Beard, tea and tobacco. escrita por Enoaies


Capítulo 12
We have to set everything


Notas iniciais do capítulo

Demorei, eu sei. Mas agora estou aqui postando esse capitulo. Espero mesmo que gostem e por favor digam o que acharam.



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Leesburg, Virginia – 02 de Outubro.

“O hábito, esse demônio que devora todos os sentimentos.” É isso que diz em Hamlet, e acho que em meu caso descreveria bem todas minhas incertezas dos últimos tempos. Não sei explicar bem em que momento, mas em algum momento algo além do habito devorava todos os meus sentimentos, e me empurrava para algo tão incerto.

E tudo aquilo parecera se reforçar naquela manhã de sábado. Tristan batera a minha porta, carregava consigo, dois grandes copos da Bean Bar, uma das melhores cafeterias de Leesburg. Logo atrás dele estava Linnea, com uma mochila azul de ginástica e uma garrafa térmica azul. Estava usando os óculos-ressaca de Tristan, que a faziam-na parecer estar no mesmo estado que ele depois de uma noite de bebedeira.

–Não me diga que estava dormindo à uma hora dessas? – entregou-me um dos copos, que derramou o liquido cremoso entre meus dedos, indicador e médio.

–Sabe como demoro a me adaptar as manhãs de final de semana. – disse em lentas piscadelas, bebendo um gole do café com creme, que escorreu pela minha garganta adormecida.

–Não neste fim de semana. – deu um espaço entre seu corpo e a porta, para que Linnea passasse com sua mochila azulada e seus óculos escuros. – não com todos os preparativos a serem feitos. – tirou o outro copo do suporte de papelão, e deu-lhe um rápido gole. – não com todos os convidados já confirmados. – passou pela porta, indo até a bancada de madeira em frente à pequena cozinha, usada somente para fazer chá e almôndegas ao molho. – temos de começar rápido.

–Acho que seria tarde de mais para tentar convencer-lhe de não fazer isso, não é? – fechei a porta.

–Creio que sim. – deu mais um gole na bebida morna. – tarde demais. – limpou um bigode de espuma sobre a boca.

Alguns minutos após terminarmos nossos cafés, começamos todos com os preparativos para algo que Tristan resolveu chamar de “organização para a festa casual de Geoffrey Moosen”, ou apenas “reuniãozinha”, como sugerira Linnea. Ela parecia sonolenta naquela manhã, e emburrada com alguma coisa. Estava quieta em relação a Tristan, e dirigia-se a mim somente quando necessário, e com a palavra “ANIVERSARIANTE” a cada fim de frase.

–Está bem? –indaguei a ela enquanto arrumávamos as almofadas e tirávamos o pó do sofá. – parece um pouco. – procurei uma boa palavra para descrevê-la naquele momento. – cinzenta de óculos escuros. – comprimi os lábios.

–Cinzenta de óculos escuros. – uma pequena linha correu o canto de sua boca, desenhando um pequeno sorriso. – ainda não tinha ouvido esta expressão. – colocou uma das almofadas no canto do sofá sobre outra. – só acho que estou um pouco cansada. – coçou os olhos, colocando os dedos finos por baixo dos óculos. – Tristan fez com que planejássemos a arrumação para a festa. Nada de mais. – deu um suspiro junto a um dar de ombros.

–Não precisava. – comprimi os lábios.

–Eu precisava mesmo de um pouco de café. – suspirou. – e sempre é divertido fazer parte de uma arrumação. Seja ela para uma festa ou para uma reunião casual de amigos. – revirou os olhos.

–Acho que está certa. – assenti.

–Quanto mais conversa menos limpeza. – Tristan gritou do andar superior com seu “melhor” tom de repreensão.

Levamos algum tempo até terminarmos com o chão, a bancada, o pó da estante e os livros espalhados pela casa junto à peça de roupas, a maioria meias e camisetas das quais nem lembrava ter comprado. Em meio a uma pilha de livros, Linnea conseguiu encontrar uma calcinha de renda laranja, junto a um par de meias femininas. Não era difícil de presumir de que aquelas peças pertenciam a May Belle, que deveria tê-las esquecido lá há certo tempo. Linnea apenas a deixou longe dos olhos imaginativos de Tristan. Eu a agradeci com um aceno, ao qual ela retribuiu.

17h19min

Faltavam duas horas antes dos convidados chegarem. Tudo estava pronto, as bebidas, as comidas e os pequenos enfeites de cristal em cima da estante, que segundo Linnea servia para dar sorte. Antes de nos vestirmos adequadamente para a ocasião, decidimos dar uma rápida passada no Leesburg Corner Premium Outlets, que é como uma pequena vila cheia de lojas, restaurantes e coisas do tipo. Fomos até lá na perua de Tristan, que demorou certo tempo até deixar a frente de casa.

–Creio que não seja necessário irmos todos juntos para escolher um bom vinho. – argumentei do banco do passageiro, enquanto olhava pelo retrovisor, Linnea fiando a rua em movimento através da janela suja.

–Preciso de mais opiniões além da minha. – deu um giro no volante para virar à direita. – afinal, não quero reclamações como da ultima vez.

–Ultima vez? – Linnea indagou pelo retrovisor. – não está falando daquela sua “gemada”, está? – franziu o cenho por baixo dos óculos.

–E do que mais estaria falando? – revirou os olhos.

–Me desculpe, mas seria um crime chamar aquilo de gemada. – argumentou.

–Não se refira a minha gemada como aquilo. – defendeu a bebida. – ela só estava um pouco exótica demais.

–Não! Ela só estava com vodka demais. – ajeitou-se no banco. – quais foram as medidas? Dois litros de leite, duas gemas e cinco litros de vodka?

–Tinha leite condensado. – passou rápido por um sinal amarelo. – e uma garrafa de vodka.

–E quantos litros têm em uma garrafa de vodka? Dois litros? – indagou. Tristan não a respondeu. Apenas virou mais três esquinas e parou a perua em uma pequena vaga entre dois carros que deveriam ser daquele ano.

–Chegamos. – desprendeu-se do cinto de segurança um tanto gasto. – precisamos correr, antes que o Vintage 50 Restaurant and Brew Lounge feche. – apressou.

–Vintage 50? – Linnea fitou-o por cima do banco. – aquele restaurante ruim que ficava na 50 Catoctin Circle NE?

–Sim, ele mesmo. Fiquei sabendo que abriram um aqui há algumas semanas. – caminhou até a porta lateral, abrindo-a para que Linnea saísse.

–Não, eles não abriram. – mordeu o lábio inferior. – e o único que tinha na cidade foi fechado há uns dois meses. Até saiu no jornal.

–Não saiu não.

–Não acredito. – Linnea suspirou, massageando as têmporas. – você nos trouxe aqui e nem mesmo sabia disso. – saiu pela porta, indo até o banco do motorista. – entre no carro. – pediu com um tom firme.

–Para onde vamos? – indagou.

–Buscar vinho. – arrumou o retrovisor. – vamos ao Stone Tower Winery. – concluiu.

18h45min

Faltavam agora, quinze minutos antes da chegada dos convidados. Estava inclinado sobre a pequena pilha de discos ao lado da poltrona, tentava decidir qual seria o mais próprio a se tocar em uma reunião. Decidi-me por deixar tudo em silencio até todos chegarem, re-arrumei as badejas com comida e as bebidas algumas vezes até que a primeira pessoa aparecesse.

Fui até a porta, dei-me uma ultima analise e respirei fundo antes de girar a maçaneta. A silhueta feminina apareceu mais claramente a cada vez que a porta se abria. A luz da varanda iluminava os cabelos bem penteados e o vestido que confesso, não era tão apropriado para nada com casual no nome. Os grandes cílios subiam escuros, e os lábios em um tom avermelhado estavam fechados em algo distante de um sorriso. Ela entrou dirigindo-se até um banco junto da bancada.

–May. – sussurrei com certa surpresa. - achei que estivesse ocupada com aquele contrato em Maryland. – fechei a porta.

–E estava. Mas não podia deixar de vir para o seu aniversario. – sorriu um sorriso avermelhado. – não de novo. – ajeitou o cabelo por trás da orelha, virando-se a luz fraca ao canto da cozinha.

–Ah, obrigado por vir. – cheguei próximo da bancada. – sei que tem negócios importantes a resolver.

–Nada que não possa ser adiado. – deslizou os dedos pela superfície de madeira, até chegar a minha mão. – nada que não possa ser adiado por você. – levantou os olhos até os meus. Antes que pudéssemos nos juntar em um beijo ao qual não me lembrava à sensação, a porta tremeu em quatro batidas. Fui até lá na mesma velocidade a qual me dirigira ao balcão. Analisei-me mais uma vez e a abri.

–Tristan. Linnea. – ambos estavam estacionados a minha varanda. Tristan trazia em uma das mãos um galão, e na outra, um pacote embrulhado em papel colorido com um laço vermelho. Linnea estava com um ar mais alegre do que de manhã. Deixara os óculos escuros, e colocara uma coisa mais alegre. – chegaram cedo. – sorri.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, e estejam ansiosos para o próximo capitulo. Se puderem deem review e até o próximo!



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