Os segredos mais bem guardados escrita por magalud


Capítulo 8
Parte Oito




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Capítulo 24 – Engrenagens em movimento

Quando Severo Snape voltou para a cabana, ao anoitecer, Rebeca estava alimentando Ártemis. A garota exigiu ficar no colo do pai o resto da refeição, e Rebeca aquiesceu. Contudo, ela não deixou de perceber o ar preocupado no semblante do marido. Alguma coisa preocupava Severo.

Logo depois do jantar, Ártemis foi escovar os dentes e preparar-se para dormir. Rebeca contou uma historinha trouxa para a filha, com muitos bichinhos na floresta, e observou a pequena logo entregar-se ao sono. Ela fechou a porta do quarto da filha e voltou para sala, onde seu marido estava perto da lareira, lendo um jornal de Poções.

Rebeca pegou sua cestinha de costura e de lá tirou um trabalho que estava fazendo para uma roupinha de Ártemis. A criança reclamava de vestidos, pois queria calças compridas ou shorts para ter liberdade de brincar no mato. Sem dúvida, ela era uma pequena criaturinha da terra, não uma princesinha destinada a usar roupinhas de festa o tempo todo. Rebeca adorava a filha de qualquer modo, e estava reformando alguns vestidinhos que foram presenteados por Molly Weasley.

Naquela hora, porém, ela mal prestava atenção na costura.

– Você parece preocupado, Severo – disse ela – Aconteceu alguma coisa?

– Nada além do normal. Não se preocupe.

Ela sorriu:

– Não me diga isso. Conheço você e alguma coisa está perturbando além do normal, sim. Venha, vamos até a varanda, e você vai me contar tudo.

Por dentro, Severo sentiu um pouco de sua preocupação dissipar-se. Ele sabia que podia contar com o apoio de Rebeca, até para ajudá-lo em coisas que ela nada podia fazer. Só a preocupação dela era suficiente para ele se sentir amado e merecedor de um amor tão profundo quanto o de sua mulher.

Eles foram para a varanda, aproveitar a noite quente, onde poderiam conversar sem temor de acordar Ártemis.

– Então, o que aconteceu?

– Estamos investigando um possível plano do Senhor das Trevas – respondeu Severo pesadamente – E esse plano pode envolver os Primeiros.

Rebeca ficou curiosa:

– Primeiros? Quem são esses?

Ele pareceu surpreender-se:

– Você nunca ouviu falar dos Primeiros?

Ela deu de ombros:

– Se for algo mágico, então, a culpa é da minha família. Como eu sou uma bruxa abortada, eles não acreditavam em falar de coisas com poderes para quem não tinha nenhum poder.

Severo assentiu:

– Bem, poder é a palavra-chave quando se fala dos Primeiros. Eles são criaturas muito antigas, tão antigas que dizem que foram eles que deram a magia aos bruxos. Não têm uma noção apurada de bem e mal, só de poder. Essas noções, aliás, fomos nós, bruxos, quem a fizemos, tempos mais tarde. Os Primeiros são forças incríveis, que vivem numa realidade alternativa. Também se acredita que eles sejam responsáveis pelo equilíbrio das forças mágicas no nosso mundo. Sem eles, a mágica ficaria fora de controle.

– Oh, que curioso. Nunca imaginei em pensar quem tinha dado poderes aos bruxos.

Severo continuou:

– Segundo a lenda, nenhum bruxo pode destruí-los. Eles teriam feito essa regra para se preservar. Uma vez invocados, nenhuma força pode dispersá-los. Em suma, os bruxos são impotentes diante dos Primeiros. Dizem que são Um e Muitos ao mesmo tempo. Presume-se que sejam metamorfos e muito inteligentes.

– Nossa, Severo, parece que não se conhece muito sobre eles. Você fala como se eles fossem lendas.

– Há muitas lendas sobre eles, claro. Mas eles são reais. Os fundadores de Hogwarts os encontraram, foi a última aparição conhecida e a primeira confirmada. Sem querer, os Quatro Grandes de Hogwarts invocaram os Primeiros, e passaram muito trabalho para que eles voltassem a seu lugar.

– Não estou entendendo. Esses Primeiros querem atacar Voldemort?

– Estamos desconfiados que seja o contrário. O Senhor das Trevas pretende usar o poder dos Primeiros.

– E como? Você não disse que nenhum bruxo pode com eles?

– Ele deve ter encontrado alguma forma de atrair ou de manipular o poder deles. Muito provavelmente poderia destruí-los. E com isso, a magia seria uma força caótica dentro do mundo.

Rebeca se impressionou:

– Oh, não, Severo. Que horror!

Ele garantiu:

– Por isso estamos pesquisando tudo que podemos, tentando nos adiantar aos planos dele. Talvez a ameaça esteja longe, porque não é de qualquer lugar que se pode invocar os Primeiros. Hogwarts é um dos únicos locais confirmados. Outras lendas de outros locais mágicos tratam dos Primeiros em seus próprios termos, e talvez sejam indicativos da presença deles: Índia, Japão, Egito, Tibet. Estamos verificando quais dessas lendas ele pode estar se utilizando.

Ela deixou a costura de lado e seus olhos verdes encontraram os dele com um brilho de gentil apreço:

– Vocês vão detê-lo, meu amor. Eu tenho absoluta confiança no trabalho que o Professor Dumbledore, você, tio Artie e todos os que trabalham pela causa do bem estão fazendo na Ordem da Fênix. Eu sei que todos estão fazendo o máximo para deixar um mundo mais seguro para pessoas como Ártemis e eu. Você, especialmente, que corre tantos riscos.

– Esse é meu maior incentivo: tornar o mundo um melhor lugar para vocês viverem.

Rebeca pegou uma mão elegante e alva entre as suas:

– Nós sabemos disso, e temos muito orgulho de você, meu amor. Nunca duvide disso. Nossa confiança em você é inabalável. Vocês nos deixa seguras e calmas.

Severo beijou as mãos de sua mulher:

– Obrigado, querida. Acho que eu precisava ouvir isso.

Rebeca sorriu:

– Pode contar comigo sempre. Eu te amo, Severo.

– E eu amo vocês duas – vocês roubaram meu coração.

Os lábios de Rebeca encontraram os de Severo e uma brisa suave e amena soprou sobre casal. Por muito tempo os dois permaneceram juntos, abraçados no banco e olhando o suave remanso do lago gentil, apenas agradecendo por poder estar um na companhia do outro, seguros e aconchegados.

Afinal, isso não iria durar muito.

– Mestre, eu lhe trago meu relatório.

– E já não era sem tempo, Rabicho. Você esteve fora por mais de uma semana. É melhor que seja bom.

– Melhor impossível, meu senhor. Eu encontrei a garota Gall.

Voldemort ergueu-se de sua cadeira:

– Está maluco? A garota morreu já faz anos.

– Dumbledore de alguma maneira enganou as pessoas para que pensassem justamente isso. E mais: ela tem uma criança e está escondida numa cabana pequena e muito protegida dentro de Hogwarts.

– Escondida dentro da escola?

– Perto do lago, sim, Mestre.

Voldemort estreitou os olhos, em silêncio. Rabicho se encolheu de medo, reconhecendo o sinal de que seu Mestre se tornava perigoso.

Num sinal ainda mais evidente do perigo, ele indagou em voz calma e controlada:

– Como ela escapou de meus Comensais da Morte?

A voz de Rabicho era veneno puro:

– Só se pode especular, meu Mestre. Eu não tenho provas.

– Então especule.

– Severo Snape foi chamado para tentar fazer a garota durar durante a sessão de interrogatório. Ele jura que não conseguiu mantê-la viva. É bem possível que ele tenha conseguido. Mas eu não tenho provas.

Mais uma vez Voldemort ficou alguns minutos num silêncio totalmente tenso, caminhando gravemente pela sala.

– Sim – disse finalmente – É bem possível realmente – ele ergueu a voz, cada vez mais neutra, cada vez mais perigosa – Isso muda tudo. Os ventos da vitória mais uma vez sopram a nosso favor, meu servo, e você será ricamente recompensado pelo que me informou. Agora me deixe. Preciso pôr em movimento as engrenagens do nosso sucesso incontestável.

– Irlanda.

A palavra que Snape pronunciou capturou imediatamente a atenção do diretor de Hogwarts.

– Tem certeza?

– Tanta quanto é possível, naturalmente. Mas os fatos indicam fortemente que esse deve ser o objetivo do Lord das Trevas. E é muito possível que ele tenha razão em seu objetivo.

Alvo Dumbledore disse gravemente:

– Mais do que ele imagina. Uma terra mágica como a Irlanda tem grandes probabilidades de conter o portal que o levo até os Primeiros. Mas ele ainda precisa de um meio de invocar os Primeiros...

– E se for uma armadilha?

– Teremos mais chance lidando com Voldemort do que lidando com os Primeiros, não acredita, meu caro Severo?

Snape ia responder, mas foi interrompido por uma dor aguda no seu braço. A Marca Negra ardia de maneira particularmente espetacular. Alvo notou o desconforto:

– Ele chama?

– Devo ir sem demora.

– Avisarei Rebeca.

Capítulo 25 – Os melhores planos

Rebeca olhava o relógio da família na parede da sala de estar, mas tinha aprendido a ficar calma. A pá onde estava a foto de Severo estava entre "Em Reunião" e "Em Perigo", o que equivalia a dizer que ele ainda estava com Voldemort. Ela procurou não pensar nisso e voltou a dar o café da manhã de Ártemis, dando mais uma colherada de maçã cortadinha e canela na boca de sua filha.

Severo passara a noite fora, o que não era incomum quando ele ia às reuniões de Comensais da Morte. O problema é que quando ele chegava em casa, geralmente estava muito cansado e num humor deplorável. Nessas ocasiões, nem a presença de Ártemis conseguia tirar-lhe a carranca.

Era muito cedo de manhã para se preocupar, decidiu Rebeca, terminando de alimentar sua filha. Winky tirou os pratos e Rebeca pegou os lápis de cor bruxos e o pergaminho, chamando Ártemis:

– Que tal a gente desenhar alguns bichinhos na varanda?

– Oba!

A garotinha logo estava no chão, pegando os lápis com as mãozinhas pequenas e desenhando alguns garranchos que começaram a se mexer no papel. Ela soltou gritinhos apontando para o papel:

– Inho! Iiinho!

– Ah, um passarinho? Que lindo! Cuidado que ele é capaz de voar longe!

Elas ficaram desenhando algum tempo, entretidas em fazer os desenhos se mexerem, quando algo chamou a atenção de Rebeca. Alguém se aproximava pela estradinha.

Era uma mulher. E vinha sozinha, a passos apressados. Desconhecida.

Ártemis reparou para onde a mãe estava olhando e viu alguém chegando. Ela perguntou, intrigada:

– Mimi, mamã?

Rebeca disse, tentando disfarçar que estava alarmada:

– Não, querida, não é Hermione. Quem sabe nós vamos para dentro agora, hein?

A moça estava perto o suficiente para acenar:

– Oi! Rebeca!

O sol ainda nem se erguera direito, e Rebeca colocou a mão para proteger os olhos e tentar vem quem era. Mas não era conhecido.

– Tia Papoula me mandou!

– Você é sobrinha de Madame Pomfrey?

A moça, mais velha do que Rebeca, mas não tão velha quanto Madame Pomfrey, ofegou um pouco, sorrindo:

– Isso, meu nome é Bella. Nossa, como foi difícil achar a cabana.

– Entre, Bella. Quer tomar um pouco de água?

A moça negaceou com os longos cabelos negros já salpicados de grisalho. Via-se que ela tinha sido muito bonita em sua juventude.

– Não há tempo. Vim buscar você e sua filha.

– Aconteceu alguma coisa?

– O pior. Lord Voldemort está em Hogwarts.

Por dentro, Belatriz Lestrange sorria. Aquela tal de Rebeca era mesmo muito idiota para não desconfiar de nada. Seu Mestre tinha feito bem em mandar uma mulher – ninguém desconfiaria de uma vestida do jeito que ela estava vestida, sem qualquer vestígio de maquiagem e com aquele sorriso idiota que as bruxas da Luz costumavam trazer nos lábios.

Rebeca caiu direitinho:

– Oh, meu Deus! Ele sabe que eu estou aqui?

– Sim, ele já sabia há algum tempo, mas agora não é hora de falarmos. Temos que ir embora daqui.

– Para onde?

– Já está tudo arranjado. Agora vamos!

Rebeca colocou a filha no colo e disse:

– Deixe-me pegar algumas coisas para Ártemis!

– Não há tempo! Vamos, antes que ele descubra esse lugar!

– O Prof. Dumbledore sabe para onde estamos indo?

Ártemis começou a chorar, notando a tensão e não a deixou ouvir a resposta. A moça se virou e disse:

– Winky, feche a casa para mim!

Um elfo doméstico! Bom, certamente não seria uma criatura como aquela que desafiaria o plano do Mestre. Tudo estava indo às mil maravilhas.

Sem desconfiar que estava caindo numa armadilha, Rebeca, com Ártemis fortemente segura no colo, deixou-se ser levada para fora dos limites de Hogwarts, onde por meio de uma chave de portal, elas foram levadas até onde Voldemort as esperava.

Rebeca só percebeu que algo estava errado quando ela olhou em volta e se viu cercada de Comensais da Morte. Ela olhou para Bella, que trazia um sorriso malévolo.

– Oh, que susto, hein, Rebequinha? Aposto como você pensou que escapava de meu Mestre, mas ele achou você.

Ela protegeu Ártemis instintivamente e disse:

– Você... não é parente de Madame Pomfrey?

– Rá! – fez ela, jogando a cabeça para trás – Como se eu fosse aparentada daquela bruxa velha! Meu nome é Lestrange. Belatriz Lestrange!

Rebeca arregalou os olhos, reconhecendo o nome. Aquela mulher tinha sido a responsável pela morte de Sirius, e Severo tinha lhe dito que era perigosíssima.

– Deixe-me em paz – pediu Rebeca, trêmula – Por favor, me deixe ir.

Belatriz riu-se jocosamente:

– E para onde você iria, minha cara? Você não é bruxa, não pode aparatar. E você nem sabe onde está, não é mesmo?

Rebeca reparou que estava numa floresta escura, de árvores densas, junto a uma caverna. Instintivamente, ela apertou Ártemis contra seu corpo, olhando todos aqueles Comensais, suas máscaras brancas reluzindo ante o fogo das tochas que carregavam.

Foi então que uma voz metálica chamou seu nome:

– Rebeca Gall, finalmente. Você parece muito bem para quem está morta há tanto tempo. Seja bem-vinda à Irlanda.

Ela estremeceu e apertou ainda mais a menina em seus braços ao ver quem estava se aproximando dela: um homem com um rosto desfigurado, com dois orifícios como nariz e olhos vermelhos que a encaravam com cobiça.

Voldemort.

Todo o sangue que ainda restava no rosto dela fugiu e ela sentiu-se tonta, como se fosse desmaiar. Mas ela estava com Ártemis, tinha que protegê-la.

Voldemort continuou, um sorriso sarcástico:

– Durante todo esse tempo, Dumbledore escondeu você de mim. Mas ninguém engana Lord Voldemort o tempo todo. Ninguém, entendeu? Ninguém.

Tremendo, Rebeca disse:

– Eu não sei onde está meu tio. Não posso ajudar você. Deixe-me ir.

Voldemort riu – e não era uma visão agradável:

– Garota tola, eu não quero nada com seu tio caquético! Preciso de você. E você vai fazer uma coisa para mim, se quer que sua filha cresça além dessa noite.

O terror de Rebeca cresceu:

– Afaste-se dela!

– Em primeiro lugar, você vai fazer o que eu mandar, ou eu vou matar sua preciosa filha aqui e agora – a voz dela era dura e irredutível, sem admitir argumentos – Não vai?

– O que quer de mim? Eu não sou ninguém, nem poderes eu tenho.

– Ah, minha cara, mas você me é muito importante. Durante todo esse tempo tentei encontrar um substituto, mas ninguém me era tão conveniente quanto você. Assim que deixarmos sua preciosa filha em segurança com um de meus Comensais, eu lhe direi o que deve fazer.

– Nunca! Ela vai aonde eu for!

– Devo lembrá-la que você dificilmente está em posição de fazer exigências. Mas, para tranqüilizá-la, vou deixar com um Comensal que você conhece e confia. Ah, sim, você confia num dos meus Comensais – Rebeca olhou para Belatriz, que ainda sorria sarcasticamente – Não, não é minha estimada Bela. Severo, meu servo, mostre-se para seu senhor!

Houve um segundo quase imperceptível de hesitação. Mas um dos Comensais deu um passo à frente e tirou a máscara, revelando a Rebeca o rosto amado de seu marido. Voldemort disse:

– Severo, meu caro, eu sei que você teve participação no fato dessa mulher ter sobrevivido. Lidaremos com isso depois. Mas já que ela confia em você, você ficará com a filha dela.

Ártemis, ao ver o pai, abriu um sorriso e agitou os bracinhos na direção dele, pedindo colo:

– Pa-pá! Pa-pá!

Voldemort observou aquilo, estreitando os olhos de satisfação.

– Ora, ora, ora. A verdade, diretamente da boca dos inocentes. Severo, você esteve mesmo ocupado nesse tempo todo. Mas veremos isso depois. Agora vamos, sua filha está ansiosa por sua presença.

Sem suspeitar de nada, Ártemis se jogou no colo do pai e imediatamente se agarrou nos cabelos dele, como sempre fazia. Alguns Comensais, incluindo Belatriz, pareceram achar aquilo divertido.

Severo trocou olhares com Rebeca, uma comunicação muda e desesperada, que falava de amor e esperança. Rebeca tinha o rosto coberto de lágrimas e tremia, mas sabia que ela deveria tentar ao máximo manter a cabeça no lugar. Severo jamais deixaria nada de mal acontecer a Ártemis, e enquanto isso ela não tinha escolha a não ser cumprir as ordens daquele louco perigoso chamado Voldemort.

Dor. Dor cegante, como sempre. A tal ponto forte que ele não saberia dizer se estava dormindo ou acordado, mas a cicatriz ardia em brasa quando ele ouviu a voz de Rony:

– Harry! Harry! O que foi, Harry? É Você-Sabe-Quem?

Ele estava no dormitório, e os demais colegas olhavam para ele, assustados. Harry já tinha tido visões de Voldemort antes, mas aquela parecia ser do tipo muito ruim.

– É ele, é Voldemort! Eu vi, Rony! Não é nada bom.

Neville disse:

– Eu acho melhor chamar a Profª McGonagall.

Harry disse:

– Não! Eu tenho que falar com o Prof. Dumbledore agora mesmo! Voldemort conseguiu pegar Rebeca, Rony!

O ruivo arregalou os olhos:

– O quê?! Mas como? Ele não pode entrar em Hogwarts!

– Isso eu não sei. Mas ele está feliz como eu nunca vi antes.

Simas quis saber:

– Quem é Rebeca? Ele é aluna?

– Não, ela é protegida – disse Harry – Mas é uma longa história, não posso contar agora. Precisamos ir correndo, Rony. O Prof. Snape também está em apuros.

– Bom, então não tem tanta pressa.

Harry se impacientou:

– Rony, e a Rebeca?

– Tá bom, tá bom, deixa eu pegar meu roupão!

Capítulo 26 – Na boca da caverna

Só depois de ver Ártemis no colo do pai é que Rebeca conseguiu se acalmar o suficiente para olhar no rosto deformado daquele homem que lhe inspirava tanto medo. Voldemort parecia estar tão satisfeito consigo mesmo que se dava ao luxo de dar meios sorrisos. Rebeca sentiu naquele momento que o medo lentamente dava lugar ao ódio e à determinação de proteger sua filha.

O próprio Voldemort chamou sua atenção para o momento presente:

– Muito bem, agora acho que podemos começar – virou-se – Bella!

Belatriz Lestrange imediatamente pegou alguns objetos separados num canto escuro e levou-os até Rebeca. Voldemort disse:

– Tenho uma missão para você, minha cara Srta. Gall. Dentro dessa caverna às suas costas, está o portal que a levará até os Primeiros. Você é a única pessoa que pode chegar até eles e pegar o que eu quero.

Então Severo estava certo! Ele queria mesmo alguma coisa com os Primeiros.

– Eu? Mas se nem os bruxos têm poder contra os Primeiros, como acha que eu posso conseguir o que quer?

Ele se dirigiu a ela como se estivesse falando com uma retardada:

– Porque você não é bruxa, minha cara Srta. Gall. Assim eles supunham estar seguros de ataques de bruxos, pois só com magia se pode atravessar o portal. Bella, prepare-a!

Em volta da cintura de Rebeca, Belatriz prendeu um cinto com uma bolsinha de couro. Também colocou em suas mãos uma espada de aço e um frasco com uma poção. Rebeca não entendeu direito para que tudo aquilo.

Voldemort explicou:

– Esses são os instrumentos para a sua vitória. Essa espada reflete feitiços e pode ser usada tanto para defesa quanto ataque. Isso é uma precaução, para o caso de você encontrar algum problema. O frasco de Poções, preparado por nosso querido Severo, vai despertar pseudopoderes em você, para que possa ativar o portal na caverna. Afinal de contas, se você não é bruxa, você também não é exatamente trouxa, e essa poção deverá simplesmente aumentar os resquícios de magia que existem dentre em você. Lembre-se: essa poção tem efeito temporário, e se usar seus poderes à toa, eles acabarão mais rapidamente.

– E esse saquinho na cintura?

– Esse... saquinho, na verdade, é um contêiner especial no qual você deverá carregar aquilo que vai salvar a vida de sua filha – o Poder Original.

– Poder Original?

– Sim. O Poder de fazer ou destruir um bruxo. O mesmo poder que os Primeiros usaram para criar bruxos. Dessa maneira, os Primeiros ficarão sem poder algum!

Rebeca estava estarrecida e perguntou, de modo impertinente:

– E você acha que eles simplesmente vão me dar isso? É mais louco do que parece.

Os Comensais reunidos se mexeram, desconfortáveis. Belatriz puxou a varinha para ela:

– Respeito com o Mestre, seu aborto!

Voldemort ergueu uma mão:

– Deixe, Bella. A Srta. Gall vai nos prestar um favor muito grande, e só o que precisarei fazer em troca é preservar a vida de sua filha.

– A de Severo também – adiantou-se Rebeca, desafiando – Prometa-me preservar a vida de Severo também.

Voldemort pressionou os lábios em desagrado, mas foi irônico:

– Claro. Afinal, alguém precisa criar a menina, não é mesmo?

Severo se mexeu, angustiado, Ártemis no seu colo olhando com curiosidade para o homem feio com cara de lagartixa. Voldemort olhava para Rebeca, esperando que ela barganhasse por sua vida também. Ela colocou o frasquinho da poção na cintura junto com o saquinho e ignorou a expectativa do Lord das Trevas.

– Não vai me implorar por sua vida?

– Minha vida depende mais de mim do que de você. As vidas deles não, estão em suas mãos. Portanto, não, eu não vou pedir por minha vida. Eu vou conquistá-la.

Houve silêncio. Aparentemente Voldemort não esperava por aquela resposta.

A moça simplesmente perguntou:

– Posso levar uma tocha também? A caverna parece escura.

Voldemort assentiu:

– É razoável. Pode levar. Agora vá!

– Está bem – disse Rebeca, mas ela olhou para Severo, que segurava a irrequieta Ártemis. Os olhos dos dois se encontraram, e houve uma muda comunicação entre eles. Talvez fosse a última vez que se comunicassem. Mas tudo estava sendo dito e entendido naquele breve e desesperado olhar. Mentalmente, ela se despediu do marido e da filha, aceitando o fato de que talvez morresse antes de ver os dois novamente.

Buscando firmemente uma calma que não sabia de onde buscar, Rebeca virou-se, pegou a tocha que Belatriz lhe entregava e entrou na caverna escura, deixando todos para trás.

Era hora de enfrentar os desafios que lhe impunham.

E ela entrou na caverna, procurando concentrar-se apenas no que estava à sua frente, não no que estava atrás.

A primeira sensação que ela teve foi de uma opressão terrível. A caverna era bem comprida por dentro, mais se assemelhando a um túnel, grande o suficiente para que ela ficasse de pé com folga para carregar a tocha acima da cabeça. As paredes eram de rocha pura, e o chão batido cheio de teias de aranha indicava que ninguém punha os pés ali há muito tempo. Por um instante ela temeu a presença de animais ali dentro, mas aquele lugar não parecia ser uma caverna comum. O fato de nenhum morcego ter aparecido era sinal de que havia magia demais (ou de menos) para convidar animais da floresta.

Quanto mais ela entrava na caverna, ouvindo o som dos próprios passos, mais o ar ia se tornando abafado e viciado. Isso só servia para aumentar a sensação de opressão dentro daquelas paredes de pedra. Ela seguia em frente, alerta, esperando a hora do tal portal aparecer, quando de repente viu algo inesperado.

Uma sombra.

– Quem está aí? – perguntou Rebeca, apontando a tocha para onde viu o movimento.

Nada.

Ela se aproximou lentamente, atenta ao menor movimento. E, com efeito, mais uma vez a sombra se mexeu para detrás de pedras.

– Quem está aí? Mostre-se!

De trás de uma pedra, saiu uma criatura pequena, que pedia numa vozinha fina e chorosa:

– Por favor, senhora, não me mate, por favor, não me mate, eu imploro...!

Rebeca ficou desconcertada quando viu um garoto, de uns 10 anos, um cabelo comprido alourado, parecendo estar sem o benefício de um banho ou um pente de cabelo há dias a se encolher junto dela. O coração dela se derreteu:

– Tenha calma, tenha calma. Eu não vou machucar você.

– Não me mate, não me mate com sua espada!

Só então ela se deu conta de que estava mesmo parecendo alguém ameaçador. Ela disse:

– Não se preocupe, essa espada não é para você. Quem é você?

– Lucas, madame – ele a olhou com os olhos arregalados e Rebeca viu que eram lindos olhos azuis – Não vai mesmo me matar?

Ela teve que sorrir:

– Não, Lucas, não vou matar você. Meu nome é Rebeca. Eu seria incapaz de matar um garotinho inocente feito você.

Aquilo provocou uma reação contrária no guri. Ele se ergueu, com rosto crispado de raiva:

– Eu não sou um garotinho! Sou um homem e vim aqui matar o monstro na caverna!

Rebeca reprimiu o riso:

– Ah, entendo!

– Você também veio matar o monstro da caverna?

– Não, eu não vim matar ninguém. Mas quero salvar minha filha e meu marido, e para isso preciso falar com os Primeiros.

– Eles são os monstros?

– Eu não sei, Lucas. Mas acho que vão me ouvir.

– Você está procurando esses Primeiros há muito tempo?

– Não. Você está procurando o monstro da caverna há muito tempo?

– Estou. Mas ele nunca aparece. A porta está sempre fechada.

Rebeca sentiu o coração bater mais forte:

– Porta?

– A porta da casa do monstro. Ao menos eu acho que é.

– E onde ela fica?

– Lá adiante. Eu posso levar você lá, se me ajudar a matar o monstro com essa sua espada.

– Você quer usar minha espada?

Os olhos azuis brilharam de novo:

– Eu? Usar uma espada? Uau! Posso mesmo?

– Quando nós virmos o monstro, eu prometo que a deixo usar. Escute, Lucas, você disse que está aqui há muito tempo. Não está com fome?

– Sim, mas não tenho nada para comer.

– Espere um pouco.

Rebeca tomou um pouco da poção e logo sentiu um formigamento nos braços. Aquilo devia ser magia. Mas ela não sabia como fazer feitiços. Fechou os olhos e procurou se concentrar em trazer comida para o garoto. De repente, ouviu a exclamação:

– Puxa!

Havia uma lauta refeição diante deles, com muitas coisas que crianças gostavam: bolos, tortas, cachorro-quente, salgadinhos, chocolates, refrigerantes e sucos. Lucas se atirou na comida, esfomeado. Rebeca sorriu, satisfeita.

– Venha, coma comigo!

Ela tomou apenas um pouco de suco de abóbora.

– Não vai comer?

– Não estou com fome. Mas coma o quanto quiser. É tudo para você.

O menino parou de comer e a encarou, abismado:

– Vou ter que comer tudo?

Rebeca quase se riu da simplicidade do garoto:

– Não, Lucas, claro que não. Coma o quanto quiser.

– Obrigado – ele mordeu uma coxinha – Hum, está muito gostoso!

Rebeca tomou mais um pouco de suco, colocou o copo na mesa e quis saber:

– Onde estão seus pais, Lucas?

Ele deu de ombros, atacando o bolo de chocolate:

– Não sei, já faz tempo desde que eu os vi. Não me lembro de algumas coisas.

– Eles deixaram você aqui?

– Não me lembro. Só sei que estou aqui para matar o monstro da caverna.

– Você sabe quem é Voldemort?

Lucas olhou para ela:

– É o nome do monstro? Você já o viu?

– Não – novamente ela controlou o riso – É um outro monstro. Pensei que ele o tivesse prendido aqui.

– Não estou preso. Só não sei sair, mas depois que eu matar o monstro, eu descubro.

O garoto não parecia saber muita coisa, então era provável que ela tivesse que protegê-lo. Ela não sabia como eram esses Primeiros, mas se em Hogwarts os Fundadores tiveram problemas, talvez fossem violentos. Rebeca jamais deixaria uma criança se machucar, se pudesse ajudar.

Alguns minutos mais tarde, eles continuaram a andar na caverna. Lucas quis saber:

– Por que está aqui?

– Porque quero falar com os Primeiros. Eles moram no fim da caverna, segundo eu soube.

– Você vai matar esses Primeiros?

Ela quase riu:

– Eu? Eu nunca matei uma mosca, jamais faria isso. Além do mais, eles são poderosos. Basta me darem o que preciso para libertar meu marido e minha filha, e eu vou embora.

– Mas você também é poderosa. Olha só o que você fez.

– Aquilo? Digamos que foi só um truque que eu fiz.

– Pois foi muito bom. Mas se você não mata ninguém, por que carrega essa espada?

– Para me proteger.

– Você é bruxa?

– Não. Você é?

Lucas abanou a cabeça:

– Não. Sou um herói que vai matar o monstro – depois ele completou – Se me deixar usar a espada.

Rebeca disse, com um sorriso:

– Não se preocupe, eu deixo. Assim que virmos o monstro, eu deixo você ficar com a espada para matá-lo.

– Oba! Aí depois eu posso voltar para casa.

– E eu também. Seus pais devem estar preocupados, e eu estou ficando com saudades da minha família.

Eles andaram em silêncio por mais alguns minutos e adiante, Rebeca viu uma parede. Eles andaram até lá. Sentindo uma vibração diferente, num átimo ela compreendeu:

– Este é o portal. Temos que atravessar isso.

O menino arregalou os olhos:

– Mas é uma parede de pedra!

– Vamos ver o que podemos fazer quanto a isso.

Ela fechou os olhos e se concentrou. Quando abriu, havia uma grande porta de madeira incrustada na parede de pedra. Lucas arregalou os olhos ainda mais:

– Puxa! Você é ótima nisso!

– Acredite, eu estou tão espantada quanto você!

Ele ficou animado e tentou abrir a pesada porta:

– Agora eu vou matar o monstro! Eu sei que ele está aqui! Eu sei!

– Calma, Lucas, deixe-me ajudar você.

Com uma mão ocupada com a tocha, Rebeca teve que colocar a espada no chão para abrir a porta, de tão pesada que era. Lucas estava tão excitado que falava sem parar:

– O monstro está logo ali, eu sei! Vou matá-lo, você vai ver.

– Espere um pouco que vou pegar minha espada.

Mas o menino parecia indócil:

– Não posso esperar! Tenho que pegar o monstro! Deixe que eu vou na frente!

E entrou pela porta. Rebeca ainda tentou impedi-lo:

– Não, Lucas, espere! Espere por mim! Lucas, não vá sozinho!

Inútil. Ele já tinha desaparecido dentro da escuridão. Rebeca suspirou, abaixou-se para pegar a espada e entrou no domínio dos Primeiros.


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