Sacrifice escrita por Mrys


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

tive a ideia quando vi uma “fanart” bem específica, então pensei algo como “por que não?” e aqui está, feita e postada! espero que gostem.



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Ficara o dia inteiro dentro de seu escritório, como era de costume. Durante o dia e a tarde, suas cortinas permaneciam coladas ao vidro enorme de sua janela, cobrindo boa parte da luz diurna que o Uchiha costumava evitar. Porém, quando a escuridão tomou o céu, com apenas uma parcela de luz criada pela lua, o homem se ergueu para observar o trânsito rua abaixo. 

Outra luz piscou, superficial, dentro da sala quando seu celular recebera uma mensagem. Não precisou tocar ou virar o rosto para ver de que era o namorado quem lhe enviava tal. Em breve seria dia 23 de julho, afinal – seu próprio aniversário – então o loiro o esperava para comemorar de alguma forma, perguntando sobre sua agenda a semana toda. Sasuke esticou o corpo, deixando os músculos tensionados terem um pouco da liberdade que mereciam longe daquela cadeira, tão escura quanto o céu noturno, na qual fora obrigado a ficar sentado o dia todo.

Não quis responder a mensagem. Ainda parecia pisar em ovos toda vez que tinha de falar com o Uzumaki, levando em conta que ainda não tinham feito as pazes. Namoravam há cinco anos e ainda assim não sabiam lidar um com o outro quando discutiam – Naruto tentava ao máximo fingir que podiam superar e ser positivo, enquanto Sasuke apenas fugia dos problemas os ignorando.

Não se recordava mais do porquê terem discutido, de tão bobo era ou por simplesmente estarem discutindo demais nos últimos meses pelo clima tenso que os rodeava. Ambos trabalhavam demais e pouco tempo tinham para acompanhar o resto dos acontecimentos do parceiro. 

Suspirou ao ver gotas caindo no vidro, embaçando cada vez mais a visão que o Uchiha tinha da lua, céu e estrelas. Agarrou o casaco escuro que deixava sobre a cadeira e desceu para o térreo do prédio empresarial, sem paciência para esperar o elevador chegar até seu andar.

Não havia muitos funcionários a ativa no ambiente àquele horário, todavia ainda tinha um ou outro que Sasuke sentia-se obrigado a dar um aceno de cabeça quando o notavam para que não percebessem seu humor oscilante. Ter um alto cargo parecia cansativo em momentos como este pois jamais podia deixar-se à vista para seus funcionários.

Poucos minutos depois, já estava em seu carro, com alguns gotas deslizando das pontas de seu cabelo escuro até caírem em seus ombros enquanto procurava por alguma loja aberta. Estava cansado de tudo o deixando tão exausto e, se fosse necessário, levaria algo caro para que o namorado voltasse ao normal consigo. Precisava se sentir bem outra vez e apenas estando bem com Naruto faria isso. 

Precisava que Naruto sorrisse para ele quando chegasse em casa. Que o beijasse com carinho e dissesse que ele era o maior idiota apenas por ser. Que o abraçasse durante a noite porque seus pés quentes eram perfeitos para os pés gelados do Uchiha em noites como aquela. Apenas precisava.

E estava tão ocupado pensando em todas as coisas que precisava que não percebeu o buraco enorme na estrada quando um relâmpago piscou, fazendo com o carro deslizasse pela rua molhada e escorregadia até um enorme poste de energia. Ainda pensava nas palavras que poderia usar com aquele que o aguardava em casa quando os fios se soltaram do poste, em direção ao vento, deixando que a madeira caísse e batesse no capô de seu carro, estraçalhando o vidro em pedaços. E ainda pensava se algum dia deixaria de ser tão cheio de defeitos para alguém tão incrível como o outro estar consigo quando começou a sentir todas as dores e efeitos que o acidente estava lhe causando. Seu último pensamento antes de desmaiar fora no quão sol Naruto era, sempre iluminando sua vida mesmo em dias escuros. Lua e sol. Sol e lua. 

Sentia-sedesamparado. Despreparado. Desesperado. Naruto sentia muitas coisas e nenhuma delas era boa pois seu coração apertava dentro do peito, ardendo, queimando, sufocando-lhe a cada batida. Sentia que logo seria incapaz de respirar por conta própria e suas pernas tremiam enquanto o loiro corria hospital adentro. Havia pego um táxi até o local, porém o trânsito o prenderá – e acabou por vir o resto do caminho correndo, ofegante, mesmo que estivesse usando sandálias horríveis para se correr.

O dia acordava do lado de fora, preguiçoso, anunciando que o número do calendário de hoje era outro. Faltavam dois dias, vinte e uma horas e trinta e três minutos para o aniversário de Sasuke. 

Naruto parou na recepção, tentando falar, mas sua voz não saia. Seu lábio inferior tremia, sua garganta arranhava e suas bochechas queimavam pela corrida. Tudo que sua cabeça pensava era no nome de seu namorado, fazendo-o parecer incapaz de formular qualquer outra frase.

— Onde…

Sasuke. Sasuke. Sasuke.

— Onde meu namorado está?

Sasuke. Sasuke. Sasuke.

Sentiu o olhar parcialmente cético do homem à sua frente. Percebeu a mulher que era atendida ao lado por outra pessoa lhe direcionar um olhar torto. Também notara a hesitação do restante pela sua fala mas não dava a mínima. Não estava com cabeça para desafiar ninguém que se achava melhor que ele por simplesmente ser “normal”. Não estava com tempo para brigar ou meter moral por estarem no século 21 e que não deveriam agir de tal modo por verem um relacionamento homoafetivo. Simplesmente...

— O quarto. Ele sofreu um acidente.

Sasuke.

O recepcionista precisou de mais duas frases informando o que ele queria antes de poder digitar no computador para ver os dados necessários. Antes mesmo dele dizer, com palavras lentas e olhos opacos como todo recepcionista, Naruto pulou sobre o balcão para enxergar a tela e saiu em disparada assim que vira o número do quarto. Estava exasperado demais para se permitir ser torturado por aquela situação momentânea.

Parou um médico qualquer no meio de um corredor, perguntando sobre onde ficava o quarto dele pois não queria desperdiçar um minuto sequer perdendo-se no hospital. O homem lhe respondeu rápido e breve, assustando-se ao ver o jovem sair em disparada em seguida, para o caminho em que havia indicado.

— Esses jovens de hoje em dia... — sussurrou o doutor, balançando a cabeça negativamente e voltando a suas atividades rotineiras.

Ao chegar no quarto certo, o Uzumaki bateu repetidamente, quase tendo uma ataque cardíaco. Seu peito pulava dentro do peito, queimando ainda mais do que antes. Seus lábios, sua boca e garganta estavam secas, diferente do resto de seu corpo que transpirava com o nervosismo.

A porta se abriu e um outro médico saiu. Antes que a porta se fechasse novamente, o loirinho teve uma vista do amante, deitado numa cama sem graça de hospital, aparentemente inconsciente.

— Sasuke! — tentou gritar mas apenas um sussurro inaudível saiu de seus lábios.

 O médico, compreensivo, apenas olhou em seus olhos lacrimejantes, esperando que o momento de pavor passasse ou diminuísse. Ele esperou pacientemente enquanto Naruto suspirava, esfregava os olhos e sacudia a cabeça, tentando fazer aquela dor, aquele sabor amargo em sua boca, o arder dentro do peito fossem controlados de alguma forma.

— Você o conhece? — foi a primeira coisa que o homem disse — Onde está seu cartão de visita?

Naruto arregalou os olhos, finalmente compreendendo o porquê do recepcionista ser tão enrolado só atendê-lo. Havia um protocolo a ser seguido e o Uzumaki havia o quebrado pelo desespero. Se não estivesse tão assustado, talvez sentisse vergonha por alguns de seus atos inconsequentes.

Naruto não conseguiu dizer nada por um minuto inteiro.

— Sim. Conheço.

O homem suspirou, tentando ser compreensivo mais uma vez. Sabia o quão difícil era lidar com seus pacientes e ainda mais com suas famílias, sempre em choque.

Quando o médico voltou a falar, tão profissional, explicando a situação, Naruto sentiu-se nublado. Pegou poucas palavras, incapaz de montar um contexto aceitável para entender do que se tratava. Não importava os termos médicos, nem nada daquilo. Apenas queria vê-lo. Queria saber que ele ficaria bem. Que poderiam se acertar novamente.

Após alguns minutos, finalmente uma parte chamou sua atenção, por ser compreensível.

— Ele o quê?

Apenas trechos entraram em sua bolha, como se repentinamente tivesse desaprendido a escutar alguém além de seus pensamentos.

— A visão está muito danificada... Não há ninguém compatível na lista de doadores para que haja um transplante... Em termos de porcentagens...

— Eu sou compatível?

A resposta fora apenas uma expressão chocada na feição daquele profissional que falara tanto consigo minutos atrás. 

Alguns dias mais tarde, o Uchiha acordou de seu curto e breve estado de coma. Estava sozinho em um quarto de hospital. Uma faixa estava envolta de seus olhos, impedindo sua visão. Sentia pequenas pontadas, como um incômodo bobo, não como uma dor insistente mas nada além disso. 

Sua visão estava embaçada, mas não o suficiente para o atrapalhar de enxergar por completo. Ao fechar e abrir os olhos, notou que um deles não funcionava bem. Sua cabeça estava tentando processar os acontecimentos mas era demais para acompanhar.

Enquanto tentava focar a visão em alguma coisa, viu que havia um buquê de flores azuis e uma garrafa de suco de tomate aos seus pés. Também continha um pacote embrulhado com um pequeno bilhete. 

Sasuke agarrou o suco, sentindo uma imensa sede lhe invadir ao lamber seus lábios secos. Bebeu todo o líquido, satisfeito, considerando se deveria ter bebido aquilo (seu médico o mataria?) e então finalmente foi dar atenção ao presente. Abriu-o, com cuidado, e sorriu ao ver que era uma outra caixinha dentro. Abriu a terceira coisa naquele dia, assustando-se ao ver que era um colar cinzento com um pingente de lua.

Agarrou o bilhete, sentindo um estranho temor em descobrir o que continha naquela pequena folha de papel.

Querido Sasuke,

Espero que você já tenha acordado. Já estou morrendo de saudades, teme. Se você estiver lendo isso, acho que é seu aniversário. Ou já passou. Estou sem noção nenhuma do tempo porque só penso em quando você vai acordar, desculpe. Feliz aniversário, de qualquer forma. 

Tem uma troca de roupas para você na caixa. Espero que tenha gostado do seu presente... Sei que não é nada demais, só que você sempre está olhando para a lua. Acho que ela faz parte de você. Assim como o sol, de mim. Engraçado, não?

Com amor,

Uzumaki Naruto.”

Releu aquela pequena nota tantas vezes que sentia-se tonto quando resolvera parar e se limpar para poder usar as vestes que o namorado havia lhe reservado. Não sabia o que dizer. Mesmo com todos aqueles dias pensando que o loiro talvez o odiasse, Sasuke percebera que ainda era alguém que valia a pena para ele. Que ainda estava tentando.

Quando saiu do banho, já vestido e limpo, Sasuke pensou em dar uma olhada em seu reflexo no espelho do banheiro, porém não pôde. A fumaça do banho quente havia tomado todo o vidro e, considerando a sua visão ainda desestabilizada, nem adiantaria passar a mão. Ainda não enxergaria. Decidiu esperar a fumaça dissipar para poder ver o estrago em seu rosto.

Quando voltou para o quarto, seu coração falhou uma batida ao ver uma certa figura próxima a sua cama.

Tal figura era um pouco mais baixa que ele, tinha os cabelos desengrenhados e um rosto cansado. Suas roupas eram escuras, deixando claro que não lhe pertenciam, pois ele gostava apenas de roupas mais claras. Seus tênis estavam sujos e seu sorriso parecia fraco. Mas nada disso atraía a atenção do mais velho no momento, por mais que estes fatores o preocupassem.

Pois Naruto estava com um dos olhos enfaixados.

O loiro se aproximou, fazendo com que Sasuke percebesse que ainda estava na saída do banheiro por vários minutos, já que a fumaça ainda parado de flutuar ao seu redor. Sentiu seu corpo tremer por inteiro ao lembrar que o espelho estava às suas costas.

— Por que você está com um curativo no rosto, Naruto?

Em resposta, o loiro apenas sorriu de leve e o tocou no ombro, indicando o reflexo dos dois no espelho detrás de si. Relutante, o Uchiha virou-se. A fumaça sumia do vidro, revelando a íris de cor safira o encarando de volta. A mesma safira que brilhava no único olho de Naruto visível.

Lágrimas invadiram os olhos do mais velho sem que ele percebesse e o mesmo desviou o olhar para o namorado sorridente à sua frente. Não era um sorriso debochado, longe disso. Era apenas um sorriso com os lábios, satisfeito. Como se nada fosse melhor do que doar seu próprio olho ao namorado.

— Você... Você é idiota? — por mais que estivesse tentando ofendê-lo, a voz do moreno tremeu e quebrou de uma só vez enquanto as lágrimas caiam de seu rosto, de queixo.

O loirinho se aproximou e Sasuke pôde ver um brilho vir do pescoço do jovem. Era um colar idêntico, exceto pelo pingente, que era um sol. Ele tentou não sorrir diante daquela coisa melosa. Estava pensando na mesma coisa que ele, poucos dias atrás. Poderia rir se não fosse uma situação tão trágica.

— Você ainda não entendeu, Sasuke? — perguntou, fazendo o outro negar — Nós completamos um ao outro agora.

Ele sorriu levemente, próximo o bastante agora para que pudesse juntar os pingentes. A lua tinha espaço para que a esfera do sol se encaixasse, formando um círculo diferente e bonito. Sasuke ergueu os olhos lacrimejantes dos colares para o único olho exposto do amante.

— Mas... — tentou retrucar — Isso é estupidez, sabia? Você não...

— Amar meio que já é uma estupidez, Sasuke. – afirmou o loiro, acariciando a bochecha do mais velho — Mas isso nunca vai me impedir de amar você.

E tomou-lhe os lábios com os seus em um ato apaixonado. O Uchiha não teve escolha a não ser se entregar também, sentindo o sabor de suas próprias lágrimas meio ao beijo, sabendo que aquele deveria ser o sabor da dor, do amor e da vida. De ter um propósito. De ter alguém ao lado. De ter Naruto como parte dele pelo resto de sua vida, seja no sentido físico ou não. Sabia então que amar é ser capaz de diversos tipos de estupidez... e ainda ter orgulho disto.

Sasuke se considerava estúpido por nunca ter notado tamanha profundidade antes. Por nunca ter dito mais. Por nunca ter tentado enxergar mais dos dois. 

Retribuiu o beijo com a mesma intensidade de paixão, tentando transmitir toda sua insegurança em falhar diante daquele ato. A reação do companheiro fez com que Naruto sorrisse entre o beijo.

— Feliz aniversário, teme. — desejou ele com um sorriso.

Sasuke agradeceu, tanto ao olho quanto ao desejo carinhoso que recebera. E então notou que não havia retribuído o presente para o amado ainda. Provavelmente se sentiria em débito com ele por toda a vida, mas, surpreendente, não tinha pressa em pagar-lhe. Queria aproveitar cada momeno ao seu lado, pagando em parcelas, com juros e por toda a eternidade, com todo seu ser. Jamais seria tão grato por qualquer coisa. Apenas... Sentiu-se tão sortudo por tê-lo ali.

Então, incapaz de dizer mais, sorriu e disse:

— Eu também te amo, dobe.


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Notas finais do capítulo

eu sei que esse tipo de transplante não funciona assim mas a fan art era nessa vibe, então vamos fingir que é num futuro não tão avançado ou sei lá! mil possibilidades, né?

[capítulo editado às 00h38, dia 09/03/2021]



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