Uma receita para dois escrita por Rose


Capítulo 1
Receita de Pão


Notas iniciais do capítulo

Capitulo único de uma noite qualquer, em uma vida simples preenchida pelas pequenas coisas do dia a dia.
Espero que gostem.
(eu não segui o preparo exato do pão, mas quem quiser saber como faz a receita é essa http://opaododia.blogspot.com.br/2014/05/pao-rustico-frances-pain-de-campagne.html)
Não abandonei as fics, mas por hora estou num hiato como dizem por aí...Sentei pra escrever uma coisa e saiu essa...Muito além do dia da praia)
bjs e até breve



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Quanto tempo desde a primeira vez? Talvez alguns meses ou seriam anos? Era tanta felicidade que Félix podia se dar ao luxo de não contar tempo e sim vivê-lo, era como se ele sempre estivesse apaixonado por aquele homem de cabelos claros e tão cacheados, que se ele não tivesse ganhado o doce apelido de Carneirinho. não haveria como não usar uma outra alcunha de um passado distante. Melhor seria não se atrever a tais pensamentos.

- Félix, certeza que não quer comer nada?

- Ai Carneirinho, eu devo ter salgado a santa-ceia para você olhar para mim e só lembrar de me oferecer comida... - sua risada irônica era apenas mais um indício que ele estava satisfeito por estar ali naquela cozinha para mais uma vez poder admirar seu amor cozinhando, como era bom ver seu Carneirinho encantado com todos aqueles temperos dos exóticos de lugares do mundo que com certeza ele jamais havia pisado, mas que talvez soubesse utilizá-los como nenhuma outra pessoa.

Niko não retrucou o comentário, estava mais preocupado em preparar algo para comer, pelo menos se não estivesse com fome teria mais paciência com as piadinhas, afinal ele não se contentava com uma, senão várias até que era vencido pelo cansaço ou se rendia ao abraço forte que lhe acolhia agora todas as noites.

- Félix, acho que tenho que concordar com a Márcia, você deveria se ocupar com alguma coisa para ficar com essa boca fechada de vez em quando....

´O moreno arregalou os olhos na mesma velocidade em que seu rosto ficou rosado, se Nicolas não fosse tão esfomeado bem que eles poderiam sair dali para seu quarto, o que seria bem mais apropriado pelos pensamentos que teimavam em lhe deixar mais sem graça pelo que acabara de ouvir...

- Não, não! Eu não quis dizer isso, nem pensar, esquece! O que eu quis dizer é que além das contas dos restaurantes, que por sinal quase não lhe dão trabalho hoje em dia; e seu pai que vive cercado de enfermeiras, você não tem nenhuma ocupação.

- Eu não pensei nada! Bom, pensei, pensei um pouquinho...Você não quer deixar essa sua boquinha para depois?

- Engraçadinho! Eu nem vou me dignar a responder, eu vou fazer uma boquinha agora aqui na cozinha....Depois pensamos em outras coisas para saciar meu apetite....

- Desisto!

- Vamos fazer pão?

A feição do moreno se desfez num tom de surpresa, essa era a última pergunta que ele imaginaria ouvir.

- Nicolas, agora já é demais, eu até fico aqui esperando você fazer sua ceia, mas fazer pão a essa hora da noite, você já não está exagerando?

- Ah Félix, fazer pão é tão bom, é uma lição de paciência, sabia?

- Eu compro pão na padaria, Nicolas! Deve ter algum disk-pão que entregue pão francês, pão de forma ou de queijo, qualquer tipo de pão, tudo que eu preciso fazer é olhar nom eu telefone aqui e voila, inúmeros telefones de delivery para seu pão. Podemos aproveitar o tempo até a entrega para relaxarmos um pouco....

- Definitivamente você nunca fez um pão, mas bem que sabia rechear com a salsicha do hot dog do Félix...Onde está a minha flor mesmo?

Félix caiu na gargalhada, como ele adora aquelas discussões que surgiam do nada e também iam embora na mesma rapidez que chegavam, quando ele menos percebia já estava fazendo o que Nicolas queria.

- Carneirinho, até esse pão assar o Jayminho vai estar na faculdade! Ai criatura, eu não levo jeito pra cozinhar, eu nunca gostei desse tipo de trabalho...Eu estudei...

- Eu sei, eu não fiz faculdade, nessa época eu já estava trabalhando como aprendiz..Não havia como estudar... - Nicolas se virou para procurar algo no armário, talvez Félix não tivesse aquela intenção, mas o loiro sempre se sentiu estranho quando era confrontado com isso, Eron era advogado, Félix talvez um dos melhores administradores do Brasil e ele apenas um cozinheiro.

- Carneirinho, olhe pra mim, não comece com algo que não existe. Estavamos rindo até agora dessa bobeira, criatura...Você deveria saber como eu admiro seu trabalho, você construiu tanta coisa com as suas mãos, até essa família maravilhosa que eu faço parte, não faço?

Nicolas seguia de costas fingindo procurar algo nas prateleiras do armário a sua frente.

- Carneirinho? - Félix repensou e resolveu se levantar ao encontro dele, melhor dizer de perto o quanto ele o admirava como pessoa e que não haveria estudo no mundo que pudesse ensinar alguém o que ele sabia.

- Achei!

- Criatura encaracolada, achou o quê?

- A farinha, oras, agora fiquei com vontade de cozinhar, afinal é a única coisa que eu sei fazer...

- Não seja tolo...

- Estou tolo hoje...Procura aí no seu smartphone - pão de campanha...Eu não lembro as medidas de cabeça, mas agora tenho certeza que tenhos os ingredientes aqui na minha frente. Aproveito e te conto um pensamento que tenho sempre que faço pães.

Félix adorava ouvir as histórias de Niko, ele era um bom contador de histórias, qualquer coisa do dia a dia ou apenas conversando já era uma dádiva; apesar de todo aquele tempo juntos Félix ainda era muito mais irônico do que qualquer outra qualidade sua, e uma das coisas que mais se esforçava em fazer era ser carinhoso com seu Carneirinho, apesar dos gestos de companheirismo ele não encontrava as palavras certas e a falta dessas acabavam se transformado nos mais diversos buques de flores que encantava tanto seu Carneirinho.

- Veja Félix, vem cá, não são muitos ingredientes, basicamente farinha, água, sal e fermento...Pega uma vasilha grande para mim por favor.

Félix riu, a primeira questão que lhe veio a cabeça foi onde estaria o tal vasilhame, afinal que tipio de vasilhame seria isso, Nicolas parecia ler seus pensamentos.

- Segundo armário, terceira prateleira de cima pra baixo, plástico azul.

Pouco depois Nicolas lhe pôs um avental branco, de cozinheiro Félix daria um bom maître, pronto, um lacinho era o toque final para que pudessem começar. Félix desajeitado já estava tentando tirar uma selfie para guardar aquele momento para a eternidade.

Nicolas seguiu as medidas do pão, brincando com Félix que ele deveria confiar muito no telefone para acreditar na primeira receita que o buscador lhe havia retornado.

- Coloque as mãos nessa vasilha, eu vou começar a colocar os ingredientes e você começa a misturar, ok?

Assim que a água tocou a farinha Félix começou a segurar toda a sorte de caretas, não lhe agradava a sensação da massa nas suas mãos.

- Abra e feche as mãos, você precisa movimentar suas mãos para unir a massa... - Nicolas segurava o riso, segurava sua vontade de correr e limpar-lhe as mãos e ter certeza que ao final aquele pão seria comestível.

- A massa é grudenta, não é?

- Demais, Carneirinho...Eu nem sei se estou fazendo isso certo....

- O que na vida a gente sabe que vai dar certo, assim de primeira. Você já vai desistir só porque a massa está grudando na sua mão? Você é ou não é Félix Khoury?... No começo, tem tantas coisas na vida que começam assim meio sem jeito, meio que no começo a gente até quer se livrar dessa sensação por simplesmente não conhecê-la direito?

- Veja, se colocamos água demais a massa fica aguada e solta fácil da suas mãos, mas será que é isso que você quer? Vamos colocar mais farinha, mas com cuidado, senão a massa fica seca e o pão não vai conseguir crescer, não é?

- Nicolas, eu só sei comer pão....Olhe minhas mãos como estão...

- Você não consegue ficar sem reclamar, cuidado...Não deixe isso passar para o pão...

- Um pão reclamão? Pães não falam ou se falam o que você anda fazendo nas horas livres?

- Não seja bobo! Você pode criar um pão duro, seco, sem alma...ou um pão que a cada mordida você queira mais um pedaçõ...Tudo depende de como você sova a massa. Não adianta querer resolver tudo na hora, uma massa de pão precisa de tempo, de paciência.

- Eu lembro desse comentário sobre a pressa em outro contexto...

- Estamos falando do pão...Veja, a massa começou a desgrudar das suas mãos, sabe o que isso significa?

- Que eu vou ter menos trabalho pra limpar minhas mãos desse grude...

- Grude?! Eu nunca vou entender da onde sai tantos comentários dessa sua cabecinha...

Félix permanaceu calado...Qual seria o próximo passo do Carneirinho, teria ele que se matricular num curso de padeiro?

- Tudo na vida começa assim, meio sem jeito, ou fica solto demais e não vai dar certo ou grudento demais e por consequência também não dará certo. Você precisa entender o ponto. Lembra quando você pediu pra dormir em casa? Se fosse antes você acha que ainda estaria comigo?

- Não, e pensando nisso agora se eu tivesse demorado mais uns dias para tentar talvez a lacraia tivesse te dobrado.

- Ou poderia não ser ele, talvez eu tivesse, sei lá, talvez tivesse aparecido alguém interessante até no restaurante e vai que...

- Melhor que Félix Khoury não há ninguém nesse mundo...Mas se você chegasse me dizendo que havia conhecido alguém interessante no restaurante que não fosse a lacraia talvez eu não tivesse coragem.

- Félix não para de mexer essa massa....

- Eu estou mexendo, estou mexendo...

Nicolas adicionou o fermente e ainda deixou Félix sovando o pão por mais alguns minutos....

- Sabe o quê Carneirinho?

- Sim...

- Agora eu estou gostando de amassar isso aqui...Quando podemos colocar no forno?

- Féélix! Você não muda, mil vezes bobo, pra que essa pressa?

Nicolas sorriu e se virou para não cair na gargalhada, agora ele precisava de outro vasilhame e um pano de prato...

- Carneirinho, pra que molhar esse pano?

- A massa precisa descansar antes de ir pro forno, o pano tem uma função especial - ele acolhe a massa para que ela possa crescer tranquila.

- Você também me acolheu...

- E você cresceu com isso, não? Entre a primeira vez que te vi e hoje você cresceu tanto, e não foi de um dia para o outro como essa massa. Ela vai ficar uma hora aqui descansando. Depois voltamos nesse assunto. Agora eu quero fazer uma boquinha.

- Aqui?

- Eu vou comer Félix, comida! Estou morrendo de fome!

Como uma criança Félix ficou espiando a massa pelo cantinho da vasilha, se lembrava das vezes que ia à casa do Carneirinho em São Paulo e nada do que ele queria falar funcionava, será que essa massa de pão iria mesmo funcionar?

Para provocar ou não, Nicolas decidiu-se por uma banana e com um sorriso nos lábios perguntou:

- E como foi seu dia?

- Eu vou parar na delegacia se você não comer isso aí logo! E o pão?

- Nem se passaram 10 minutos...Vou beliscar outra coisa...Você deixa?

Dessa vez Félix não reclamou do longo abraço, se possível que ele não terminasse naquela cozinha, mas ainda havia o pão a ser feito. Pacientemente Nicolas lhe explicou que em mais alguns minutos ele cortaria a massa e poderiam assá-la, melhor pré-aquecer o forno e retomar aquela conversa com uma boa garrafa de vinho e o pão quente saindo do forno.

- Carneirinho, não é que cresceu mesmo? - O moreno quase bateu palmas de felicidade, mas se conteve porque queria mesmo era dividir o pão em alguns pedaços.

- Se você cortar muitos pedaços, o pão ficará tão pequeno quanto um biscoito, se você cortar em poucos pedaços corremos o risco do pão não assar direito por dentro.

- Já sei, o ponto...Você me deu o ponto. Que tal três pães?

- Sim, acho que tudo bem.

Félix se esforçou para separar a massa em três pedaços uniformes, teve que ser lembrado por seu carneirinho de untar uma assadeira. Enfim, tudo estava pronto e assando.

- E se não der certo?

- Podemos fazer todas as noites até que você aprenda....Não se esqueça de ligar o timer.

Félix se aproximou enquanto Nicolas estava apoiado no balcão abrindo a garrafa de vinho...

- Eu sou como uma massa de pão, não é? Era isso que você estava me dizendo, eu não sei o que seria se você não me suportasse todo esse tempo....

- Na verdade eu te sovo todas as noites, olha só até uma barriguinha você já tem... Você sabe que eu não poderia perder essa piada, não é?

- Você nem uma taça já tomou e já está bêbado....

A conversa fluia tão bem que se não fosse pelo apito do cronômetro, eles esqueceriam o pão...Nicolas correu assustando para olhar a criação de seu amado, se depois de tanta conversa o pão estragasse o que mais ele poderia dizer ao seu moreno.

- Então? Diz algo?

- Para seu primeiro pão, nada mal...

- Deixa eu provar?

- Claro, pe...

Antes que Nicolas percebesse seu braço foi puxado de encontro a Félix, um beijo roubado com um fundo de vinho...Talvez fosse melhor terminarem aquela conversa longe da cozinha.

- Nicolas Corona, obrigado por não desistir por todo esse tempo, só eu sei o quanto você teve que mudar na sua vida para estarmos aqui hoje...

- Prove o pão...

Félix sorriu frente a sua criação, talvez não estivesse tão bom quanto Nicolas merecia, mas ainda assim ele abocanhou com vontade aquele pão quente...Precisava dizer algo para seu Carneirinho, algo que ele ainda aprendia dia a dia como aquele pão.

- Então, Félix, diz algo? Gostou? Vamos fazer de novo essa receita?

- Sim, Carneirinho, sim, eu preciso fazer vários pães - pão de campanha? Eu preciso exercitar coisas em mim que esse pãozinho me fez lembrar...

- Como o quê? - Nicolas frizou a testa...O que ele estava esquecendo?

- Como dizer o quanto eu te amo, criatura....

- Eu acho que foi o vinho, não o pão...Fique sabendo que eu gosto muito quando você me diz isso.

- Acontece que eu sei Carneirinho, por isso preciso praticar mais...vou começar com o pão...Amanhã farei para os meninos e meu pai...Espero que eles gostem.

- Eu te ajudo, não se preocupe. Eu sempre te ajudarei...


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Notas finais do capítulo

espero que tenham gostado :)



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