Não soube? Eu sou louco como um chapeleiro

—Chris Hatter

...

..

.

—Eu to parecendo...

—Uma garota?

—A Audrey!

—Tem razão... Veste isso!

—Eu não vou vestir isso!

—Anda logo.

—Tá muito... Apertado...

—Pare de bobagens, está ótimo. Agora... A gente precisa arrumar um suéter pra você.

—Um o que?

—SUÉTER!

—Se eu usar um suéter agora, o que eu vou usar quando ficar frio?

—As garotas de Auradon são exageradas. Para de reclamar e prova esses.

—Mas é rosa!

—VAI!

—Por que eu fui me meter nessa?

—Nem me pergunte, foi você quem bateu na minha porta. E anda logo, nós temos hora no salão lembra.

—Odeio você.

—Eu sei.

...

—E, como eu ia dizendo, uma certa melhor amiga foi mandada pra escanteio – foi a deixa de Queenie, que havia sumido antes da irmã voltar os olhos para ela. Evie revirou os olhos e se voltou para onde antes estava Mal, e agora estava uma multidão enlouquecida.

—Isso é alguma das magias da Mal que deu errado, ou nós fomos mesmo mágicamentes transportados de volta a sexta série? – perguntou Jay, se aproximando dela junto com Carlos.

—Não, ela não era “popular” na sexta série – falou Carlos, pegando uma foto de Mal loira e com aparelho e mostrando aos outros.

—Onde vocês conseguiram isso? – perguntou Evie, confusa, pegando a foto.

—Er... Por ai – sorriu Jay, puxando o outro para longe de Evie e tirando a foto de suas mãos.

...

—Holla Chicos! – sorriu Carmim, sentando-se entre Hannah e Christian na mesa.

—Essa loucura é coisa sua não é? – perguntou Hannah, apontando para Mal com a cabeça.

—Talvez – Carmim deu os ombros, enrolando uma mecha do cabelo para trás da orelha. - Não ficou bom?

—Desde quando você e a Mal são amigas? – Gart riu sem se conter, claramente adorando a situação – Não me diga que está virando uma manteiga derretida Copas... Essa estadia em Auradon não está lhe fazendo nada bem.

—Há há, muito engraçado – a outra franziu a testa – A garota apareceu praticamente de madrugada na minha porta pedindo ajuda... Eu fiquei com pena dela!

—Ela devia estar mesmo muito desesperada – falou Alison, no canto da mesa contrário a Christian, mordiscando um morando de cima de uma fatia intocada de torta – Pra pedir ajuda pra você.

—E não era de madrugada – falou Hugo, parecendo claramente entediado com toda a situação.

—Detalhes – Carmim deu os ombros – De que é essa torta?

—Cereja – falou Gart, presunçoso – Mas já acabou, você está um pouco atrasada Copas.

—Ah, não seja por isso – ela puxou o prato de Alison em um movimento tão rápido quanto o possível.

—Devolve – grunhiu a loira, ficando de pé. Carmim subiu no banco, se inclinando para frente e deixando o prato em cima da cabeça de Alison.

—Pega – sorriu a ruiva, balançando o prato.

—Você é ridícula! – gritou a outra, pulando para pegar o prato, sem sucesso.

—E você, é uma megera mimada como sua mãe, mas eu não fico espelhando isso por ai... Ops – Carmim arregalou os olhos e abriu a boca, como se estivesse deixado escapar algo – Além de ser uma anã, igualzinha a ela...

—E você é gorda, igual a sua! – gritou Alison.

—Você não conhece nenhum xingamento, além de chamar os outros de gordo? – Carmim ergueu uma sobrancelha, e então virou o prato deixando a torta sujar o cabelo de Alison – Pode ficar com a torta. Combina com seu tom de pele.

Carmim desceu do banco com um pulo, saindo do refeitório gargalhando como uma louca.

...

Mal nunca havia recebido tanta atenção na vida. Nem mesmo nos primeiros dias em Auradon, quando ela ainda era a filha da Malévola apenas. Por que agora todos sabiam quem ela era. E todos queriam ser os primeiros a registrar aquele momento. Ela queria empurrar todos para longe para poder se sentar e – finalmente – almoçar em paz, mas em vez disso se forçou a seguir os conselhos de Carmim e sorrir e aceitar tirar todas as fotos, com cada um dos alunos que se aproximavam.

Ser simpática era realmente uma coisa exaustiva, ela pensou, quando teve que seguir para a aula com Jane de estomago vazio assim que o sinal tocou.

...

Ben queria ter chegado a Auradon Prep a tempo de almoçar com Mal, para poderem conversar com calma sobre o jantar com seus pais, e que sua mãe queria falar com ela, e sobre O assunto... Mas ele estava ocupado até o último fio de cabelo, com a fuga de Malévola, o reino estava em alerta máximo, e a guarda estava com munição para uma guerra diariamente.

Mas por fim, após o rei Charming cancelar a reunião daquela tarde – depois de deixa-lo três horas esperando, é claro. Não podia-se negar que ele e Chad eram pai e filho – ele finalmente chegará a Auradon Prep antes do fim da aula de Mal.

—Muito bem meninas, podem guardar seus materiais e irem. Lembrem-se do dever de casa, como desfazer o efeito de uma poção do amor – falou a voz da Fada Madrinha, enquanto ele se aproximava da sala. Ele riu, Mal não precisaria se esforçar nisso – O amor verdadeiro não pode vir de frascos meninas, apenas do sentimento puro de seus corações.

Ele bateu na porta, abrindo-a, mas só havia Jane e uma garota loira sentadas guardando suas coisas.

—Olá Jane, e... Amiga da Jane – sorriu ele – A Mal já foi?

Jane olhou para ele confusa, e então para a loira, e ambas caíram na gargalhada. Ben reconheceria aquela gargalhada em qualquer lugar.

—Mal? Mal? – ele arregalou os olhos, se aproximando. Ela tinha os olhos e o sorriso de Mal, e as mesmas maçãs do rosto, as mesmas sobrancelhas, até mesmo o mesmo ângulo do pescoço, mas – Por que você está vestida como a Audrey? Não me diz que esse foi outro feitiço que deu errado...

—Por que todo mundo pensa a mesma coisa? Mas feitiços não dão errado! – grunhiu ela, se levantando – E você é a quinta pessoa que chega a essa conclusão, a propósito.

—Terceira – falou a fada madrinha levantando a mão, enquanto organizava suas coisas em frente a sala.

—Quarta – Jane concordou, saindo da sala.

—A gente pode conversar lá fora? – perguntou Mal, enquanto o outro concordava, e eles seguiam até o corredor – Ficou tão ruim assim?

—Não... Não. Quer dizer, você sabe que fica linda de qualquer eito – ele sorriu – É claro que, seria interessante se você tivesse me dito antes... Foi realmente uma surpresa daquelas!

—Foi... De última hora – falou Mal por fim, nervosa – Carmim me arrastou, e...

—Carmim? Carmim d’Copas? Achei que se odiassem!

—Foi... Falta de opção – ela deu os ombros – A coisa toda é, que Carmim estava tentando me irritar, mas ela falou uma ou duas coisas que faziam sentido, e eu acabei fazendo – ela apontou para si mesma – Isso.

—E que coisas são essas? – Ben perguntou – Sabe, que Carmim falou, e que faziam sentido?

—Que... Que eu não poderia convencer a todos que eu não ajudei minha mãe, se eu ainda parecia a garota da ilha. – Mal explicou – Bem, não com essas palavras, mas na verdade ela basicamente jogou na minha cara que eu me importava demais com o povo de Auradon.

—Bem, você será a rainha deles – ele sorriu, a beijando – Não tem nada de errado em se importar! Só não quero que mude por causa de algo passageiro.

—Ainda sou eu, Ben... Com umas roupas sem graça, e um cabelo diferente – ela sorriu – Sua mãe falou que as vezes rainhas tem que fazer sacrifícios pelo povo. Se isso for ajudar a deixar as pessoas mais confiantes, quero fazer isso. Por eles. Por nós.

—Sabe que por mim você pode tatuar toda a cara, que não teria importância, não é? – ele perguntou, e ela assentiu – Eu te amo.

—Eu te amo – ela repetiu, apertando com força a mão dele – e então, o que está fazendo aqui?

—Ah, é... Minha mãe, ela quer falar com você... Saber como você está sobre o acontecido, e tudo mais... E discutir sobre o casamento... Ela e meu pai querem saber se você não quer ir jantar no castelo amanhã, e conversar com minha mãe antes do jantar – ele falou.

—Ah, certo... Quer dizer, acho que vai ser bom.

—Bem...

—Bem... Tem mais alguma coisa, não é?

—Sábado, o conselho vai se reunir de novo – falou ele por fim – Desta vez, algumas, hã, testemunhas, foram convocadas... Você é uma delas.

—Mas que... Arg. – ela gemeu.

—Eu vou estar lá, eles só querem saber algumas coisas sem muita importância... Todos da Ilha foram chamados, mas como você já deve saber...

—Todos os olhos estarão em mim – ela suspirou – Eu sei, eu sei. Só eu que acho que seria muito mais útil procurarem minha mãe ao invés de perde tempo nisso?

—O conselho tem que acreditar que é importante, eu acho – ele deu os ombros – Nos vemos amanhã, as cinco?

—Cinco e meia, eu combinei de ajudar Evie num projeto, e ela deve estar possessa comigo – suspirou Mal novamente – Você já tem que ir?

—Tenho que pegar o relatório dos alunos com Jay e Carlos e depois sim – ele suspirou – Vamos ter mais tempo logo, é só que... Bem, as coisas estão corridas.

—Eu sei, eu sei – ela o beijou – Nos vemos amanhã, Majestade.

—Não começa – riu Ben, se afastando.

Todos os alunos da Ilha dos Perdidos haviam sido chamados pra depor. Mal engoliu em seco. Ela tinha que falar com Carmim.

...

—Achei que estaria aqui – Carmim se virou para trás, onde Christian chegava ao terraço ofegando um pouco – Você pretende voltar para a aula algum dia?

—Todos merecem um dia de folga – ela deu os ombros, descendo do parapeito.

—Você lembra que não teve aula ontem, certo? – ele perguntou, erguendo uma sobrancelha.

—Sei, sei... – ela deu os ombros, e arrumou a gravata dele – E você? O que o sr. certinho está fazendo fora da aula?

—Eu não sou certinho – ele franziu a testa, e entregou um embrulho pra ela – E vim te trazer isso, mal agradecida.

—Bolo! – Carmim sorriu, colocando um pedaço na boca – Por que isso?

—Você comeu algo hoje? – perguntou ele, e ela negou – Foi o que pensei. Come.

—Valeu – ela sorriu, comendo um grande pedaço enquanto sentava de volta no parapeito – Uma coisa, eu sou obrigada a admitir, os doces de Auradon são muito melhores que os da.... Ah!

O Cetro das maravilhas preso dentro da saia da ruiva soltou, quase caindo. Ela se jogou para trás, segurando ele e no processo perdendo o equilíbrio.

—Carmim! – gritou Chris, pulando até ela e a segurando– Peguei.

Chris não esperava aquele resultado, mas Carmim apertou as pernas em volta de sua cintura, como se tivesse medo de cair de novo. Ele a abraçou, deixando ela repousar a cabeça em seu ombro. Primeiro, a respiração dela estava ofegante, batendo e então, quando ela se acalmou, algo quente tocou seu pescoço. Uma lágrima. Carmim chorava, afinal. E quando uma segunda lágrima bateu contra a pele dele, o céu ficou escuro e a tempestade começou.

—Essa não – falou Carmim, se afastando. Ele deu um paço para trás, olhando para o objeto nas mãos da garota – Droga, droga, droga... 

—O Cetro das Maravilhas – Chris exclamou – Você...

—É, eu – ela falou, olhando para ele em um misto completamente confuso de agradecimento, fúria e medo – Você não pode contar isso pra ninguém!

—Tudo bem – ele sorriu – Sou bom em guardar segredos. Agora... Dá pra parar com isso?

—Ah, certo – ela respirou fundo, fechando os olhos – Copas...

E então a chuva havia parado.

—Isso é... Uau – ele arregalou os olhos para o céu azul, ambos estavam completamente secos – Então, foi assim que você transformou o cabelo da Alison?

—Não fui eu que... Ah, quer saber? Dane-se – ela deu os ombros – Foi, foi sim.

—O que mais você pode fazer? – ele perguntou.

—Qualquer coisa, eu acho – ela respondeu, ainda desconfiada – Geralmente eu só uso pra trocar de roupa e mudar a decoração do meu quarto.

—Então, Lady C...

—Não sou eu, eu juro – ela falou – Mas, não posso dizer quem é.

—Então você sabe! – ele acusou.

—Sim – ela assentiu, e depois olhou para o cetro – Não vai contar a ninguém, vai? Eles o tomariam de mim se soubesse... E eu... Não teria nada da minha mãe...

—Pode confiar em mim, ninguém acreditaria se eu contasse – ele sorriu.

—Por que não? - ela perguntou, a voz não mais ata que um sussurro. O céu começou a escurecer em cima deles, como se o sol fosse se por.

—Não soube? Eu sou louco como um chapeleiro - ele brincou, e embaixo deles na escola um sinal bateu – Tenho que ir para aula... Você vem comigo, ou...?

—Acho que vou voltar para o meu quarto – Ela deu os ombros, então deu um passo em direção dele e pegou sua mão - Obrigada por salvar minha vida. 

—Eu... - ele não sabia o que dizer, de repente se sentiu confuso. Talvez pelo fato do rosto dela estar tão perto do dele , ou da sua voz soar tão sincera, ou ainda do fato de Carmim quase nunca demonstrar afeto por ninguém.

Ela se afastou então, passando por ele e descendo as escadas.

Chris levou a mão ao peito. Nunca havia sentido seu coração bater tão rápido antes.