-me à pick-up, mesmo com a chuva que caía, eu queria ver o meu “novo” veiculo mais de perto. Abri a porta do lado do passageiro e vi o interior, os estofos castanhos-amarelados eram velhos e mesmo que leve, a cabina tinha um cheiro a tabaco, gasolina e hortelã-pimenta.

- Desculpa se o cheiro não é tão agradável. – Disse-me o meu pai de ao pé do seu carro. – Mas não consegui fazer melhor!

Ri-me à vontade e depois fui ter com ele para o ajudar a tirar as minhas coisas do carro, não que eu tivesse muitas, mas era melhor que eu tratasse das coisas. Entrámos dentro de casa, estava tudo como eu me lembrava: na cozinha, os armários pintados de amarelo, as três cadeiras que não combinavam, a pequena mesa; na sala, o sofá, o cadeirão, o televisor, a pequena lareira e as minhas fotografias nas cómodas. Subimos para o segundo andar e colocámos as minhas coisas no meu quarto, que tinha uma janela que ficava virada para o pátio da frente da casa, as paredes eram de uma cor azul-clara, o chão era de madeira, o tecto em ogiva. No quarto havia uma cama de solteira mas em que cabiam duas de mim à vontade, uma secretária onde estava um espaço que esperava o meu computador portátil, um armário capaz de levar todas as minhas roupas e ainda sobrar espaço, uma cómoda para também pôr roupa, sobre a secretária estava uma estante para os meus livros e num canto estava a cadeira de balouço dos meus tempos de bebé.

O meu pai deixou-me sozinha a desembalar as malas e a arrumar as minhas coisas, não demorei muito a arrumar tudo mas mesmo assim ainda parecia muito vazio, tirei os meus pertences de banho que tinha guardado no armário e dirigi-me para a casa de banho que teria que partilhar com o Charlie. Olhei-me ao espelho e examinei o meu pálido reflexo, não sei se a minha acentuada – ainda mais se isso era possível - palidez se devia ao facto da luz, mas a minha pele tinha perdido totalmente a cor; peguei na minha escova e comecei a pentear os meus longos cabelos castanhos, passando calmamente com a escova pelas minhas madeixas escuras; lavei os dentes quando acabei e fiquei a olhar-me, parando demoradamente nos meus olhos castanhos-chocolate.

O que é que estás a fazer, Bella? Eu conseguia ler a pergunta nos meus olhos, parecia mais simples de pensá-la do que de dizê-la. Suspirei pesadamente e dirigi-me de volta ao meu quarto, a chuva batia mais fortemente na janela e o vento ajudava as gotas a fustigarem os vidros com violência, caminhei até à cama aos tropeções e deitei-me debaixo das roupas.

Quando já tinha a cabeça tapada, deixei as lágrimas caírem livres enquanto ouvia a chuva na rua, não estava habituada àquele som e não era nada agradável para adormecer, levantei-me e dirigi-me a uma pequena coluna onde tinha colocado todos os meus CD’s. Tirei um que tinha os meus clássicos favoritos e meti-o a tocar no meu portátil, as suaves notas de piano e violino começaram a fluir calmamente através das colunas e tiveram quase que efeito imediato sobre mim.

Fechei os olhos para apreciar a melodia e quando já estava quase a render-me ao sono, ouvi a porta do meu quarto abrir-se e passos pesados dirigirem-se a mim, não abri os olhos para ver quem era mas sabia que era o meu pai. A música parou e eu senti o colchão ir-se um pouco abaixo na zona onde o meu pai se sentou, senti-o tirar uma madeixa de cabelo do meu rosto e beijar-me a testa, era quase como se eu tivesse voltado a ser uma criança e ele me estivesse a dar o meu beijo de boa-noite.

- Dorme bem, minha querida! – Ele murmurou para mim deixando a sua mão repousar levemente na maçã do meu rosto. – Sonha com os anjos!

Depois das palavras dele não ouvi mais nada, foi como se todos os sons tivessem sido desligados para que eu pudesse dormir em paz, virei-me para o lado e dormi mais descansada.

 

Na manhã seguinte, levantei-me com uma força renovada e com um desânimo impossível ao ver que a luz que passava pela minha janela não era amarela, suspirei desanimada e dirigi-me à casa de banho, depois de ter tomado banho e escovado os dentes e o cabelo, desci para tomar o pequeno-almoço e então reparei que o Charlie já não estava em casa. Abri a porta do frigorífico e vi-o praticamente vazio, depois de ver o estado do refrigerador, dirigi-me aos armários, que – para meu espanto – também estavam praticamente vazios.

Será que o meu pai não sabia o que significava a palavra super-mercado?

Voltei a dirigir-me ao frigorífico para tirar o leite de lá e quando fechei a porta reparei num papel preso por ímanes, era um recado de Charlie:

Bella,

Peço desculpas por não estar aqui quando acordares! Mas chamaram-me à esquadra, não conseguem fazer nada sem mim!

Espero que tenhas um bom dia de escola e que consigas fazer novas amizades!

Vemo-nos ao jantar.

Beijos com amor,

Pai.

P.S.: Sei que a casa deve estar praticamente sem comida, o dinheiro das compras está no frasco debaixo do lava-loiça!

Isto era outra parte que me deixava satisfeita! Viver com Charlie seria praticamente como viver sozinha! Óptimo! Seria como ter a minha própria casa!

Party time! Ri-me mentalmente da minha piada privada. Peguei na minha bolsa depois de beber um copo de leite e sai para a rua, estava a cacimbar e estava nevoeiro. Uma enorme quantidade de humidade prendeu-se aos meus cabelos e eu senti-me logo a sufocar, uma corrente de ar frio passou por mim e eu corri para a cabina da minha pick-up.

Ao contrário do exterior, o interior da cabina estava quente e seco, pus a chave na ignição e liguei o motor. Ao princípio assustei-me com o rosnar da carrinha e tive as minhas dúvidas de que ela se aguentasse, mas então o som estabilizou e eu arranquei para a escola. Demorei pouco tempo a lá chegar, mas pareceu-me ter sido uma eternidade até descobrir que a escola era constituída por blocos de prédios separados rodeados por floresta.

Soltei um suspiro deprimido ao recordar-me das escolas de Phoenix, parecia que em Forks não existia a mesma campanha de solidariedade no liceu. Andei com a pick-up pelo parque de estacionamento, que não estava muito cheio, à procura do Conselho Executivo. Não demorou muito para encontrar o prédio que tinha escrito a letras brancas na parede de tijolo vermelho, então parei a pick-up à porta do prédio e sai da cabina agasalhando o pescoço com o casaco, dei uma pequena corrida até estar dentro do edifício e quando já lá estava senti-me muito melhor.

A sala em que me encontrava era realmente aconchegante, havia muitas plantas (esta gente não tinha problemas com o verde?), numa parede estavam afixados vários avisos, nessa mesma parede estavam algumas cadeiras e ao fundo dessa parede estava uma porta com um vidro onde haviam umas letras a indicar que por detrás daquela porta era a enfermaria, num outro lado havia um balcão de madeira escura, aproximei-me e atrás do balcão vi uma mulher com cabelos ruivos que usava uns óculos que ajudavam a sobressair os seus olhos esverdeados.

- Bom dia! – Disse fazendo a mulher assustar-se.

- Bom dia! – Respondeu-me a mulher examinando-me descaradamente. – Em que posso ajudá-la?

- Sou Isabella Swan! – Talvez me reconhecesse pelo nome todo.

E tal como eu previ, o seu rosto iluminou-se com reconhecimento. Mal eu disse o meu nome, ela abriu um enorme e caloroso sorriso. Eu era esperada ali! E sem dúvida eu era o novo motivo de conversa na pequena cidade de Forks, a filha do chefe da polícia da cidade tinha regressado a casa...

- Sê bem-vinda ao Liceu de Forks! – Ela disse aquilo com um sorriso na voz enquanto recolhia uns papéis para me entregar. – Chamo-me Miss Cope e aqui tens um mapa da escola, o teu horário e uma folha, que os teus professores vão assinar e que no fim do dia quero que me venhas entregar, está bem, querida?

Acenei afirmativamente com a cabeça e sai do edifício, voltei a correr para a pick-up e lá dentro olhei para o meu horário. Boa! Ia ter Inglês com o Professor Mason. Liguei o motor e fui à procura de um lugar mais próximo dos edifícios das aulas, não foi difícil encontrar um visto que o estacionamento ainda estava a encher.

Era um alívio saber que a minha pick-up não era de todo o carro mais velho no parque, o carro mais novo que lá se encontrava era um volvo prateado mas mesmo assim havia carros com ar de serem bem mais velhos que o meu. Sorri satisfeita e depois de estacionar, sai da pick-up e encaminhei-me para a sala de aula, ao entrar na sala apresentei-me ao professor que me assinou o papel que Miss Cope me tinha dado e me mandou sentar numa cadeira quase no fundo da sala. Eu até estava satisfeita com aquilo tudo quando, no fim da aula, um rapaz de cabelos negros, olhos castanhos e pele um pouco descolorada – facto que me deixou satisfeita por não ser tão pálida ali – se dirigiu a mim.

- És a Isabella? – Ele perguntou-me e eu cerrei o maxilar ao ouvir o meu nome todo. Não havia coisa que eu odiasse mais.

- Sim sou, mas prefiro que me tratem por Bella.

Mas que sensação de cliché.

- Eu sou o Eric! – Apresentou-se ele e eu não pude deixar de fazer o meu sorriso amigável. – Qual é a tua próxima aula?

Tive que ir ver no meu horário qual seria a aula e depois de lhe dizer, ele ofereceu-se para me levar até ao edifício e assim fomos os dois para a minha próxima aula, quando lá chegámos, despedimo-nos e eu entrei. Aquela aula não foi muito má, a terceira aula foi pior – trigonometria... Quando lá cheguei, o professor fez-me apresentar-me perante a turma toda, obviamente fiquei mais vermelha que um pimento, depois fui-me sentar ao lado de uma rapariga que me olhava curiosa – será que esta gente nunca tinha visto uma pessoa nova?

- Olá! Chamo-me Jessica Stanley! – Ela disse-me estendendo-me a mão para a apertar.

- Bella! – Disse apenas enquanto lhe apertava a mão. Ela não era nada de anormal, era bonita mas nada que se sobressaísse muito, tinha longos e ondulados cabelos negros, a sua pele não era muito bronzeada mas também não era pálida como a minha, ela tinha uns olhos de um tom castanho bastante escuro e quase que os faziam parecer negros.

Ela não me largou o resto do dia, parecia que tinha feito uma nova amiga... Fomos para o almoço juntas e quando entrámos na cafetaria eu senti a sensação mais estranha do mundo...

Mal pus um pé dentro do refeitório paralisei totalmente, o cheiro que me bateu no nariz – que estava fragilizado por um pouco das minhas habilidades – deixou-me conhecer que existia alguém com uma alta capacidade mágica ali. Eis uma parte boa de ser o que eu era. Não me conseguia mexer do sítio de onde estava e os meus olhos estavam fixos no vazio, dentro de mim uma vontade de fazer algo inconcebível para o meu pensamento crescia violentamente, voltei a inspirar o cheiro e...

- Bella? – A voz da Jessica chamou-me de volta à realidade.

Olhei para ela que me olhava curiosa e eu reparei que estava a ofegar, engoli em seco e acenei com a cabeça, encaminhámo-nos para a fila para comprarmos o almoço e lá ela apresentou-me às amigas dela, eu não estava bem a ouvi-la e por isso não decorei nenhum dos nomes que ela me disse. A minha atenção estava focada no sentimento que eu tinha sentido ao entrar ali, naquela vontade de puxar a energia para mim, de sugar toda a força de quem quer que a estivesse a irradiar...

Certo como o Sol nascer a Este! Nós temos dois lados, Bella! Um é o lado que está consciente e que controla todos os nossos poderes, o outro... É um lado que quando acordado, anseia por mais poder, mais força! É um lado monstruoso, Bella! ” As palavras da avó encheram-me os ouvidos e por momentos eu consegui ver-me com onze anos sentada em frente da minha avó, a memória de quando eu descobri os meus poderes fez-me ficar cega da realidade. “Só uma grande quantidade de energia é que consegue acordar esse lado negro, Bella! E quando acordado, a sede é quase impossível de combater, é muito difícil lutarmos contra esse sentimento, muitas de nós enlouqueceram ao tentarem lutar contra ele!

- Bella? – Outra vez a voz da Jessica acordou-me.

- Sim? – Perguntei consciente de que ela me tinha dito qualquer coisa antes de me chamar.

- Estás a sentir-te bem? – Ela perguntou-me quase como se eu fosse desmaiar. – Estás super pálida...

- Sim, estou... Não te preocupes. – Consegui que a minha voz soasse o mais convincente possível mas mesmo assim ela continuou a olhar-me desconfiada pelo que eu virei a cara e foi então que os vi.

Lindos, pareciam deuses ali parados a olharem para pontos esquecidos no ar, talvez a melhor comparação fosse que eles pareciam actores lindíssimos e grandiosos num estúpido filme de adolescentes. Eles eram cinco: três rapazes e duas raparigas; todos belíssimos e extremamente pálidos. Um dos rapazes parecia ser o mais alto e era o mais forte dos três, tinha cabelos negros que contrastavam perfeitamente com a pele pálida; ao lado dele estava a mais bela rapariga que eu alguma vez tinha visto, os seus cabelos eram longos e loiros – tão loiros que pareciam platina sobre a luz fraca da cafetaria (ela era a beleza numa só pessoa) – e a sua pele era tão pálida como a do rapaz musculado ao seu lado; do lado da loira estava uma rapariga com ar de fada que tinha curtos cabelos negros cujas pontas apontavam em todas as direcções e a sua pele também era tão branca como a neve; ao lado dela estava um rapaz igualmente lindo, ele não era tão musculado como o rapaz dos cabelos negros mas era tão pálido como o outro, era loiro e os seus cabelos estavam quase tão despenteados como os da rapariga ao seu lado. Os quatro eram lindos, mas nada se comparava ao último deles, o último rapaz, ele tinha os cabelos de uma invulgar cor-de-bronze todos despenteados – o que lhe dava um ar sensualmente selvagem – não era tão musculado como os outros, mas à distância a que eu estava dava para entender que os seus braços tinham músculos definidos por debaixo da camisola que ele usava...

Sem que eu estivesse à espera, ele olhou para mim, olhou-me directamente nos olhos e eu senti o meu coração acelerar o seu batimento e a minha cara começar a aquecer. Tão depressa como olhei, desviei o meu olhar dele e foquei-o em Jessica que agora me olhava confusa, baixei o olhar para a mesa e pelo canto do olho consegui ver que já não estava a olhar para mim.

- Jessica... – Chamei-a e ela aproximou a sua cabeça da minha. – Quem são eles? – Indiquei a quem me referia com a cabeça.

- Ah! Os Cullen... – Ela disse o nome com um tom que me deixou curiosa, ela disse aquilo com... como se diz, despeite. – São o Emmett, a Alice e o Edward Cullen e os outros dois, os loiros, são a Rosalie e o Jasper Hale, que são gémeos. – Enquanto ela falava eu espreitei para ver se ele continuava a olhar para mim mas vi que agora falava com os outros. – Eles foram adoptados pelo Dr. Cullen e pela mulher dele, refiro-me ao Emmett, a Alice e ao Edward. Os Hale foram adoptados mas é outra história, os pais deles morreram quando eles eram pequenos e aos oito anos foram morar com os Cullen... – Agora na voz dela estava marcado um tom preconceituoso como se o Dr. Cullen e a esposa fossem pouco merecedores de respeito. – Consta que a mulher do Dr., não pode ter filhos. – Aquele pormenor pareceu-me ter sido dito para fazer parecer que os Cullen não eram muito generosos.

- Acho isso muito generoso da parte deles por os terem acolhido a todos! – Disse-lhe numa tentativa de mostrar que eu não me importava com aquilo que ela pensava acerca da generosidade das outras pessoas. – Há quanto tempo eles estão cá?

- Dois anos... Vieram de algures do Alasca. – Disse-me ela olhando de relance para a mesa deles e depois voltando a olhar para mim.

- Qual deles é o rapaz com cabelo castanho avermelhado? – Perguntei com a intenção de parecer inocente.

- Esse é o Edward! Ele é lindo, claro, mas escusas de perder o teu tempo. Ele não namora. Aparentemente nenhuma rapariga daqui é boa o suficiente para ele.

Ela proferiu aquelas palavras mostrando todo o seu orgulho ferido, pelos vistos ela não tinha seguido o seu próprio conselho e tinha sido rejeitada. Gargalhei por dentro ao comparar as últimas palavras dela sobre Edward com os meus pensamentos, ela tinha razão em dizer-me para não pensar em ter alguma coisa com ele mas infelizmente não era por haver a possibilidade de ele não me achar suficientemente boa para ele, ele é que não estava à altura de ter um relacionamento comigo, nem como namorado, nem como amigo... Suspirei e ela olhou-me com uma curiosidade ardente nos seus olhos, por momentos desejei ter uma das capacidades especiais que a avó falava tantas vezes, ter uma capacidade especial como a Ana tinha...

Voltei a olhar para ele, observando as suas feições perfeitas e a sua beleza quase que sobrenatural, estava a seguir tudo com muita atenção quando novamente ele olhou-me directamente nos olhos com uma expressão curiosa ou frustrada, não consegui ter a certeza. Ele surpreendeu-me com aquele olhar tão penetrante e novamente eu senti a minha face corar de embaraço, desviei o meu olhar para a mesa e escondi o meu rosto com os meus cabelos formando uma espessa cortina entre nós.

- E por falar em Edward Cullen... – Ela disse-me encostando a sua cabeça à minha para que eu a pudesse ouvir melhor. – Ele está a olhar para ti.

Paralisei por completo, ele estava a olhar para mim. Ele continuava a olhar para mim! Comecei a ofegar e voltei a olhar para ele - para confirmar o que ela estava a dizer – e deparei-me com o seu olhar penetrante, engoli em seco e encolhi-me com nervosismo.

Que raio de bruxa és tu?!?! Gritou a voz da minha consciência na minha mente. Estás a encolher-te com medo de um rapaz humano? Deixa-te de coisas, Bella!

Não me estou a encolher com medo! Resmunguei mentalmente com a minha consciência. O olhar dele intimida! Eu tinha razão, aquele era o olhar mais intimidante que eu já tinha visto em toda a minha vida.

- Bella, vamos? – Perguntou-me Jessica tirando-me da minha “guerra” com a minha consciência.

Olhei à nossa volta e vi que a cafetaria estava a começar a esvaziar-se, sem pensar duas vezes olhei para a mesa deles e vi-os levantarem-se para se irem embora, foi então que reparei que faltava a rapariga dos cabelos negros espetados, já devia ter-se ido embora há muito tempo. Levantei-me e peguei nas minhas coisas, ia ter Biologia e não me parecia boa ideia chegar atrasada, corri para o edifício onde ia ter a aula e quando lá cheguei, ajeitei o cabelo - que estava húmido pela chuva fraca que caía – e entrei na sala, indo em direcção ao professor que não pareceu surpreendido por me ver. Entreguei-lhe o papel para ele assinar, enquanto ele assinava o papel eu olhei em volta da sala procurando por um lugar para me sentar, foi nesse espírito de busca que os meus olhos se cruzaram com os olhos dele! Os olhos de Edward Cullen!

O professor entregou-me o papel e disse-me para eu me sentar num lugar vago, nesse mesmo instante um aluno passou por mim a correr e ocupou um dos dois lugares vagos que havia: o que ele ocupou e o lugar vazio ao lado de Edward; aquele era o único lugar livre e era onde eu tinha que me sentar. Engoli em seco e caminhei lentamente até ao meu lugar, ainda com o meu olhar posto no dele, os olhos dele eram negros como a noite e estavam repletos com um sentimento que me parecia ser raiva ou ódio ou até mesmo os dois misturados!

No meio do caminho, tropecei numa mala e apoiei-me na mesa à minha frente, aquilo não me podia estar a acontecer. Finalmente cheguei à mesa onde o meu lugar me esperava, puxei o banco ao lado dele e vi-o afastar-se o mais possível de mim, ele estava com uma postura extremamente rígida e as suas mãos estavam fechadas em punhos apertados.

Ao sentar-me ao lado dele, reparei que as minhas primeiras constatações acerca da sua musculatura estavam erradas, ele era bem musculoso, não tanto como os outros dois, Jasper e Emmett, mas era! Ele olhava-me de um modo estranho e numa tentativa parva de me proteger do seu olhar, coloquei o meu cabelo a fazer-se de cortina entre nós. A sua pele pálida parecia-me macia e de repente eu ouvi uma vozinha na minha mente, uma vozinha que não pertencia à minha consciência.

Toca-lhe! A vozinha disse-me numa maneira tentadora.

Não faças isso, Bella! A voz da minha consciência atacou-me antes que eu esticasse a minha mão para obedecer à vozinha que, de repente, percebi pertencer ao meu lado negro.

Paralisei tanto como Edward ao meu lado, então senti uma força irradiar dele, não era tão forte como a força que eu tinha sentido na cafetaria mas mesmo assim fazia o monstro dentro de mim vibrar com vontade de a puxar para si.

Vamos, Bella! Não custa nada... É só esticares a tua mão e tocares-lhe! Pode ser na mão... A voz do monstro dizia aquelas palavras com uma calma quase que irritante.

Bella, não faças isso! Tu não és um monstro! Tu não queres ser um monstro! A minha consciência gritava-me implorando que eu não fizesse a escolha que o monstro me tentava impingir.

Mas tu queres tocar-lhe... Sentir a sua pele macia sobre a tua mão... Que importa se ele cair morto? É apenas um humano.

- Humano... – Disse para mim e depois senti-o estremecer ao meu lado. Por consequência, também eu estremeci com o pensamento de mim a sentir a sua pele macia sobre os meus dedos. Não! Ele merece viver!

Toca-lhe! Se ele morrer é só menos um para nos perturbar! Que te importa um humano idiota que te olhou como se tudo no mundo fosse culpa tua?

Abanei a cabeça tentando afastar a voz da minha mente, não queria ouvir aquilo, Edward não merecia um fim daqueles e não seria eu a acabar com a sua vida! Apertei o lápis que tinha na mão com tanta força que poderia tê-lo partido, pelo canto do olho eu vi Edward apertar a berma do banco com tanta ou mais força que eu apertava o lápis. No meu interior, o monstro ria-se com a atitude de Edward, para ele era quase como se o rapaz ao meu lado pudesse pressentir o seu fim...

Não! Eu sou forte... Não lhe vou tocar! Pensei confiante, sempre tinha conseguido controlar-me desde que deixei a minha avó e a minha mãe me tinha proibido de usar magia. Eu seria forte o suficiente para ignorar a voz na minha cabeça.

Toca-lhe! Agora! Tu não vais conseguir resistir, Bella, e tu sabes disso! A vozinha regozijou ao imaginar-me a tocar em Edward e a vê-lo cair ao chão sem vida.

- Não!

Senti a raiva e o desespero apoderarem-se de mim e então uma das janelas abriu-se com uma rajada de vento bastante forte e barulhenta, eu encolhi-me quando o vento chegou até mim e reparei que Edward tinha ficado repentinamente mais relaxado, agora o seu braço estava no ar a pedir a atenção do professor. Os alunos ao pé da janela apressaram-se a fechá-la e eu olhei desesperada para a mesa, tinha perdido o controlo dos meus poderes e tinha causado aquilo, a minha respiração tornou-se ofegante e de repente dei por mim a transpirar.

- Sim, Mr. Cullen? – Ouvi a voz do professor chamar o rapaz ao meu lado.

- Senhor, eu queria pedir-lhe se não se importa de me deixar sair mais cedo. – A voz do Edward parecia veludo, era tão suave que parecia música. – Eu não me estou a sentir nada bem.

Vai-te embora, Edward... Por favor! Foge! Pensei desesperada olhando para ele e sentindo a força de vontade do monstro em mim crescer.

Ele arregalou os olhos e depois olhou para mim, como se tentasse ler a minha mente ou como se tentasse decifrar a minha expressão, vi-me reflectida naqueles olhos negros e a minha expressão: era sofrida como se eu estivesse a sofrer. E eu estava, estava a sofrer com medo do que eu lhe poderia fazer se permanecesse muito mais tempo na sua companhia.

- Realmente não está nada com um bom ar... Pode sair e ir para a enfermaria se assim desejar! – O professor disse aquilo com um tom suficientemente descontraído como se fosse um hábito os Cullen parecerem doentes.

Edward voltou a olhar para mim, então pegou nas suas coisas e partiu, suspirei aliviada enquanto o monstro em mim rosnava frustrado, eu tinha resistido àquela primeira tentação e Edward tinha saído vivo do nosso primeiro encontro. Tinha conseguido provar-me que era suficientemente forte, tinha conseguido, agora só tinha um problema: controlar os meus poderes para que não se tornassem tão instáveis como as minhas emoções. Talvez o pai me pudesse ajudar nisso.

O resto da hora foi lento e doloroso, a ausência de Edward tinha dois efeitos em mim: o primeiro, era um sentimento de vazio dentro de mim, e o segundo, era um sentimento de alívio; por um lado parecia que eu queria tê-lo ao pé de mim e por outro, o lado são da minha mente, queria que ele estivesse afastado. Era mais seguro que ele estivesse longe de mim, longe do monstro que o queria morto, respirei fundo e dei por mim a deliciar-me com um aroma imperceptível para narizes comuns mas bastante subtil para o meu.

Edward. Pensei olhando para o lugar vazio ao meu lado. Era estranho, eu não conseguia compreender porque é que eu me sentia tão vazia sem o ter ao meu lado, parecia que faltava uma parte de mim. Pára, Bella! Tu não o mereces! Tu és perigosa para ele, recordas-te? Obriguei-me a lembrar-me e então o desejo de ir para casa tornou-se visível em mim, eu queria ir para casa e ter acesso a um telefone! Eu precisava falar com a Ana ou com a Avó, talvez uma conversa com a Avó fosse o que eu precisava mesmo ou talvez não...

Finalmente deu o toque de saída e eu comecei a arrumar as minhas coisas, demasiado devagar como se eu ainda quisesse ficar ali a apreciar o perfume de Edward e realmente era o que eu queria, mas então um rapaz com cabelos loiros e olhos muito azuis aproximou-se de mim com um sorriso no rosto – a imagem dele fez-me recordar um fiel golden retriever.

- Olá! – Disse-me ele chamando a minha atenção. – És a Isabella, não é? Chamo-me Mike Newton!

- Bella! – Corrigi-o abrindo um sorriso simpático. Era fácil fazer as pessoas sentirem-se bem à minha volta.

- Espetaste o Edward Cullen com um lápis ou alguma coisa assim? – Perguntou-me Mike.

- Não... Porque perguntas?

- Nunca o vi agir daquela forma! Ele parecia mesmo furioso!

- Eu não fiz nada! – Defendi-me.

Ele abriu um sorriso e eu sinceramente desejei ser capaz de ler a mente dele.

- Eu acredito em ti! – Ele disse-me como se eu o estivesse a atacar. - Eu acredito!

Não parece nada! Pensei para mim mesma enquanto o olhava desconfiada. Ele fazia-me mesmo lembrar de um fiel golden retriever com aquele seu brilho nos olhos.

Por momentos, ao olhar para ele, ouvia as palavras da minha irmã há já muito tempo atrás.

Por teres essa estúpida característica de pores defeitos em todos os rapazes que conheces sem saberes como eles são é que nunca irás encontrar nenhum rapaz à tua medida!

- Qual é a tua próxima aula? – A pergunta dele deixou-me algo que insatisfeita, eu não queria ir para a minha próxima aula, eu queria ir para casa!

- Educação Física. – Respondi-lhe e ao mesmo tempo senti a minha vontade de pegar nas minhas coisas e ir-me embora crescer!

- Fixe! É a minha próxima aula também! – Ele estava feliz e eu… estava no mais profundo estado de infelicidade!

- Que bom... – Disse fingindo estar animada.

Ele seguiu à frente e esperou por mim na porta da sala, revirei os olhos e segui até ele passando à sua frente na porta, fomos os dois para a aula de E.F. com Mike sempre a falar e eu a ouvi-lo – ou a fingir que ouvia.

Física passou mais devagar que o resto da aula de Biologia – se isso era possível – mas quando acabou tive que me dirigir para o Executivo para entregar o papel a Ms. Cope. Quando entrei na sala do Executivo, suspirei ao sentir o calor acolhedor da sala e então encaminhei-me para a recepcionista atrás do balcão.

- Olá, querida! Então como foi o teu primeiro dia? – Perguntou-me ela recebendo o papel.

- Foi bom... – Menti com todos os dentes que tinha na boca mas ela não pareceu perceber.

- Ainda bem que gostaste. Agora podes ir, querida. E manda cumprimentos ao Chefe Swan!

Dei-lhe um sorriso de agradecimento e sai em direcção à minha pick-up, agora mais que nunca eu estava desejosa por ir para casa e ficar livre dos olhares curiosos do mundo que me faziam sentir uma completa aberração! Sem que fosse minha intenção, ao mesmo tempo que grossas gotas de chuva começaram a cair na rua, dos meus olhos grossas lágrimas começaram a escorrer. Não as limpei e não me importei com elas, apenas liguei o carro e conduzi para casa enquanto as lágrimas me molhavam o rosto

 

 

(Edward POV)

 

A escola estava numa agitação irritante, parecia que um estado de equilíbrio qualquer tinha sido quebrado apenas pela chegada de uma rapariga. Isabella Swan! Era esse o nome que ressoava na mente de todos pela escola.

Como antes, irritante!

Era em horas destas que eu desejava ser capaz de dormir, de me desligar deste mundo e entrar num só meu, onde eu não tivesse que ouvir estas vozes todas na minha cabeça. Suspirei cansado de ouvir o murmurinho e olhei para as minhas mãos, lá estava o anel que eu trazia sempre comigo, retirei-o do dedo e fi-lo girar entre os meus longos dedos com cuidado para não o destruir com a minha força de vampiro.

Sempre e Para Sempre!

Suspirei outra vez e coloquei o anel no dedo novamente, havia partes do meu passado que eu não me conseguia lembrar, mas aquele anel era a única coisa que fazia a minha ligação ao passado, às memórias que eu teimava em não deixar partir.

Outro suspiro e finalmente o toque, levantei-me lentamente e arrumei as minhas coisas, na porta da sala estavam Alice e Jasper à minha espera, sorri-lhes e caminhámos os três juntos para a cafetaria de encontro a Rosalie e Emmett. Encontrámos os dois à nossa espera à porta do refeitório e entrámos os cinco, fizemos a nossa habitual rotina – encher os tabuleiros, dirigirmo-nos à nossa mesa habitual e sentarmo-nos a olhar para qualquer lado evitando o olhar dos humanos.

O dia de hoje era o mais complicado, não caçávamos há já duas semanas e de nós os cinco o que tinha menos autocontrolo era Jasper, uma pequena faísca podia fazer rebentar um incêndio. Uma pequena brisa na direcção errada, um humano com um cheiro apetecível e isso seria o suficiente para incentivar Jasper a revelar o que éramos...

Olhei para os meus irmãos e deixei a minha mente examinar as deles, foi uma coisa rápida visto que eu odiava ouvir as mentes deles: Rosalie estava a examinar o seu reflexo num copo, Emmett estava a pensar num desempate para a luta que teve com Jasper na noite passada, Alice estava atenta a todos os movimentos do seu marido e eu... Eu estava a tentar desligar as vozinhas irritantes da minha cabeça.

Parecia não haver sossego naquela escola hoje! Todos numa grande agitação, todos com os seus pensamentos voltados para a rapariga nova, por mais vezes que aquele rosto me aparecesse na mente - devido à mente de todos os outros - continuava a incomodar-me a estranha sensação de que já a conhecia!

Edward?! Chamou-me Alice e eu não precisei de olhar para ela para saber o que me iria perguntar.

Suspirei e abanei a cabeça levemente mostrando-lhe que estava tudo bem. Ela sabia que se passava alguma coisa comigo, no entanto deixou-me estar com os meus pensamentos e voltou-se a concentrar em Jasper. Olhei para o meu irmão e vi-o olhar para uma rapariga que passou perigosamente perto de nós, o seu cheiro ficou no ar e eu reparei nos músculos de Jasper a enrijecerem, dei-lhe um pontapé debaixo da mesa e ele olhou para mim. Abanei a cabeça num silencioso sinal de negação, ele olhou-me com tristeza.

- Desculpa. – Ele murmurou.

Eu acenei com a cabeça

- Tu não ias fazer nada! – Alice sussurrou-lhe ao ouvido e lançou-me um olhar irritado. – Eu vi!

Lutei comigo mesmo para não sorrir e acabar com a mentira dela. Tínhamos que nos apoiar um ao outro, Alice e eu. Não era fácil ouvir os pensamentos dos outros ou ter visões do futuro. Dois anormais no meio daqueles que já o são. Tínhamos o dever de nos defender um ao outro.

– Mas ajuda se não pensares neles como comida! – Alice dizia aquilo com a sua musical voz numa velocidade incompreensível para ouvidos humanos. – Aquela rapariga chama-se Whitney. Tem uma irmãzinha que adora. A mãe dela convidou a Esme para uma festa no jardim no outro dia, lembraste?

- Eu sei quem ela é! – A resposta de Jasper foi brusca e eu pude ver nos olhos da minha irmã que ela não se tinha ofendido com aquilo.

Ele teria que ir caçar esta noite. Era ridículo arriscarmo-nos desta maneira, testando a sua força e treinando a sua resistência. Jasper devia conhecer as suas limitações e viver de acordo com elas. O seu comportamento também não era o adequado para o nosso modo de vida; ele não se devia esforçar tanto.

O tom de voz dele tinha terminado a conversa e Alice pegou no seu tabuleiro e saiu de junto de nós. Era isso que eu admirava no relacionamento entre Alice e Jasper, ambos conheciam-se melhor que ninguém, nem mesmo Esme e Carlisle ou Rosalie e Emmett se conheciam tão bem como Alice e Jasper!

Edward Cullen!

Virei instintivamente a cabeça para o sítio de onde eu tinha ouvido o meu nome, embora soubesse que não me tinham chamado realmente, apenas o tinham pensado, foi o suficiente para me fazer reagir.

Ao olhar deparei-me com um par de olhos castanhos-chocolate incrustados numa face pálida rodeada por um manto de cabelos castanhos da mesma cor que os olhos. Aquele rosto... Era a primeira vez que o via com os meus olhos, mas mesmo assim eu já o conhecia de antemão... Era a nova estudante... Isabella Swan! Filha do chefe da policia de Forks que se tinha mudado para a casa do pai por algum motivo familiar. Bella. Como ela corrigia a quem quer que se atrevesse a chamar pelo seu nome completo...

Desviei o olhar, aborrecido. Levou-me um segundo a perceber que não tinha sido ela a pensar no meu nome.

Claro que ela já se está a apaixonar pelos Cullen. Ouvi o resto do primeiro pensamento.

Não demorei muito a reconhecer a “voz”, Jessica Stanley – já se tinha passado algum tempo desde a última vez em que me incomodou com a sua conversa interna. Foi um alívio quando a sua paixoneta por mim acabou. Tornava-se quase impossível de fugir das suas fantasias diárias. Na altura até tinha gostado de lhe explicar exactamente o que é que poderia acontecer se os meus lábios, e os dentes por trás deles, chegassem a qualquer parte perto dela. Isso teria silenciado aquelas irritantes fantasias. O pensamento da reacção dela quase que me fez sorrir.

Fazer-lhe-ia muito bem. Jessica continuou. Ela realmente nem é bonita. Não percebo porque é que o Eric está a olhar tanto ou o... Mike!

Ela suspirou no último nome! A sua nova paixoneta, o popular Mike Newton, que não lhe ligava nenhuma. Aparentemente ele não tinha o mesmo comportamento em relação à nova rapariga. Outra vez como uma criança com um objecto brilhante. Isto pôs uma pontada de maldade nos pensamentos de Jessica, embora se mostrasse aparentemente cordial para a rapariga nova enquanto lhe explicava o conhecimento geral da minha família. A nova aluna devia ter perguntado sobre nós.

Estão todos a olhar para mim também... O pensamento de Jessica ficou subitamente mais convencido. É uma sorte a Bella ter duas aulas comigo... Aposto que o Mike vai-me querer perguntar o que ela...

Eu tentei bloquear a conversa da minha cabeça antes que a pena e o trivial me deixassem louco.

- Jessica Stanley está a dar a ladainha local sobre o clã Cullen à nova rapariga Swan. – Murmurei para Emmett como uma distracção.

Ele riu-se sobre a sua respiração. Espero que o esteja a fazê-lo bem, ele pensou.

- Pouco imaginativo, na verdade. Só um pouco de escândalo. Nem um pouco de horror. Estou um pouco desapontado!

E a miúda nova? Também está desapontada com os rumores?

Eu tentei ouvir o que esta rapariga, Bella, pensava da história de Jessica. O que é que ela via ao olhar para a estranha e pálida família que era universalmente evitada?

Era uma espécie de responsabilidade minha saber a reacção dela. Eu agia como um vigia, por falta de palavra melhor, pela minha família. Para proteger-nos. Se alguém alguma vez suspeitasse, eu poderia dar-nos um aviso prévio e uma solução fácil. Acontecia raramente – algum humano com uma imaginação muito activa poderia ver em nós uma personagem de um livro ou filme. Normalmente erravam, mas era melhor mudarmo-nos para algum lugar novo do que arriscarmos desnecessariamente.

Muito, muito raramente alguém acertava. Nós não lhes dávamos a hipótese de testar as suas teorias. Nós simplesmente desaparecíamos, para nos tornamos nada mais que uma memória assustadora...

Não ouvi nada, embora ouvisse perto donde o monólogo interno de Jessica continuava a fluir. Era como se não estivesse ninguém ao lado dela. Que peculiar, a rapariga tinha mudado de lugar? Não era o que parecia, visto que Jessica continuava a tagarelar para ela. Olhei para cima para verificar, sentindo desequilíbrio. Verificar o que a minha “audição” extra me podia dizer – era algo que eu nunca tive que fazer.

Outra vez, o meu olhar cruzou-se com aqueles mesmos olhos castanhos. Ela estava sentada mesmo ali onde estava antes, e a olhar para nós, uma coisa normal para se fazer, suponho, enquanto Jessica continuava a pô-la a par dos rumores locais sobre os Cullen.

Pensar sobre nós também seria uma coisa natural.

Mas eu não ouvia nem um sussurro.

Um vermelho quente subiu às suas bochechas enquanto ela olhava para baixo, para longe do embaraço de ser apanhada a olhar para um estranho. Era bom que Jasper estava a olhar para fora da janela. Eu não gostava de imaginar o que aquele conjunto de sangue poderia fazer ao seu controle.

As emoções tinham sido tão explícitas na cara dela como se tivessem sido escritas na sua testa: surpresa, enquanto ela sem saber absorvia os sinais da subtil diferença entre a espécie dela e a minha, curiosidade, enquanto ouvia o conto de Jessica, e algo mais... fascínio? Não seria a primeira vez. Nós éramos lindos para eles, a nossa suposta presa. E, finalmente, embaraço por a ter apanhado a olhar para mim.

E mesmo assim, embora os seus pensamentos fossem são claros nos seus incomuns olhos – incomuns, devido à sua profundidade; olhos castanhos geralmente parecem lisos na sua escuridão – eu não ouvia nada mas silêncio do lugar de onde ela estava sentada. Nada mesmo.

Eu senti um momento de pouco à-vontade.

Isto era algo que eu nunca tinha experimentado antes. Havia algo de errado comigo? Eu sentia-me exactamente como sempre. Preocupado, ouvi com mais força.

Todas as vozes que eu tinha estado a bloquear estavam, de repente, a gritar na minha cabeça.

... pergunto-me que tipo de música ela gosta... talvez eu pudesse mencionar aquele novo CD... Mike Newton estava a pensar, a duas mesas de distância – fixado em Bella Swan.

Olha para ele a olhar para ela. Não será que já é suficiente ele ter metade das raparigas da escola à espera que ele... Eric Yorkie pensava amargos pensamentos, também sobre a rapariga.

... tão nojento. Até parece que ela é famosa ou algo assim... Até Edward Cullen olha... Lauren Mallory estava com tantos ciúmes que a sua cara, dentro de todos os direitos, devia estar num profundo tom verde. E a Jessica, a exibir a sua nova melhor amiga. Que piada... Veneno continuou a fluir dos pensamentos da rapariga.

... Aposto que todos já lhe perguntaram isso. Mas eu gostava de falar com ela. Vou pensar numa pergunta mais original... Ashley Dowling pensou.

...talvez ela esteja na minha aula de Espanhol... June Richardson estava esperançoso.

...tarefas deixadas para fazer esta noite! Teste de Trigonometria e Inglês. Espero que a mãe... Angela Weber, uma rapariga silenciosa, cujos pensamentos eram invulgarmente bondosos, era a única na mesa que não estava obcecada com esta Bella.

Eu podia ouvi-los a todos, ouvir cada coisa insignificante que eles pensavam mal isso lhes passasse pela mente. Mas não conseguia ouvir nada da nova aluna com os olhos extremamente comunicativos.

E, claro, eu podia ouvir o que a rapariga disse quando ela falou com Jessica. Eu não tinha que ouvir mentes para ser capaz de ouvir a sua baixa mas clara voz no lado mais afastado da longa sala.

- Qual deles é o rapaz com cabelo castanho avermelhado? – Ouvi-a perguntar, olhando para mim pelo canto dos seus olhos, apenas para desviar rapidamente o olhar quando viu que eu ainda estava a olhar.

Se eu tivesse tido tempo de esperar que ouvir o som da sua voz me ajudasse a descobrir o tom dos seus pensamentos, perdidos algures onde eu não os podia ouvir, eu estava instantaneamente desapontado. Normalmente, o pensamento das pessoas aparece com um tom semelhante ao seu tom de voz física. Mas esta calma e envergonhada voz era desconhecida, não era uma das centenas de pensamentos murmurados na sala, eu estava certo. Totalmente novo.

Oh, boa sorte, idiota! Jessica pensou antes de responder à pergunta da rapariga. - Esse é o Edward! Ele é lindo, claro, mas escusas de perder o teu tempo. Ele não namora. Aparentemente nenhuma rapariga daqui é boa o suficiente para ele. – Ela fungou.

Virei a minha cabeça para esconder o meu sorriso. Jessica e as suas colegas não faziam ideia de quão sortudas eram de nenhuma em particular me atrair.

Por detrás do repentino humor, eu senti um estranho impulso, um que eu não entendi claramente. Tinha algo a ver com a borda viciosa dos pensamentos de Jessica que a nova rapariga não tinha consciência... Eu senti a estranha necessidade de me pôr entre eles, para proteger esta Bella Swan do lado negro da mente de Jessica. Que coisa tão estranha de se sentir.

Tentando descobrir motivos por trás do impulso, examinei a nova rapariga mais uma vez.

Talvez fosse apenas um instinto de protecção há muito perdido – o forte pelo fraco. Esta rapariga parecia mais frágil que os seus colegas. A pele dela era tão translúcida que era difícil de acreditar que lhe oferecia muita defesa do mundo exterior. Eu podia ver a rítmica pulsação do sangue através das suas veias sob a clara e pálida membrana... Mas eu não me devia concentrar naquilo. Eu era bom no estilo de vida que escolhi, mas tinha tanta sede como Jasper e não fazia sentido em convidar a tentação.

Havia uma leve ruga entre as suas sobrancelhas da qual ela não parecia estar ciente.

Era inacreditavelmente frustrante! Eu podia ver claramente que era um esforço para ela sentar-se ali, fazer conversa com estranhos, ser o centro das atenções. Eu podia sentir a sua timidez do modo como ela encolhia os seus aparentemente frágeis ombros, ligeiramente dobrados, como se ela estivesse à espera de um a qualquer momento. E ainda assim eu apenas podia sentir, podia apenas ver, podia apenas imaginar. Não havia nada mas silêncio desta muito inexcepcional rapariga humana. Eu não conseguia ouvir nada. Porquê?

- Vamos? – Rosalie murmurou, interrompendo a minha concentração.

Afastei o meu olhar da rapariga com um sentimento de alívio. Eu não queria continuar a falhar nisto – isso irritava-me. E eu não queria desenvolver qualquer interesse nos seus pensamentos ocultos simplesmente porque estavam escondidos de mim. Sem dúvida, quando eu decifrasse os seus pensamentos – e eu encontraria uma maneira de o fazer – eles seriam tão triviais e desinteressantes como quaisquer pensamentos humanos. Não merecedores do esforço que eu gastaria para os alcançar.

- Então, a miúda nova já tem medo de nós? – Emmett perguntou, ainda à espera da minha resposta para a sua pergunta anterior.

Resmunguei. Ele não estava suficientemente interessado para obter mais informação. Nem eu deveria estar interessado.

Levantámo-nos da mesa e saímos da cantina.

Emmett, Rosalie e Jasper fingiam ser do 12º ano; partiram para as suas aulas. Eu frequentava um ano mais novo que eles. Direccionei-me para a minha aula de biologia do 11º ano, preparando a minha mente para o tédio. Era duvidoso que Mr. Banner, um homem sem mais do que o intelectual comum, pudesse arranjar alguma coisa da sua leitura que pudesse surpreender alguém que tivesse duas licenciaturas em medicina.

Na sala de aula, sentei-me na minha cadeira e deixei os meus livros – fachadas, outra vez; eles não continham nada que eu já não soubesse – espalhados pela mesa. Eu era o único estudante que tinha uma mesa só para si. Os humanos não era espertos o suficiente para saber que me temiam, mas o seus instinto de sobrevivência eram o suficiente para os manter longe.

A sala encheu-se lentamente enquanto eles saíam do almoço. Encostei-me na minha cadeira e esperei que o tempo passasse. Outra vez, eu desejava poder dormir.

Porque eu tinha estado a pensar nela, quando Angela Weber escoltou a nova rapariga pela porta, o nome dela apanhou a minha atenção.

A Bella parece ser tão tímida como eu. Aposto que o dia de hoje está a ser realmente difícil para ela. Gostava de poder dizer alguma coisa... mas iria soar estúpido provavelmente...

Boa! Mike Newton pensou, virando-se no seu assento para observar a entrada da rapariga.

Ainda, do sitio onde Bella Swan estava, nada. O espaço vazio onde os pensamentos dela deviam estar irritava-me e enervava-me.

Ela aproximou-se, andando devagar pelo corredor ao meu lado para chegar à secretária do professor. Pobre rapariga; o lugar ao meu lado era o único disponível. Automaticamente, retirei as minhas coisas do lugar que seria o seu lado da mesa, metendo os meus livros num monte. Duvidei que ela se fosse sentir muito confortável ali. Ela estaria por um longo período – nesta aula, pelo menos. Talvez, embora, sentando-me ao lado dela, eu poderia descobrir os segredos dela... não que eu tivesse precisado de proximidade antes... não que eu fosse descobrir algo que valesse a pena ouvir...

Bella Swan andou pela corrente de ar quente que lançou na minha direcção o vento.

O cheiro dela atingiu-me como se fosse uma bala. Não havia imagem violenta o suficiente para enclausurar a força do que me aconteceu naquele momento.

Naquele instante, eu não estava nada perto de ser o humano que uma vez fui; não havia vestígios dos pedaços de humanidade que consegui reaver.

Eu era o predador. Ela era a minha presa. Não havia mais nada no mundo inteiro mas aquela verdade.

Não havia nenhuma sala cheia de testemunhas – eles já eram um estrago colateral na minha cabeça. O mistério dos pensamentos dela foi esquecido. Os pensamentos dela não significavam nada, ela não ia continuar a pensá-los por muito mais tempo.

Eu era um vampiro e ela tinha o sangue mais doce que eu alguma vez cheirei em oitenta anos.

Nunca imaginei que pudesse existir um cheiro destes. Se eu soubesse, já o tinha procurado há muito tempo atrás. Eu teria dado a volta ao planeta à sua procura. Eu podia imaginar o sabor...

Sede queimava a minha garganta como fogo. A minha boca estava fechada e seca. A nova onda de veneno nada fez para retirar aquela sensação. O meu estômago torceu-se com a fome que era o eco da sede. Os meus músculos preparam-se para correr.

Não se tinha passado um segundo. Ela ainda estava a tomar o mesmo paço que a tinha posto contra o vento na minha direcção.

Mal o seu pé tocou no chão, os seus olhos viraram-se para mim, um movimento que ela claramente não pretendia fazer. O seu olhar encontrou o meu, e eu vi-me reflectido no amplo espelho que eram os olhos dela.

O choque da cara que eu lá vi salvou-lhe a vida por alguns breves momentos.

Ela não facilitou. Quando ela percebeu a expressão na minha cara, sangue coloriu-lhe as bochechas outra vez, tornando a pele dela da mais deliciosa cor que eu alguma vez vi. O cheiro era uma espessa cortina no meu cérebro. Eu mal podia pensar através disso. Os meus pensamentos eram enraivecidos, resistindo ao controlo, incoerentes.

Ela andou mais depressa agora, como se percebesse a necessidade de fugir. A sua pressa tornou-a desastrada – ela tropeçou e cambaleou para a frente, caindo sobre o assento de uma rapariga na minha frente. Vulnerável, fraca. Ainda mais do que um humano comum.

Tentei concentrar-me na cara que tinha visto nos olhos dela, a cara que eu reconheci com repugnância. A cara do monstro em mim – a cara que eu tinha derrotado com décadas de esforço e dura disciplina. Quão facilmente ela tinha ressurgido agora!

O cheiro vagueou à minha volta outra vez, agitando os meus pensamentos e quase me tirando do lugar.

Não.

A minha mão fechou-se sob a beira da mesa enquanto me tentava segurar no lugar. A madeira não estava à altura da tarefa. A minha mão atravessou a estrutura e apareceu cheia de lascas, deixando a forma dos meus dedos gravadas na madeira restante.

Destruir as evidências. Era uma regra fundamental. Eu depressa pulverizei as bordas das marcas com os meus dedos, deixando nada mais que um buraco e uma pilha de restos no chão, que eu sacudi com o meu pé.

Destruir as evidências. Danos colaterais...

Eu sabia o que teria que acontecer agora. A rapariga teria que se sentar ao meu lado e eu teria que matá-la.

Os inocentes envolvidos nesta sala de aula, dezoito crianças e um homem, não seriam permitidos sair desta sala, tendo visto o que eles poderiam ver.

Estremeci com o pensamento do que teria que fazer. Até no meu pior, eu nunca tinha cometido este tipo de atrocidade. Eu nunca tinha morto inocentes, não em mais de oito décadas. E agora eu planeava assassinar vinte deles de uma só vez.

A cara do monstro no espelho tocou-me.

Mesmo que parte de mim tentasse fugir do monstro, outra parte planeava-o.

Se eu matasse a rapariga primeiro, eu teria apenas quinze ou vinte segundos com ela antes que os humanos na sala pudessem reagir. Talvez um pouco mais, se eles não se apercebessem primeiro do que eu estava a fazer. Ela não teria tempo de gritar ou de sentir dor; eu não a mataria cruelmente. Isso eu poderia dar a esta estranha com o seu terrivelmente desejável sangue.

Mas então eu teria que os impedir de fugir. Não me teria que preocupar com as janelas, demasiado altas e pequenas para providenciar fuga para alguém. Apenas a porta – bloqueá-la e eles estariam encurralados.

Seria mais lento e mais difícil, tentar deitá-los todos a baixo quando eles estivessem em pânico e a correr, movendo-se em caos. Não impossível, mas haveria muito mais barulho. Tempo para muitos gritos. Alguém poderia ouvir... e eu seria forçado a matar ainda mais inocentes nesta hora negra.

E o sangue dela arrefeceria, enquanto eu assassinava os outros.

O cheiro castigava-me, fechando a minha garganta com dor seca...

Então primeiro as testemunhas.

Planeei na minha cabeça. Eu estava no meio da sala, a fila mais distante no fundo. Eu trataria do meu lado direito primeiro. Poderia tratar de quatro ou cinco dos pescoços deles por segundo, estimei. Não seria muito barulhento. O lado direito seria o lado com mais sorte; eles não me veriam a aproximar-me. Movendo-me pela frente e tratando do lado esquerdo, levar-me-ia, no máximo, cinco segundos para acabar com cada vida nesta sala.

Tempo o suficiente para que Bella Swan visse, brevemente, o que a esperava. Tempo o suficiente para ela sentir medo. Tempo o suficiente, talvez, se o choque não a paralisasse no lugar, para ela tentar gritar. Um grito suave que não chamaria a atenção de alguém.

Respirei fundo e o cheiro era como fogo que corria através das minhas veias secas, queimando desde o meu peito para consumir melhor cada impulso de que eu era capaz.

Ela só agora se estava a virar. Em meros segundos, ela estaria a sentar-se a poucos centímetros de mim.

O monstro na minha cabeça sorriu em antecipação.

Alguém fechou uma pasta na minha esquerda. Eu não olhei para cima para ver qual dos humanos condenados foi. Mas o movimento enviou uma onda de ar comum e sem cheiro para a minha cara.

Por um curto segundo, eu pude pensar claramente. Naquele precioso segundo, eu vi duas caras na minha cabeça, lado a lado.

Uma era minha, ou melhor, tinha sido: o monstro de olhos vermelhos que tinha morto tantas pessoas que eu tinha perdido a conta. Assassínios racionalizados e justificados. Um assassino de assassinos, um assassino de outros, menos poderosos monstros. Era um bom complexo, reconheci isso – decidir quem merecia uma sentença de morte. Era um compromisso comigo mesmo. Eu tinha-me alimentado de sangue humano, mas apenas pela perda de definição. As minhas vítimas eram, nos seus mais negros passatempos, quase tão humanos como eu era.

A outra cara era a de Carlisle.

Não havia semelhanças entre as duas caras. Elas eram o claro dia e a noite negra.

Não havia razão para haver uma semelhança. Carlisle não era meu pai no sentido biológico. Não tínhamos traços comuns. A semelhança na nossa cor era produto daquilo que éramos; todos os vampiros têm a mesma pele extremamente pálida. A semelhança entre a cor dos nossos olhos era outra coisa – o reflexo de uma escolha comum.

E ainda, embora não haja bases para uma semelhança, eu tinha imaginado que a minha cara tinha começado a reflectir a dele, como extensão, nos últimos setenta anos comuns em que abracei a sua escolha e comecei a seguir os seus passos. Os meus traços não tinham mudado, mas parecia-me que alguma da sua sabedoria tinha marcado a minha expressão, que um pouco da sua compaixão tivesse sido traçada nas linhas da minha boca, e partes da sua paciência fosse evidente no meu sobrolho.

Todos aqueles pequenos melhoramentos foram perdidos na cara do monstro. Em poucos momentos, não iria sobrar nada que pudesse reflectir os anos que eu passei com o meu criador, o meu mentor, o meu pai de todas as maneiras que contavam. Os meus olhos iriam brilhar vermelhos como os do diabo; todas as parecenças seriam perdidas para sempre.

Na minha cabeça, os generosos olhos de Carlisle não me julgavam. Eu sabia que ele me perdoaria por este horrível acto que eu iria fazer. Porque ele amava-me. Porque ele pensava que eu era melhor do que eu era. E ele continuaria a amar-me, mesmo que eu lhe provasse o contrário.

Bella Swan sentou-se na cadeira ao pé de mim, os seus movimentos curtos e estranhos – com medo? – e o cheiro do sangue dela tornou-se uma espessa nuvem à minha volta.

Eu iria provar ao meu pai que ele estava errado sobre mim. A miséria deste facto magoava quase tanto como o fogo na minha garganta.

Afastei-me dela com repulsa – revoltado pelo monstro que queria matá-la.

Porque é que ela tinha que vir para aqui? Porque é que ela tinha que existir? Porque é que ela tinha que arruinar a pequena paz que eu tinha nesta minha não-vida? Porque é que esta agravante humana tinha que ter nascido? Ela iria arruinar-me.

Virei a minha cara dela, mal uma súbita, feroz e irracional onda de ódio me atravessou.

Quem era esta criatura? Porquê eu, porquê agora? Porque é que eu teria que perder tudo apenas porque ela tinha decidido escolher esta cidade para aparecer?

Porque tinha ela vindo para aqui!

Eu não queria ser um monstro! Eu não queria matar esta sala cheia de crianças indefesas! Eu não queria perder tudo o que eu tinha ganho numa vida de sacrifício e negação!

Eu não iria. Ela não iria conseguir obrigar-me.

O cheiro era o problema, o horrivelmente atraente cheiro do sangue dela. Se apenas houvesse alguma maneira de resistir... se apenas outra brisa de ar fresco pudesse clarear-me as ideias.

Bella Swan abanou o seu longo, fino, cabelo castanho na minha direcção.

Ela era louca? Era como se ela estivesse a encorajar o monstro! Provocando-o.

Não havia nenhuma brisa amigável para afastar o cheiro de mim. Tudo estaria perdido em breve.

Não, não havia uma brisa que ajudasse. Mas eu não tinha que respirar.

Eu parei o fluxo de ar através dos meus pulmões; o alívio foi instantâneo, mas incompleto. Eu continuava a ter a memória do cheiro na minha cabeça, o sabor disso no fundo da minha língua. Eu não conseguiria resistir muito mais tempo. Mas talvez, eu pudesse resistir por uma hora. Uma hora. Tempo suficiente para sair desta sala cheia de vítimas, vítimas que talvez não tivessem que ser vítimas. Se eu apenas pudesse resistir por uma curta hora.

Era um sentimento desconfortável, não respirar. O meu corpo não precisava de oxigénio, mas isso ia contra os meus instintos. Eu confiava no olfacto mais do que nos meus outros sentidos em tempos de stress. Era ele que guiava o caminho numa caçada, era o primeiro aviso em caso de existir perigo. Eu geralmente não atravessava na frente de coisas tão perigosas como eu, mas a auto-preservação era tão forte na minha espécie como era num humano comum.

Desconfortável, mas suportável. Mais suportável do que cheirá-la e não cerrar os meus dentes através daquela boa, fina, transparente pele para o quente, molhado, pulsante...

Uma hora! Apenas uma hora. Eu não devia pensar no cheiro, no sabor.

Olhei para ela pelo quanto do olho e reparei que ainda escondia o rosto por trás do seu longo cabelo, não me deixando ler a sua cara.

Tão de repente como eu me tinha paralisado ao lado dela, também ela se paralisou e endireitou-se repentinamente, deixando os seus cabelos castanhos caírem sobre o seu ombro. Finalmente pude ver o seu rosto, estava mais pálido do que eu julgara já ter visto um rosto humano e nos seus olhos parecia haver um diferente brilho de medo – teria ela se apercebido e estaria com medo de mim? Era bom que sim...

Enquanto observava o seu rosto, senti-me irritado e o meu ódio por ela cresceu. Irritado por não conseguir ler os seus pensamentos e odiava-a por tudo o que ela me estava a fazer passar, por tudo o que ela me estava a fazer sentir, por tudo o que ela me estava a fazer pôr em causa – o amor pela minha família, os meus sonhos de ser algo melhor do que era. Depressa descobri que esses dois sentimentos, ódio e irritação, ajudavam a ignorar o cheiro, a ignorar o pensamento de como poderia saber o sangue dela...

Ódio e irritação. Impaciência. A hora nunca mais acabava?

E quando a hora acabasse... Ela sairia da sala. E eu o que faria?

Poderia apresentar-me. Olá, chamo-me Edward Cullen. Posso acompanhar-te à tua próxima aula?

Ela diria que sim. Isso seria a coisa mais educada a fazer-se. Mesmo já a temer-me, como eu suspeitava que ela temia, ela iria seguir a convenção e andar ao meu lado. Seria fácil guiá-la na direcção errada. Poderia guiá-la até à berma da floresta do outro lado do parque de estacionamento. Dizer-lhe que me esqueci de um livro no carro...

Alguém notaria que eu tinha sido a última pessoa com quem ela tinha sido vista? Estava a chover, como sempre; dois impermeáveis negros a seguirem na direcção errada não seria ponto de muito interesse, ou entregar-me-ia?

- Humano... – A voz dela murmurou ao meu lado e eu estremeci.

Parecia que ela me estava a chamar à razão como se soubesse o que eu estava a pensar.

Vi-a estremecer pelo canto do olho e abanar a cabeça levemente, como se quisesse afastar algo invisível. Novamente a onda de ódio atravessou-me e eu fechei a mão sobre o banco para me impedir de esticar a mão, tocar-lhe e tentar ler-lhe os olhos para – pelo menos tentar – saber o que estava ela a pensar.

- Não! – Ela gritou mas o seu grito foi abafado pela forte rajada de vento que abriu as janelas e encheu a sala com ar fresco.

Respirei fundo aproveitando aquele vento frio e como se aquela ventania tivesse ligado algum interruptor na minha cabeça, a minha mente começou a trabalhar mais depressa e eu vi soluções que antes não conseguia encontrar. Mais depressa do que eu me apercebi, o meu braço levantou-se no ar para chamar à atenção do professor.

- Sim, Mr. Cullen? – Mr. Banner respondeu-me.

- Senhor, eu queria pedir-lhe se não se importa de me deixar sair mais cedo. – Pedi com a minha voz mostrando fraqueza para fazer a minha mentira parecer verdade. - Eu não me estou a sentir nada bem.

Vários pensamentos começaram a fluir-me na mente, pensamentos preocupados com a minha saúde da parte das raparigas da sala e pensamentos a desejarem que eu me fosse embora e nunca mais voltasse da parte dos rapazes.

Vai-te embora, Edward... Por favor! Foge! Um pensamento com uma voz totalmente nova. A voz de Bella Swan!

Arregalei os olhos e olhei para ela, chocado. Como é que de repente eu tinha conseguido ouvir os seus pensamentos? Estudei a expressão dela, procurando respostas para as minhas perguntas, mas a expressão sofrida dela deu-me a entender que por mais que procurasse eu não iria saber a resposta, ou que não a quereria saber.

- Realmente não está nada com um bom ar... Pode sair e ir para a enfermaria se assim desejar! – O professor disse aquilo de um modo que confirmou a minha ideia de que ele tivesse sido convencido pela minha mentira.

Voltei a olhar para ela e depois peguei nas minhas coisas o mais rápido – humanamente – possível. Sai da sala sentindo o olhar dela a queimar-me nas costas e ouvia-a suspirar aliviada como se aquele sentimento que a tinha estado a fazer sofrer tivesse desaparecido.

Já no corredor, tentei voltar a ouvi-la novamente mas nada, não conseguia ouvir a voz dela em lado nenhum dentro da sala e isso deixou-me intrigado, porque é que não conseguia ouvi-la mas os pensamentos dela a implorarem-me para me ir embora foram tão claros na minha cabeça?

Respirei fundo e fiquei satisfeito ao não sentir o cheiro dela queimar-me com a sua presença esmagadora, mas mesmo assim, eu ainda tinha a memória do cheiro e essa tornava tudo muito mais complicado de pensar. Tirei o telemóvel do bolso e vi-o sem qualquer recado, onde é que andaria Alice? Será que ela não teria visto nada daquilo? Será que ela não me teria visto a assassinar uma sala cheia de inocentes e tudo por causa daquela estranha e silenciosa rapariga? Quando chegasse a casa ela iria ouvir-me!

Não... Eu não podia ir para casa... E se ela tivesse visto? O que iria Carlisle dizer? Pior ainda: o que iria Esme dizer? O que é que a minha mãe poderia vir a pensar da minha fraqueza? E o meu pai? Eu ia destruindo tudo o que tínhamos lutado para ter!

Estes pensamentos fizeram-me sentir vergonha de mim próprio, eu tinha sido fraco, fraco e estúpido! Fraco por ter deixado que o cheiro dela me abalasse e estúpido por ter-me deixado pensar aquelas coisas bárbaras!

Enquanto pensava nas reacções da minha família caminhei até ao meu carro, eu não tinha coragem de enfrentar o resto da família, não conseguiria chegar-me junto deles como se nada tivesse acontecido. Respirei fundo numa tentativa de me acalmar e reparei no cheiro que a minha roupa tinha... O cheiro dela, embora de uma forma subtil, estava embrenhado nas minhas roupas e eu nem sequer lhe tinha tocado! Não podia aproximar-me da família assim! E tinha dois bons motivos: primeiro, eu já representava um perigo descomunal para a jovem rapariga que tinha tido a infeliz sorte de se meter no meu caminho, e segundo, eu não podia permitir que nenhum dos meus familiares sentisse o cheiro dela, especialmente Jasper!

Pára, Edward! Rosnei para comigo. Porque raio estava eu a preocupar-me com a segurança dela? Ela ia-me levando à ruína e eu estava a preocupar-me com a segurança dela?

Abanei a cabeça tentando afastar o pensamento de protecção sobre a rapariga e agarrei no meu telemóvel, ia fazer algo que não costumava fazer. Carreguei no botão das mensagens e comecei a digitar as palavras:

Alice,

Tive que partir! Fiquem com o Volvo!

Não me peças respostas! Desculpem, mas é melhor assim!

Beijos,

Edward

Acabei a mensagem em menos de um minuto e enviei-a, a minha irmã deveria estar a ver-me partir nas suas visões e certamente deveria estar neste momento a pedir autorização ao professor para ir à rua fazer uma chamada urgente, eu podia imaginá-la a fazer isso...

EDWARD CULLEN! Uma voz que eu reconheci imediatamente como sendo a da minha adorada irmã encheu-me o pensamento. Nem te atrevas! Não te podes ir embora assim sem mais nem menos! Pensa no que a Esme vai dizer! No que o Carlisle vai dizer!

Se eu pudesse responder aos seus pensamentos, eu ter-lhe-ia explicado o porque exactamente de eu me estar a ir embora, dizer-lhe-ia que era exactamente por eles que eu me estava a ir embora.

Por favor, não vás, Edward! Nós podemos resolver o que quer que seja como uma família! A voz dela implorou-me e eu suspirei, era tão bom que as coisas fossem tão simples como pareciam! Por favor, Edward...

Ela deixou a frase por terminar e de repente uma imagem encheu a minha mente, uma visão. Eu podia ver uma cozinha com armários amarelos e uma mesa com três cadeiras desiguais, vi uma rapariga – Bella – virada de costas para mim e vi-me caminhar para dentro da cozinha...

- Alice, pára! – Gritei. Já estava no parque de estacionamento portanto ninguém me ouviria mas ela iria, ela e os meus outros irmãos.

Para onde vais? Ela perguntou-me tristemente.

Mais uma vez, gostava de poder ter Alice ao pé de mim para que ela pudesse ver as minhas respostas, mas eu não precisava de a ter ali para que ela visse.

- Não sei, Alice! Não sei! Mas vou para qualquer lugar longe daqui! Eu não posso ficar aqui, não posso.

Porquê? Eu sei que me pediste para não te pedir respostas, Edward! Mas eu não consigo ver-te a ficar muito longe! Mas também não consigo ver para onde poderás ir! Por favor, Edward... Não vás!

- Tenho que ir, Alice!

Vou ter saudades tuas! Todos vamos... Ela respondeu-me tristemente e eu, por momentos, consegui ver a cara dela ficar subitamente triste.

- Eu também vou ter saudades vossas! Mas tenho que ir! – Foi a minha última resposta antes de me lançar numa corrida.

Não sabia para onde ir, mas tinha que ir para algum lugar longe de Forks. Corri pelo meio da floresta e parei apenas quando senti o cheiro do hospital, pelos vistos os meus pés tinham-me levado até ao trabalho do meu pai. Pensando bem eu poderia despedir-me dele, dizer-lhe que não podia ficar e lamentar por isso, ele iria compreender-me, não iria fazer perguntas, ele iria apoiar-me na minha decisão.

Entrei no hospital e caminhei pelos corredores, acenando com a cabeça àqueles que me conheciam e passavam por mim cumprimentando-me, não podia parar para conversar, eram distracções às quais eu não me poderia permitir ceder. Depressa cheguei ao gabinete de Carlisle e sem bater à porta entrei, ele ao ver-me assustou-se mas manteve a sua expressão calma de sempre, levantou-se calmamente e dirigiu-se a mim.

- Edward, o que se passa? Não devias estar na escola? Onde estão os outros? O que se passa, filho? – A voz dele transmitia preocupação mas estava calma, sempre calma.

- Eu tenho que partir! – Anunciei como se aquilo fosse normal, como se eu já estivesse habituado a fazer aquilo tal como a minha família já estava habituada a ver-me partir.

- O que se passou, Edward? Porque é que tens que partir? – Agora a calma do meu pai já estava a fugir-lhe e eu não via isso pela sua figura mas pelo seu pensamento que vagueava pelas mais terríveis conclusões.

- Nada! Eu só tenho que…

Edward! O que se passou?! Tu não virias aqui e não me dirias que tens que partir caso não se tivesse passado alguma coisa. Ele disse-me por pensamentos, tentando tocar-me no braço, gesto do qual me afastei rapidamente. E eu não pude fugir mais ao assunto.

- Não compreendo.

- Alguma vez… encontraste algum ser humano que cheirasse melhor que todos os outros? Muito melhor? – Perguntei exasperado, desejando desesperadamente que ele me pudesse compreender.

- Ah… - Ele tinha compreendido e, por momentos, inspirou fundo o ar, inalando o cheiro dela. – Compreendo.

Baixei a minha cabeça com vergonha e se pudessem, os meus olhos estariam a verter lágrimas de revolta por me estar a comportar assim. Eu não queria partir, não queria abandonar a minha família, mas ainda assim, eu tinha que partir, alguma coisa no fundo do meu ser dizia-me que eu não me devia aproximar da rapariga, que eu não a podia magoar.

- Para onde vais, Edward? – A sua pergunta não me apanhou desprevenido, eu não sabia para onde ir, não havia nenhum lugar para o qual eu quisesse ir. Uma desvantagem de ser vampiro era ter tempo mais que suficiente para poder ir para todo o lado.

- Ainda não sei. – Murmurei, ele ouvir-me-ia mesmo que eu não quisesse.

Ele aproximou-se de mim e pôs a sua mão no meu ombro, olhei para a sua mão e em seguida olhei para os seus olhos dourados.

Eu sei que vais fazer o que é melhor! Ele pensou e depois disse. – Vamos sentir a tua falta!

- E eu a vossa! – Declarei sentindo já a saudade inundar-me. – Pede desculpa por mim à mãe, pai!

- Assim o farei, meu filho. – Ele abraçou-me e na sua mente eu só conseguia ouvir tristeza por eu o estar a deixar. É o melhor! Era a única coisa que ele pensava, tentando convencer-se que eu era melhor que o monstro que eu afirmava ser. – Toma. Leva o meu carro. – Disse-me entregando-me as chaves do seu Mercedes.

Sai do seu escritório e fiz o meu caminho de regresso à rua pelos corredores cheios do hospital. Quando já me encontrava na rua, caminhei ainda a passo humano para o carro do meu pai e acelerei para fora da cidade até deixar de ouvir os pensamentos dos humanos, até ficar bem longe de Forks, até ficar bem longe da rapariga que me obrigava a ir-me embora, acelerei para bem longe de Isabella Swan.


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Notas finais do capítulo

Digam o que pensam!