Um pequeno contratempo escrita por magalud


Capítulo 3
Capítulo 3




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Eles estavam empilhando blocos quando a Srta. Dóris chegou à porta da sala de recreação e avisou:

– Severo, venha comigo. Stevie, fique com Calvin.

O pequenino fez bico de quem iria chorar, mas Severo cochichou:

– Eu volto logo.

Severo esperou Stevie voltar a empilhar os blocos para seguir a Srta. Dóris, suas pequenas capas fazendo com que ele lembrasse com uma pontada de dor dos tempos felizes de Hogwarts, e como seria bom ter 37 anos novamente.

A mulher disse, parecendo agitada:

– A assistente social me fez uma surpresa, e trouxe um casal interessado em um menino. Você faça o favor de se comportar bem, ou eu vou dar a preferência para Stevie, que é lourinho e todos querem uma criança loura, entendeu?

– Sim, srta. Dóris.

– Agora faça cara de coitadinho e conquiste aqueles otários.

Severo concordou com a mulher, mas nunca imaginou, em toda sua vida, que teria que usar o charme e a inocência para conquistar alguém. Simplesmente não era o seu estilo. Iamgine, Severo Snape dependendo de suas qualidades infantis para conquistar alguém. Engolindo em seco, ele a seguiu para dentro do escritório.

Havia três pessoas desconhecidas ali. Três adultos, e como todos os adultos que Severo via, pareciam altos, talvez por isso parecessem ameaçadores.

A Srta. Dóris abriu um grande e falso sorriso e disse:

– Aqui está nosso mais novo garoto. O nome dele é Severo Snape.

Uma moça mais jovem que a Srta Dóris abriu outro imenso sorriso para ele e disse:

– Oh, meu Deus, como ele é pequeno. Olá, Severo, como vai?

– Bem – disse ele.

A Srta. Dóris apresentou-a:

– Severo, essa é a Srta. Jade, do Serviço Social. Ela veio aqui só para te conhecer.

– Obrigado – disse ele, olhando para os outros ocupantes da sala, e o casal sorriu para ele também.

– Esses são o Sr. e a Sra. Campbell – continuou a srta. Dòris, naquele tom falso – Eles também estavam curiosos para ver você.

Severo disse:

– Muito prazer.

A Srta. Jade abaixou-se para ficar mais perto dele e disse:

– Severo, você pode se sentar ali. Queremos conversar com você.

Ele obedeceu, e tentou controlar-se, olhando de soslaio para o casal que acompanhava tudo com atenção. Ele se ajeitou na poltrona, e as perninhas dele ficaram balançando, bem acima do chão. Ele tentou controlar as pernas para não balançarem.

– Você estava na escola?

Ele respondeu:

– Eu não vou à escola. Escola é para criança grande.

A Srta. Dóris disse:

– Ele brinca com os menores. Precisa ver como ele gosta de cuidar dos pequeninos!

A Srta. Jade disse:

– Madame, nós preferimos que a criança fale por si mesma.

– É claro, é claro.

– Severo, você sabe quem sou eu?

Ele fez que não com a cabeça e ela respondeu:

– Eu procuro pessoas simpáticas como o Sr. e a Sra. Campbell, que estão procurando menininhos como você para adotar. Você sabe o que é adoção?

Ele olhou para ela e tentou ser o mais infantil possível:

– É ganhar novo papai e nova mamãe?

– Isso mesmo. Vamos ver se o Sr. e a Sra. Campbell vão ser seu novo papai e sua nova mamãe.

Ele olhou para o casal e disse, inocente, apontando para a Sra. Campbell:

– Ela é bonita.

Aquilo provocou risos entre os adultos, e a Srta. Jade disse, como se falasse com um retardado:

– Agora vamos fazer algumas perguntas para você, está bem, Severo? Diga, onde você morava com seus pais?

– Em casa – ele respondeu feito outro retardado.

– Sim, mas aonde ficava sua casa?

– Longe. Pegou fogo, não tem mais casa.

– Eu sei, querido, mas você não sabe onde era isso? Em que cidade, em que condado?

– Não.

– E você tinha irmãos?

– Não.

– Você sabe o que o seu papai fazia?

– Não.

– E sua mamãe?

– Fazia bolo e pudim. Eu sinto saudade do bolo da mamãe.

A Sra. Campbell interferiu:

– Jade, por favor, não pode poupá-lo disso? Veja, o menino ainda nem tirou o luto pelos pais. O pobrezinho é muito pequeno.

– Eu só estou tentando obter informações. Ele foi trazido sem documentos, a pessoa simplesmente o deixou no orfanato, sem sequer dar um nome, e nós não sabemos nada sobre ele. Quem sabe se ele foi raptado?

Severo colocou sua expressão mais inocente e quis saber:

– O que é raptado?

– Severo, o homem que o trouxe, ele era seu amigo?

– Sim. O nome dele é Tio Lúcio.

– Ele morava perto de seus pais?

– Não, ele morava em outra cidade.

A Srta. Dóris disse:

– Viu? É como eu disse! Nenhuma informação.

– A polícia não tem registro de nenhuma criança desaparecida com a descrição dele, mas nunca se sabe – disse Jade, olhando para Severo com pena – E ele é tão pequeno, ainda menor do que uma criança de 4 anos normalmente é.

Severo olhou para baixo e disse, como se quisesse choramingar:

– Desculpe...

Aquilo encheu Jade de pena que chegou perto dele e disse:

– Não, meu amor, você não fez nada errado. Nada errado. Nada disso é culpa sua. Você não fez nada errado, Severo.

A Sra. Campbell disse:

– Eu sabia que isso ia terminar aterrorizando o garoto. Pobrezinho, ele já sofreu demais, não acham?

– Está tudo bem, Jane – disse o Sr. Campbell para a esposa, abrindo a boca pela primeira vez.

A Srta. Jade disse:

– Bem, de qualquer forma, tivemos um primeiro contato. Acho que Severo vai gostar de voltar para as suas brincadeiras agora, não vai, querido?

Ele arregalou os olhinhos pretos e perguntou, com uma voz doce:

– Eu vou ter um papai e uma mamãe?

A Sra. Campbell soluçou de emoção, levando a mão à boca, e o marido a abraçou. Ambos pareciam tocados. A Srta. Jade olhou para Severo e disse, com um sorriso nos lábios e lágrimas nos olhos:

– Vamos fazer de tudo para você ganhar uma família, Severo. Agora pode voltar a brincar.

– Sim, senhora – ele olhou para a Srta. Dóris – Com licença.

Severo teve dificuldade para sair da poltrona, mas o fez sozinho e saiu da sala, cuja porta se fechou atrás dele. Ele se encostou na porta para ouvir os adultos falando:

– Como ele é pequenininho! E já sofreu tanto, pobrezinho! Oh, Bill, ele é um sonho!

– Acho que para um primeiro contato foi muito bem.

– E ele é educadinho. Acho que ele gostou de nós.

– Temos chance de conseguir ficar com ele?

– Bom, ainda há uma parte de burocracia a resolver. Mas vamos fazer de tudo para que encontremos uma solução a termo.

O coração de Severo se acelerou e ele achou melhor sair dali antes que fosse descoberto. Aparentemente, seu plano tinha dado certo. Ele tinha convencido os Campbell de que era um menininho de 4 anos, órfão e abandonado à sorte. Infelizmente, só o que ele podia fazer era rezar para que os Campbell ganhassem a custódia sobre ele.

*

Houve pelo menos mais duas visitas. Na primeira, Severo se aproximou mais da Sra. Campbell, sentindo que ali estava o elo mais fraco da corrente. Ele não queria testar o Sr. Campbell, pois não sabia se ele era um pai amoroso.

Ele soube que os Campbell tinham um outro filho, e por isso temeu não ser escolhido. Se o irmão mais velho não quisesse um irmão caçula, e os pais tivessem que escolher entre os dois, adivinha quem iria parar na rua da amargura? Claro que seria Severo, o intruso da família.

A segunda visita foi longe da Srta. Doris, mas a principal atração foi o irmão mais velho, de nome David e da idade de Moe. Severo ficou ressabiado, mas David foi incentivado a fazer amizade com o menino mais novo. Coube a Severo fazer a aproximação, indagando se ele gostava de futebol. David respondeu que sim, e Severo pediu que o ensinasse, porque ele jogava muito mal. Os adultos acharam graça da simplicidade do menino.

Sem a Srta. Dóris por perto, Severo pôde se soltar mais, tentando dizer inclusive que já sabia ler e escrever. Os Campbell não acreditaram, e acharam graça de Severo querer ser homenzinho. A Srta. Jade gostou da interação entre o casal e o menino.

Ainda levou algumas semanas, mas o Ministério do Interior finalmente deu a palavra final sobre o caso: Severo iria para a casa dos Campbell, para ser adotado formalmente. O processo todo levaria meses para se concretizar, com dois meses de experiência para que ambas as partes se acostumassem uma com a outra.

O pequeno Stevie estava com lágrimas nos olhos:

– Você vai embora? Quem vai me ajudar a cortar minha comida?

Severo disse:

– Não se preocupe. Calvin vai ajudar você, ou então Mark.

– Eu quero você, Severo – o pequeno se agarrou a ele – Você é meu amigo.

– E seremos amigos para sempre, Stevie. Lembre-se do que eu lhe disse: nós só vamos morar em casas diferentes.

Mark disse:

– Eu vi sua nova mamãe. Ela parece ser uma boa mãe.

– Ela queria me dar brinquedos – mas a Srta. Dóris disse que os meninos não podem receber presentes. Todos os brinquedos têm que ser dados para o orfanato. Aí eles deram de presente aqueles carros de madeira que estão na sala de recreação. Vão ficar para vocês todos brincarem.

– É, se o Moe não quebrar antes de a gente pegar.

Severo disse:

– Vocês têm que revidar o Moe. Viu o que aconteceu comigo? Por um tempo ele ficou me chateando, mas agora ele não me chateia mais!

– É, mas você apanhou que saiu até sangue!

– Uma vez só! E ele também saiu sangrando!

Stevie continuava abraçado a Severo, agarradinho feito um carrapatinho.

– Quem vai me proteger do Moe? Eu sou pequenininho.

– Você tem que correr e aprender a subir na árvore. Assim ele não te pega. Ele é grande e desajeitado, ele não consegue subir na árvore. Promete que vai se cuidar?

– Vou, sim, Severo. Puxa, você sabe muita coisa. Vou sentir sua falta.

– Também vou sentir a sua.

– Quando eles vêm te pegar?

Severo respondeu:

– Amanhã bem cedinho.

– Será que eles são ricos?

Calvin cortou:

– Bom, eles deram aqueles carros de madeira para todos nós. Tem até um caminhão grande!

– Se você virar um menino rico, você vem visitar a gente?

– Eu vou pedir para eles me trazerem aqui, já que eu ainda não tenho aula. Mas se a minha nova mãe trabalhar fora, significa que eu vou para uma creche ou coisa parecida – Severo fez uma careta – Eu preferia passar o tempo com vocês.

– Legal. Você é um amigão, Sev – disse Calvin – Posso te chamar de Sev?

– Tudo bem.

A Srta. Dóris chegou nesse momento:

– Hora de dormir! Todo mundo para a cama, agora mesmo. E você, Severo, ajude Stevie a se cobrir direitinho, se não ele fica resfriado.

– Eu não sou bebezinho! – disse Stevie, irritado.

– Não me responda, menino! Você não é tão pequeno que não possa levar um castigo por ser respondão. E você, Severo? Que está fazendo aí, parado? Só por que vai embora está se achando grande coisa?

– Não, Srta. Dóris. Venha, Stevie.

A mulher mal-humorada apagou a luz e disse:

– Graças a Deus, uma peste a menos para eu cuidar. Vamos ver quem será o próximo na lista de adoções.

Todos queriam ser, mas sabiam que ela se irritaria se começassem a falar depois da luz ter sido apagada, então ficaram quietinhos.

Sem dar sequer um boa-noite, ela fechou a porta e os garotos se ajeitaram para dormir.

– Severo? – falou Stevie, cochichando.

– O que é?

– Dorme comigo?

– Por quê?

– Estou com saudades de você.

– Mas eu ainda nem fui embora.

– Mas você vai amanhã cedinho. Dorme comigo hoje, vai? Por favor!

Com o estilo mais Snape possível, ele revirou os olhos e disse:

– Está bem. Chega para lá.

Juntinho com Stevie, Severo passou sua última noite no orfanato, mal podendo dormir de tanta ansiedade que a manhã chegasse.


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