Who Knows? escrita por SatineHarmony


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Oneshot inspirada no clipe de Hello, e num comentário que fizeram no vídeo no YT (link do comentário nas notas finais porque ele praticamente conta a história inteira :v)



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Taemin admirou a obra-prima em suas mãos. Era um simples boneco pintado por ele mesmo, nada de mais, porém o objeto em si não era o mais importante — tudo se tratava da pessoa que o receberia. À parte, ele achara incrivelmente engraçado quando, ao vê-lo tão compenetrado em seu trabalho, seus pais supuseram que aquele era um presente destinado a uma criança. Ele se dedicara tanto por uma criança? Claro que não.

Taemin reprimiu uma risada ao imaginar um Minho mais jovem — Minho.

Um suspiro escapou de seus lábios ao se lembrar do garoto atlético de sua escola. À primeira vista, Taemin o julgara um louco por esportes, incapaz de manter uma conversa que não fosse sobre algo além de futebol, porém cinco minutos na companhia de seu sunbae foram suficientes para que Taemin descobrisse como as aparências enganam.

Bonito, carismático e educado — tais características fizeram Taemin se sentir estranhamente atraído por Minho a ponto de questionar sua própria sexualidade. Depois de alguns meses de sentimentos confusos, a realização de que ele não estava interessado em nenhum outro garoto foi recebida de braços abertos, seguida pela confiança necessária para se declarar.

Seu tempo de convivência com Minho mostrou-lhe a paixão desse por crianças e artigos infantis, e Taemin já conseguia até imaginar o sorriso brilhante que ele daria ao receber seu presente.

Taemin abraçou o boneco contra seu peito, ansioso.

* * *

Kibum olhou para o anel em suas mãos com indecisão. Ele o comprara por impulso, e agora se encontrava em tal dilema que não era nem capaz de dizer se arrependia-se de fato de tê-lo feito.

Sua perturbação era tamanha que não conseguira sequer se recompor para ir à sua aula de dança, fazendo com que ficasse com mais tempo livre do que o normal — algo que ele particularmente odiava. Tentou se distrair indo ao apartamento vizinho ao seu, onde morava seu amigo Lee Taemin, no entanto, ao vê-lo com um sorriso bobo nos lábios, logo soube que estava apaixonado.

E, no momento, o que Kibum menos desejava era aturar pessoas apaixonadas falando sobre amor. Amor, pensou na palavra com desprezo. Ele também já sofrera devido a essa doença, e sabia que, independentemente do quão cor-de-rosa tudo fosse visto quando se estava apaixonado, a experiência não valia a pena.

Suas mãos tremeram por um breve instante diante dessa realização amarga, e o anel quase escapou de por entre seus dedos. Kibum se moveu com rapidez suficiente para impedir sua queda, e soltou um suspiro de alívio ao ser bem-sucedido. Ele estava sentado nos degraus da escada de incêndio ao lado da janela do seu quarto e, caso tivesse deixado o anel cair, ele certamente teria ido rua abaixo.

Fez uma careta para si mesmo ao notar a preocupação excessiva que tinha pelo anel — era um anel barato, e apenas isso. Então por que seu coração batia tão forte pela mera hipótese de perdê-lo?

* * *

Jonghyun comprara um presente. Depois de muita ponderação e hesitação, ele finalmente conseguira encontrar algo que julgasse digno para a pessoa que amava. Uma intensa sensação de dever cumprido tomava conta de seu ser, mas ele sabia que ainda havia um longo caminho a se percorrer antes de chegar ao finalmente. Com a caixa preta e branca sob seu braço direito, Jonghyun agora caminhava pela rua com seu melhor amigo, Lee Jinki.

Ambos estavam estranhamente silenciosos, levando em consideração o pedido inusitado que Jinki fizera mais cedo no mesmo dia — "Você pode me acompanhar até casa de uma pessoa? Eu preciso de apoio porque... Porque eu vou me declarar a ela." Jonghyun respondera com um estrangulado "É para isso que os amigos servem, certo?", surpreso pelo outro nunca ter comentado antes que estava apaixonado.

Jinki dobrou a esquina, e o sangue de Jonghyun gelou quase no mesmo segundo.

— Jinki... — sua voz falhou. — Por que nós estamos aqui? — questionou, virando-se para seu amigo com um olhar extremamente insatisfeito. Ele era capaz de reconhecer o quarteirão no qual estavam em qualquer hora, em qualquer dia. Sabia o nome de quase todos os moradores da região, podia citar sem dificuldade alguma os melhores lugares para comer, para se divertir, para fazer compras.

Apesar da clara antipatia presente nas feições de Jonghyun, Jinki continuou sorrindo da forma boba que as pessoas apaixonadas fazem:

— Jonghyun, eu não sou idiota. Eu sei que esse presente aí é para o Kibum. — ele abriu a boca para protestar, mas seu amigo continuou: — Vocês vão reatar, não é? Acontece que a pessoa para qual vou me declarar é vizinha dele, então uma mão lava a outra. Eu me declaro, e você volta para o Kibum. — sua expressão entusiasmada dava a impressão de que esse era um plano infalível.

— Jinki, não é fácil assim, eu... — Jonghyun foi prontamente interrompido:

— Fala sério, você não tem coragem de fazer isso? — Jinki lançou-lhe um olhar incrédulo. — Você o conhece desde sempre, aquela briga não foi nada de mais. — fez um gesto de desdém com uma das mãos. — Boa sorte. — desejou-lhe, seguindo para dentro do prédio antes que o outro pudesse contestar.

Jonghyun praticamente jogou-se sobre as escadas em frente à construção que seu amigo entrara, sentindo-se desolado. Encarou o presente em suas mãos, frustrado — é tudo culpa sua, pensou com rancor.

* * *

Kibum quase deixou o anel cair de suas mãos novamente, no entanto, o susto que acabara de tomar fora grande a ponto de nem se preocupar com o objeto que estava, mais uma vez, seguro consigo. Na esquina, lá estava ele.

Jonghyun.

Kibum adentrou seu quarto pela janela no ímpeto, temendo ser visto.

Jonghyun estava no seu bairro — será que ele viera para pedir desculpas pela última briga que tiveram? A maldita esperança renasceu das cinzas dentro do seu peito, fazendo seu coração bater numa velocidade absurda. Não, não, não. Kibum não poderia pensar de tal forma egocêntrica; Jonghyun poderia estar ali para visitar qualquer pessoa. Mas ele não pôde deixar de perceber a caixa preta e branca que este carregava... Ele certamente presentearia alguém — que pessoa da região era próxima de Jonghyun o suficiente para receber um presente seu?

Jogado sobre sua cama de solteiro, Kibum pôs-se a encarar o teto cor de creme do seu quarto. Ele e Jonghyun se conheciam desde crianças, porém demorou um bom tempo para ambos notarem os sentimentos que tinham um pelo outro. Quando, enfim, chegaram a um consenso, entraram num relacionamento turbulento cheio de primeiras vezes. Resultado mais doloroso, impossível: um ano de união recheado de discussões e de "pausas" — "Acho melhor nós darmos um tempo"; quantas vezes eles disseram essa frase um para o outro?

A última discussão se iniciou com Kibum acusando-o de não estar mais interessado no relacionamento deles, e concluiu-se com um "Estou cansado disso, vamos terminar enquanto ainda somos amigos" da parte de Jonghyun.

Isso foi um mês atrás.

A verdade era que, apesar de ter comprado esse estúpido anel, Kibum realmente acreditava que não havia mais volta para eles dois. Um ano os deteriorara de tal maneira que, no final das contas, mal era possível estabelecer uma amizade entre eles.

Mas.

Mas Kibum comprara o anel mesmo assim. Fizera isso com a intenção de, um dia, talvez conseguir atar as pontas soltas. Era algo idiota, ele sabia disso, porém ele foi simplesmente incapaz de se conter.

E, agora, com uma mão sobre seu coração palpitante, e outra envolvendo o anel sem dono, tudo o que Kibum desejava era que a campainha de seu apartamento tocasse.

* * *

Lee Jinki sempre soube que não era hétero.

Ele nunca se interessara em "ficar" com garotas, em ir a festas e "pegar todas". Por não frequentar os lugares comuns dos adolescentes de sua idade, ele era péssimo socializando e fazendo colegas. Portanto, Jinki ficou extremamente grato quando Jonghyun entrou em sua vida e se tornou seu melhor amigo.

Foi graças a essa mesma pessoa que ele pôde aceitar sua orientação sexual e exterminar todas as suas complicações — se Jonghyun, que era hétero da cabeça aos pés, era capaz de jogar tudo pela janela para namorar um garoto, então o mesmo podia Jinki. Entretanto, mal sabia ele que esse fora apenas o começo das confusões características da adolescência.

Ele se apaixonou — por um garoto, claro. Porém havia uma diferença alarmante: Jinki mergulhara com tudo na paixão. Ele já se sentira atraído por pessoas algumas vezes, mas nunca, em sua mente, ele cogitou a hipótese de realmente se declarar. Ele se interessava apenas no platônico, quando tudo se resumia a trocas de olhares e nada mais.

No entanto, Taemin era um caso único.

A primeira coisa que chocara Jinki foi a diferença de idade. Ele sempre prestara mais atenção nos estudantes do último ano, porém lá estava Taemin, um mero calouro, atraindo seu olhar feito um imã. Ele passou a valorizar as curtas conversas que tinham quando se encontravam nos corredores da escola, a observá-lo enquanto conversava com seus amigos durante os intervalos.

Por mais irracional que fosse se apaixonar por alguém que mal conhecia, Jinki estava decidido a fazer sua declaração. Como prova, as mãos que seguravam o buquê de flores não tremiam, e ele seguiu com passos determinados pela escada que tinha como destino o apartamento de Taemin.

* * *

Sentado sobre um dos degraus em frente ao prédio de Kibum, Jonghyun não pôde deixar de observar o estado medíocre no qual se encontrava a sua vida amorosa. O olhar de desgosto que direcionava à caixa ao seu lado era tal que poderia deixá-lo em chamas de um instante, se possível.

"Eu sei que esse presente aí é para o Kibum. Vocês vão reatar, não é?" As palavras de Jinki ecoavam em sua cabeça incessantemente. Elas haviam sido um tapa em seu rosto — não, nunca fora sua intenção entregar aquele presente para seu ex-namorado. Kibum sequer passara pela sua mente enquanto ele escolhia tão meticulosamente o que dar à pessoa que gostava.

Jinki e Jonghyun se conheceram poucos meses antes do início do seu namoro com Kibum. Jonghyun adorava Jinki pela sua falta de jeito, pela sua franqueza, pelo seu bom senso. Pelo jeito como seu rosto ficava vermelho toda vez que levava um tombo — ah, como ele era desastrado.

E então, no meio de seu relacionamento com Kibum, Jonghyun se deparou com a realização de que estava apaixonado pelo seu melhor amigo.

Sem ação, ele manteve o máximo que pôde seu namoro com Kibum, porém foi tudo em vão. E agora que realmente se encontrava livre, Jonghyun não podia ser sincero com Jinki, pois ele estava interessado em outra pessoa.

Não podia.

Jonghyun ergueu as sobrancelhas diante de tal formulação forte, correta. Como assim ele não podia? Havia alguém o proibindo de se declarar? Levantou-se no mesmo instante, agindo de forma instintiva.

Era hoje. Ele se abriria para seu melhor amigo, e deixaria os dados rolarem — e ninguém o impediria de fazê-lo.

Jonghyun não se esqueceu de pegar seu presente antes de entrar no prédio.

* * *

Minho se certificou mais uma vez de que não havia nenhum fio de cabelo fora do lugar pelo espelho do carro. Tudo o que ele precisava fazer era dobrar uma esquina que ele chegaria ao seu destino, no entanto, as borboletas em seu estômago atrapalhavam o seu raciocínio, e enfraqueciam a sua confiança.

Soltou uma risada ao perceber a irônica situação na qual se encontrava. Ele, Choi Minho, que era capaz de suportar inúmeros jogos de futebol sem fraquejar, era incapaz de olhar nos olhos de uma pessoa e dizer eu gosto de você. Mais irônico do que isso era o fato de que ele se apaixonara pela pessoa mais improvável possível.

Kim Kibum.

Os membros do time de futebol da escola faziam piadas de mau-gosto sobre o garoto por suas costas, zombando o seu jeito feminino e a ausência de traços masculinos em sua fisionomia. Entretanto, Minho ousava admitir que foram justamente essas características que o fizeram se interessar pelo outro.

A forma como ele agia destemidamente, ignorando as opiniões alheias. A forma como ele pouco se importava com os olhares de nojo que recebia na época em que a escola descobriu que ele era gay, e que estava namorando Jonghyun.

Quando recebera essa notícia, a primeira coisa que Minho fez foi enterrar seus sentimentos conflitantes o mais fundo possível — ele não tinha problema algum em questionar sua própria sexualidade, porém nunca tentaria algo com alguém comprometido. Mas Kibum e Jonghyun terminaram, e a porta estava mais uma vez aberta.

Virou-se, duvidoso, para o urso de pelúcia gigante que ocupava o bando do carona do seu carro. Será que Kibum gostaria do seu presente? Coisas exageradas pareciam ser seu feitio, mas e se Minho tivesse exagerado demais? Mil e uma incertezas vieram feito avalanche sobre si, e ele titubeou por um momento.

Minho se lembrou do conselho de seu pai de que, caso se encontrasse em um instante de hesitação, o melhor a se fazer era seguir seu instinto, e ir em frente. Sem pensar mais, saiu do carro, e percorreu o resto do caminho a pé.

À sua frente estava o prédio de Kibum.

Minho seguiu sem olhar para trás.


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Notas finais do capítulo

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