Estava ainda em frente ao espelho, ajeitando o vestido preto que eu havia escolhido usar essa noite. Tony havia me acordado há algum tempo atrás e me chamado para jantar com ele, na mansão mesmo, e eu achei a ideia divertida, o dia tinha sido muito relaxante, e terminaria de uma maneira legal.

Nós não iríamos sair, mesmo assim, eu gostava de me arrumar, por isso tinha escolhido usar um vestido mais bonito, todavia, sem nada de maquiagem ou salto alto, o que era um alívio para as minhas pernas que tinham trabalhado muitas horas hoje.

Quando já estava pronta, decente e vestida, sai do quarto e fui em direção à sala de jantar. Passei pela sala e pela cozinha e estava tudo silencioso, nem sinal de Tony. Continuei andando e cheguei a sala de jantar.

E ela estava completamente linda.

A mesa de vidro estava coberta por uma toalha branca de seda, pelo que parecia, como a mesa era grande de comprimento, os pratos haviam ficado um de frente para o outro, as luzes estavam mais fracas, e alguns castiçais haviam sido espalhados pela mesa. Era encantador.

– Gostou? – Tony entrou no cômodo dando um leve sorriso de canto.

– Adorei. – sorri para ele também. Fiquei muito mais feliz de ter escolhido vir com um vestido melhorzinho, já que Tony havia feito toda aquela arrumação, ou mandado alguém fazer, o que dava no mesmo, e ainda vestia uma linda camisa azul marinha e uma calça preta.

– Pode sentar. – Tony puxou um das cadeiras e fez um sinal com sua mão para que eu me sentasse, sorri e sentei, o vendo ir do outro lado e se sentar também.

– O que vamos comer? – perguntei após tomar um longo gole do vinho que havia na taça ao meu lado.

– A refeição perfeita. – respondeu ajeitando seu guardanapo, fiquei esperando que ele conclui-se a frase, todavia, era Tony Stark, iria ficar enrolando, revirei os olhos, mesmo assim continuei com seu joguinho.

– Que seria...?

– Lasanha. – sorriu, enquanto duas pessoas, um homem e uma mulher, apareceram na sala de jantar.

A mulher carregava uma bandeja com vinho e água, e tratou de encher as nossas duas taças, o homem carregava a comida, e serviu um pedaço de lasanha para cada um. Tão rápido quanto entraram, saíram, deixando eu e Tony a sós novamente.

Não tardei em dar uma bela garfada na lasanha fumegante que haviam deixado em meu prato, mesmo estando quente, ela estava ótima, podia sentir o queijo derretido por toda a extensão da minha boca.

– Isso está incrível, ser rico traz mais coisas boas do que eu imaginava. – comento tomando um gole de água.

– Que bom que gostou, mesmo você sendo fã de comida, estava meio inseguro devido a sua personalidade “fazida”. – paro de comer e arqueio uma das minhas sobrancelhas.

– Minha personalidade “fazida”? Sinto informar, mas você não esta falando com o seu espelho não.

– Posso ver pela grande diferença de beleza.

– Nunca se viu tão bonito, não é mesmo?!

– Se você diz. – sorrio da sua cara de desinteresse forçado.

– Mas então, como vai a sua fortuna?

– Bem de saúde, e o seu treino? – Tony pergunta seguindo meu exemplo e comendo a lasanha.

– Muito bem, logo terei meu corpo de volta ao seu estado natural.

– Posso testa-lo se você quiser. – sorri malicioso.

– há há. – reviro os meus olhos, mesmo assim, dou uma risada de sua cara.

Termino de comer minha lasanha e repito, é claro, não será todo dia que terei essa divina comida aqui, precisava aproveitar. Pensando bem, se eu pedisse que tivesse essa comida todos os dias, muito provavelmente Tony daria um jeito de isso se realizar, mas isso seria muito ridículo.

Depois de dois grandes pedaços de lasanha, sentia meu vestido quase se apertando de tanta comida que eu havia ingerido.

– Pronta para a sobremesa? – Tony pergunta sorridente. As duas pessoas de antes haviam voltado, uma delas recolheu as louças sujas e a outra depositou na mesa duas taças de sorvete de napolitano.

– Adoro sorvete de napolitano. – comento deixando um largo sorriso tomar conta do meu rosto.

– Sei disso. – e eu sabia que Tony sabia disso, afinal, nós éramos casados.

– Podemos comer na sacada? – pergunto olhando esperançosa para Stark.

– Se você quer. – responde já levantando e pegando sua taça de sorvete.

Sigo ele alegre pela casa, segurando minha taça de sorvete, até a sacada. Chegamos e as portas já estavam abertas, Tony dá passagem para que eu entre primeiro, e eu o faço, sentindo um vento frio arrepiar completamente minha pele, já que o meu vestido era sem manga e curto.

Apoio meu corpo no parapeito da sacada e me permito respirar o ar gélido da noite e apreciar a paisagem. Tony fica do meu lado, e por alguns minutos, apenas o barulho das colheres tocando as taças de sorvete é ouvido.

Quando terminamos, deixamos a louça em uma das pequenas mesas que havia por lá, aproveitando para nos apoiarmos melhor na sacada, lado a lado.

– Mais nada a declarar sobre esse universo? – questiono ainda encarando o céu que estava com poucas estrelas.

– Universo?

– É, esse universo alternativo onde estamos, com nós dois casados e tal.

– Bom, acho que não tem muita coisa para se falar, já contei tudo de importante. – comenta olhando o céu junto a mim.

– Você me contou um pouco da nossa vida, de como eu virei imprestável e que você não gosta das minhas missões, nada mais, até sobre Maria e Steve eu tive que descobrir sozinha.

– Na verdade, eu que fiz com que eles viessem até aqui, então fui eu o tempo todo.

– Bem menos, Stark. – reviro meus olhos.

– Você venceu, de quem quer saber primeiro? – Stark pergunta me encarando. Demoro um pouco a pensar, mas já sei de quem estou mais curiosa.

– O que ocorreu com o Clint nesses últimos anos?

. . .

Fazia algumas horas que eu e Tony estávamos sentados na sacada conversando. Descobri que Clint havia ficado extremamente surpreso e receoso no começo do meu relacionamento com Tony, mas que depois havia aceitado a ideia, ficando muito feliz por me ver bem e com alguém.

Com Steve e Bruce ocorreu a mesma coisa, surpresa e depois congratulações, o que era aceitável, já que meu noivo não era uma pessoa muito convencional. Porém, eu também não era.

Fora isso, nada de tão surpreendente, Bruce continuava com seus estudos e afastados, e Steve tentava um relacionamento com Hill. Fury reergueu a S.H.I.E.L.D aos poucos, mesmo assim, ela ainda continuava na penumbra.

Agora, eu e Tony nos encontrávamos em total silêncio, apenas o barulho calmo do vento podia ser ouvido. Alguns ruídos de animais também. Mas o silêncio não me incomodava, já que meus pensamentos roubavam toda a minha atenção.

Depois de tudo o que ouvi, eu de fato havia sido convencida de que ficar com Tony era sim uma coisa boa.

Por tudo o que eu vi até agora, nós éramos felizes, compatíveis, duas pessoas que não eram boas em relacionamento, mas que estranhamente davam certo junto.

Clint aprovara, Steve aprovara. Eu tinha uma vida muito mais normal e aconchegante nesse universo, isso era indiscutível. Mesmo em alguns momentos tudo soando entediante e meio decepcionante, eu tinha treinos se quisesse, algumas missões e um marido.

Eu não estava a fim de entrar na linda de raciocínio de um universo alternativo onde eu estava, pois isso era demais para minha capacidade, então apenas me permiti pensar na escolha que eu tinha em minha frente:

Ficar com Tony ou não ficar com Tony.

Não era importante se no outro dia eu acordaria deitada em minha outra cama, brigando com Stark.

Mas será que eu tinha sentimentos por Tony?

Nunca me dei muita chance de aproveitar relacionamentos, na verdade, nem queria. Minha vida como espiã podia ser bem solitária às vezes, mas eu gostava do meu trabalho, e não iria trocar por uma família.

Todavia, nesse caso, eu não iria precisar, já que meu marido era um Super-Herói.

No fundo mesmo, eu não podia negar, eu sentia alguns... sentimentos por Tony. Achava ele bem charmoso, e apesar de ser irritante, ele conseguia ser agradável e bem legal quando queria.

– Uma ilha pelos seus pensamentos. – Tony fala se virando para mim, encaro ele também.

– Tentador, Stark. – sorrio e vejo Tony se aproximar mais.

– Posso deixar você nomear a ilha como quiser. – acompanho seu sorriso malicioso com um sorriso, brincar com um bilionário podia ser bem engraçado.

O espaço entre nós estava diminuindo, mas eu não estava pensando em um beijo, até receber um de Stark. Ele colou nossos lábios e eu recuei surpresa.

– O que você está fazendo? – falo pausadamente voltando a encarar seus olhos.

– Acho que é bem óbvio o que eu estava fazendo, Natasha. – responde um pouco sem paciência.

– Então, por favor, pode devolver essa intimidade que eu não te dei? – Tony revira os olhos e se afasta do parapeito da sacada.

– Você parecia bem à vontade há alguns minutos atrás.

– E eu estava, até você me beijar! – desencosto-me da sacada também.

– Você não entende ou só se faz? – grita fazendo com que eu dê um pequeno pulo de susto. Não era muito comum nós gritarmos um com o outro, principalmente depois de tudo o que houve.

– Pode me explicar o que eu não entendo?

– Isso. Nós. – diz apontando para nós dois. – Eu era casado e feliz com você, até tudo desandar. Não acha que eu sinto a sua falta, ou a falta da outra Natasha? – seu tom era tão indignado que me senti obrigada a desviar o olhar. – Eu não passava nem um dia direito sem beijar você, e agora sou obrigado a ter que dividir o quarto com os travesseiros.

Era frustrante que Stark tivesse razão, mas eu não havia pensado no seu lado, estava muito ocupada refletindo sobre o meu próprio futuro. O que nem era tão egoísta assim, já que eu também estava enfrentando uma barra.

– Olha, me desculpe se estar em um universo totalmente estranho e sem sentido para mim, é muita coisa para se preocupar. – solto tudo levantando mais minha voz.

– Eu estou disposto a sempre ajudar você, eu sempre estive aqui, sempre falei tudo o queria e sempre pensei no melhor para você, que tal olhar um pouco ao seu redor e tentar retribuir ou pelo menos entender os outros. – Tony para seus gritos e olha para baixo, parecia desolado, o que fez algo dentro de mim se partir. – Sinto saudade.

Nossos olhares se cruzaram novamente, e eu pude enxergar que ele falava a verdade, em cada uma das suas palavras.

Ele sentia falta da sua esposa, ele a amava. Podia ser uma novidade para mim, mas para ele era real, era a vida que Tony havia escolhido.

Nesse instante eu podia sentir a sua dor e a sua saudade.

Fui me aproximando com passos lentos em sua direção, talvez tomando coragem ou refletindo se era o certo a fazer, todavia, eu tinha certeza que era o certo a se fazer.

Iria matar dois coelhos com uma cajadada só, a saudade de Tony e a minha dúvida.

Aproxime-me o suficiente para sentir a respiração descompassada de Tony atingir meu rosto. É agora ou nunca. Fecho meus olhos e acabo com a distância que existia entre nós, selando nossos lábios.

Tony não hesita ou reluta em nenhum momento, pelo contrário, ele agarra minha cintura e aprofunda o beijo, pedindo passagem com a língua, que eu concedo.

Sinto dois extremos de temperatura, uma fria, que começa desde os meus pés descalços sobre o piso frio até minha pele arrepiada com o vento gelado, e outra quente, concentrada em meu rosto.

O beijo foi de calmo há um pouco mais urgente, e eu estava gostando, não queria parar, mas sentia que devia, aquilo era o máximo que eu podia avançar naquela hora.

Separo nossos lábios e não olho para Tony, apenas viro de costas e saio de lá, em direção ao meu quarto.

Stark não tenta me impedir, fica preso aos seus pensamentos também.

Foi subindo as escadas que a ficha havia caído.

– Eu beijei Tony Stark... – murmuro parando no meio do escuro para digerir a informação.