Beard, tea and tobacco. escrita por Enoaies


Capítulo 5
Only if necessary


Notas iniciais do capítulo

Quinto capitulo. Espero que gostem, e já estejam se acostumando ao clima de Leesburg. Charles Ocean.



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Leesburg, Virginia – 18 de Setembro.

Nunca imaginara que fosse ser tão difícil voltar para Leesburg. Não digo apenas estar nela, ou sair de outro lugar, outro país para voltar. Mas me refiro a tentar fortalecer as antigas raízes, como voltar a ensinar e ajudar minha mãe com as tarefas de casa. Nunca imaginei que toda minha dificuldade aqui fosse girar em torno de uma escola, de um corpo docente complicado e um diretor ainda pior. Em geral as coisas só pareciam melhorar depois das quatro da tarde, hora em que eu dirigia de volta para casa.

Infelizmente as horas daquela semana pareciam rastejar e tornar todo aquele trabalho, ainda mais torturante no meu ponto de vista. E a manhã de 18 de setembro não era diferente. Eu estava na sala dos professores, junto a Honora Shea e Sr.Criswell, que lia um de seus jornais e anotava algumas palavras erradas. Eu sentado ao canto da sala, bebia de uma garrafa de água, e lia um de meus livros preferidos.

–O que fez com o suéter Sr.Oceano? –indagou Honora, que insistia em me chamar daquela maneira desde meu primeiro dia.

–Coloquei para lavar. – respondi com um tom frio, sem tirar os olhos do livro.

–Todos eles? – servia-se de uma caneca de café.

–Sim. – virei a pagina. – todos eles. – conclui. Ela não fez mais perguntas, sentando-se em uma cadeira do lado contrario ao de Sr.Criswell, que parecia distante do que acontecia naquela sala.

–Preciso ir. –Honora se levantou, encostando a cadeira junto à mesa. – o caminho até minha próxima sala um tanto longo. – passou a mão na lista de chamada. – até logo Sr.Oceano. – respondi-a limpando a garganta. – Sr.Criswell. – despediu-se, indo até o lado de fora. A sala ficou quieta por um instante, o cheiro de café corria pelo piso e saltava a nossos narizes. O barulho das folhas se amassando ao toque, se sobressaia ao som da respiração ritmada de ambos os professores ali.

–Teve uma briga com Geoffrey, não teve? –Sr.Criswell indagou ainda olhando o jornal.

–Não diria que foi uma briga. – olhei-o por cima das paginas envelhecidas do livro. – ele apenas me disse algumas coisas, nada mais do que isso. – me ajeitei na cadeira. – como sabe?

–O suéter. – apontou com a caneta. – não veio com ele.

–Estavam sujos. – comprimi os lábios.

–Todos eles? – olhou-me de maneira questionadora. – ou apenas alguns?

–Todos eles. – respondi meio evasivo.

–Certo. – voltou os olhos para o jornal. – mas não acho que esse seria um bom motivo para trocá-los por um casaco qualquer.

–O que vê de errado em meu casaco?

–Nada Sr.Ocean. – anotou mais um erro do jornal em seu bloco de notas. – e talvez esse seja o problema. – bebeu um gole de café. Sr.Moosen chegou alguns minutos depois, pedindo para que eu fosse até sua sala, o que só fez com que tudo parecesse mais desconcertante depois do que fizera no dia anterior. Do mesmo modo fiz.

–Poderia fechar a porta? – sentou-se na cadeira ao outro lado.

–Por que fui chamado? Algo errado?

–Não, de jeito algum. – fez um sinal para que me sentasse.

–Então? – soei ríspido.

–Gostaria de perguntar-lhe se conhece uma senhora chamada Trudie Olen?

–Sim, claro. Ela é minha mãe. Por quê? – indaguei.

–Porque hoje está senhora ligou para cá, justamente para chamar-me de. –fez uma pausa e buscou na gaveta um bloco de notas. – tirano egoísta e filho de uma mãe.

–Bem, eu. – interrompeu-me

–Depois disso, disse que deveria ser expulso de meu cargo como diretor, porque minha capacidade para reger a escola, seria a mesma capacidade de um asno em resolver uma conta envolvendo uma raiz quadrada. – fez uma pausa, passando os dedos pela barba castanha ruivo. – e depois de tudo isso desligou na minha cara. – deu um suspiro, parecendo sem palavras para aquele momento. – o que acha disso? – fiquei quieto. –Sr.Ocean? – chamou-me de maneira calma, fora de seu tom raivoso. –o que deveria fazer com um professor, cuja mãe liga somente para me insultar? – ficou em silencio, tendo o mesmo como resposta. – muito bem. – suspirou. – só queria que soubesse do ocorrido, e desse um jeito nisso, se estivesse dentro do seu alcance.

–Tudo bem. – disse após um longo silencio, levantando meus olhos até os dele.

–Tudo bem. – retrucou. – pode ir agora. – indicou o fim da conversa. Sai dali esperando não ter de falar com Sr.Moosen por um bom tempo. E esperava que o “conversar somente se necessário”, nunca viesse a acontecer também.

15h30min

No fim do dia todos já tinham sido dispensados. Eu guardava meu par de óculos e procurava pelo casaco, que tinha deixado em um algum lugar por ali. Pouco tempo depois e os outros professores chagaram, indo direto as suas maletas, mochilas e casacos. Estavam acompanhados do Sr.Moosen, que pela segunda vez naquele dia me chamou até sua sala, o que me fez pensar em mil maneiras da minha mãe causar minha demissão. Antes que saísse, Sr.Criswell me chamou na porta, já estava preparado para sair.

–Sr. Ocean. - fez um sinal para que me aproximasse. – alguns professores combinaram de ir a um bar. – ajeitou o casaco em seu antebraço direito. – queria saber se não quer vir conosco.

–Acho que não seria uma boa idéia. – espremi os olhos entortando um pouco a boca.

–Ah vamos lá. –deu um pequeno toque em meu ombro. – não me diga que não precisa de um tempo para beber umas cervejas e descansar.

–Eu não sou de beber.

–No bar em que vamos também servem café e chá gelado. – insistiu. – tome. – abriu a mochila, tirando de lá um pequeno papel riscado. – esse é o endereço. – entregou-me o papel dobrado. – caso mude de idéia. – sal, sendo seguido por Honora e Brian, professor de educação física. Segui até o escritório do diretor.

–Desculpe a demora. – fiquei parado junto à porta.

–Tudo bem. – virou-se para a gaveta e de lá tirou meu casaco. Estava dobrado. – acredito que não poderia sair da escola sem isso. – entregou-me.

–Onde o encontrou? – indaguei.

–Um dos alunos veio até mim esta tarde, e me entregou, dizendo ser do senhor. – explicou. – achei estranho pelo fato de. – se interrompeu. Nós dois sabíamos que ele falaria algo sobre o suéter, mas não o fez. - e pelo jeito ele estava certo.

–Sim. –assenti. – obrigado. – agradeci, deixando a sala. No caminho percebi que assim como o aluno que devolvera o casaco, Sr.Criswell também estava certo. Eu precisava de um tempo e algumas cervejas.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, e não estejam implicando com o cheiro de mel e os suéteres! Deem review sobre o que acharam deste capitulo. E até o próximo!



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