Olhos Errantes escrita por Beatriz Delfino


Capítulo 5
A Voz Interior da Coragem




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O ambiente perturbou-se. Um estrondo alto como um trovão perdurou-se pelos ares, era o grunhido do colosso.

Dália colocou uma mão sobre a incrível serpente e pronunciou algo que nem mesmo Zago conseguira entender, logo em seguida, ela olhou para M’aiq.

—Você não é bem-vindo aqui... nenhum de vocês é.

M’aiq parecia não se preocupar, ele começou a descer as escadas até o lago o que deixou o colosso inquieto.

—Não consigo me mover!- Disse um dos soldados.

Zago iria se virar para trás mas percebeu que também não conseguia se mover, de repente aquele sentimento voltou, mas em forma de uma voz.

“Oh caro mortal, achas mesmo que tu és quem vai salvá-la? Chega a ser cômico. Escute com atenção, pois não irei redizer; Dália possui a marca dos errantes, pois o destino assim quis!
Ela, entretanto, não é vulnerável por carregar essa marca, pelo contrário, isso a deixa mais forte.”

Zago estava assustado, algo que não era seu pensamento alegava palavras estranhas sobre pensamentos que ele nunca compartilhara com alguém.

“Não se preocupe, Dália foi criada entre os selvagens, feita para lutar ao lado deles. Não é uma simples espada de ferro que vai tirar-lhe a vida que tanto custei a lhe dar.
Pois estão, aproveites de meus domínios antes que decida expulsá-los, já que mudei de ideia sobre sua estadia, quem sabe ela não possa me ser útil...”

A voz cessou-se e Zago voltou sua atenção à Dália e M’aiq.
Os dois estavam lutando.

M’aiq era habilidoso com sua espada, e proferia ataques bruscos carregados de ódio. Dália a todo momento se esquivava, procurando não machucar o agressor.
Até um momento em que M’aiq atingiu o braço de Dália com sua espada, fazendo escorrer-lhe um filete de sangue.

Dália observou o sangue escorrendo pelo braço, nesse momento, flashbacks invadiram sua memória, lembrou-se de quando treinava no templo com as sombras Dele. Sim, Ele costumava contar histórias sobre humanos que o haviam traído, sobre como o trancaram dentro de um templo vazio e sem vida.

Dália ouvia suas histórias com atenção, e colocava-se a pensar em como alguém poderia machucar um colosso daquela forma.

De repente, sua mente foi tomada por pensamentos escuros e pesados. Ela não era mais ela... Era Ele.

Vão embora de meus domínios! Todos vocês! Me prenderam nessas terras sórdidas, deixando-me para morrer! Desejaram tanto a minha desgraça, agora o seu povo está colhendo o que plantou.
M’aiq pareceu irritado e atacou Dália com voracidade, mas a garota num ato impensado, segurou a espada de M’aiq com a mão direita, a qual foi cortada.

Com uma força maior que antes, a menina jogou a espada do soldado para longe, o qual ficou assustado.
Dália então pegou a espada, seus olhos brilhavam sob a máscara, estavam carregados de uma vingança que não lhe pertencia, ela estava disposta a matar M’aiq, estava disposta a fazer vingança com as próprias mãos.

Acertando-lhe vários golpes, Dália feriu M’aiq com vontade, cortando-lhe os braços e excisando alguns golpes em suas costas. Até que o soldado caiu de joelhos na areia úmida.

—Dália, PARE!

Os dois no campo de batalha pararam. A Espada de Dália estava a um fio de acertar a cabeça de M’aiq, que estava ajoelhado no chão esperando o golpe mortal.

Por um instante o corpo de Dália pareceu recobrar a razão, ela largou a espada e se afastou, olhando para o grupo de Otto e seus soldados.

—“Dália”? -Otto perguntou para Zago.

— Eu... am... foi um nome aleatório, o primeiro que pensei!

Otto parecia desconfiado.

—Depois você terá de me contar isso, garoto.

—C-certo!

Zago olhou para Dália que parecia feliz em vê-la bem.

Por um instante ele percebeu que seu coração batia rápido. Já havia acontecido isso com outras garotas da cidade, mas com Dália era diferente, era como se o que aquela voz lhe dissesse fizesse sentido só agora.
O destino quis isso, o caminho dos dois foi talhado para que se encontrassem... Zago tinha uma ligação com Dália e precisava saber qual era.

Na arena, M’aiq tentou se levantar mas acabou caindo novamente. A garota paralisou por um tempo, e agachou ao lado do adversário, tocando-lhe o rosto.

Então o mundo fechou-se para eles. Nem Zago, nem Otto, e muito menos seus soldados, podiam ouvi-los agora.

—Ele contou de você, disse que somos ligados por sangue.

—E-Eu não tenho nenhum parentesco com você!

M’aiq tentava se manter consciente e quando pressionava seus ferimentos.
—Só um tolo não pode ver, M’aiq.

—Como... como sabe meu nome?!

—Assim como você sabe o meu.

Dália sorriu por um instante e embora a máscara não permitia a M’aiq saber disso, ele tinha sentido o sorriso carinhoso que recebera.
Ele parecia confuso, estava atordoado. Dália tentou ajudar, mas foi interrompida.

—Você... Você estragou a minha vida!?

M’aiq rapidamente pegou a espada que se encontrava no chão e tentou acertar um golpe em Dália, que segurou novamente a arma com a mão machucada.

—Sinto muito que as coisas tenham que ser assim M’aiq, espero que um dia possamos nos entender.

A garota largou a arma e se afastou.
O soldado ferido tentou em vão levantar com a espada, mas não conseguiu.

Aproximando-se do colosso, Dália lançou um último olhar à Zago e mergulhou nas águas do lado, fazendo com que a sua silhueta e a do colosso se tornassem turvas, até enfim desaparecerem.

Otto e seus homens já podiam se mexer e foram ao encontro de M’aiq que permanecia caído. Por mais que não quisesse admitir, ou ao menos acreditar, ele pensara naquelas palavras “[...] espero que um dia possamos nos entender” antes de desmaiar.
Zago observava o campo de batalha e tudo ao seu redor, pela primeira vez o deserto parecia diferente. Algo havia mudado, ou melhor...
Algo está mudando.


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Notas finais do capítulo

Obrigada pelo apoio pessoal!! Fico muito feliz com o comentários de vocês nas minhas histórias!!



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